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O trabalho de investigação/intervenção decorreu ao longo de três fases distintas, de acordo com objetivos e procedimentos específicos para cada uma delas. A primeira fase correspondeu à sensibilização para a temática em causa; a segunda refere-se à implementação do projeto “Educar (com) o coração” e a terceira diz respeito à avaliação, sendo esta um procedimento transversal a todo o projeto.

O quadro 1 dá conta do plano de investigação/intervenção. Quadro 1 - Plano de investigação /intervenção

Fases Atividade Calendarização Avaliação

1.ª Fase: Sensibilização

 Pesquisa bibliográfica  Análise documental  Conversas informais

 Reunião formal com os professores tutores das turmas alvo, com o professor interlocutor da saúde do agrupamento e o professor coordenador do 1.º ciclo.

 Elaboração de dois inquéritos por questionário.

Avaliação Diagnóstica

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 Elaboração e envio de uma carta de apresentação e pedido de autorização aos pais dos alunos participantes no projeto.

 Pedido de autorização à DGE para avaliação do projeto.

 Planeamento do Plano de Ação. 2.ª Fase:

Implementação do Projeto “Educar (com) o Coração”

 Ação 1: Sessões com os alunos em contexto de sala

 Ação 2: Missões casa e escola

 Ação 3: Reuniões formais com os professores

Avaliação Intermédia

3.ª Fase: Avaliação

 Inquérito por questionário  Observação

 Conversas informais

Avaliação Final Fase 1 – Sensibilização para o Projeto

Durante a fase de sensibilização decorreu uma reunião formal com os professores tutores das turmas alvo, com o professor interlocutor da saúde do agrupamento e os responsáveis do 1.º ciclo e da Direção da escola, no sentido de sensibilizar e motivar para o projeto, solicitando a sua participação regular e envolvimento, de modo a que fosse assumido formalmente o compromisso entre todas as partes envolvidas no decorrer do ano letivo.

Foi abordada a importância de desenvolver a aprendizagem social e emocional, tanto quanto a aprendizagem académica, apresentando os seus benefícios. Foi exposta pela investigadora uma proposta do projeto e apresentadas, por parte dos professores, as motivações, interesses e necessidades da comunidade escolar, promovendo, assim, a sua participação e envolvimento, fazendo-os sentir-se parte da intervenção. Foi consensualizada a realização de oito sessões quinzenais com a presença e a participação dos professores, que teriam nos quinze dias subsequentes desafios propostos sob a forma de missões para desenvolver com os seus alunos com o propósito de consolidar a sessão através de atividades práticas. Acordado o envolvimento dos professores, apresentaram-se os vários temas a serem desenvolvidos ao longo das oito sessões.

65 Nesta fase procedeu-se, ainda, à apresentação do enquadramento institucional e objetivos do programa, bem como foram apresentadas e discutidas as questões éticas inerentes ao mesmo, nomeadamente o caráter voluntário da participação no estudo, a salvaguarda da identidade, a confidencialidade dos dados recolhidos e a divulgação (anónima) dos resultados.

Os pais/encarregados de educação foram envolvidos desde o início do projeto com o envio de uma carta de apresentação do mesmo e da equipa dinamizadora, retorno a meio do projeto, relembrando a sua importância e a da participação de todos para alcançar os objetivos propostos e apresentando a disponibilidade da equipa dinamizadora para o esclarecimento de qualquer dúvida ou apresentação de sugestão e carta final de agradecimento pela colaboração.

Paralelamente a este processo, foi aprofundada a contextualização do projeto através de pesquisa bibliográfica, análise de documentos e conversas informais.

Foram, ainda, elaborados os instrumentos de recolha de informação e solicitada à DGE autorização para a aplicação dos mesmos. A última tarefa desta fase consistiu na conceção do plano de ação.

Fase 2 - Implementação do Projeto Educar (com) o Coração a) Breve Descrição do Projeto

O projeto de intervenção, “Educar (com) o coração” constitui-se com base numa parceria entre Centro de Saúde e Câmara Municipal, tendo como foco a capacitação das crianças ao nível da regulação emocional, como contributo para o desenvolvimento da literacia emocional e a promoção de relações positivas.

Este programa pretendeu ajudar as crianças a reconhecer e gerir emoções e a incentivar a generosidade, a solidariedade e outros valores que contribuam para criar uma cultura de respeito por si mesmo e pelo outro na escola e na comunidade, promovendo uma cultura de bem-estar. Configurou-se na aplicação de oito sessões subordinadas aos seguintes temas: Emoções; Identidade; Interação; Valores; Escolhas; Desafios e perdas; Gestão emocional; Comunicação e Violência. A intervenção foi desenvolvida, diretamente em cada turma, com periocidade quinzenal, na presença dos professores que foram envolvidos, ancorando-os em atividades como a prática de meditação com as crianças. As atividades promovidas tiveram um caráter lúdico-pedagógico e experimental, de modo a respeitar o princípio de aprender brincando.

As sessões desenvolveram-se seguindo um fio condutor que começava com uma história, em interação com as crianças, que fala de uma criança que sofre uma mudança no seu

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comportamento que ninguém compreende e que altera a sua forma de estar de acordo com as suas emoções. No final da história, percebe-se que estava a ser vítima de bullying e não conseguia lidar com isso, tornando-se ela própria um agressor. A história desenrolou-se ao longo de todas as sessões e serviu de base a todas as atividades que “a professora” resolveu fazer na escola com os alunos, para garantir que nunca mais situações daquelas voltariam a suceder, trabalhando desta forma os cinco domínios do SEL.

Para tal, foram usadas em todas as sessões a música e o objeto falante (Abraço do coração), utilizado como forma de regulação do comportamento, e a meditação sob a forma de exercícios de controlo da respiração. De grande importância, também, foi a reflexão feita no final de cada sessão com as crianças.

As sessões desenvolveram-se segundo um guião da estrutura de cada uma das sessões, incluindo o tema, os objetivos as estratégias/atividades e os recursos. As atividades desenvolvidas tiveram por base o Referencial de Educação para a Saúde e o Manual para a Promoção de Competências Socioemocionais em Meio Escolar, elaborados, em parceria, entre a Direção Geral da Educação e a Direção Geral da Saúde.

As atividades foram inspiradas, também, em propostas do livro “Como promover as competências sociais e emocionais das crianças”, em que Webster-Stratton (2017) propõe o aumento de práticas educativas positivas estimuladoras do desenvolvimento das competências sociais e emocionais e do reforço das relações positivas, sugerindo atividades que os profissionais que trabalham com crianças podem pôr em prática e que, conjuntamente com as famílias, podem contribuir fortemente para que as crianças desenvolvam as designadas soft skills, essenciais para que no futuro sejam capazes de colaborar, comunicar e resolver problemas.

A coleção “Crescer a Brincar” de Paulo Moreira, que apresenta um conjunto de intervenções de promoção de competências sociais e emocionais para ajudar as crianças a desenvolverem-se de forma saudável foi, também, uma base de trabalho importante, nomeadamente no que se refere à comunicação. Como reforça Moreira (2004), uma vez que nem sempre temos consciência de que a forma como os outros comunicam connosco é muitas vezes reflexo da forma como comunicamos com eles, é importante treinar o estilo de comunicação mais adequado. Neste contexto, é também importante o treino da resolução de problemas e tomada de decisões e a gestão das emoções, fornecendo Moreira (2005) estratégias concretas para promover estas competências nas crianças no sentido de promover a sua saúde e o bem-estar.

67 A importância da tomada de consciência, da concentração da mente e das práticas de bondade levaram-nos à necessidade de implementar exercícios muito simples que foram inspirados no livro “O pequeno Buda”. O seu autor, De Mello Breyner (2016), instiga-nos à transformação do ensino através do recurso a práticas simples e regulares que podem contribuir para baixar os níveis de stress, aumentar e melhorar o bem-estar e conseguir que as crianças e jovens façam uma melhor gestão emocional e intelectual ao longo das suas vidas.

No desenvolvimento do projeto foi dada voz aos protagonistas, as crianças, na elaboração de materiais enquanto construto social da mudança, com a intenção de capacitá-las para serem proativas na construção de uma cultura positiva na escola, sendo sugeridas ferramentas e recursos sob a forma de atividades e materiais para que elas possam de forma autónoma fazer face às situações de ansiedade, a título de exemplo.

Foi promovido o envolvimento das famílias e comunidade educativa em iniciativas de promoção de relações positivas, nomeadamente através do envio de missões a realizar em casa e na escola, potenciando assim o seu efeito, através da proposta de tarefas/desafios referentes a cada um dos temas trabalhados.

Foi ainda realizado um acompanhamento pela equipa técnica (enfermeira e psicóloga) ao longo da implementação do programa, nomeadamente através de reuniões formais com os professores, no sentido de promover o seu envolvimento, refletindo acerca das sessões realizadas, contornando as dificuldades que surgiam através de propostas de trabalho que contribuíssem para atingir os objetivos da intervenção ou esclarecendo dúvidas.

b) Ações desenvolvidas

Ação 1: Sessões com os alunos em contexto de sala de aula

O projeto previu o desenvolvimento de sessões com os alunos em sala de aula, a participação ativa e o envolvimento dos professores durante as mesmas e, entre sessões, no sentido de promover a consolidação da informação e o envolvimento dos pais/encarregados de educação.