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CATEGORIA TEMÁTICA 3 – PRINCIPAIS FRAGILIDADES E LIMITES PARA O DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES RELACIONADAS À PROBLEMÁTICA DO

4.1 Apontando a necessidade de priorização desta temática pela gestão pública

4.2.4 Investir e valorizar os recursos e condutas da Atenção Básica

4.2.4.2 Aprimorar o acolhimento aos indivíduos que fazem uso abusivo de álcool

Um gestor salientou a necessidade de aceitar e acolher o alcoolista, independente de suas condições clínicas e metas estabelecidas (redução ou abstemia, quanto ao consumo do álcool). Além disso, há propostas para que os trabalhadores da saúde compreendam e visualizem as recidivas como uma das etapas do tratamento, livre do pré- julgamento de que o indivíduo não é capaz de abster-se do uso do álcool.

“Eu acho que a gente tem que entender de uma maneira diferente para conseguir lidar com eles, pra poder acolher, né? A gente tem que aceitar desse jeito que ele tá. E até em aceitar o paciente diminuir. Tá bebendo menos, enxergar que é uma vitória, que ele tá conseguindo resgatar algumas coisas na vida. Antes já não: ‘ah, tem que estar em abstinência, se não estiver em abstinência não dá. ’ Agora não.” GD

“As recidivas fazem parte do tratamento hoje. Então, nós temos que olhar para as recidivas como um processo e não como: ‘não adianta, não vai parar mesmo’. Porque nossa tendência é fazer isso mesmo.” GE

4.2.5 Fortalecer a intersetorialidade: a necessidade de articulações e do trabalho em rede Tendo em vista a vasta abrangência dos problemas decorrentes do uso problemático do álcool, os gestores apontaram a necessidade do poder público articular vários setores da sociedade na elaboração de estratégias para a atenção a esta temática. Enfatizaram, também, que a gestão pública de saúde deve buscar articulação na configuração de redes sociais, entre a Secretaria de Saúde e outras secretarias municipais, tais como: a Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer, área jurídica e de segurança pública, Secretaria Municipal da Família e do Bem Estar Social, e, ainda, a necessidade de articulações com segmentos sociais como Organizações Não Governamentais (ONGs) e, também, com entidades não ligadas ao poder público como Alcoólicos Anônimos (AA), igrejas e famílias.

Os entrevistados reconheceram a importância do trabalho articulado. Consideraram este trabalho como fundamental para se alcançar a eficácia, tanto nas ações de prevenção, quanto de reabilitação. Em relação a esta, consideraram que a mesma deve ter como objetivo a reinserção social do alcoolista.

“Então, trabalhar em conjunto com estas instituições. Acho muito legal o trabalho do AA. Sabe assim, trabalhar junto com as igrejas, não fortalecendo a coisa de que é pecado, não nesse sentido. Mas no sentido de resgatar as pessoas, que realmente querem sair desse vício.” GB

“Promover articulação dos recursos, que já tem.” GC

“Ainda tá precisando, ainda falo, falo mesmo. Acho que nós temos que ter gente do nosso lado, a gente precisa dos advogados, na parte gerencial mesmo, da sociedade, a

assistência social. Ainda falta o olhar pra ver tudo mesmo. Sabe aquela coisa assim: ‘Vamos trabalhar escolas’. Eu acho que isso ainda falta.” GC

“Acredito que envolver um pouco mais a sociedade nesse processo pra ela poder entender como um problema da sociedade como um todo [...]. A comunidade tem um papel importante, também,” GE

“Isso eu acho que é primordial: a intersetorialidade. Sem a intersetorialidade, eu creio que não só no caso do alcoolismo, mas muitas coisas não são possíveis”. GI

“A gente tem que trabalhar com educação, com segurança, com lazer, com o esporte.” GI

“Porque eu acho assim: tinha que ter um trabalho conjunto, né? Porque sozinha é complicado. Mas se fizer, por exemplo, uma junção da Secretaria de Saúde e Secretaria de Educação e tivesse uma atuação maior, mais efetiva, quem sabe, né?” GK

“Eu acho que um caminho a ser tomado, se tivesse alguma ação hoje, eu penso que deveria ter uma ação conjunta da Secretaria de Saúde junto à educação e começar a abordar essa questão nas escolas. Acho que é isso que falta.” GK

4.2.5.1 Buscar articulação e participação da família.

Alguns gestores ainda referiram a importância de trabalhar o cuidado ao alcoolista, envolvendo a família. Dentre as consequências da SDA os entrevistados apontaram a desestruturação familiar, reconhecendo que todos os membros da família são afetados. Também salientaram que as famílias ficam muito perdidas. Assim, para se conseguir resultados satisfatórios na atenção ao alcoolista, torna-se necessário atender também a família. Porém, percebe-se a dificuldade de conseguir esta aproximação, pois, segundo um deles, tem sido necessário intimar os familiares para participarem das reuniões. E, mesmo assim, poucos se comprometem.

Um gestor sugeriu que, além do fortalecimento da participação da família e inserção social, o apoio religioso também é relevante. Este entrevistado realizou capacitações e especializações específicas na temática e participa efetivamente de grupos envolvidos na problemática. Por isso utiliza as expressões “por mais que eu já estudei”, “por mais que a gente discuta”. Para ele, apenas o tratamento medicamentoso não apresentará resultados satisfatórios. Há necessidade de outros recursos sociais disponíveis, como uma estrutura sócio familiar associada a uma prática religiosa.

“E também outro aspecto importante são as famílias. As famílias ficam muito perdidas, quando tem o problema porque, assim, aí mexe em tudo. Então, assim, o papel da saúde é neste sentido.” GB

“Nós temos que voltar àquela fase da família. A base familiar, a inserção na sociedade e a inserção religiosa, que eu ainda acredito muito nisso! Porque por mais que eu já estudei, por mais que a gente discuta, eu acho ainda que tem que entender a ligação para conseguir tratar melhor essa relação com o álcool e outras drogas. Não é só tratamento, porque não adianta a gente pensar em tratamento medicamentoso, se não tem toda uma infraestrutura por trás. Se você tem uma religião, eu acho que isso é fundamental, é fundamental.” GC

“Acho que trabalhar a família é super importante. Semana passada, a gente fez uma intimação para as famílias participarem, porque sem a família a gente não consegue alternativas.” GD

4.2.6 Acabar com o preconceito: transformar o cuidado.

Dentre os entrevistados, alguns trouxeram falas que revelaram como as concepções e o preconceito sobre a questão interferem no enfrentamento do problema. Segundo dois gestores, é de responsabilidade da gestão pública de saúde promover ações que possibilitem uma mudança na forma de perceber o alcoolista e o cuidado que ele necessita. O olhar para a internação como única solução para o problema foi questionado, uma vez que somente excluir o alcoolista do convívio familiar e social não possibilita o processo de reabilitação. Um gestor acrescentou, ainda, a necessidade do olhar individualizado para transformar o cuidado, além de ações que visem à reinserção social.

“Eu acho que é em relação à informação do que é (alcoolismo). Primeiro, que vai acabar com o preconceito de você ver o alcoólatra como ‘ai, se acabou! ’ GB

“Nós precisamos sim, muitas vezes, trabalhar aquela mentalidade como era a questão hospitalar: ‘Só resolve se internar’. Quer dizer, é mudar isso! Existem várias frentes. Lógico que existem momentos que nós vamos ter que recorrer a procedimentos mais intensivos para o tratamento. Mas existe uma reinserção na sociedade. Existe o acreditar no trabalho da equipe de saúde.” GE

4.2.7 Criar mais espaços para internação

Dois gestores colocaram a internação como recurso imprescindível ao tratamento do alcoolista. As falas revelaram a preocupação dos entrevistados com a insuficiência de serviços para atender o alcoolista no momento da crise. Para eles, os resultados da reabilitação encontram-se diretamente ligados à permanência do alcoolista em serviços de internação de curta ou longa permanência.

“O que eu vejo hoje é a falta de delimitar um local próprio para internação deles como o CAPS mesmo. Mas uma internação 24 horas para desintoxicação. São poucas clínicas, não tem uma clínica de referência do SUS.” GC

“Então, com o alcoolismo deve ser a mesma situação, tanto é que a gente tem um CAPS. Agora, por que não se tem uma clínica de reabilitação no município? [...] O grande atravanque é a questão da internação. Quando ele resolve querer ser internado não tem vaga. Se a gente for levar pra esse lado, a gente vai ter que transformar a cidade numa grande tenda pra colocar todo mundo ali dentro. Mas alguma coisa tem que ser feita. Seja vaga reserva, seja vaga de urgência na clínica.” GH

3.2 DISCUSSÃO DAS PERCEPÇÕES DOS GESTORES À LUZ DO REFERENCIAL