• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – A CRISE FINANCEIRA DE 2008 E OS EFEITOS SOBRE A

2.5 O aprofundamento da crise financeira

O aprofundamento da crise ocorreu em 15 de setembro de 2008, com a falência do banco de investimentos Lehman Brothers35. Esse banco fez uso das facilidades criadas pelo Fed (em especial o Primary Dealer Credit Facility, durante o abalo de março de 2008) para

35 Para diversos autores, como Farhi & Cintra (2009) e Krugman (2009), os primeiros sinais da crise começaram a acontecer entre 2006 e 2007.

resolver seus problemas de solvência, porém não emitiu títulos novos suficientes para manter sua posição no mercado financeiro e logo sofreu com a queda no preço de suas ações. No começo de setembro de 2008, anunciou um prejuízo de US$ 3,9 bilhões referente ao trimestre finalizado em agosto daquele ano. Vários grandes bancos foram cotados para comprar o Lehman Brothers, mas nenhum decidiu por isso, já que o Federal Reserve decidiu não dar nenhuma garantia governamental a esta operação financeira, pois acreditava que o Lehman Brothers tinha tido tempo suficiente para se preparar para a situação de iliquidez que estava enfrentando e que sua falência não geraria tantas perdas (BRUNNERMEIER, 2008).

A recusa do governo americano em intervir no Lehman Brothers, incentivou sua a declaração de falência. Este fato desencadeou mais instabilidade e desconfiança nos mercados financeiros globais e a contração da atividade econômica mundial, devido à secagem dos canais de créditos disponíveis que ainda existiam. Instaurou-se um cenário de pânico em todo o sistema financeiro, atingindo âmbito global. Foi dado, então, início a uma sequência de eventos no setor financeiro mundial, com vendas e aquisições de diversos bancos e outras instituições financeiras, e à configuração de uma crise sistêmica. A declaração da falência do Lehman Brothers foi seguida do anúncio da venda do Merrill Lynch para o Bank of America (FAHRI & CINTRA, 2009).

A crise também atingiu a companhia seguradora AIG e esta assistiu o preço de suas ações caírem mais de 90% em 16 de Setembro de 2008. Conforme abordado por Alexandre et al. (2009), a AIG era um dos maiores vendedores de CDSs, o que a deixava exposta ao aumento do risco de default dos empréstimos subprime que vinha sendo enfrentado. Nesta situação, o Federal Reserve, levando em consideração o risco que a falência da AIG poderia gerar no sistema financeiro, em função da emissão dos CDSs atrelados a outros commercial papers, preferiu intervir e nacionalizou a seguradora, adquirindo 80% da companhia.

Na sequência dos fatos que assolaram o mercado financeiro global, em Setembro de 2008, assistiu-se à transformação dos bancos de investimentos Goldman Sachs e Morgan Stanley em holdings financeiras (financial holding companies), como forma de aumentar a regulação imposta sobre aquelas instituições, passando a serem sujeitas às normas da Basileia. Posteriormente, o Federal Reserve procurou agir mais uma vez, e interferiu apoiando duas operações de vendas de bancos: primeiro, a do Washington Mutual pelo JP Morgan Chase, e segundo, a compra do banco Wachovia pelo Wells Fargo (BRUNNERMEIER, 2008; FAHRI & CINTRA, 2009).

A atuação do Federal Reserve sobre os bancos americanos e outras instituições financeiras não bancárias, em prol da liquidez do sistema financeiro, demonstra que a política adotada pelo governo norte-americano foi a de procurar aumentar sua influência no sistema financeiro daquele país. O poder público tinha perdido parte do seu poder devido ao nível de securitização que estava vivenciando e ao afrouxamento da regulação dos órgãos responsáveis pelo modo como estas vinham operando. Operações de redesconto, antes restritas aos bancos comerciais, passaram a ser oferecidas pelo Fed para os não-bancos participantes do “global shadow banking”.

Para tanto, o Tesouro Americano gastou em torno de US$ 196 bilhões (US$ 194 bilhões no governo Bush) na compra de ações preferenciais de diversos bancos através de recursos advindos do TARP. Ainda no âmbito deste programa, o governo americano realizou aporte de US$ 40 bilhões para compra de ações preferenciais na seguradora AIG, além de ajuda em torno de US$ 20,8 bilhões a empresas do setor automotivo, como General Motors e Chrysler. O Citigroup também se beneficiou em novembro de 2008 com um plano de ajuda de US$ 20 bilhões quando sofreu uma queda no preço de suas ações em 60%, além dos recursos recebidos que integravam o programa de aporte de capital (Programa de Compra de Capital – PPC), e a utilização de US$ 5 bilhões do TARP no âmbito do programa de garantia de ativos (ALEXANDRE et al, 2009; IEDI, 2009).

Eventos no mercado financeiro europeu demonstraram que a crise financeira não se limitou ao mercado americano e ao sistema imobiliário daquele país. Além da corrida bancária e da intervenção estatal inglesa sob o banco Nothern Rock, conforme já citado, bancos centrais europeus procuraram também reduzir suas taxas de juros e injetar crédito na economia dos seus países, com a intenção de reduzir a iliquidez que havia tomado o mercado financeiro mundial.

No começo de 2008, os bancos europeus, UBS na Suíça e Societé Generale, na França anunciaram perdas financeiras, e durante o mesmo ano, outros grandes bancos, como o Fortis, o Royal Bank of Scotland e o Hypo Real State viram seus ativos passar para o controle dos seus países-sede. Países como Irlanda, França, Alemanha e Dinamarca anunciaram entre setembro e outubro de 2008 que garantiriam a totalidade dos depósitos bancários dos bancos dos seus países. Outro país fortemente atingido pela crise financeira americana foi a Islândia, o qual sofreu com o colapso do seu sistema bancário, ao ponto de enfrentar a falência dos seus três principais bancos: o Landsbanki, o Kaupthing e o Glitinir. Para conseguir estatizar os

bancos em questão e restaurar a confiança perdida no sistema bancário islandês, o país recorreu a um empréstimo do Fundo Monetário Internacional – FMI (ALEXANDRE et al., 2009).

2.6 CONSEQUÊNCIAS DA CRISE FINANCEIRA NOS ESTADOS UNIDOS E NA