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Nesta seção, são apresentados os cenários alternativos que pressupõem a formação de acordos de livre comércio por meio de mudanças nos principais instrumentos de política comercial como: barreiras tarifárias, subsídios e barreiras não-tarifárias adotadas pelos países e regiões.

A formulação dos cenários alternativos baseou-se nas condições reais do comércio global de carne bovina in natura, levando em consideração variáveis como: produção, consumo, exportação, importação, preços e principalmente as políticas comerciais implementadas pelos países e regiões. Também, se baseou nas condições relacionadas às questões sanitárias, as quais diferenciam países e regiões, de um lado os livres de doenças sanitárias (circuitos não-aftósicos), e de outro os países e regiões com problemas sanitários (circuitos aftósicos), como já especificadas no capítulo dois.

Em função dessa divisão, o comércio entre ambas regiões encontra grandes restrições, principalmente devido ao limitado acesso concedido pelos mercados das regiões não endêmicas aos produtos originários da outra região. Assim, os cenários aqui criados buscam quantificar essas diferenças, ao passo que permitem analisar os possíveis efeitos de acordos comerciais entre as duas grandes regiões, especificamente a inserção brasileira e do MERCOSUL nestes mercados.

Nesse sentido, a partir dos cenários alternativos possibilitar-se-á analisar em quais condições comerciais o setor brasileiro de carne bovina in natura poderá inserir-se. Assim, para todos os cenários alternativos são analisados os efeitos sobre a produção, consumo e sobre o bem-estar dos produtores e consumidores, por meio das variações dos excedentes para os países e regiões selecionados.

A partir desses aspectos, como forma de apresentar cenários mais reais e factíveis às alterações nos instrumentos de política comercial, relacionado a tarifas e subsídios seguem as propostas em discussão na Rodada Doha de negociações multilaterais. No entanto, ressalta-se, que essas propostas não foram efetivamente implementadas. Entretanto, esse conjunto de

propostas discutido na Rodada Doha, apresenta, de lados opostos, os países em desenvolvimento e os desenvolvidos.

Neste estudo, adotam-se as propostas defendidas pelos países em desenvolvimento. Eles têm suas propostas lideradas pelo G-20, o qual é representado pelo Brasil junto à OMC e têm como principais objetivos reduzir as distorções no comércio internacional de produtos agrícolas e ampliar o acesso aos mercados dos países desenvolvidos. O objetivo, aqui, é projetar possíveis situações comerciais para os países em desenvolvimento, dentre eles, o Brasil e os demais países do MERCOSUL, e especificamente projetar os efeitos sobre o mercado de carne bovina in natura.

As diretrizes da proposta defendida pelos países em desenvolvimento na Rodada Doha de negociações multilaterais propõem uma redução linear das tarifas agrícolas de 60%, com um período de desgravação tarifária de seis anos. Para a concessão dos subsídios (domésticos e a exportação) a redução seria mais significativa, na ordem de 75%, e com data determinada para serem totalmente eliminados até o ano de 2013. No que se refere às quotas, a proposta sugere uma ampliação dessa forma de acesso, a qual estaria vinculada ao consumo doméstico e ocorreria por meio do aumento nas quotas num percentual de 5% do consumo doméstico, a partir das quotas atuais. Entretanto, as tarifas intraquota e extraquota manter-se-iam nos patamares vigentes. Por definição, neste estudo, os cenários aqui simulados não incluíram as propostas relativas a quotas tarifárias.

Como esse estudo não aborda a dimensão temporal das mudanças dos instrumentos comerciais, os cortes nas tarifas e subsídios, que de acordo com as propostas em negociação ocorrerão de forma gradual, aqui, utilizou-se somente o período final, a meta acordada, em função de analisar somente a dimensão espacial das mudanças.

Para atingir tais objetivos, quatro cenários alternativos foram simulados, nas esferas: multilateral e regional, removendo e/ou eliminando barreiras ao comércio, a fim de possibilitar a verificação dos possíveis impactos nas quantidades, preços e níveis de bem-estar dos produtores e consumidores sobre o mercado brasileiro de carne bovina in natura, os quais estão expostos na tabela 4, a seguir. No entanto, destaca-se, que em cada cenário, definem-se um conjunto de medidas relacionadas às alterações nas políticas comerciais que possibilitam a ampliação das relações comerciais entre os vários países e regiões.

Tabela 4 – Cenários alternativos

Acordos Cenários Tarifas Subsídios BNT**

1A Eliminação Eliminação Eliminação

Acordo Multilateral

1B Redução 60% Redução 75% Manutenção

2A Eliminação Eliminação Eliminação

Acordo Regional

(MERCOSUL-UE) 2B Redução 60% Redução 75% Manutenção

3A Eliminação Eliminação Eliminação

Acordo Regional

(ALCA) 3B Redução 60% Redução 75% Manutenção

Acordo Regional

(Países/regiões livres de aftosa*) 4 Manutenção Manutenção Eliminação

Fonte: Elaborada pelo autor.

* UE – NAFTA – Japão – Coréia do Sul. ** Barreiras não-tarifárias – BNT.

Inicialmente, o cenário 1, pressupõe um acordo multilateral firmado junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Entretanto, esse cenário é dividido em dois subcenários. Essa divisão permite pormenorizar os impactos diferenciados das mudanças nos instrumentos comerciais em análise sobre o mercado de carne bovina in natura.

A partir disso, o subcenário (1A) simula uma liberação comercial ampla, passando pela eliminação total das barreiras tarifárias, concessão de subsídios e principalmente das barreiras não-tarifárias. Por outro lado, o segundo subcenário (1B) considera as propostas em discussão na Rodada Doha de negociações multilaterais relacionadas às tarifas e os subsídios. Nesses termos, a redução linear das alíquotas tarifárias ocorre na ordem de 60% e a concessão de subsídios em 75% e, por outro lado, são mantidas as barreiras não-tarifárias.

O segundo cenário simula a formação de uma área de livre comércio regional entre MERCOSUL e União Européia. Esse acordo, como forma de possibilitar a avaliação dos resultados diferenciados entre as negociações relativas à redução e/ou eliminação das tarifas, subsídios e barreiras não-tarifárias sobre o comércio de carne bovina, também foi dividido em dois subcenários. Assim, o primeiro subcenário (2A) simula a eliminação completa das barreiras tarifárias, da concessão de subsídios e das barreiras não-tarifárias. Ele pressupõe a livre circulação de carne bovina entre as regiões. O subcenário (2B) segue as propostas apresentadas anteriormente no 1B, de redução nas tarifas e subsídios na ordem de 60% e 75% respectivamente, porém, mantendo as barreiras não-tarifárias.

O cenário 3, simula os efeitos sobre o mercado de carne bovina in natura da formação de uma área de livre comércio entre todos os países das Américas, denominada ALCA,

exceção feita a Cuba que não participa das negociações. Assim como no cenário anterior, esse divide-se em dois subcenários. Nesses termos, o primeiro subcenário (3A) considera a eliminação total das barreiras tarifárias, subsídios e barreiras não-tarifárias, permitindo, assim, a livre circulação de carne bovina. Já, o segundo subcenário (3B) simula os possíveis efeitos das reduções relativas às tarifas e os subsídios discutidos na Rodada Doha de negociações multilaterais, conforme já apresentado no subcenário 1B e 2B.

Por fim, o quarto cenário simula o acesso do MERCOSUL, mediante obtenção da condição de livre da aftosa, nos mercados do bloco denominado circuito não-aftósico. Desse modo, nesse cenário considera-se o acesso dos países do MERCOSUL nos mercados dos países da União Européia, NAFTA, Japão e Coréia do Sul. Esse cenário permitirá projetar os possíveis ganhos totais da eliminação da febre aftosa por parte dos países do MERCOSUL em termos de produção, consumo, exportação, preços, fluxos comerciais e bem-estar agregado dos seus produtores.

Também, por meio dele torna-se possível analisar o grau de competitividade da carne bovina in natura brasileira e dos demais países do MERCOSUL, dado que suas exportações estariam competindo diretamente com as de países como a Austrália e Nova Zelândia e do próprio Estados Unidos. No capítulo seguinte, será caracterizado o cenário base e analisados os principais efeitos por meio dos resultados obtidos nas simulações dos cenários alternativos sobre o mercado de carne bovina brasileiro.

4 RESULTADOS OBTIDOS A PARTIR DAS SIMULAÇÕES

Neste capítulo é apresentado na seção 4.1 a calibragem do modelo no qual são comparadas as diferenças entre o cenário base e o cenário atual (observado). Isso permite verificar a coerência e a validade do modelo por meio da proximidade dos resultados. Na seção 4.2 são feitas as análises dos resultados obtidos por meio das simulações dos cenários alternativos em relação ao cenário base, ressaltando as principais alterações na produção, consumo, preços, fluxos comerciais e excedentes do produtor e do consumidor nos países e nas regiões analisadas.

Para tanto, na subseção 4.2.1 são enfatizadas as principais mudanças em termos de produção e fluxos de comércio nos países e regiões selecionados pelo estudo. E, na 4.2.2, são enfatizadas as principais variações nos excedentes do produtor em cada cenário simulado para os países e regiões.