• Nenhum resultado encontrado

5 A PERIFERIA E SEUS ATORES PLURAIS

5.1 Apresentando os jovens

Evertontem 21 anos.Identifica-se como gay, negro e morador de periferia. É adepto do Candomblé. Reside na Grota do Cigano desde que nasceu. Seus avós foram um dos primeiros moradores da Grota. Atualmente, o jovem reside com sua mãe, uma irmã de17 anos, um sobrinho de quatro anos eum irmão de sete anos. Ele não possui proximidade com o pai, que se separou de sua mãe e constituiu nova família quando ele tinha sete anos de idade; a separação provocou o afastamento do pai da família antiga. Próximo a sua casa moram outros familiares (tios, tias, primos e o avô).

Everton é coordenador da Cia teatral A Cambada, cursa licenciatura em artes cênicas na UFAL e o curso técnico em dança pela ETA/UFAL. Tem como maior incentivadora a sua mãe. Teve seu primeiro contato com a arte na igreja católica, depois na igreja evangélica e na escola, através de uma professora de educação física.

Helena tem 27 anos, nasceu em Viçosa, interior do Estado de Alagoas, mora na Grota do Moreira desde os sete anos de idade. Veio para Maceió com a mãe e duas irmãs mais novas depois da morte de seu pai.Seus irmãos mais velhos já moravam na Grota; saíram de Viçosa em busca de trabalho na capital. Helena se identifica como mulher negra, feminista, moradora de periferia. Teve como principais incentivadoras a mãe, a irmã mais velha e a patroa de sua mãe, que pagou seu primeiro curso de teatro e ajudou a despertar seu interesse

44

Como esses jovens possuem perfis relativamente semelhantes (lugar de moradia, situação socioeconômica, cor da pele etc) existem experiências comuns a todos eles. Dessa forma, foram selecionadas 5 trajetórias com o intuito de analisar mais profundamente as variações dos habitus.

pela leitura e pela arte. Foi criada na Igreja Católica.Hoje, se tornou adepta do candomblé com o intuito de fortalecer sua identidade negra. Largou os estudos durante oito anos, depois de uma discussão com um professor.

Helena trabalhou como educadora social, dando aulas de teatro e dança para jovens do CRAS, no Jacintinho.Ela também ministra oficinas de teatro como voluntária em escolas do bairro. Atualmente, trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma faculdade particular.Neste semestre, concluiu o Ensino Médio na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). A jovem pretende cursar artes cênicas na UFAL e está na lista de espera do curso técnico de dança da ETA/UFAL.

Alexandre tem 18 anos, mora na Grota do Arroz desde que nasceu. Reside com sua mãe, o padrasto, dois irmãos e a avó, que foi uma das primeiras moradoras da grota. Identifica-se como negro, homossexual e morador de periferia. Tem como principais incentivadoras a mãe e uma professora de inglês da escola pública onde terminou o Ensino Médio. É estudante e bolsista do curso técnico em teatro pela ETA/UFAL.Atualmente, trabalha como ator com a equipe do Encontro com Paty Maionese45.

Vitória tem 20 anos, mora na Grota do Moreira e é sobrinha de Helena. Declara-se feminista e moradora de periferia. Conheceu a arte através da tia, sua principal incentivadora. Participaram juntas da Cia SOS Sorriso e agora da Cambada. Trabalha em uma loja no shopping.

Henriquetem 16 anos, mora com os pais e dois irmãos na Aldeia do Índio. Tem os pais como seus principais incentivadores. Identifica-se como negro, gay e morador de periferia. Estuda o Ensino Médio regular, fazia arte na Igreja e depois entrou na Cia SOS Sorriso. Conta que a entrada no teatro foi um divisor de águas em sua vida, pois contribuiu na aceitação de sua homossexualidade e na “tomada de consciência” sobre temas como racismo, discriminação etc. Planeja fazer o ENEM para o curso de artes cênicas ou biologia. Trabalha como ator com a equipe do Encontro com Paty Maionese.

Lucas tem 24 anos, mora nas Piabas, tem quatro irmãos, perdeu a mãe ainda criança, aos 11 anos de idade. Não possui boa relação com o pai, o que resultou na sua saída de casa aos 18 anos de idade. Cursa o Ensino Fundamental na modalidade EJA. O primeiro contato de

45

Lucas com a arte foi com seu tio, que é poeta, que o ajudou a despertar seu interesse pela leitura. Conheceu o teatro na escola em uma das oficinas ministradas pela Maria e pela Helena. Seu maior desejo é terminar os estudos e entrar na universidade no curso de artes cênicas para se tornar professor. O jovem possui uma barraca de lanches fixa na feirinha do Jacintinho, de onde tira seu sustento, e faz “bico” de garçon em um churrasquinho no bairro do Feitosa nas noites de quintas e sextas.

Alessandro tem 24 anos, mora no Morro do Ary. Declara-se negro, homossexual e morador de periferia.Mora com o companheiro. Foi expulso de casa aos 15 anos, quando se assumiu gay.Foi morar com uma tia, que o levava à igreja, onde conheceu Maria, ingressando na Cia de teatro SOS Sorriso. Ele faz curso técnico de teatro pela ETA/UFAL, é bolsista e trabalha como coreógrafo e relações públicas em uma quadrilha junina.

Donato tem 22 anos, mora na grota do Rafael, declara-se homossexual e morador de periferia. Mora com a mãe, a tia e mais três irmãos. Estuda o Ensino Médio na modalidade EJA. Na igreja conheceu o teatro, tonando-se integrante da SOS Sorriso. Aprendeu a costurar com a tia e faz bicos costurando para quadrilhas juninas, para a equipe da Paty Maionese e para uma pequena academia de ballet. O jovem integra a equipe de atores do Encontro com Paty Maionese, sendo o primeiro a ser contratado, abrindo portas para o ingresso de Alexandre e Henrique. Donato planeja fazer o curso de técnico de artes cênicas ou moda pela ETA/UFAL.

Tânia tem 15 anos, mora nas Piabas com os pais e dois irmãos.Ela conheceu o teatro na escola, através de oficina realizada pelos integrantes da Cia A Cambada.Mais tarde, fez seleção e ingressou na Cia. Tem na mãe sua maior incentivadora, gosta de escrever e deseja ser atriz e escritora. Cursa o Ensino Médio regular e pretende tentar o Enem para Letras ou Artes Cênicas.

Edna tem 20 anos, engravidou aos 15 anos de idade, mora com a mãe e o filho, cursa o Ensino Fundamental na modalidade EJA. Montou um churrasquinho, que funciona nas noites de quinta, sexta e sábado. Teve seu primeiro contato com a arte aos 13 anos, como aluna da Maria. Conta que se afastou do teatro por causa do namorado e acabou engravidando. Planeja terminar os estudos e ingressar na universidade.

Daniel tem 20 anos vive com o pai, a avó e três irmãos, sua mãe faleceu quando eram crianças. Declara-se gay e morador de periferia, entrou em contato com o teatro na escola através de uma oficina ministrada pela Maria e Helena, também integrou a Cia SOS Sorriso. O jovem trabalha com maquiagens artísticas em um salão de beleza em Maceió, orgulha-se de ter aprendido as técnicas de maquiagem de forma autodidata, pesquisando na internet e em revistas. Teve como maior incentivadora a avó e a patroa de sua avó, que o ajudou a pagar o primeiro curso de maquiagem. Atualmente,Daniel está cursando o primeiro período do curso de dança na UFAL e dá aulas de stilleto46 em uma academia no bairro da Pajuçara.

Juliano tem 17 anos, mora com a mãe e cinco irmãos, envolveu-se com drogas aos 12 anos. Uma professora de artes da escola pública onde estudava o “obrigou” a fazer as oficinas de teatro na escola com Eliza.Desde então, as duas passaram a ser suas maiores incentivadoras. Ele se declara gay, negro e morador de periferia, e é adepto do candomblé. Atualmente, cursa o Ensino Médio e pretende fazer o ENEM para o curso de artes cênicas. O jovem possui o sonho de ser professor de artes. Trabalha na feira do Jacintinho nas manhãs de sexta, sábado e domingona barraca de frutas de seu tio, e também faz bico como ajudante de iluminação em espetáculos de música e teatro.