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Capitulo 5 2° Estudo Narrativas e Significações em consumidores de haxixe e ecstasy em estudantes da

3. Apresentação dos resultados

Tal como já mencionamos, o ser humano elabora e constrói as suas experiências de forma narrativa (Bruner, 1990), processo através do qual atribui significado às suas acções. Esta parte do trabalho é dedicada às representações da experiência de consumo e da representação social deste mesmo consumo traduzidas nas narrativas dos seus autores.

A análise das narrativas produzidas e seus conteúdos está organizada em dois momentos.

No primeiro, apresentamos os dados analisados no "grupo consumidor". Estes, dividem-se em duas partes: na primeira, designada "os sujeitos", fazemos uma apresentação sumária dos mesmos, fazendo alusão à sua história de vida e

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Universidade do Minho

aos consumos realizados até à actualidade. Na segunda parte, denominada "narrativas dos consumos", centramos a nossa atenção na análise do discurso dos sujeitos sobre a sua própria experiência individual e, tendo também em conta, os "discursos sociais" produzidos sobre o fenómeno droga em geral.

No segundo momento desta análise, apresentamos os resultados relativos ao grupo de sujeitos não consumidores e ao grupo de sujeitos que apenas experimentaram o consumo, quer a nível do discurso individual quer ao nível da percepção social. A junção da análise destes dois grupos num só resultou de duas constatações: apesar de, numa fase inicial, estes dados terem sido analisados separadamente, quando tentámos interpretá-los, concluímos que o discurso destes dois grupos era bastante próximo.

3.1.-0 Grupo Consumidor

3.1.1. - Os sujeitos

Nesta parte abordamos dois tópicos: uma breve história de vida dos sujeitos, destacando sua situação actual, e a sua "trajectória de consumos". Este último tópico pretende caracterizar os consumos que o sujeito já fez.

a) Sujeito 1 (E1)

"História de vida": O E1 é estudante da Universidade do Minho. É aluno deslocado e vive com colegas de apartamento. Entrou para o curso que queria e adaptou-se bem à Universidade. Nos tempos livres está com os amigos e vê televisão. Desde a sua infância que se considera como muito sociável, com muitos amigos. Sempre foi um aluno razoável, exceptuando um breve período no ensino preparatório. Descreve a sua relação com pais e irmãos como muito boa

ao longo da vida e actualmente, descrevendo a sua educação como "algo conservadora". O falecimento do pai, há dois anos atrás, foi um acontecimento marcante na sua vida.

"Trajectória dos consumos": Começou a experimentar haxixe no 10° ano de escolaridade e manteve em padrões de consumo ocasionais, em situações especiais, até à data da entrevista. Refere que, logo após a primeira experiência, impôs a si próprio um limite: "pus uma barreira, a partir daqui não". Não se considera dependente do haxixe, mas considera-se dependente do tabaco. Para adquirir a droga, compra a pessoas conhecidas e amigos.

b) Sujeito 2 (E2)

"História de vida": É estudante da Universidade e não é aluno deslocado. Nos tempos livres tem uma banda de música e costuma estar com os amigos e namorada. Quando entrou para a universidade a adaptação não foi muito boa porque, por um lado, não entrou logo para o curso que queria ,e por outro, porque não gostou muito dos ambientes e das pessoas. Considera-se bastante sociável. Refere que sempre teve uma boa relação com os pais e com os amigos em geral. Classifica a educação que teve como "bastante liberal". Como período mais marcante da sua vida menciona a adolescência, porque esteve em "fase de questionamento". Em geral considera que a sua infância foi bastante positiva. Presentemente, a sua adaptação à universidade é bastante melhor.

"Trajectória dos consumos": Iniciou o seu consumo com haxixe, quando tinha entre 13 e 14 anos de idade. A partir desta altura, começou a fumar com bastante regularidade, até que, após a entrada na Universidade, decidiu deixar de fumar haxixe. Esta mudança deveu-se ao facto de ter começado a sentir efeitos

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indesejáveis resultantes do consumo, tal como dificuldades de memorização. A partir desta data decidiu continuar a consumir apenas erva/marijuana, que, ao contrário do haxixe, considera não ter qualquer efeito negativo. Este consumo é feito ocasionalmente - "Fumar um bocadinho de erva de vez em quando não faz mal nenhum".

c) Sujeito 3 (E3)

"História de vida": Estuda na Universidade e não é aluno deslocado. Mora com os pais, com os quais afirma ter uma boa relação. Gosta muito de estar com os amigos e considera que sempre foi uma pessoa bastante sociável. Entrou para o curso universitário que queria e teve uma boa adaptação a este novo contexto de vida.

"Trajectória dos consumos": A primeira vez que consumiu foi haxixe e marijuana, aos 18 anos de idade, numas férias de Verão com os amigos, após o 12° ano de escolaridade. Nesta fase inicial, o seu consumo era apenas em "ocasiões especiais, como festas e concertos". Depois, passou a ser "sempre às sextas-feiras e fins de semana". Quando entrou para a Universidade, passou também a consumir durante a semana, quando saía com os colegas. Pouco tempo depois, experimentou, por duas vezes, ecstasy, mas afirma "que esta droga não pode ser consumida regularmente, só em ocasiões especiais, só em festas com alto som, devido à ressaca que a droga traz". O sujeito afirma, ainda, que tem abertura para um dia experimentar outro tipo de drogas, "talvez cocaína".

d) Sujeito 4 (E4)

"História de vida": É aluno deslocado e vive com colegas de apartamento.. Refere que se adaptou muito mal ao contexto universitário, apesar de actualmente já sentir uma melhor integração. Refere que sai muito pouco, no entanto, considera "ter alguns amigos". Classifica a sua infância como a melhor fase da sua vida, visto que, a partir da adolescência, teve algumas dificuldades,

principalmente no relacionamento com os seus pais.

"Trajectória dos consumos": Menciona ter iniciado o consumo de haxixe com 20 anos, já quando estava na Universidade. Começou logo a fumar diariamente, chegando a consumir 10 a12 vezes por dia. Este tipo de consumo surgiu por estar a "passar uma fase bastante difícil, em que estava muito em baixo". Após sete meses de consumo diário, resolveu deixar o mesmo de forma radical. Afirma que tal facto foi bastante complicado. Já não fuma diariamente há dois anos, sendo que, durante este período, e actualmente, fá-lo ocasionalmente.

e) Sujeito 5 (E5)

"História de vida": Vive actualmente com os pais e é estudante de uma licenciatura da Universidade do Minho. Nos tempos livres ocupa o seu tempo a estar com namorada e amigos e a investir em projectos pessoais que, actualmente, estão relacionados com a informática. Teve uma má adaptação à universidade, não só porque não entrou logo para o curso que queria, mas também porque, em termos de "ambientes" e pessoas, teve dificuldade em se "enquadrar". Actualmente estes sentimentos não se verificam. Refere que sempre teve uma óptima relação com os pais e sempre foi muito feliz, excepto numa fase

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da adolescência em que "teve uma crise de identidade, sentia-me inferior aos outros". Considera que sempre foi uma pessoa muito sociável.

"Trajectória dos consumos": Foi quando estava no 12 ° ano de escolaridade que experimentou haxixe com os amigos. Manteve este consumo regular durante, cerca de um ano e meio, até ao momento que decidiu reduzir. Esta diminuição do consumo ocorreu porque os amigos estavam a querer fumar também outras drogas e, então, decidiu afastar-se do grupo. Refere, ainda, que a Universidade o obrigou a ter mais responsabilidade e sentiu necessidade de reduzir o consumo. Actualmente, consome apenas ocasionalmente.

f) Sujeito 6 (E6)

"História de vida": É aluno deslocado e estuda na Universidade do Minho. A adaptação à Universidade foi um pouco difícil, mas só numa breve fase inicial porque, depois, as "coisas melhoram bastante". Gosta muito de estar e de sair com amigos. Afirma que tem uma melhor relação com a sua mãe e irmão, do que com o pai. Descreve a sua vida, em geral, como boa, quer em termos de relacionamentos quer enquanto aluno.

"Trajectória dos consumos": Começou por experimentar haxixe no final do seu 12° ano de escolaridade, num festival de Verão. Depois da entrada para a Universidade começou a consumir ocasionalmente, "sempre que saía à noite ou em festas". Também já experimentou ecstasy, apenas uma vez, porque não gostou do efeito da droga. Actualmente, produz em casa marijuana/erva para consumo próprio, o que faz ocasionalmente, tal como com o haxixe.

3.1.2. - Narrativas dos Consumos

De seguida, passaremos a clarificar as categorias de análise de conteúdo identificadas no discurso do grupo de consumidores. Todas as categorias apresentadas de seguida são amplamente partilhadas pelo grupo em análise. De salientar que, num primeiro momento da análise, foram identificadas 294 categorias no discurso deste grupo. Contudo, após a concretização dos passos previamente mencionados para a análise de dados, concluímos o trabalho com

124 categorias, que passamos a expor sinteticamente.

Num primeiro momento, daremos conta daquele que consideramos ser o Discurso Individual, no qual centramos a nossa interpretação no que os sujeitos nos dizem acerca do seu contacto com a droga. Consideramos cinco categorias centrais, constituídas por subcategorias, sendo que, também estas integram em si outras subcategorias, descritas mais à frente, que passamos a ilustrar:

a) Primeira experiência de consumo - Descreve o primeiro contacto com a droga e as razões que a sustentam. Incluiu como subcategorias: drogas consumidas; período de consumo; contexto da primeira experiência; motivos/razões para o primeiro consumo

b) Consumo actual - Procura caracterizar o consumo actual dos sujeitos. È constituída pelas seguintes subcategorias: caracterização do consumo; motivos/razões para o consumo; contextos do consumo.

c) Sensações propiciadas pelos consumos - Refere-se às sensações experienciadas devido ao consumo. Tem como subcategorias: no consumo a nível geral; no consumo de haxixe; no consumo de ecstasy.

d) Percursos no consumo - Pretende caracterizar as transformações que possam existir nos consumos através das subcategorias: motivos para não