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PARTE II TÁTICAS SILENCIOSAS VERSUS ESTRATÉGIAS DE

CAPÍTULO 4 Apresentando os sujeitos da pesquisa

Nos ocuparemos nesta seção da apresentação dos professores supervisores do PIBID de Geografia da UFF que se dispuseram a colaborar para construção desta investigação, seguindo a ordem alfabética dos seus nomes. O perfil dos docentes foi traçado com base nas entrevistas realizadas e nos dados pessoais e informações sobre formação acadêmica e a experiência profissional em relação a temática étnico-racial no Ensino de Geografia, obtidos através dos questionários aplicados e das entrevistas.

Antes de apresentar individualmente os professores, assinalamos que todos afirmaram conhecer a Lei 10.639/03 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana (Parecer CNE nº 3/2004) e acreditam ser possível o Ensino de Geografia contribuir com os propósitos preconizados nesses instrumentos normativos. Para atingir esta finalidade, afirmam que na sua prática cotidiana buscam cooperar com a construção de uma educação das relações étnico-raciais através das aulas de Geografia.

FICHA TÉCNICA

Nome e idade: Lívia Vargas de Souza, 28 anos

Formação (local e tempo): Licenciatura em Geografia na Universidade Federal Fluminense (2007/2010) – Mestrado em Geografia na Universidade Federal Fluminense (2017- Cursando)

Escolas onde trabalha: Ciep 513

Tempo na profissão: 5 anos

O tom vital: “Aos poucos eu fui me constituindo como professora. Eu acho que isso nunca acaba, acho que isso vai sendo cada vez mais...eu vou formando alunos e eles vão me formando cada vez mais”.

A relação entre afetividade e docência revela sinais que permite nos aproximarmos da identidade profissional da professora Lívia, que indica que ela possui bom relacionamento com seus estudantes, e os considera protagonistas no processo de

aprendizagem. Sempre aponta para a necessidade de ensinar um conhecimento contextualizado, que possua sentido para o aluno, levando em consideração, ao ensinar, a vida deles.

Comprometida com as suas ações profissionais, gosta de estar em sala de aula, e confere grande importância à experiência docente e à relação com os estudantes para a sua formação enquanto professora, destacando as suas vivências na escola, com seus pares, como um elemento vital. Afirma que é a demanda dos alunos (ou o que compreende ser importante para eles) que faz com que ela tenha a necessidade de trabalhar as questões raciais a partir das aulas de Geografia, em um processo cotidiano, contínuo e coletivo de construção de modos de tratar a temática étnico-racial.

FICHA TÉCNICA

Nome e idade: Victor Carvalho Loback de Faria, 28 anos Formação (local e tempo): Licenciatura em Geografia na Universidade Federal Fluminense (2009/2012) – Mestrado em Educação na Universidade Federal Fluminense (2013/2015) – Doutorado em Educação na Universidade Federal Fluminense (2017/cursando)

Escolas onde trabalha: Ciep 246 e Colégio Santa Terezinha

Tempo na profissão: 7 anos

O tom vital: “Quando viro professor regente de uma turma regular, já estou fazendo as pesquisas do mestrado. Eu não entrei ainda, mas quando entro já estou com as pesquisas, com as leituras... então não vou dizer que faço uma Geografia descolonial, não tem como, mas desde sempre isso foi uma questão.”

Professor envolvido com seu trabalho, e propositor de formas mais igualitárias de compreender o mundo, e os sujeitos que nele habitam, utiliza-se da sua capacidade crítica de argumentação para tornar-se um importante sinalizador interno dos desafios que a escola precisa enfrentar. Com uma atenção especial em relação a “quem se ensina”, busca estabelecer um diálogo entre “o que se ensina” e os propósitos que pretende alcançar através da sua disciplina escolar.

Com grande domínio dos saberes da ciência, o professor Victor se assume comprometido com a construção de uma Geografia escolar que não reproduza uma leitura eurocêntrica da realidade, reflexão que desempenhou na sua pesquisa de mestrado. Em um processo sucessivo de formação continuada, destaca a relevância da formação acadêmica para a construção e o embasamento da sua prática, em especial o papel do pensamento descolonial enquanto uma perspectiva teórica elucidativa para pensar as questões étnico-raciais e a sua interface com o ensino de Geografia.

FICHA TÉCNICA

Nome e idade: Simone Antunes Ferreira, 31 anos

Formação (local e tempo): Licenciatura em Geografia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2005/2010) – Especialização em Educação Básica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2013/2014) - Especialização em Ensino de História e Cultura Africanas e Afro-Brasileiras no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (2014/2016)

Escolas onde trabalha: Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho e Escola Municipal Valtair Gabi

Tempo na profissão: 9 anos

O tom vital: “Eu tive acesso a isso, tive acesso aquilo, mas vários dos meus não tiveram acesso. Aí falei: cara, o mínimo que eu posso fazer enquanto professora, se eu decidir realmente ser professora é isso... é ajudar outras pessoas a chegarem em outros espaços.”

As primeiras experiências no ofício docente, e a posterior certeza do desejo de exercer a profissão, nos apresenta a uma professora que enxerga no magistério a possibilidade potente de se realizar enquanto meio de intervenção social, marcadamente vinculado ao seu anseio de contribuir para a diminuição das desigualdades raciais e de gênero. Simone revela ter grande sensibilidade em relação a temática afro-brasileira e africana, o que é potencializado pelo seu investimento em formações continuadas que possuem como foco as relações étnico-raciais e a sua interface com a educação geográfica.

O seu compromisso ético e político com o processo de ensinar está intimamente relacionado e permeado por suas vivências pessoais de mulher negra, o que se reflete no

seu projeto de educação e posicionamento nas escolas. As suas práticas na profissão envolvem criativamente as questões étnico-raciais através da espacialidade da Geografia escolar, demonstrando possuir domínio do conteúdo e grande capacidade de articular esses conhecimentos escolares a realidade social e racial dos alunos.