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3.2 O MODO DE PREPARO

3.2.1 As técnicas de preparo

3.2.1.1 Apresentando a cozinha: onde tudo acontece!

Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, foi fundada em 26 de março de 1772, mas somente em 1821 ganhou o status de cidade pelo então imperador Dom Pedro II (Figura 11). Seu povoamento iniciou em 1752 por 60 casais portugueses açorianos, contudo foi a partir de 1824 que passou a receber imigrantes de outros lugares do mundo: alemães, italianos, espanhóis, africanos, poloneses, judeus e libaneses. De acordo com o site oficial da cidade, esta diversidade de raças e línguas “faz de Porto Alegre, hoje com quase 1,5 milhão de habitantes, uma cidade cosmopolita e multicultural, uma demonstração bem sucedida de diversidade e pluralidade” (PORTO ALEGRE, 2013, s/p).

Sua história é marcada por disputas, sendo a Guerra dos Farrapos a de maior importância, uma vez que foi iniciada “com um enfrentamento [...] nas proximidades da

atual ponte da Azenha, no dia 20 de setembro de 1835” (Ibidem, s/p). Após o fim da guerra,

[...] a cidade retomou seu desenvolvimento e passa por uma forte reestruturação urbana nas últimas décadas do século XVIII, movida principalmente pelo rápido crescimento das atividades portuárias e dos estaleiros. O desenvolvimento foi contínuo ao longo do tempo e a cidade se manteve no centro dos acontecimentos culturais, políticos e sociais do país como terra de grandes escritores, intelectuais, artistas, políticos e acontecimentos que marcaram a história do Brasil (Ibidem, s/p).

Figura 11 – Recepção ao imperador Dom Pedro II, em 1865, na Praça da Matriz

Fonte: Wikipédia (2013)

O Parque Farroupilha, um dos principais pontos de sociabilidade e lazer dos portalegrenses e seus visitantes, foi inaugurado em 1935, durante as comemorações do Centenário da Revolução Farroupilha. Conhecido popularmente como Redenção por ter sido denominado, ainda em 1884, pela Câmara, de Campos de Redenção, em homenagem à libertação dos escravos do terceiro distrito da capital, fato “que resultou na redenção de centenas de escravos um ano antes da libertação dos sexagenários e quatro anos antes da libertação geral dos escravos no país” (MESQUITA; SILVA, 2004, p.125). Em 1997, foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre (PORTO ALEGRE, 2013).

“A origem mais remota do parque nos remete aos Campos da Várzea, uma área pública de 69 hectares que servia de acampamento para os carreteiros e na qual permanecia o gado destinado ao abastecimento da cidade” (MESQUITA; SILVA, 2004,

p.124), assim desde o início servia como local de comércio popular, uma vez que o gado era abatido e/ou comercializado ali. Apenas na década de 1920 o bairro do Bom Fim, onde está localizado o parque, começou a ser povoado com a chegada de judeus que instalaram casas, lojas e oficinas (MESQUITA; SILVA, 2004).

Como colocado por Mesquita e Silva (2004, p.125-126), apesar do lugar ter recebido diversos nomes ao longo dos anos, “um deles foi escolhido pela memória e afetividade popular: Redenção. [...] Mesmo após a sua substituição, o parque continuou a ser assim indicado pela maioria da população”.

Atualmente, com uma área estimada em 37 ha, é contornado pelas avenidas João Pessoa, José Bonifácio, Osvaldo Aranha e ruas Setembrina e Engenheiro Luiz Englert. Ao longo de sua extensão possui 38 monumentos em cobre e mármore, a maioria oriundos de outros países; um orquidário, um mini zôo, cinco play grounds, área para esportes como bocha, futebol, ginástica e atletismo, além dos jardins alpino, europeu e oriental. Mas, certamente, o monumento mais visitado trata-se do Expedicionário (Figura 12), de Antônio Caringi, inaugurado em 1953, com o intuito de homenagear os pracinhas da 2ª Guerra Mundial (PORTO ALEGRE TUR, 2013).

Com uma programação diversificada, aos sábados ocorre na Avenida José Bonifácio a Feira Ecológica, onde são vendidos produtos sem agrotóxicos e integrais. Aos domingos a Feira Brique da Redenção, criada em 1978, acontece das 9h às 18h, e foi sítio de pesquisa para a presente dissertação. Na feira em questão, os expositores dividem-se entre a venda de artesanato (182), artes plásticas (40), antiquário (66) e alimentação (8), sendo a seleção organizada por meio de uma triagem, realizada por um grupo especialista de cada área (BRIQUE DA REDENÇÃO, 2013). Em 26 de outubro de 2005 foi sancionada a Lei 12.344 que declarou o Brique da Redenção integrante do Patrimônio Cultural do Rio Grande do Sul (PORTO ALEGRE TUR, 2013).

Figura 12 – Monumento do Expedicionário

Fonte: Porto Alegre Tur (2013)

Local de grande circulação, estima-se que passem anualmente pelo Parque Farroupilha, 4 milhões de pessoas (Ibidem, s/p). Durante a pesquisa concluí que ali é o local da diversidade, conforme trecho retirado do diário de 29 de setembro de 2013:

O Brique da Redenção, e também o parque, é o lugar da diversidade, talvez esse seja o principal motivo pelo qual as pessoas tornam-se ali flanêurs, são passos desapressados, como se para observar e absorver aquele lugar fosse necessário um pouco mais de atenção. Muitas atividades acontecem concomitantemente ao longo do espaço, mas com ordem, por incrível que pareça!

Ali, num espaço transformado em lugar, é possível identificar diferentes grupos sociais e as motivações que os levam até o parque, sobretudo durante os finais de semana. Alguns levam os cães para passear, outros aproveitam a infraestrutura de lazer e levam as crianças para brincar, uns fazem uso dos bancos dispostos por todo o parque e ali sentam “apenas” para observar o movimento, conversar e tomar chimarrão. Aliás, esse último é um hábito amplamente difundido pelos portalegrenses que por ali passam.

Durante “meu campo” pude constatar o grande número de pipoqueiros no parque, o que mais tarde me fez chegar a uma conclusão,

[...] o Brique tem cheiro de pipoca! Em todas as minhas visitas senti esse cheiro no ar, engraçado que, muitas vezes, não havia um pipoqueiro pelas proximidades, então desenvolvo uma espécie de faro para descobrir onde ele está. Quando descobri, nesse domingo, notei que havia pouca demanda, mas muitos adultos e crianças passavam com sorvetes e picolés, certamente em

função do calor as pipocas doces e quentes não apeteciam (DIÁRIO DE CAMPO, 20 DE OUTUBRO DE 2013).

Porém, não foi difícil notar que não há divulgação específica das Comidas de Rua, enquanto opção gastronômica, embora seja sabido que a capital conta com este tipo de comércio em muitos locais, como é o caso do Brique da Redenção e tantos outros destinados à visitação, que acabam recebendo grande fluxo de visitantes e moradores, durante os finais de semana e feriados.

4 AS COMIDAS DE RUA

Este capítulo tem o objetivo de introduzir as Comidas de Rua a partir do seu contexto histórico, para logo após discutir e trazer a tona os resultados obtidos pela pesquisa realizada no Brique da Redenção, em Porto Alegre/RS, ou seja, parte-se do passado para um contexto de atualidade.