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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para este estudo foram realizadas entrevistas entre os dias 26 de novembro e 14 de dezembro de 2015 nas cidades de Braga e Porto, em Portugal. Foi utilizado um guião para que o pesquisador pudesse ordenar uma linha de raciocínio e conseguisse extrair dos indivíduos entrevistados informações relevantes ao problema de pesquisa.

A amostra foi constituída por 20 imigrantes brasileiros que residem em Portugal há menos de 2 (dois) anos, 11 (onze) do sexo masculino e 9 (nove) do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 19 e os 50 anos de idade. No que respeita à situação familiar, 9 (nove) entrevistados eram casados, 10 (dez) solteiros e 1 (um) divorciado, sendo que do total 3 (três) tinham filhos e 17 (dezessete) não. Quando questionados sobre a região de origem no Brasil, 7 (sete) afirmaram ser da região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), 7 (sete) da região Sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), 2 (dois) da região Centro- Oeste (Distrito Federal e Mato Grosso), 2 (dois) da região Norte (Pará) e 1 (um) da região Nordeste (Paraíba). Quanto ao grau de escolaridade, 5 (cinco) entrevistados já eram pós-graduados em nível de especialização e mestrado, 8 (oito) possuíam o ensino superior completo e 7 (sete) com o nível superior ainda incompleto.

Como fator de decisão para a saída do Brasil 6 (seis) indicaram ser uma oportunidade, 6 (seis) apontaram outros fatores, 4 (quatro) apontaram a violência como fator decisivo no momento de deixar o país e 2 (dois) disseram que a língua foi determinante.

Importante aspecto ressaltado pelo entrevistados, a violência surge em quase todas as entrevistas, em algum momento da abordagem. Para evitar divergências, faz-se necessário definir a violência:

“Surgida no início do século XIII, a palavra violência, que deriva do latim vis, designando força ou vigor, caracteriza um ser humano de carácter irascível e brutal. Define também uma relação de força que visa submeter ou constranger o outro. Nos séculos seguintes, a civilização ocidental concedeu-lhe um lugar fundamental, fosse para denunciar vivamente os seus excessos, e declarando-a ilegítima ao recordar que a lei divina proíbe matar outro homem, ou para lhe dar papel positivo eminente e caracterizá-la como legítima, para validar a ação do cavaleiro, o qual verte o seu sangue para defender a viva ou o órfão, ou tornar lícitas as guerras justas conduzidas pelos reis cristãos contra infiéis, desordeiros e inimigos do príncipe” (Muchembled, 2014, p.15).

E a palavra violência não surge na boca dos entrevistados sem que hajam explicações, justificativas e apontamentos de sobra. Fort (2007, p.138) afirma que existe uma sociedade cada vez mais assustada com a violência urbana e que emprega meios para tentar amenizá-la, isolando-se e procurando, de forma egoísta, encontrar uma solução solitária para um problema que é do todo, que é coletivo. A autora ainda afirma que há uma tendência de anulação do real, algo previsto nas sociedades modernas e é diretamente influenciado pelos veículos de comunicação que tendem, incessantemente, a tratar a violência e a morte como algo espetacular. “É na mídia que o indivíduo vai buscar essa experiência imediata do real”, ou seja, aquele ato violento ou criminoso que acontece na frente da sua casa, no rua onde o cidadão vive, é contado e representado pelo jornalismo trazendo construções despedaçadas da vida real.

A teoria de Szpacenkopf (citado em Negrini, 2012, p.80) diz que:

“os espetáculos de violência e morte são atrativos ao grande público. Szpacenkopf (2003) evidenciou que mesmo os que dizem não gostar de violência acabam sendo atraídos por contemplá-la nos meios de comunicação e acabam se interessando por notícias com este conteúdo, “[...] seja porque querem estar informados, seja porque precisam saber o que pode lhes acontecer, seja porque defensivamente podem ver na tela o que poderiam fazer, mas que são os outros que fazem”.

Para facilitar o entendimento das respostas dos elementos que participaram da pesquisa, nomearemos com nomes fictícios os 11 (onze) homens e as 9 (nove) mulheres conforme a seguir: Miguel, Alice, Arthur, Sophia, Davi, Júlia, Pedro, Laura, Bernardo, Isabela, Gabriel, Manuela, Lucas, Luiza, Mateus, Helena, Heitor, Valentina, Rafael e Enzo.

Alice, que foi entrevistada no presente estudo, afirma: “tenho dois filhos pequenos, e agora a questão de violência me assustou um pouco”, sair do Brasil para Alice era uma questão de buscar segurança e tranquilidade e afirma que “[…] foi uma opção de uma vida mais tranquila”, bem como Miguel que diz que sair do Brasil foi “opção foi basicamente por conta a violência urbana que já estava insustentável”. Já para a entrevistada Sophia:

“Foi uma opção. Porque…resumir em poucas palavras é complicado. […] Porque já tínhamos uma vida organizada, porém não satisfatória. Não chegávamos a níveis satisfatórios, não digo só a nível financeiro, digo a nível de um tudo. Não adianta você trabalhar, ter um trabalho estável, você ter a sua casa tudo, mas você não ter segurança. Principalmente no Rio de Janeiro, que onde morávamos, você não tem segurança pública. Você sai de casa com medo de não poder voltar e não tô [sic] a dizer ir pra balada nem nada disso, tô [sic] a dizer sair pra trabalhar. Pra viver, a rotina do dia a dia já estava ficando complicada e está cada vez pior, infelizmente. Não tem mobilidade urbana, você perde pra ir 4 a 5 horas no trânsito por dia, isso, pronto, 4 horas por dia, sexta-feira nem conta, não é?! Se você quer fazer um passeio, uma viagem, uma coisa pra dar uma descansada num feriadão esquece, você perde quase um dia do seu feriado só pra poder se deslocar. Por falta de mobilidade, por falta de…de segurança…por N situações.”

Um país continental como o Brasil, possui problemas com a violência proporcionais ao seu tamanho. De acordo com o Relatório Global sobre a Prevenção da Violência (2014), que é um documento elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) e o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC), em 2012 o país registrou 50.108 homicídios e deste total, 73% foram resultado do uso de armas de fogo. É um número elevado e preocupante, que impacta diretamente a população. O relatório citado utiliza dados de 2012, porém em 2014, de acordo com Stochero (2015, 27 de julho) o “Brasil teve em média 143 assassinatos por dia”, totalizando 52.336 em apenas um ano.

Para Cerqueira (2014), os motivos que justificam o aumento da violência no Brasil não são recentes, muito pelo contrário. É, de acordo com o autor, consequência de uma série de atos, divididos em três períodos entre a década de 1980 e os anos 2000. Nos últimos 30 anos a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes quase que dobrou e possíveis causas não faltam, seja pela questão social, econômica e de demografia ou pelo significativo aumento do mercado de drogas proibidas, comércio de armas de fogo ilegais e até pelo papel da polícia na sociedade.

O autor fala do primeiro ato que justifica a disparada da violência no Brasil, para ele o problema se inicia em 1981 quando o país se depara com a famosa década perdida (1980). Diante de uma atividade econômica estagnada, inflação nas alturas e a renda concentrada na mão de poucos, a década de 1980 no Brasil recebeu o título de década perdida. O segundo ato para Cerqueira (2014, p.54) compreende o período entre os anos de 1990 e 2001 onde ele intitula de “cada um por si - ou o crescimento da indústria de segurança privada”. Já o terceiro item apontado pelo autor vai de 2001 até 2007 quando, após haver a degradação das forças de segurança pública, há uma disparada nas taxas de homicídio no Brasil, porém “no campo socioeconômico, a evolução se deu de forma positiva, com a desigualdade de renda diminuindo de forma consistente, com a taxa de desemprego e o aumento da renda per capita […]” (Cerqueira, 2014, p.64).

Para Miguel, a opção do deixar o Brasil também se baseia na violência e ele afirma que a “opção foi basicamente por conta a violência urbana que…já estava insustentável”. Há, inclusive, por parte do entrevistado Miguel um relato de violência:

“Eu não lembro o ano, mas foi uma época que eu tava (sic) morando com a minha mãe, já tava (sic) casado […]. E nesse período nós tivemos a casa invadida, por dois elementos que eu não cheguei a ver porque ficaram, esconderam- se né? Fugindo da polícia, esconderam-se lá e tal e aquela sensação de impotência foi…foi terrível. Foi um dos motivos pelo qual eu decidi.”

Mello-Silva et al. (2012, p.559), afirma que pessoas que são vítimas da violência, principalmente quando existe contato com armas de fogo, como no caso de Miguel, existem sensações que são sentidas pelas vítimas que podem levar ao desenvolvimento de traumas psicológicos e até o aparecimento de síndromes: “vítimas de violência vivenciam ameaça à integridade física de si própria e de outros, medo intenso, impotência ou horror. Em regiões com alta taxa de violência, a ocorrência de repetidos eventos pode predizer o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, bem como pode reduzir a qualidade de vida das vítimas”. Quando o autor se refere às regiões com alta taxa de violência, Miguel se encaixa nesse padrão, já que vivia na cidade do Rio de Janeiro, uma das mais violentas do Brasil.

Em países semi-periféricos, com o seu legado de desigualdades, injustiça social, arbitrariedades e violências, e por não ter encontrado segmentos sociais capazes de cumprir as tarefas históricas de transformação e ruptura com a cultura oligárquica predominante, as promessas emancipatórias da modernidade não passaram de declarações formais, visando legitimar pactos de elites. Assim ocorreu em diferentes momentos da história brasileira, como na República Velha, na Revolução de 1930, na ordem constitucional de 1946, etc., num processo de “Revolução Passiva” ou de pacto entre as elites, visando transitar, sem rupturas (ou, pelo menos, sem rupturas profundas), para uma nova realidade que mantém a lógica anterior nos aspectos essenciais do modelo de desenvolvimento e da estrutura de classes (Dornelles, 2014, p.214).

Mateus, que é da cidade de São Paulo/SP, diz que “não tive ainda nenhum caso, espero não ter e duvido que tenha, nenhum caso de, de sei lá, roubo e etc. Não, no Brasil muitas vezes, em São Paulo principalmente”. Quando é confrontado com a diferença entre o Brasil e Portugal na questão da violência ele diz: “só que aqui (Portugal), nenhum. Não cheguei nem próximo. E isso é um negócio que eu posso pontuar

como a segurança um dos fatores que me surpreenderam, não me surpreenderam porque eu já esperava que não tivesse tanta criminalidade quanto São Paulo”. Mateus ainda coloca que “São Paulo é uma das cidades mais violentas do Brasil assim, né? E você pega Braga e Portugal como um todo, a criminalidade é pequena, eu acho que sei lá, a taxa de homicídio por 1000 habitantes deve ser abaixo de 1%. Então é um negócio bem mínimo. Agora no Brasil você tem, em São Paulo especificamente […]”. De acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna - RASI - (2016), Portugal registrou 102 homicídios no ano de 2015 e, conforme afirmou Mateus, a taxa é abaixo de 1%, ficando em 0,01% para cada 1000 habitantes.

Ainda para Dornelles (2014), o Brasil teve o processo de modernização adquirido de maneira retardada, com atraso e, mesmo assim, não conseguiu diminuir seus problemas sociais, que são graves, há bastante tempo. Há, para o autor, uma cultura oligárquica no país e isso é parte integrante da problemática da desigualdade social, de se terem elites que governam o Brasil desde sempre e não possuem interesse em incluir os cidadãos excluídos e praticar a justiça social. Coloca o autor ainda, que quando se é negada a grande parte da população brasileira o direito de participar da sociedade de forma igualitária, tende-se a uma busca por essa igualdade de maneira que práticas ilegais se realizem.

Quando a violência e considerada como resultado da “escassez do publico”, ou seja, da exclusão política de grandes parcelas da população e da privatização da liberdade, o enfrentamento do quadro de ruptura com a institucionalidade se da com a democratização do Estado, e com o pluralismo político e a ampliação dos canais de participação e representação política. A democratização do Estado, por si só, não e um remédio para a apatia política e a indiferença cívica, para as ações antiinstitucionais da juventude mais pobre e para o neo-corporativismo das formas associativas (Dornelles, 2014, p.218).

Heitor cita outro problema que considera grave, a “corrupção. […] É exatamente isso, você fica insatisfeito com a situação da sociedade brasileira” e para ele houve um despertar, uma atenção das pessoas para o fato de que “cada vez menos as pessoas se importam umas com as outras. Cada vez menos importa a vida a do outro” e ele entende que “isso aumentou exponencialmente nos últimos anos. Onde a gente vê que o nosso governo tá (sic), tá (sic) roubando então tá (sic) todo mundo roubando pra si. Sendo que quem dá o exemplo, está dando um mau exemplo, está todo mundo seguindo assim”.

A corrupção política é um fenômeno universal que atinge praticamente todos os países do mundo, democráticos ou não. No caso dos países democráticos, no entanto, ela tem efeito devastador para a legitimidade do regime e para a promessa de igualdade política que ela supõe. Isso ocorre, por um lado, porque ela induz parcelas importantes da opinião pública a considerar que o princípio do primado da lei não é efetivo, já que muitas vezes nem todos os protagonistas envolvidos são igualmente atingidos pelos efeitos punitivos das normas legais. Por outro lado, a corrupção também desequilibra os modos pelos quais projetos de políticas públicas são escolhidos pelas instancias de tomada de decisões, já que alguns desses projetos são adotados através de meios espúrios envolvendo a apropriação privada de fundos públicos. Nessas condições, ela frauda o princípio de que na democracia a competição política entre atores diferentes se baseia na igualdade de condições (Mesquita, Moisés & Rico, 2014, p.1).

Singer (2013, p.35) define a corrupção como sendo “um fluxo de transações indevidas entre os bens públicos e os interesses privados […]”, e por isso “os governos, enquanto gestores da riqueza coletiva, estão

constantemente no centro das denúncias”. Para o autor, quando se é erguida uma bandeira popular que explora e aborda um movimento anti-corrupção e as pessoas colocam o combate a esse problema como motivo para protestar, “ela penetra em todas as camadas sociais, pois flui com facilidade pelo senso comum. Quem pode ser a favor da corrupção?”. A ideia de Heitor de que está “todo mundo roubando”, surge dentro de um contexto de realização da Copa do Mundo de 2014, de protestos populares contra o governo federal brasileiro que eclodiram em junho de 2013 e o autor coloca:

Com a crítica aos dispêndios para o calendário esportivo, entrava em cena uma segunda bandeira de esquerda, após a da redução das tarifas. Afinal, o que está em jogo é a destinação de dinheiro público para construir estádios luxuosos e rendosos em termos de negócios, mas depois pouco úteis, em um país onde os pobres não têm esgoto, atendimento médico, transporte aceitável, segurança pública e, agora, para cúmulo da ironia, passaram a ser excluídos também do próprio futebol. Em última análise, a crítica da desigualdade constitui o leitmotiv do enredo “anti-Fifa” (Singer, 2013, p. 36).

Ainda para Singer (2013, p.32) os protestos no Brasil foram “socialmente heterogêneos” e “foram também tão multifacetados no plano das propostas que não espanta haja todo tipo de imputação ao seu sentido ideológico: desde o ecossocialismo até impulsos fascistas, passando por diversas gradações de reformismo e liberalismo”. Para o autor, fica claro que a ida dos cidadãos brasileiros para as ruas “acabaram por ser uma espécie de “Jornadas de Juno”, cada um vendo nas nuvens levantadas nas ruas a forma de uma deusa diferente”. Durante os protestos no país, órgãos e institutos de pesquisa foram questionar os participantes para saber quais eram as suas principais reivindicações e Singer (2013, p.39) diz que “50% fazendo referência especificamente à corrupção”.

A entrevistada Sophia aponta para um fato que é comum aos grupos de estrangeiros, o dilema entre buscar uma nova oportunidade de vida ou permanecer próximo aos familiares. De acordo com Truzzi e Matos (2015), com a constante movimentação de pessoas pelo mundo, aumentando a distância entre elas, é natural que a saudade seja um fator que tenha peso relevante e importante na tomada de decisão de sair do país de origem e ir para um outro lugar.

“Queríamos ter qualidade de vida, tranquilidade, poder viver, fazer o que quiser sem estar se preocupando enfim, tendo enfim, tendo segurança, tendo tudo isso. É abdicar de estar próximo das pessoas que se ama, mas também tem a ver com escolhas, não é. A gente pesa na balança e ver o que satisfaz. Meu marido tinha uma situação, profissional…né, encaminhada porém não tava (sic) satisfeito, tava (sic) com enfim…problemas de saúde, depressão, a base de medicamentos, não sei o que, ou seja, você trabalha pra caramba pra tar (sic) comprando remédio e ferrando com a sua saúde.”

Porém, no caso do Brasil e de Portugal, há uma série de fatores que podem ser considerados como facilitadores no processo de adaptação e a língua é um deles. Malheiros (2007, p.40) afirma que por Portugal ser considerado um país-irmão do Brasil, possui características relacionadas à linguagem e à cultura, ajudando no fluxo de cidadãos entre os dois países. O autor ainda coloca que “as relações estabelecidas com o Brasil vinculam-se aos laços culturais e de sangue”.

Já para Silva (2000), alguns tipos de interesses que posteriormente podem se transformar em oportunidades, passam pela língua. Para o autor, o papel da língua é primordial no processo de união entre povos de diferentes nações e exerce influência inclusive econômica.

Por outro lado, uma língua comum a vários países é um bem público internacional, isto é, está disponível sem restrições para todos os que o utilizam, sejam eles populações ou empresas, constituindo uma vantagem, cujo recurso próprio ou alheio pode favorecê-los colectivamente. Assim, e para além dos benefícios decorrentes das trocas e dos negócios em variados sectores e contextos, outra área onde esta lógica tem incidência particular, é a dos organismos internacionais (em princípio portadores da lógica dos bens públicos), cujo peso tende aliás a aumentar rapidamente, detendo uma parte importante da afectação e da orientação internacional dos recursos. Em termos gerais, é importante sublinhar esta convergência, ainda que relativa e limitada (bem como atravessada por conflitualidades várias), entre firmas transnacionais e organismos internacionais, com vista a tratarem o mundo como também dividido em espaços linguísticos estruturantes, de uma forma mais solta e pragmática que os próprios Estados tradicionais (Silva, 2000, p. 13).

A entrevistada Laura afirma categoricamente que optou por Portugal por conta da língua: “escolhi Portugal por causa da proximidade da língua mesmo”. Assim como ela, Luiza também aponta a língua como fator importante e diz que “lugar de fácil acesso pra mim, porque sei lá, ser imigrante falando a minha própria língua é mais fácil né?!”. Percebe-se que, o que os autores afirmam, se encontra com o que a pesquisa do presente estudo constata com alguns entrevistados.

A língua pode ser considerada como fator fundamental na influência do processo de globalização, como afirma Silva (2000). Para o autor, a língua é capaz de derrubar muros que possam atrapalhar a relação entre países longínquos, pode aproximar relações comerciais, econômicas, políticas e sociais, porém deixa claro que isso só acontece quando há interesse entre as nações envolvidas.

Quando inquiridos sobre buscarem em Portugal algo que não encontram no Brasil, os entrevistados trouxeram pontos de vista relevantes e diferentes uns dos outros. Alice afirma que para ela o que importa atualmente é a segurança, Miguel também aponta para o fator da segurança e diz: “sim…sim…sim… sensação de segurança, principalmente”. Júlia também reitera o que os entrevistados anteriores disseram e afirma que busca “mais segurança, aqui é mais seguro, é um país muito mais tranquilo”.

Sophia também coloca a segurança como um fator primordial que busca em Portugal, assim como a Luiza que diz que “pra morar sozinha, com segurança […], segurança, de morar sozinha”. É possível perceber que 4 (quatro) entrevistadas mulheres, das 9 (nove), citam a segurança como fator relevante e para apenas 1 (um) dos 11 (onze) homens, a questão da segurança vem em primeiro lugar. Apesar do debate de gênero não ser o foco deste estudo, a quantidade e a diferença de prioridades entre os entrevistados é, no mínimo, interessante. Blay (2003, p.87) afirma que “agredir, matar, estuprar uma mulher ou uma menina são fatos que têm acontecido ao longo da história em praticamente todos os países ditos civilizados e dotados dos mais diferentes regimes econômicos e políticos” e no Brasil não é diferente.

Para Arthur, um fator que predomina na busca por algo que ele pode encontrar em Portugal e não no Brasil, são as questões culturais. Apesar de conter em seu discurso alguns tópicos relativos à violência, o

entrevistado não associa diretamente e direciona suas ideias para a questão da educação, cidadania, moral e ética.

“Eu vim buscar diferença. E assim, o que eu encontrei de diferente aqui em Portugal, de cara assim, fora as questões culturais mais explícitas, sociais. A maneira que as pessoas se comportam aqui é diferente da maneira como os

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