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Iniciamos a entrevista por perguntar alguns dados socioprofissionais aos professores. No 1.º ciclo, o professor cooperante tinha 57 anos de idade, frequentou o curso de professores do 1.º CEB e tinha até aquele momento 35 anos de serviço, trabalhando maioritamente com crianças com idades entre os 8 e os 10 anos. A professora auxiliar tinha 48 anos de idade, frequentou na ESEB o mestrado em ensino do 1.º Ciclo, contando com 15 anos de serviço, tendo por hábito trabalhar com criança entre os 8 e 10 anos. A professora cooperante de Português no 2.º CEB tinha 45 anos, frequentou o curso de Professores Ensino Básico, variante de Português e Inglês, contabilizando 23 anos de serviço, desenvolvendo o seu trabalho com crianças dos 9 aos 10 anos.

Como referido anteriormente, as entrevistas foram transcritas em texto, o que nos permitiu analisar o seu conteúdo. Q5: Costuma utilizar atividades com música, em contexto sala de aula? E com crianças com NEE? P1: Raramente trabalho com a música na sala de aula, mas já aconteceu. Nas crianças com NEE nunca trabalhei. Das vezes que o fiz, tentei colocar músicas que fossem “agradáveis” de se ouvir, sem qualquer intenção de a utilizar como estratégia de ensino/aprendizagem, apenas o fiz para acalmar os alunos, nomeadamente, na semana do Natal para “cantarolarem” alguma coisa nas apresentações à escola. P2:Trabalho a música em contexto sala de aula sempre que é possível, principalmente, com crianças de NEE. É uma forma de as motivar ainda mais e as concentrar muitas vezes. P3: Trabalho a letra da música, não com a música propriamente dita. No português trabalhamos com a letra, é claro que isso implica, tal como a professora estagiária o fez várias vezes e como eu faço, aproveitar a letra musicada e trabalhar com ela. Com crianças com NEE o processo que utilizo é mesmo. Q6: Quais são as estratégias/atividades que desenvolve no âmbito da música com os seus alunos? Quanto tempo dedica a essas estratégias/atividades)? E o impacto nas crianças? P1: De facto, são mesmo as que lhe disse anteriormente, só e apenas no Natal, para as acalmar e nada mais, Não sei ao certo quanto temo, mas talvez uns dez minutos. Normalmente, o impacto desse tipo de estratégias é bastante positivo, principalmente para as crianças que ficam bastante alegres. P2: A nível da matemática tento ao máximo trabalhar músicas motivacionais a nível transversal, desde que o conteúdo seja próprio. Contudo, costumo colocar música clássica durante a realização das fichas de trabalho ou alguns exercícios matemáticos. No Português faço-o através da letra, especialmente, quando se trata de poesia, acho que a musicalização é a melhor ferramenta para este caso. No Estudo do

Meio, tenho por hábito utilizar a letra das músicas para abordarmos os rios, o tempo dessas atividades, depende muito do ritmo dos alunos. Já trabalhamos a letra de uma música, por exemplo, em noventa minutos de aula. O impacto é extremamente positivo, além de verificar que aprendem significativamente, fazem-no motivadas e está provado que a sua capacidade de memorização aumenta. P3: As minhas estratégias são semelhantes às que apresentou no decorrer da sua prática. Como lhe disse, em Português trabalhamos a letra, no entanto, costumo apenas distribuir a letra elos alunos e não a letra musicada como fez. No português, o impacto é bastante positivo, pois podem relacionar a letra de um poema, por exemplo, e perceber que existe um ritmo e uma musicalidade. Além disso, do ponto de vista da fonético, é muito vantajoso, além de melhorar o discurso e a linguagem dos alunos. Aproveito para trabalhar no primeiro tempo de aula este tipo de atividades para lhes dar animo para o seguinte. Q7: Nas escolas nas quais tem trabalhado, já encontrou alguma barreira ou limitações, que o impedisse de usar a música em contexto pedagógico? P1: Antigamente, era difícil pensar na possibilidade de utilizar a música, no entanto, já existiam nas salas aquelas caixas de música, sabe? Bastante conhecidas. Hoje, reparo que são difíceis de encontrar na sala de aula, sendo substituídas pelas novas tecnologias. Agora coloca-se a música num computador através de uma pen ou youtube se a pessoa não tiver a música. Mas apesar de ser difícil, não era impossível. Mas confesso que só mais recentemente é que coloquei música na sala de aula. P2: Barreiras nenhumas. Limitações imensas, principalmente, pela falta de recursos. Mas tentei contornar essas situações, arranjando recursos próprios para aplicar a música aos meus alunos. P3: Não, nunca tive nenhuma limitação ou qualquer barreira. As escolas, hoje, estão bem equipadas nesse aspeto, basta-me ir à internet e posso colocar qualquer música na sala de aula. Q8: Acha que a música favorece as aprendizagens das crianças no ponto de vista cognitivo, psicomotor e socioafetivo? P1: Sim, a música sem dúvida que favorece imenso o processo de ensino/aprendizagem. Eu vi pelas suas aulas a motivação, a predisposição das crianças para realizarem as atividades que propunha depois de ouvirem música. Em termos cognitivos, ajuda-os na formação individual de cada um, psicomotor, podem movimentar-se com o corpo, porque é inevitável, além disso, ajuda-as no sistema nervoso, a aclamarem-se. Essa calma e tranquilidade é muitas vezes necessária na sala de aula. Socioafetivos, vou dar o exemplo da sua atividade do “Hino de turma”, achei aquela aula extramente criativa e reparei que a turma toda colaborou, não só no que foi pedido, mas cooperaram uns com os outros. Por isso, devo confessar que fiquei impressionado com o impacto e a vantagens dessa estratégia. P2:Para

mim é importante trabalhar com as artes, sejam elas quais forem. Sendo a música uma arte é um bem cultural, que muitas que muitas vezes marcou uma época histórica. Em termos cognitivos acho fundamental que se associe a música à memorização, porque faz- se uma associação entre a música que se escutou e aquilo que se aprendeu. Além disso, as músicas de qualidade e acho importante distinguirmos isso com as crianças, transmitem determinadas mensagens que os podem ajudar no desenvolvimento do “ser”. Essa formação é muito importante, porque ajuda a transmitir e a incutir valores no seu processo de formação. As suas letras são ricas em emoções, normalmente, sobre algum tema mais sensível e ninguém lhes fica indiferente. No ponto de vista socio-afetivo, a criança colabora e coopera com maior facilidade sem se aperceber disso, além disso dá- se uma libertação de emoções e acho isso fascinante. Nos dias que correm, as pessoas não se atrevem a sentir e quando sentem não conseguem falar sobre isso. Acho que as razões que lhe apresentei, são bastante favoráveis para proporcionar momentos de ensino/aprendizagem significativos. P3: Sem dúvida que favorece o ensino/aprendizagem. A música trabalha outras sensibilidades e não é por acaso que cada vez mais aparecem nos manuais escolares. Acho que em termos cognitivos em português trabalha a linguagem e a fonética. Porque esta associação da escrita-letra música- musicar, portanto, o som. Aumentando a capacidade de memorização. Não tenho dúvidas que é uma forma de motivação e torna o ensino/aprendizagem mais lúdico. Trabalhando sensibilidades, permite que os alunos trabalham em termos emocionais.