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Apresentação da pesquisa realizada e a docência na EAD

Neste item, apresentamos alguns dados da pesquisa realizada, à luz da particularidade da docência na EAD.

Belloni (1999) faz alusão às discussões baseadas nos modelos teóricos provenientes da economia da sociedade industrial, sintetizada nos paradigmas do Fordismo e Pós-fordismo. A autora afirma que já em 1973, Peters define a EAD deste modo:

Educação a distância é um método de transmitir conhecimento, competências e atitudes que é racionalizado pela aplicação de princípios organizacionais e de divisão de trabalho, bem como pelo uso intensivo de meios técnicos, especialmente com o objetivo de reproduzir material de ensino de alta qualidade, o que torna possível instruir um maior número de estudantes, ao mesmo tempo, onde quer que eles vivam. É uma forma industrializada de ensino aprendizagem. (PETERS, 1973 apud BELLONI, 1999, p. 27).

Belloni busca explicar, a partir do contexto sócio-econômico, as particularidades da EAD em relação ao ensino convencional e ao mercado de trabalho. Afirma que a EAD pode ser entendida a partir de três princípios básicos que regem a produção industrial: produtividade, divisão do trabalho e produção de massa. Ainda destaca que a aplicação de modelos industriais à EAD, além de considerar o estudante como

alguém passivo pertencente a um grupo de massa, também implica na desqualificação e divisão do trabalho do professor.

Algumas conclusões apontam para os interesses capitalistas de exploração econômica como um dos motivos que levaram à expansão da EAD nos últimos tempos. A Educação a Distância estaria sendo vista como uma oportunidade de mercado, em que a exploração da mais-valia é perfeitamente cabível. O contexto capitalista atual estaria bastante propenso ao emprego das atividades de EAD motivado pelas transformações do padrão tecnológico de produção associadas aos princípios de reestruturação produtiva.

No entanto, acreditar apenas que a EAD seja refém de uma artimanha do capitalismo para que possa ser apenas mais uma plataforma de mercado, seria um tanto preconceituoso de nossa parte. É importante destacar que há muitas iniciativas que mostram a convergência que existe entre a EAD e as tecnologias de informação e comunicação voltadas para o campo da educação, e nesse sentido, busca-se clarear a ideia de que a EAD seja uma esfera da educação que se apropria da tecnologia em benefício do propósito educacional.

Acreditamos que o trabalho pedagógico a distância situa-se num ponto intermediário entre os pontos do trabalho pedagógico presencial e do trabalho fabril, ou seja, considera-se que o trabalho pedagógico a distância aproxima-se mais do trabalho fabril do que do trabalho pedagógico presencial, pois, além de estar claramente organizado sob a lógica capitalista, há uma especificidade gerada pela inserção de tecnologias do ensino-aprendizagem, como os módulos didáticos (impressos ou digitais) que se constituem em produtos intermediários do trabalho pedagógico a distância. Essas tecnologias promovem, por exemplo, a separação entre produção e distribuição do conhecimento e entre os tempos de ensino e de aprendizagem.

Os modelos da sociologia industrial penetram no campo da educação aberta em dois caminhos: de um lado, as mudanças na produção econômica e na organização do trabalho provocaram mudanças na demanda; de outro houve grande influência destes modelos na organização interna das instituições educacionais, com significativo impacto em suas concepções e estratégias educacionais. As demandas na formação inicial e continuada mudam substancialmente, apontando para duas grandes tendências, a reformulação radical dos currículos e métodos de educação

privilegiando a multidisciplinaridade e a aquisição de habilidades de aprendizagem e oferta de formação continuada ligada aos ambientes de trabalho, numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida. (BELLONI, 1999, p. 78).

Como em todo processo educativo, a Educação a Distância também apresenta diferentes zonas de conflitos e interesses que não se resumem às discussões sobre a relação da EAD e a lógica capitalista. Trata-se, segundo nossa percepção, de discussões acerca dos paradigmas pedagógicos adotados na EAD, da autonomia versus autoformação, novas tecnologias e os processos pedagógicos vigentes. A seguir, apresentaremos alguns tópicos dessas discussões.

Existe uma distância entre o aluno autodidata e o aluno autônomo como nos afirma Santos:

Autodidatismo difere-se de autonomia. Autodidata refere-se a alguém capaz de ensinar a si mesmo. Autônomo é alguém protagonista da própria aprendizagem. Autonomia vai além de aprender sozinho. Entende-se por alguém autônomo alguém com liberdade de ir e vir. Alguém capaz de refletir sobre as consequências das próprias decisões. [...] Se o aluno não é autônomo para aprender, é obrigação do ensino organizar as situações de aprendizagem de maneira a levar o aluno a refletir e estabelecer conexões. Como pré-requisito ou como consequência, a autonomia é um dos pilares que sustenta a aprendizagem em qualquer contexto, mas principalmente na EAD. (2007, p. 5.

Percebemos ainda sobre o aluno da EAD certo preconceito no que diz respeito ao equívoco de atribuir-lhe a necessidade de aprender sem o auxílio do professor. A distância, tanto no espaço quanto no tempo, não supõe um afastamento entre professor e aluno. Na EAD, passa a existir uma nova relação entre professor e aluno, que poderíamos chamar de interação. O ambiente virtual a possibilita. Diferente da educação de massa, a EAD pode explorar as diferentes dimensões humanas, como a criatividade, curiosidade, emoção, a intelectualidade e a afetividade, tanto quanto na presencial, pois, acreditamos que uma

de aula baseada numa relação autoritária pode ser considerada um local de encontro de corpos, mas não um ambiente de educação integral do ser humano.

Nossa pesquisa revelou que esta proximidade, seja virtual ou presencial, na EAD facilita bastante o contato do aluno com a disciplina que este se depara, às vezes pela primeira vez com conceitos difíceis de ser assimilados. Por isso, diminuir esta distância entre professor e aluno torna-se um grande desafio.

A interação do aluno com o tutor e o professor é muito importante para a compreensão das disciplinas oferecidas pelo curso de filosofia. E esta relação deve acontecer de maneira sincera e respeitosa para que as dúvidas em relação ao conteúdo ou mesmo para o bom desenvolvimento do curso. (Questionário – aluno “A”)

Acompanhar o aluno no processo em que vai se deparando no curso de Filosofia na modalidade EAD é indispensável, acredito eu. Isto gera comprometimento, interação com o mesmo. Tínhamos, como tutores, a oportunidade de conversar bastante com os professores sobre o conteúdo das apostilas, isto nos ajudava a criar sintonia com os professores para depois compartilharmos com os alunos. (Questionário –

Tutor “B”).

Às vezes nos sentimos distantes da universidade, devido tanto a distância, mas também, para a resolução de pendências burocráticas. (Questionário – Aluno “C”)

Os diferentes pontos de vista dos estudiosos sobre a EAD revelam a complexidade das questões nesta nova modalidade de educação. Essas ideias podem ser tomadas como ponto de partida para a discussão e reflexão acerca dos papéis de todos os envolvidos no processo de aprender e ensinar na modalidade a distância.