CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
3.1. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Para a apresentação dos dados recorreu-se ao uso de tabelas e gráficos, com os dados estatísticos antecedidos de análise.
A análise dos dados foi realizada através de estatística descritiva e inferencial, utilizando-se o software SPSS-24.0 (Statistical Package for the Social Sciences).
Para realização da análise descritiva foram utilizados diversos parâmetros para a distribuição das variáveis, nomeadamente a frequência, percentagem, média e desvio-padrão.
Para realização da análise inferencial e tendo em consideração o cumprimento dos critérios necessários para a realização de testes paramétricos, e após realizado o teste da normalidade de Kolmogorov Smirnov, cuja Hipótese Nula (H0) é que os dados estão normalmente distribuídos, e dado que o resultado do pvalue foi (p< 0,05) para as variáveis em estudo, rejeitamos a Hipótese Nula (H0) e assumimos que a amostra não segue uma distribuição normal. Nesse sentido, foram utilizados testes não-paramétricos.
Para comparar o grau de gravidade atribuído pelos professores aos comportamentos dos alunos dentro e fora da sala de aula, em função do sexo foi aplicado o teste de Mann-Withney que é o teste não-paramétrico adequado para comparar as funções de distribuição de uma variável pelo menos ordinal medida em duas amostras independentes (Marôco, 2014).
Para correlacionar a idade, os anos de serviço e o grau de gravidade atribuído pelos professores aos comportamentos dos alunos dentro e fora da sala de aula, foi utilizado o coeficiente de correlação de Spearman que é uma medida de associação não paramétrica entre duas variáveis pelo menos ordinais. Este coeficiente é obtido através da substituição dos valores das observações pelas respetivas ordens. As medidas de associação quantificam a intensidade e a direção da associação entre duas variáveis (Marôco, 2014).
A determinação da fidelidade foi verificada utilizando o método de consistência interna. O Alfa de Cronbach deve ser superior a 0,70 sugerido por Pestana & Gageiro (2008), que nos indicam fidelidade, correlação e homogeneidade dos itens, o que nos permite um grau de confiança e exatidão dos mesmos valores ao longo do tempo. A consistência das dimensões em estudo (cf. Tabela 1) é boa pois o seu Alfa de Cronbach encontra-se acima do 0.70, exceto dentro da sala de aula na dimensão” Relação com professores” em que temos um valor de 0,62 e fora da sala
26 de aula na dimensão “Na relação com os colegas” cujos coeficientes se encontram muito
próximos do valor aceitável 0,65.
Quadro 1 – Coeficiente Alfa de Cronbach
Fonte: Pestana e Gageiro (2008)
Tabela 1. Coeficiente do Alfa de Cronbach (α) Nr. Itens
Alpha de Cronbach
Comportamento e Atitudes
DENTRO DA SALA DE AULA
Cumprimento de Regras (Desvios às regras de produção) 8 0,798 Na relação com os colegas (Conflitos interpares) 5 0,730 Relação com professores (Conflitos professor-aluno) 7 0,623 FORA DA SALA DE AULA
Cumprimento de Regras (Desvios às regras de produção) 5 0,721 Na relação com os colegas (Conflitos interpares) 8 0,655
3.1.1. Caracterização da amostra
A amostra total (cf. Tabela 2) foi constituída por 64 professores, dos quais a maioria era do sexo feminino (n=41; 78,8%), sendo 11 do sexo masculino (21,2%).
Os professores tinham idades compreendidas entre os 33 e os 61 anos de idade (média 45,7 anos e desvio-padrão 4,8).
A maioria dos professores tem uma situação profissional estável inserida em Quadro de Agrupamento/Quadro de Escola (68,6%), e Quadro de Zona Pedagógica (17,6%) sendo na sua minoria (13,7%) professores contratados. Estes dados remetem-nos para um Agrupamento com um quadro docente estável.
Face aos anos de escolaridade que cada professor leciona temos que cerca de metade leciona dois anos de escolaridade em simultâneo o 5º+6º ano (28,8%), três anos de escolaridade em simultâneo o 7º+8º+9º ano (13,5%), e o 5º ano (9,6%) estes dados prendem-se com facto de o ensino se dividir em 2ºciclo (5º e 6ºanos de escolaridade) e 3ºciclo (7º, 8º e 9ºanos de escolaridade
28 Tabela 2. Distribuição das variáveis sociodemográficas
Min/Max Média/Dp
Idade 33-61 45,7 (4,8)
Tempo de serviço (anos) 7-28 20,1 (4,8)
n % Sexo Feminino 41 78,8 Masculino 11 21,2 Situação Profissional Contratado 7 13,7 QZP 9 17,6 QA/QE 35 68,6
Anos de escolaridade que leciona
5º ano 5 9,6 7ºano 1 1,9 8ºano 1 1,9 9ºano 4 7,7 5º+6º 15 28,8 5º+7º 1 1,9 7º+8º 4 7,7 7º+8º+9º 7 13,5 7º+9º 1 1,9 8º+9º 3 5,8 5º+7º+8º 4 7,7 5º+6º+7º+8º 1 1,9 5º+6º+8º+9º 1 1,9 5º+6º+7º+8º+9º 2 3,8 6º+7º+8º+9º 2 3,8
No que se refere à distribuição do grau de gravidade atribuído pelos professores aos comportamentos dos alunos dentro da sala de aula, (cf. Tabela 3) os resultados indicam que os professores consideraram muito graves os comportamentos que indiciam o não cumprimento de regras (média=4,00) sendo que consideram mais gravoso o “tentar boicotar a aula” (4,65) em contraste com o “passar o tempo a rir”(3,54); os comportamentos que indiciam má relação com os colegas (média=4,25) revelam-nos que para os professores o “bater/agredir fisicamente um colega” (4,94) é o mais grave, seguido de “fazer gestos ofensivos” (4,62); os comportamentos que indiciam má relação com os professores (média=4,41) são os que evidenciam valores mais
elevados, nomeadamente “dirigir-se oralmente ao professor num tom ameaçador” (4,98) atingindo o “levantar a voz para professor” (4,87) por si só um valor muito perto do bastante grave.
Nesta análise podemos considerar que o professor se mantém, eventualmente, rígido no seu papel de autoridade e a recusa à falta de educação e perda de valores na sociedade perante um cidadão em fase adulta.
Tabela 3. Distribuição dos Comportamentos e Atitudes (Dentro da Sala de Aula) Comportamento e Atitudes
DENTRO DA SALA DE AULA
Média Dp Min Máx
Cumprimento de regras (Desvios às regras de produção) 4,00 0,58 3 5
3_ Passar o tempo virado para trás, a falar com colegas 3,85 0,89 2 5 4_ Atirar papéis ou pedaços de borracha 4,14 0,74 2 5
5_ Usar o telemóvel 4,12 0,98 1 5
6_ Escrever ou riscar a mesa de trabalho ou a cadeira 4,02 0,92 1 5 7_ Não trazer/não tirar o material necessário para a aula 3,75 1,06 2 5
8_ Tentar boicotar a aula 4,65 0,62 2 5
9_ Recusar-se a trabalhar/realizar as tarefas propostas 3,90 1,07 1 5
2_Passar o tempo a rir 3,54 0,87 2 5
Relação com os colegas (Conflitos interpares) 4,25 0,50 3 5
14_ Entrar aos empurrões aos colegas 3,98 0,92 2 5
15_ Falar alto para os colegas 3,76 0,90 1 5
16_ Passar o tempo a distrair os colegas 3,96 0,77 2 5
17_ Fazer gestos ofensivos 4,62 0,57 3 5
18_ Bater / agredir fisicamente um colega 4,94 0,24 4 5
Relação com professores (Conflitos professor-aluno) 4,41 0,41 3 5
1_ Recusar-se a entrar 3,38 1,24 1 5
10_ Fazer comentários despropositados / desagradáveis 4,31 0,73 2 5 11_Dirigir-se oralmente ao professor num tom ameaçador 4,98 0,14 4 5 12_ Responder ao professor com arrogância 4,59 0,53 3 5
13_Levantar a voz para o professor 4,87 0,40 3 5
19_ Sair / abandonar a sala sem autorização 4,44 0,83 1 5 20_ Bater com a porta quando o professor manda sair 4,33 0,81 2 5 (1=Nada grave | 2= Pouco grave | 3=Grave | 4=Muito grave | 5=Bastante grave)
No que se refere à distribuição do grau de gravidade atribuído pelos professores aos
30 professores consideraram muito graves os comportamentos que indiciam o não cumprimento de regras (média 4,03); bem como bastante graves os comportamentos que indiciam má relação com os colegas (média 4,68). Sendo que os conflitos interpares são uma maior preocupação para os professores, o que é viável acontecer no dia a dia de uma escola pois a relação social que se estabelece com os pares é de todo relevante pois elevam-se os valores que cada um possui. A escola é o reflexo do meio de cada aluno e no seu todos onde se estabelecem as relações par a vida.
Contudo é na relação com os colegas a que os professores consideram como bastante grave (5,00) o “bater violentamente (pontapés, murros…) num colega”, seguido de “atirar objetos (paus ou pedras) aos colegas, “intimidar e colocar mensagens, fotos ou filmagens de alunos na internet”. Podemos, então, referir que atos que impliquem violência física são de todo os comportamentos mais relevantes de gravidade no dia a dia escolar. Mais uma vez podemos aferir que são as relações pessoais que mais incomodam os professores.
Tabela 4. Distribuição dos Comportamentos e Atitudes (Fora da Sala de Aula)
Comportamento e Atitudes FORA DA SALA DE AULA
Média Dp Min Máx
Cumprimento de regras (Desvios às regras de produção) 4,03 0,59 2 5
21_ Não apresentar o cartão da escola na portaria 2,90 1,22 1 5 22_ Danificar as instalações (portas, vidros, cacifos…) 4,56 0,67 2 5
23_ Gritar no refeitório/bar 3,67 0,76 2 5
24_ Trazer bebidas alcoólicas para o espaço escolar 4,90 0,41 3 5 25_ Deitar comida /lanche para o chão ou caixote do lixo 4,13 0,97 1 5
Relação com os colegas (Conflitos interpares) 4,68 0,32 4 5
26_ Entrar em conflito verbal com outro colega 3,90 0,93 1 5 30_ Atirar objetos (paus ou pedras) aos colegas 4,83 0,47 3 5 31_ Bater violentamente (pontapés, murros…) num colega 5,00 0,00 5 5 32_ Agarrar ou apalpar um colega sem autorização 4,78 0,46 3 5
33_ Intimidar um colega 4,80 0,40 4 5
34_ Filmar dentro do espaço escolar sem autorização 4,65 0,65 3 5
35_ Ofender colegas na internet 4,69 0,76 1 5
36_ Colocar mensagens, fotos ou filmagens de alunos na int 4,81 0,63 1 5 (1=Nada grave | 2= Pouco grave | 3=Grave | 4=Muito grave | 5=Bastante grave)
Da comparação do grau de gravidade atribuído pelos professores aos comportamentos em estudo dentro da sala de aula, em função do género (cf. Tabela 5) constatamos que existem
diferenças estatisticamente significativas na Relação com os colegas (p=0,008); Falar alto com os colegas (p=0,041); e Passar o tempo a distrair os colegas (p=0,019), bem como na Relação com os professores (p=0,013); e Fazer comentários despropositados / desagradáveis (p=0,001); Temos assim que o grau de gravidade atribuído a cada nível e dimensão foi superior nos professores de género feminino o que podemos supor que as professoras por si só sejam mais afetas às relações pessoais e encaram com maior relevância os comportamentos dos seus alunos. Ao nível da medicina, sabe-se que existem estruturas cerebrais com morfologia e funcionalidade diferentes entre o SNC (Sistema Nervoso Central) do homem e da mulher. Há estudos que nos indicam que o “cérebro masculino é voltado para a compreensão, enquanto o feminino é programado para a empatia, sendo as mulheres são mais emotivas e expressam com mais facilidade seus sentimentos do que os homens” Giddens, Anthony (1995).
Tabela 5. Comparação dos comportamentos em estudo em função do sexo, dentro da sala de aula
(1=Nada grave | 2= Pouco grave | 3=Grave | 4=Muito grave | 5=Bastante grave)
Cumprimento de regras 4,06 0,58 3,77 0,56 0,28 0,129 3_ Passar o tempo virado para trás, a falar com colegas 3,88 0,90 3,73 0,90 0,15 0,564 4_ Atirar papéis ou pedaços de borracha 4,17 0,74 4,00 0,77 0,17 0,423 5_ Usar o telemóvel 4,27 0,77 3,55 1,44 0,73 0,142 6_ Escrever ou riscar a mesa de trabalho ou a cadeira 4,00 0,95 4,09 0,83 -0,09 0,914 7_ Não trazer/não tirar o material necessário para a aula 3,88 1,00 3,27 1,19 0,61 0,118 8_ Tentar boicotar a aula 4,66 0,66 4,64 0,50 0,02 0,620 9_ Recusar-se a trabalhar/realizar as tarefas propostas 4,00 1,07 3,55 1,04 0,45 0,132 2_Passar o tempo a rir 3,59 0,92 3,36 0,67 0,22 0,403
Relação com os colegas 4,34 0,50 3,95 0,38 0,39 0,008 14_ Entrar aos empurrões aos colegas 4,05 0,97 3,73 0,65 0,32 0,124 15_ Falar alto para os colegas 3,90 0,83 3,27 1,01 0,62 0,041 16_ Passar o tempo a distrair os colegas 4,07 0,79 3,55 0,52 0,53 0,019 17_ Fazer gestos ofensivos 4,68 0,52 4,36 0,67 0,32 0,106 18_ Bater / agredir fisicamente um colega 4,98 0,16 4,82 0,40 0,16 0,049
Relação com professores 4,47 0,42 4,20 0,30 0,27 0,013 1_ Recusar.se a entrar 3,49 1,27 3,00 1,10 0,49 0,207 10_ Fazer comentários despropositados / desagradáveis 4,49 0,60 3,64 0,81 0,85 0,001 11_Dirigir-se oralmente ao professor num tom ameaçador 4,98 0,16 5,00 0,00 -0,02 0,604 12_ Responder ao professor com arrogância 4,65 0,53 4,36 0,50 0,28 0,083 13_Levantar a voz para o professor 4,90 0,37 4,73 0,47 0,18 0,079 19_ Sair / abandonar a sala sem autorização 4,46 0,87 4,36 0,67 0,10 0,398 20_ Bater com a porta quando o professor manda sair 4,34 0,85 4,30 0,64 0,04 0,623
Comportamento e Atitudes
DENTRO DA SALA DE AULA
Feminino Masculino
32 Da comparação do grau de gravidade atribuído pelos professores aos comportamentos em estudo
fora da sala de aula, em função do sexo (cf. Tabela 6) constatamos que existem diferenças
estatisticamente significativas no que se refere ao cumprimento das regras, nomeadamente “deitar comida/lanche para o chão ou caixote do lixo” que poderá estar na origem dos valores educacionais que são desenvolvidos face à geração de cada professor em que a comida é eventualmente vista como um bem necessário à vida humana e que nos dias de hoje não se aprende a valorizar.
Na relação com os colegas, em “entrar em conflito verbal com outro colega” o grau de gravidade atribuído a estes comportamentos foi superior, mais uma vez, nos professores do género feminino o que podemos aferir a afetividade e a preocupação com o próximo.
Tabela 6. Comparação dos comportamentos em estudo em função do sexo, fora da sala de aula
Comportamento e Atitudes
FORA DA SALA DE AULA
Feminino Masculino
Média Dp Média Dp Dif p
Cumprimento de regras 4,10 0,56 3,78 0,65 0,32 0,165
21_ Não apresentar o cartão da escola na portaria 2,95 1,24 2,73 1,19 0,22 0,635 22_ Danificar as instalações (portas, vidros, cacifos…) 4,63 0,58 4,27 0,90 0,36 0,160 23_ Gritar no refeitório/bar 3,68 0,82 3,64 0,50 0,05 0,932 24_ Trazer bebidas alcoólicas para o espaço escolar 4,92 0,35 4,82 0,60 0,11 0,808 25_ Deitar comida/lanche para o chão ou caixote do lixo 4,32 0,79 3,45 1,29 0,86 0,029
Relação com os colegas 4,73 0,32 4,50 0,29 0,23 0,007
26_ Entrar em conflito verbal com outro colega 4,15 0,79 3,00 0,89 1,15 0,000
30_ Atirar objetos (paus ou pedras) aos colegas 4,83 0,50 4,82 0,40 0,01 0,664 31_ Bater violentamente (pontapés, murros) num colega 5,00 0,00 5,00 0,00 0,00 1,000 32_ Agarrar ou apalpar um colega sem autorização 4,82 0,44 4,64 0,50 0,18 0,223 33_ Intimidar um colega 4,85 0,36 4,64 0,50 0,21 0,151 34_ Filmar dentro do espaço escolar sem autorização 4,73 0,59 4,36 0,81 0,37 0,081 35_ Ofender colegas na internet 4,71 0,81 4,64 0,50 0,07 0,213 36_Colocar mensagem/fotos/vídeo de alunos na internet 4,78 0,69 4,91 0,30 -0,13 0,623 (1=Nada grave | 2= Pouco grave | 3=Grave | 4=Muito grave | 5=Bastante grave)
Da correlação entre a idade, os anos de serviço e o grau de gravidade atribuído pelos professores aos comportamentos em estudo dentro da sala de aula, (cf. Tabela 7) os resultados indicam que não existem diferenças estatisticamente significativas, o que supomos que terá relação na idade em que cada professor efetuou os seus estudos e a integração na carreira bem
como a sua forma de atuação face às estratégias pedagógicas e didáticas a adotadas na sua sala de aula podendo ter ou não adquirido aquando os seus estudos.
Tabela 7. Correlação entre a idade, os anos de serviço e o grau de gravidade atribuído pelos professores aos comportamentos em estudo dentro da sala de aula
Comportamento e Atitudes
DENTRO DA SALA DE AULA
Anos de Idade Serviço
Cumprimento de regras 0,090 0,033
3_ Passar o tempo virado para trás, a falar com colegas 0,202 0,055 4_ Atirar papéis ou pedaços de borracha 0,028 -0,026
5_ Usar o telemóvel -0,089 -0,215
6_ Escrever ou riscar a mesa de trabalho ou a cadeira 0,086 -0,046 7_ Não trazer/não tirar o material necessário para a aula 0,105 0,003
8_ Tentar boicotar a aula 0,188 0,038
9_ Recusar-se a trabalhar/realizar as tarefas propostas 0,134 0,155
2_Passar o tempo a rir -0,109 0,070
Relação com os colegas 0,131 0,116
14_ Entrar aos empurrões aos colegas 0,214 0,230
15_ Falar alto para os colegas 0,112 0,089
16_ Passar o tempo a distrair os colegas 0,085 -0,072
17_ Fazer gestos ofensivos -0,114 -0,102
18_ Bater / agredir fisicamente um colega -0,036 0,077
Relação com professores 0,019 0,186
1_ Recusar.se a entrar -0,050 0,081
10_ Fazer comentários despropositados / desagradáveis 0,025 0,120 11_Dirigir-se oralmente ao professor num tom ameaçador 0,117 - 12_ Responder ao professor com arrogância -0,075 0,055
13_Levantar a voz para o professor -0,037 0,094
19_ Sair / abandonar a sala sem autorização 0,136 0,223 20_ Bater com a porta quando o professor manda sair 0,116 0,192
Da correlação entre a idade, os anos de serviço e o grau de gravidade atribuído pelos professores aos comportamentos em estudo fora da sala de aula, (cf. Tabela 8) os resultados indicam que existem correlações estatisticamente significativas uma vez que sustenta resultados
34 entre -1 e 1, sendo que quanto mais próximo de -1, maior a correlação negativa entre as variáveis, e quanto mais próximo de 1, maior a correlação positiva, podemos dizer que:
- o grau de gravidade atribuído pelos professores ao comportamento de deitar comida/lanche para o chão ou caixote do lixo está correlacionado negativamente com a idade do professor (r= -0,369; p=0,01); e com o número de anos de serviço do professor (r= -0,437; p=0,01), ou seja os valores estão mais perto de -1.
- o número de anos de serviço do professor está ainda correlacionado positivamente com a relação do aluno com os colegas, nomeadamente com o grau de gravidade atribuído pelos professores ao comportamento de colocar mensagens/ foto/vídeo de alunos na internet (r=0,308; p=0,05) pois os valores estão mais perto de 1. Podemos dizer que neste caso existe uma relação positiva entre os anos de serviço do professor e a gravidade o comportamento de colocar mensagens/foto/vídeo de alunos na internet.
Em ambas as análises nos remetemos para o fator idade versus anos de serviço favorecerem a atribuição do grau de gravidade a determinados comportamentos e atitudes, neste caso fora da sala de aula, o que nos pode sugerir, mais uma vez, a diferença de valores de gerações para gerações. Encontramos professores com mais idade logo a atribuírem, face à sua perceção uma gravidade bastante considerável a situações como “deitar comida/lanche para o chão ou caixote do lixo” visto a comida em tempos passados ser escassa e de mais difícil acesso para muitas famílias e “colocar mensagem,/fotos/vídeo de alunos na internet” que nos indica a relação estreita com as novas tecnologias e o desrespeito pela individualidade de cada individuo.
Tabela 8. Correlação entre a idade, os anos de serviço e o grau de gravidade atribuído pelos professores aos comportamentos em estudo dentro da sala de aula.
Comportamento e Atitudes
FORA DA SALA DE AULA
Anos de Idade Serviço
Cumprimento de regras -0,004 -0,032
21_ Não apresentar o cartão da escola na portaria 0,158 0,203 22_ Danificar as instalações (portas, vidros, cacifos…) 0,094 -0,016
23_ Gritar no refeitório/bar 0,078 0,060
24_ Trazer bebidas alcoólicas para o espaço escolar -0,133 -0,211 25_ Deitar comida/lanche para o chão ou caixote do lixo -,369** -,437**
Relação com os colegas -0,060 -0,040
26_ Entrar em conflito verbal com outro colega -0,126 -0,207 30_ Atirar objetos (paus ou pedras) aos colegas -0,128 -0,080 31_ Bater violentamente (pontapés, murros) num colega - - 32_ Agarrar ou apalpar um colega sem autorização -0,081 -0,103
33_ Intimidar um colega -0,082 -0,057
34_ Filmar dentro do espaço escolar sem autorização -0,089 0,058
35_ Ofender colegas na internet 0,117 0,210
36_Colocar mensagem/fotos/video de alunos na internet 0,116 ,308* **. A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral).
*. A correlação é significativa no nível 0,05 (bilateral).
À medida que íamos tratando os dados surgiu a necessidade de perceber se o género, a idade, o tempo de serviço e a situação profissional poderiam ser itens que cruzados com os itens das várias dimensões poderiam vir a ser considerados como “condicionantes” positivos e/ou negativos para as suas diferentes perceções face ao que consideram comportamentos/atitudes de indisciplina em contexto escolar.
36
CONCLUSÕES
No dia a dia de uma de uma sala de aula é um constante desafio entre o que se pode, deve ou não fazer. Existe um “duelo” continuo entre professor e aluno em que cada um se evidência nas suas atitudes com a esperança de se respeitarem por forma a que o professor ensine e o aluno aprenda.
Contudo para Aquino (1996. p.54) a falta de disciplina está atrelada com a dificuldade de se obter excelência no ensino, ou seja, comportamentos incorretos faz com que o desempenho escolar falhe. Para se obter um ensino pautado na aquisição, concretização, aplicação de conhecimentos com vista ao sucesso educativo os professores têm de procurar priorizar a capacidade de tolerância e de interação com os alunos levando-os a uma relação de empatia que os leve a interagir e aprender.
Há todo um contexto associado a comportamentos indisciplinares por parte dos alunos, a que se pode atribuir a responsabilidade ao sistema escolar. Podemos ligar indisciplina a tirania, em que a atitude indisciplinada pode ser confundida como resposta a opressão, vergonha e humilhação. Assim, tal como atividades realizadas em sociedade necessitam de orientações e/ou regras de convivência para que funcione, a escola sendo uma instituição e em que nela estão presentes futuros cidadãos, necessita que os seus colaboradores sejam regidos por normas e diretrizes iguais. O docente tem uma função muito importante nesse processo disciplinar do aluno. Ele é o responsável por estabelecer e aplicar as normas de forma harmoniosa e pacífica dentro da sala de aula sempre numa perspetiva positiva por forma a que seja entendida como algo benéfico e construtivo ajudando-o na sua formação pessoal, social e escolar. Taille (1996), diz-nos que:
Crianças precisam sim aderir a regras (que implicam valores e formas de conduta) e estes somente podem vir de seus educadores, pais ou professores. Os limites implicados por estas regras não devem ser apenas interpretados no seu sentido negativo; o que não pode ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social – a família, a escola, a sociedade como um todo (TAILLE, 1996, p. 09)
As nossas escolas estão providas de professores de faixa etária significativamente elevada e com bastantes anos de serviço levando-os a um cansaço dito normal mas que os impede de aceitar tranquilamente muitas das atitudes dos alunos julgando-as e classificando-as como atitudes indisciplinadas.
Assistimos, assim nos dias de hoje, a um confronto de gerações em que cada uma das partes apela aos seus princípios e valores morais entrando rapidamente em desacordo e numa disputa pelo espaço ocupado.
Tal como os resultados obtidos em que um professor sito numa faixa etária superior percecione comportamentos indisciplinados mais graves os que estão associados a valores morais de sociedade como o deitar lixo para chão e/ou desperdiçar comida. É de constatar a diferença de valores e a importância atribuída aos bens essenciais na vida comum.
Como tal, o professor não pode, em hipótese alguma, permitir que diferentes perceções, em espaço escolar/sala de aula, seja motivo desencadeador de um problema seríssimo para ambas as partes, pois a “busca do clima ético, de respeito em sala de aula tem a ver com a construção da cidadania, com o direito à diferença, com o direito a ter sua palavra, a se expressar e a atuar” (Vasconcellos, 2006, p.93). O aluno não tem de gostar do professor, mas ele deve respeitá-lo e aceitar os diferentes pontos de vista e opiniões vice-versa.
Além disso, o professor tem de estabelecer o que é disciplina para ele, o que varia muito de pessoa para pessoa. Os valores éticos e morais com os quais cada interveniente no processo educativo cresceu valoriza a sua forma de pensar e atuar para com o próximo. Outro fator desencadeante de uma atuação divergente numa sala de aula poderá ser o género (feminino e masculino) do professor. No nosso estudo podemos concluir que existe uma predominância do professor do género feminino para considerar atos indisciplinados mais gravosos os que estão relacionados com as relações interpessoais, em que a parte afetiva e as emoções entre os pares sejam determinantes para um bom clima de aprendizagem.
Sendo que a ideia tradicional nos diz que há um apelo biológico para a maternidade e uma predisposição das mães para os afetos acentuando a diferença entre homens e mulheres nestas questões do amor. Archer, John e Barbara Lloyd (2002, p.225) afirma que:
não nos podemos esquecer das evidentes diferenças biológicas entre homens e mulheres. Por todo um passado histórico, desde a Pré-História, que o homem é mais visual, ativo e racional que a mulher, mais no papel de cuidadora, protetora do lar e garante do bem-estar das suas