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Apresentação/mostração: a fotografia artística, as composições na imagem

4 A FOTOGRAFIA VISTA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO

3) No caso da apresentação/mostração, a ênfase é a mensagem que a imagem pretende transmitir para o observador, caso mais presente nas fotografias publicitárias,

4.1.1 Apresentação/mostração: a fotografia artística, as composições na imagem

A primeira tentativa de aproximação entre fotografia e pintura se deu no final dos anos 1850, quando os fotógrafos buscavam representar em suas imagens motivos alegóricos ou temas literários, com produções rebuscadas, utilizando técnicas de justaposição de negativos. As fotografias de Julia Margaret Cameron (1815-1879) fazem parte dessa primeira manifestação. São ensaios de assimilação da fotografia com a pintura, procurando produzir uma imagem chamada “artística”, usando temas pictóricos, efeitos esfumaçados (flou), utilização de recursos de fotogenia (variante da estética), modalização da luz e jogo de configurações para dar um aspecto “poético” (Figura 15). Assim, esse estilo fotográfico era carregado de simbolismo.

Figura 15 - I wait. Autoria: Julia Margaret Cameron, 1860.

23 A categorização proposta por Gastaminza pode se desdobrar em outras categorias. O termo “privado”, empregado pelo autor, é dúbio, passível de discussões quanto a sua abrangência.

Porém, para que o receptor tenha condições de identificar esse significado simbólico, ele precisa distinguir os efeitos impressos pelo fotógrafo na imagem e conhecer sua intenção (por exemplo, entendendo o efeito flou como proposital), ou seja, “pressupõe que tenha um conhecimento que não se refere ao dispositivo fotográfico como tal, mas ao estatuto comunicacional da imagem, e, pelo menos em alguns casos, à história da fotografia” (SCHAEFFER, 1996, p. 88). Enfim, a identificação do simbolismo representado na imagem depende das experiências pessoais e culturais do receptor, nesse caso, o pesquisador. A percepção da informação inerente às coisas ou estados de fatos apresentada como índice analógico da imagem deverá ser analisado pelo documentalista. Enfim, no caso de essas imagens se encontrarem guardadas em instituições-memória, o simbolismo presente nelas não deve ser o caráter preponderante para a análise de seu conteúdo.

4.1.1.1 A FOTOGRAFIA E A ARTE

A fotografia é forma de arte conectada

diretamente ao real, uma arte

fundamentalmente realista, no sentido estrito da palavra, por sua própria natureza, sua função de índice.

Rosalind Krauss

Para as artes visuais, o surgimento da fotografia representou uma mudança de paradigma: o que um artista plástico demorava anos para aprender, referente às técnicas de reprodução figurativa, uma máquina registrava em segundos, com um nível de detalhamento jamais visto. Sontag (1983) afirma que a fotografia contribuiu para a libertação da arte pictórica, que não se viu mais responsável pelo registro fiel da realidade, já que a imagem fotográfica realizava, até então, esse papel.

No período entre-guerras, a arte abstrata influenciou os fotógrafos, que procuraram enquadramentos distintos, utilizando o recurso de close-ups, produzindo imagens inusitadas, as quais, sem a devida identificação através da legenda, não são reconhecíveis. Dondis (2000, p. 216) afirma que o “fotógrafo-artista” explora, assim, todas as possibilidades da câmera fotográfica de forma criativa. As chamadas imagens artísticas são, basicamente, desvinculadas da realidade e exclusivamente preocupadas

com cânones estéticos e de composição gráfica. Destacam-se dentro dessa linha de trabalho as imagens de Edward Weston (1886-1958) e Paul Strand (1890-1976), que trazem ao mundo uma nova forma de olhar os objetos a nossa volta. “O motivo que retrata a fotografia ‘Folha de Repolho’ de Weston, tirada em 1931, parece uma cascata de tecido franzido, é necessário um título para poder identificá-la” (SONTAG, 1983, p. 90).

Figura 16 - Cabbage leaf. Autoria: Edward Weston, 1931.

O reconhecimento da fotografia como obra de arte foi alvo de grandes discussões entre especialistas no decorrer da história. Numa civilização dominada pela imagem, com o “agravante” de que qualquer cidadão comum pode fazer fotografias, a admissão do fotógrafo profissional como produtor de uma obra criativa, ou seja, a alteração do estatuto da fotografia de mero registro do real para a condição de arte, gerou muita polêmica. Hoje, esse tema já foi superado.

A fotografia realizada por fotógrafo profissional é protegida juridicamente, por ser considerada uma atividade criativa, existindo legislação que regula a propriedade intelectual. Na lei nº 9.610, de fevereiro de 1998, a fotografia é citada no Título I “Das Obras Intelectuais”, capítulo I “Das obras Protegidas”. Atualmente, a fotografia é vista como “um complexo processo técnico e artístico cujo resultado é uma criação singular que incorpora a originalidade que seu autor quis registrar em cada obra fotográfica” 24 (GASTAMINZA, 1999, p. 77, tradução nossa). Essas fotografias, consideradas “artísticas”, podem fazer parte de um acervo de museu, como será comentado no

24 “[...] un complejo proceso técnico y artístico cuyo resultado es una creación singular que incorpora la

capítulo 6 deste trabalho, caracterizadas como apresentação/mostração, dada a predominância dos caracteres espaciais e icônicos.

Não identificar o conteúdo desse tipo de imagem não implica a impossibilidade de sua apreciação. Podemos admirá-la pelo simples deleite estético ou mesmo pela sensação de estranhamento que ela pode nos proporcionar. Os fotógrafos conceituais utilizam-se de vários recursos técnicos para a criação desse tipo de imagem: lentes especiais, ângulos e iluminação diferenciada, processos de revelação distintos etc. Todo esse conjunto de técnicas utilizadas para a formação da imagem é um dado importante na construção da história da fotografia. Portanto, a guarda desse tipo de imagem é fundamental para o resgate da história de uma técnica fotográfica e de um movimento artístico de determinada época.

As fotografias conceituais encontram-se comumente guardadas em museus de arte moderna. Em geral, as imagens são extremamente autorais e os dados extra-imagem – título data e autoria – para sua recuperação são os mais usuais.