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Grupo 2: 180 adolescentes (15 a 19 anos) da Rede Estadual de Educação, sorteadas uma escola de cada SER.

5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Tendo em vista a peculiaridade da forma como se buscou desenvolver esta pesquisa, os resultados serão tratados em dois momentos, a saber: o primeiro, de apresentação dos dados; e o segundo, de discussão dos achados. Desse modo, acredita-se poder desenvolver um diálogo mais linear em cada uma das partes.

Este momento, portanto, trata-se da exposição dos dados quantitativos e optou-se por norteá-lo em categorias que foram construídas tendo como base a teoria de Bronfenbrenner, mais especificamente tendo como suporte o reconhecimento dos distintos elementos que interagem sistemicamente na discussão dos sistemas que compõem sua estrutura metodológica – teoria ecológica do desenvolvimento – que são: a pessoa, o processo, o contexto e o tempo.

Considerando a categoria tempo – na perspectiva de Bronfenbrenner – este estudo possui uma limitação importante, tendo em vista que o estudo se fundamenta no método transversal e traz como suporte principal o formulário. Assim, os conceitos de pessoa, de processo e de contexto assumem evidência e permitiram a elaboração de categorias relacionadas ao adolescente, à família, ao território e à violência (sofrida e perpetrada pelo adolescente).

Outro aspecto que assume importância na forma de apresentação dos resultados consiste na proposta de análise metodológica referida – univariada e bivariada. Tais padrões de análise serão considerados na categorização da apresentação dos resultados, tendo em vista a singularidade das interpretações dos dados para cada uma delas.

5.1. Análise Univariada 5.1.1. O adolescente

O adolescente, como a pessoa chave sobre a qual se busca observar o fenômeno que é objeto deste estudo e em consonância com a ideia de sistema, possui uma interface de certo modo rizômica (utilizando-se conceituação Deleuziana) que representa o mundo de relação que costura um cenário de elaboração do seu desenvolvimento. Em virtude da forma como nos propomos olhar esse processo, resolvemos dividir essa categoria em dois momentos “características dos adolescentes” e “o uso de drogas pelo adolescente”.

5.1.1. Características dos adolescentes

A forma de seleção de participantes foi estruturada de modo que predispunha um equilíbrio entre participantes do sexo masculino e feminino e entre faixas etárias, fato que pode ser evidenciado na Tabela 2, onde se encontra 50,6% (182) adolescentes do sexo feminino e 49,4% (178) do sexo masculino; além de 50,6% (182) na faixa etária de pré- adolescência e 49,4% (178) no período da adolescência propriamente dita. A categorização da faixa etária respeita a linha teórica escolhida para a definição de adolescência.

A Tabela 2 também nos mostra que a maioria 62,5% (225) dos adolescentes se considera de cor parda. A afirmação da cor da pele sempre foi um elemento não apenas relacionada a condição fenotípica, mas também discutida enquanto fenômeno socioeconômico e assume mesmo uma posição política de afirmação em muitos casos. Nesse sentido, torna-se interessante observar a não afirmação de alguns adolescentes sobre essa característica, mesmo em pequena porcentagem 1,1% (4).

No que concerne a discussão de espiritualidade, a maioria dos estudantes disseram ser evangélicos 38,6% (139) ou católicos 35,0% (126). Chama a atenção a referência ao agnosticismo 23,1% (83) – mesmo não compreendendo maioria – e ressalta-se que entre a categoria outros apareceram referenciados: adventistas, espíritas, mórmons e testemunhas de jeová. Associado a questão religião, outro fenômeno intrinsecamente relacionado é a prática da mesma, uma vez que não é incomum o acolhimento da prática religiosa familiar. Nesse sentido, observou-se que 72,6% (201) consideraram-se praticantes da religião a qual referiram pertencer.

Tabela 2 - Número e proporção de variáveis sociodemográficas de uma amostra de adolescentes matriculados em escolas públicas de Fortaleza-CE, 2015 (N=360).

VARIÁVEIS N % Sexo Feminino 182 50,6 Masculino 178 49,4 Faixa Etária Pré-adolescente 182 50,6 Adolescente 178 49,4 Raça/Cor Parda 225 62,5 Branca 56 15,6 Negra 50 13,9 Amarela 22 6,1 NSR 4 1,1 Indígena 3 0,8 Estado Civil Solteiro 354 98,3 Casado/União consensual 6 1,7 Religião Evangélico 139 38,6 Católico 126 35,0 Nenhum 83 23,1 Outros 12 3,3 Praticante (N = 278) Sim 201 72,6 Não 76 27,4

*NSR: Não soube responder

Seguindo nas características gerais dos adolescentes, dois aspectos relacionam-se com temas comumente trabalhados por essa área: os adoecimentos e a gravidez na adolescência. Nesse sentido, a Tabela 3 reúne essas duas variáveis pesquisadas e pode-se observar que a maioria dos adolescentes traz uma percepção da sua situação de saúde-doença, restando um percentual – 1,1% (4) – de adolescentes que expressam não possuir uma opinião/compreensão sobre esse fenômeno em relação a si mesmos. De todo modo, 56,7% (204) referiram não apresentar problemas de saúde.

A gravidez nesse período foi informada por 1,1% (2) das adolescentes, sendo relevante informar que destas, uma se encontrava grávida do namorado e a outra adolescente vivenciava essa gravidez em uma relação com esposo/companheiro.

Tabela 3 - Número e proporção das variáveis relacionadas à saúde autorreferida de uma amostra de adolescentes matriculados em escolas públicas de Fortaleza-CE, 2015 (N=360).

VARIÁVEIS N %

Adolescente com problema de saúde

Sim 152 42,2 Não 204 56,7 NSR 4 1,1 Adolescente grávida (N=182) Sim 2 1,1 Não 180 98,9

*NSR: Não soube responder

Questionando aos adolescentes que informaram apresentar algum problema de saúde, foi possível construir o Gráfico 1, no qual está distribuído os problemas de saúde autorreferidos por agrupamento clínico conforme os sistemas biológicos afetados.

Observa-se neste gráfico que, dos que autorreferiram apresentarem problemas de saúde, a maioria 54,6% declararam sofrer de problemas imunológicos (normalmente ligados a quadros alérgicos), seguido de problemas visuais 34,9% (cujo principal problema relaciona-se a déficits de acuidade visual). Todavia, o mais interessante é a observação que nenhum dos adolescentes referiram questões ligadas a saúde mental, isto mesmo considerando aqueles adolescentes que referiram uso de substâncias psicoativas (lícitas ou ilícitas).

Gráfico 1 - Distribuição das frequências relativas dos problemas de saúde autorreferidos (N=152) de uma amostra de adolescentes matriculados em escolas públicas de Fortaleza-CE, 2015 (N=360).

A relação do adolescente com o ambiente escolar é inicialmente evidenciada no âmbito das características relacionadas a pessoa – adolescente – por meio das variáveis apresentadas na Tabela 4.

Conforme apresentado na tabela, ocorre uma pequena variação percentual entre os níveis de escolaridade com uma predominância 41,1% (148) adolescentes do nível médio. Essa pequena variação está relacionada também ao modo como foi captado a amostragem em campo. Importante perceber na tabela que a maioria tanto não refere interrupção nos estudos, na ordem de 88,1% (317); como também não informam expulsão da escola, num percentual de 96,7% (348).

Quanto a interrupção dos estudos, este foi categorizado, sendo encontrado que a maior frequência se encontra entre 12 e 24 meses, 44,2% (19). Considerando a grande discrepância de extremos referidos, é relevante referir que a mediana de tempo interrompido de estudos corrobora com o período de 12 meses.

No que concerne aos motivos relacionados a expulsão escolar, os dois principais referidos foram agressões físicas e agressões verbais. Levando em consideração o objeto deste estudo e sua relação com a questão das drogas, cabe lembrar que nenhum adolescente referiu sua expulsão relacionada ao envolvimento com álcool ou outras drogas.

Tabela 4 - Número e proporção das variáveis relacionadas à educação de uma amostra de adolescentes matriculados em escolas públicas de Fortaleza-CE, 2015 (N=360).

VARIÁVEIS N %

Escolaridade

Ensino fundamental I 96 26,7

Ensino fundamental II 116 32,2

Ensino médio 148 41,1

Interrupção dos estudos

Sim 43 11,9

Não 317 88,1

Tempo de interrupção dos estudos (N=43)

01 ├─ 12 12 27,9 12 ├─ 24 19 44,2 24 ├─ 10 23,3 NSR 02 4,7 Expulsão da escola Sim 12 3,3 Não 348 96,7

*NSR: Não soube responder

A relação do adolescente com a questão da vida produtiva é descrita na Tabela 5. Nela é possível observar que 34,7% (125) adolescentes participam de projetos ou programas sociais para a qualificação profissional. Considerando a classificação etária adotada aqui, pôde-se observar que dos adolescentes que participam de programas/projetos sociais, 83,2% (104) são adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos.

Ainda em relação àqueles adolescentes que se encontram em processo de qualificação profissional, a maior parte está em curso técnico profissionalizante 28,1% (101). Chama-se atenção para o pequeno espaço que atividades artísticas – 1,9% (7) – e esportivas – 0,8% (3) – assumem nesse espaço.

A última informação trazida pela Tabela 5 apresenta que 30% (108) adolescentes se ocupam de alguma atividade para fins ganhar dinheiro. As informações coletadas sobre o valor da renda média mensal desses adolescentes demonstrou uma mediana de R$ 200,00 (duzentos reais)/mês.

Tabela 5 - Número e proporção das variáveis relacionadas à vida produtiva de uma amostra de adolescentes matriculados em escolas públicas de Fortaleza-CE, 2015 (N=360).

VARIÁVEIS N %

Participação em projetos/programas sociais para qualificação profissional

Sim 125 34,7

Não 235 65,3

Qualificação profissional

Nenhuma 235 65,3

Curso técnico profissionalizante 101 28,1

Outros 14 3,9

Atividade artística 7 1,9

Esporte 3 0,8

Ocupação para ganhar dinheiro

Sim 108 30,0

Não 252 70,0

A tipificação da ocupação para fins de ganho financeiro é descrita no Quadro 3, onde foram sistematizadas as atividades referidas pelos adolescentes em três partes: atividades informais, ocupações relacionadas a processo formativo e ocupações formalmente descritas pela CBO (Classificação Brasileira de Ocupações).

De acordo com o Quadro 3, a maior parte das ocupações informais 22,2% (24) realizadas por adolescentes que informaram desenvolver alguma atividade para ganhar dinheiro está relacionado a acompanhar os pais em alguma atividade de atividade de pequeno empreendimento familiar. No tocante as ocupações relacionadas a processos formativos, a principal atividade apontada foram os estágios, 16,7% (18). Por fim, agentes, assistentes e auxiliares administrativos 6,5% (7) apareceram com maior frequência no segmento cujas ocupações estão formalmente descritas na CBO, sendo a função de auxiliar administrativo a principal referenciada. Outras atividades

Observando-se o número de respostas presentes no Quadro 3, é possível perceber que alguns adolescentes (num total de cinco) informaram realizar mais de uma atividade para ganhar dinheiro, sendo interessante o caso da ocupação informal de furto/assalto ser uma função realizada concomitantemente ao trabalho como vendedor em comércio varejista (incluído na categoria “Operadores do comércio em lojas e mercados”).

Quadro 3 - Número e frequência relativa dos tipos de ocupação com fins de ganho financeiro (N=108) de uma amostra de adolescentes matriculados em escolas públicas de Fortaleza-CE, 2015 (N=360).

Tipos de ocupação com fins de ganho financeiro N %