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CAPÍTULO III PROPOSTA PEDAGÓGICA E DIDÁTICA PARA A LECIONAÇÃO

1. Apresentação descritiva da proposta pedagógica

No momento de optar por apresentar uma proposta pedagógica e didática no âmbito da Prática de Ensino Supervisionada, a decisão recaiu quase de imediato, e sem grandes dúvidas, na Unidade Letiva 1 do oitavo ano de escolaridade, que tem por tema ‘O Amor’. No Programa de EMRC de 2007, esta UL1 tinha como título ‘O amor humano’; no atual Programa de 2014, pode verificar-se uma alteração simples ao título mas que, a nosso ver, reflete bastante bem o objetivo central daquela que é a nossa proposta: ‘O Amor’. De facto, tudo aquilo que fomos apontando como posicionamento antropológico no decurso deste trabalho vai ao encontro deste título breve, embora com uma significação extensa e, porventura, mais completa.

Ao colocar no centro da nossa proposta o tema ‘A antropologia teológica do Papa João Paulo II presente nas catequeses sobre a teologia do corpo’, quis que ela fosse um contributo válido para a forma e o conteúdo desta UL1. De facto, e tendo em linha de conta o que foi dito anteriormente, sobretudo no segundo capítulo, é um dado adquirido que a perspetiva antropológica de João Paulo II, baseada no método fenomenológico, e enriquecida pela conceção personalista cristã do ser humano, como dom para si e para o outro, poderá representar um forte elemento de crescimento dentro do processo de formação do adolescente e do jovem, com efeitos na vida pessoal e na conceção que dela possa vir a formular e a testemunhar.

Neste contexto, e pretendendo aprofundar o tema da teologia do corpo, agora na ótica de João Paulo II, direcionamos energias para materializar uma proposta pedagógica

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e didática que pudesse referir, de alguma forma, a realidade teológica do corpo humano, com o objetivo essencial de conjugar a realidade humana [corpórea] e o seu significado esponsal, isto é, enquanto reflexo verdadeiro do ser mais profundo e significativo de cada homem e cada mulher. Na verdade o corpo humano, longe de representar um cárcere de sofrimento, votado à morte, ou, no lado oposto, ser fonte de prazer fechado sobre si mesmo, é o meio e o modo de ser homem e mulher, em sentido amplamente significativo. É lugar da realização mais fecunda e completa a que cada um, individualmente e em comunhão com os demais, é chamado.

Por estes motivos, considera-se a temática apresentada pertinente para a realização da proposta letiva defendida e assumida como fundamental no processo de aprendizagem e crescimento dos discentes. Defendemos que a UL1 ‘O Amor’ é uma oportunidade única na caminhada formativa dos adolescentes do 8ºano para a desconstrução de um falso e narcísico amor humano, desligado do respeito em primeiro lugar por si próprio e, como consequência, pelos outros que na ótica do gender podem constituir um obstáculo para a minha ‘liberdade’ de indivíduo.

Sendo verdade que o corpo tem uma linguagem própria e revela de sobremaneira uma realidade invisivelmente visível, ele é fruto e fonte dessa mesma realidade a que chamamos ‘Amor’ e que em tão pequena medida conhecemos. A antropologia presente nas catequeses sobre a teologia do corpo, defendida pelo Papa João Paulo II, é exatamente este impulso humano de humildemente reconhecer, sem rodeios nem falsas pretensões, o que ele realmente é: um ser criado pelo e para o amor. Diante deste pressuposto restam duas opções: reconhecer-se dom e realizar-se enquanto dom, ou recusar essa realidade e navegar no relativismo derivado da alienação de si mesmo.

A tarefa educativa é, antes de tudo, uma tarefa testemunhal. Por esse motivo, a disciplina de EMRC não pode, nem deve, querer substituir o papel dos pais e da comunidade mais alargada em que a criança, o adolescente e o jovem se situam. Educar para os valores da justiça, da verdade, da liberdade, respeito pela dignidade da vida humana e para o cuidado do universo criado enquanto espaço de comunhão ecológica, é um dever de toda a sociedade, de todos e cada um, segundo as possibilidades inerentes aos diferentes contextos115.

115 Guilhermina LOBATO MIRANDA, Sara BAHIA, org., Psicologia da Educação: Temas de

desenvolvimento, aprendizagem e ensino, Relógio D’Água, 2ª Edição, Lisboa, 2010, p. 89: «Se estivermos

interessados em promover o desenvolvimento moral das crianças e dos jovens parece que devíamos atender, pelo menos, aos seguintes aspetos: proporcionar-lhes oportunidades de descentração, de preferência a situações de respeito unilateral e mera obediência; confrontá-los com perspetivas diferentes na solução de

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Não sendo tarefa exclusiva da EMRC, educar para o valor e significado do corpo humano bem como para os valores enunciados anteriormente, é inclusiva e especialmente um dever seu em virtude das metas e finalidades que sustentam esta disciplina116. Nesse

sentido, ao propor no conjunto das aulas desta UL1 uma aula especificamente dedicada ao papel da EMRC na educação para a corporeidade, pretende-se transmitir aos alunos não uma opinião pessoal do professor sobre a sua disciplina, mas toda uma visão existencial cristã que ela transporta e defende como útil, necessária e coerentemente possível.

Para a lecionação da Unidade Letiva 1 ‘O Amor’ propõe-se um conjunto de sete tempos letivos ao longo dos quais serão apresentados alguns dos conteúdos já previstos no Programa de EMRC de 2014, bem como conteúdos específicos que nos parecem pertinentes no contexto da nossa proposta de lecionação. Procedemos essencialmente à introdução de alguns conceitos e materiais diretamente ligados à teologia do corpo do Papa João Paulo II.

É certo que os conteúdos propostos pelo Programa têm subjacentes os princípios básicos defendidos pela antropologia teológica cristã que, por seu lado, é aquela apresentada e defendida pelo Papa João Paulo II. Contudo, não deixa de ser interessante que os alunos, ao contactar com tais conteúdos, possam ter acesso a conceitos-chave originais, que lhes permitam uma leitura mais global e esclarecida dos conteúdos lecionados e atinjam os objetivos pretendidos com maior capacidade e possibilidade de aprendizagens significativas.

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