No que respeita aos sonetos, que é a forma poemática cuja edição de momento
apresento, os 291 exemplares que estavam em discussão aparecem repartidos por
dois grandes grupos: os 232 que integram aquilo que defini como o cânone grego-
riano neste domínio; e os 59 que considerei não pertencerem a Gregório de Matos.
Os primeiros vêm publicados neste volume, separados em dois agrupamentos:
os 218 que pertencem com segurança ao poeta baiano; e os 14 que admiti serem de
autoria duvidosa. Decidi integrar no primeiro grupo três poemas que os testemu-
nhos arrolados atribuem a uma dama identificada pelo nome poético de Floralva:
os sonetos 141 («Querida amei, prossigo desdenhada»), 142 («Amar não quero,
quando desdenhada») e 143 («Que importa, se amo, que ame desdenhada»).
Fazendo parte de um mini-ciclo composto por 12 textos, tais sonetos respondem
“pelos mesmos consoantes” a outros três que são dados como de Gregório de
Matos: o 138 («Já desprezei, sou hoje desprezado»), o 139 («Querido um tempo,
agora desprezado») e o 140 («Ser decoroso amante e desprezado»). Em minha opi-
nião, não há motivos que permitam pôr em dúvida a autoria dos três sonetos em
causa: o nome Floralva traduz uma mera convenção literária, aliás frequente neste
período. Arrumei os poemas de autoria gregoriana segura em divisões temáticas,
tarefa que não deixou de revelar algumas dificuldades, dada a falta de uniformida-
de que, também nesta matéria, se verifica nas fontes testemunhais. Acabei por
seguir a sugestão implícita na maioria dos manuscritos principais, que consiste na
obediência a uma ordem que parte do mais elevado para o mais baixo e do geral e
do abstracto para o particular e o concreto. Assim, reparti os textos por seis grupos
temáticos: A. Sacros e morais; B. Encomiásticos; C. Fúnebres; D. Amorosos; E.
Satíricos e burlescos; F. Outros.
De seguida, vem a divisão reservada aos 14 sonetos de autoria duvidosa, que
ordenei de acordo com um critério semelhante ao que segui para os outros.
Os sonetos excluídos virão publicados num anexo autónomo deste segundo
volume, sendo aí explicadas as razões para a sua rejeição.
A edição de cada soneto será precedida – sempre que tal se justifique – de uma
curta introdução, em corpo menor, em que discutirei os problemas de autoria que
se coloquem ou a escolha da versão base. Este espaço poderá também servir para a
apresentação de um conjunto unido por um tema ou um destinatário comuns.
Seguir-se-á a edição propriamente dita, que terá quatro partes:
1. Um número de ordem – árabe, no caso dos sonetos que integram o cânone gre-
goriano, e romano no dos excluídos –, que servirá para a identificação do texto nas
notas finais.
2. A relação dos testemunhos que transmitem o poema, apresentada em corpo
menor e dividida de acordo com os três tipos que considerei: manuscritos princi-
pais, manuscritos secundários e impressos. Dado que há quase sempre divergências
significativas entre os testemunhos, estes receberão como siglas identificativas
letras maiúsculas impressas em itálico. A grande quantidade de poemas e de teste-
munhos torna impossível que cada um destes últimos seja desde o início designado
com uma sigla que se mantenha uniforme, pelo que esta tarefa de atribuição de
siglas será feita soneto a soneto. As versões muito próximas receberão como sigla a
mesma letra, que contudo será seguida de um número individualizador, colocado
abaixo da linha. Reservarei sempre o A para designar o testemunho que escolher
como base. A atribuição das restantes letras do alfabeto será feita em função do
grau de proximidade dos outros testemunhos perante A.
3. Seguir-se-á, em corpo maior, o texto crítico do poema, com os seus dois momen-
tos: a legenda, caso exista, e o soneto, com os versos numerados à esquerda de 5
em 5. As emendas que tiver efectuado virão, sempre que possível, assinaladas já no
próprio corpo do poema: para as supressões usarei as chavetas e para as adições os
colchetes. As leituras dubitadas surgirão entre barras oblíquas, precedidas de aste-
risco.
4. Virá depois, ao fundo da página, separado por uma linha e em corpo menor, o
aparato crítico. Tive duas preocupações centrais na sua organização: por um lado,
fornecer ao leitor todos os elementos em que me apoiei, de forma a que ele pudesse
julgar o meu trabalho e, eventualmente, fazer opções diferentes das minhas; por
outro, evitar possíveis dificuldades de leitura e assegurar uma percepção literal do
texto tão boa quanto possível. O meu modelo de aparato comporta quatro partes,
vindo cada uma delas separada da seguinte por uma linha de intervalo:
a) O aparato das variantes, que será do tipo negativo, isto é, só anotarei as lições
divergentes. Apresentarei as variantes de acordo com as mesmas regras utilizadas
para a transcrição do texto crítico e só darei conta das que forem significativas.
Quando existirem versões muito diferentes de um poema, apresentá-las-ei depois
da versão adoptada, em rodapé e em corpo menor, informando previamente o lei-
tor. Este aparato das variantes tem, por assim dizer, dois momentos, corresponden-
tes ao paratexto e ao texto propriamente dito. A chamada do primeiro desses ele-
mentos será feita por intermédio da abreviatura “Leg.”.. A chamada do texto pro-
priamente dito será feita pelo número do verso, seguido de um ponto final. A iden-
tificação do lema far-se-á de forma a não suscitar nenhuma dúvida. O lema será
seguido de um meio colchete, vindo imediatamente depois a variante e a sigla que
a identifica. Se um lema tiver duas ou mais variantes, estas serão consecutivamente
apresentadas, sem que entre elas exista qualquer sinal de pontuação. Entre o lema,
a(s) variante(s) e a(s) sigla(s) também não haverá nenhum sinal de pontuação, a
menos que a(s) variante(s) em causa diga(m) respeito a um sinal desse tipo. O lema
e a(s) variante(s) serão impressos em redondo, ao passo que as siglas identificativas
das variantes virão em itálico. Havendo necessidade de anotar variantes para mais
do que um lema do mesmo verso, a passagem de um ao outro será assinalada por
intermédio de uma vírgula, colocada depois da última sigla da variante do lema
anterior. Nos casos em que um testemunho tenha uma versão de um verso ou da
legenda muito diferente da apurada, dispensarei o recurso ao lema e apresentarei,
na linha inferior àquela em que vierem outras versões confrontadas com lemas,
todo o verso ou toda a legenda da versão divergente. Eventuais observações da
minha responsabilidade – alertando por exemplo para a falta de um verso num
testemunho ou para o facto de uma determinada palavra estar riscada – virão em
itálico.
b) A justificação das emendas que tiver efectuado.
c) O glossário e as notas que entendi necessárias para o esclarecimento de qualquer
aspecto do texto. Na maior parte dos casos, essas notas servirão para identificar
personalidades, datas, lugares, acontecimentos históricos, ou para explicar alusões
mitológicas, bíblicas, culturais, menos comuns. Sempre que tal seja necessário,
poderei também incluir alguma observação sobre irregularidades – gramaticais,
métricas, acentuais – dos versos.
d) Um breve apontamento sobre a poética do texto que, no caso dos sonetos, com-
portará o esquema rimático e uma síntese sobre o modelo acentual dos versos.
Concluída a edição dos poemas, haverá um capítulo final reservado à anotação
complementar de alguns deles.
No documento
Edição Crítica da Obra Poética de Gregório de Matos - Vol. II: Edição dos Sonetos
(páginas 30-34)