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A apropriação/colonização do território

CAPÍTULO III A IMPRENSA ESCRITA NO CONTEXTO DA

3.1 Contextos de criação e instalação do município de Chapecó

3.1.1 A apropriação/colonização do território

A partir da segunda década do século XX iniciou-se a apropriação do território, até então chamado de Passos dos Índios19, que mais tarde se tornaria município de Chapecó. Chapecó atraiu considerável fluxo migratório, de 1917 a 1950, devido às condições da região e aos incentivos das empresas internacionais americanas. É neste contexto que os primeiros “coronéis” instalaram suas empresas em Chapecó e trouxeram consigo inúmeras famílias do Rio Grande do Sul. A vinda desses contingentes populacionais propiciou o aparecimento de nova atividade econômica: a exploração da madeira.

Os primeiros coronéis a instalarem-se em Chapecó foram o Coronel Manuel Santos Marinho e Coronel Manuel Passos Maia, ambos naturais do Rio Grande do Sul, que foram superintendentes municipais e deputados estaduais pelo partido Republicano Catarinense. Logo ao chegarem nesta região aliaram forças juntamente com outro coronel vindo da mesma região, Coronel Ernesto Francisco Bertaso. Os coronéis Marinho, Maia e Bertaso receberam do Estado a maior parte da região, de acordo com Alba (2002, p. 17) concretizando “o projeto de colonização feito pelo governo estadual que objetivava colonizar todo o oeste de Santa Catarina, considerado pelas autoridades da época como um vazio demográfico”.

Entre eles outras companhias colonizadoras aqui se instalaram a partir de 1920. É importante destacar que:

As concessões de terra, no entanto, foram feitas sem levar em conta os direitos dos posseiros. O Estado não se preocupava com eles, pois sua produção era insignificante e não contribuía com impostos. Se antigos ocupantes da região passaram a intrusos, já que não se encaixavam com o novo sistema que se instalava. Por muitas vezes também fez-se uso da violência para resolver questões de terras, uma vez que a região foi disputada por indígenas, caboclos e brancos (HASS, 2000, p. 63).

A população que aqui se encontrava foi violentamente sendo retirada de seu território. A tática das empresas colonizadoras consistiu em oferecer aos ocupantes a proposta para a compra da área ocupada ou

19

Segundo Bellani (1996, p. 18), a troca de nomes se deu por interesses “particulares”, dos primeiros coronéis que aqui instalaram suas empresas.

a sua retirada: “ou compra ou sai” eram as opções (RENK, 2006, p. 48). Outra tática também utilizada, segundo a autora, foram os despejos que começaram a ocorrer a partir da segunda década da colonização. Deste modo, muitos dos caboclos aos quais foi permitido permanecer nos espaços, passaram a viver de favor, ou sujeitos a trabalho assalariado que não permitiam viver em condições às quais a população estava acostumada. As rupturas começam a acontecer.

A introdução de valores externos deixou à população local as opções: adaptar-se ou ficar excluída, isto por duas razões. A primeira seria a desestruturação do modo de vida anterior à colonização; a segunda, pelo descompasso criado entre o habitus da população e as estruturas econômicas introduzidas com a colonização. O habitus não se transforma com a rapidez exigida pelas mudanças (RENK, 2006, p. 40).

Os “coronéis” que aqui chegaram conseguiram fazer com que a população constituída por caboclos e índios fosse aos poucos se integrando, à margem da sociedade, servindo apenas de mão de obra a fazendeiros, ervateiros e madeireiros (POLI, 2006, p. 174).

A empresa que constituiu a maior parte do território da região Oeste, como já citado foi a empresa Bertaso, Maia e Cia pertencente aos “coronéis” Ernesto Francisco Bertaso e Manuel dos Passos Maia, que fundaram em 1918 a primeira sede da empresa Bertaso, Maia e Cia, na cidade de Passo Fundo. Após os sócios adquirirem quase a maior parte do território que compreendia o Extremo-Oeste, transferiram a sede da empresa para Chapecó. Em 1923 a empresa foi dissolvida e o coronel Bertaso formou outra, denominada Empresa Colonizadora Ernesto Francisco Bertaso. Em 1948 a empresa mudou novamente, tendo como diretores seus filhos e cunhado e surgindo a Empresa Colonizadora e Industrial Ernesto F. Bertaso.

Os Bertaso além de trazerem inúmeras famílias do Rio Grande do Sul para Santa Catarina desenvolveram com muita força o “papel de colonizadores do oeste”. Eles utilizaram a maior parte de suas terras para comercialização, demonstrando o forte poder da estrutura coronelística de uma região profundamente influenciada pela própria estrutura socioeconômica existente (QUEIROZ, 1976, p. 170 apud HASS, 2000, p. 68).

De acordo com Leal (1997, p. 40) o “coronelismo” é

[...] sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido e a decadente influência social dos

chefes locais, notadamente dos senhores de terras. Não é possível, pois compreender o fenômeno sem referência à nossa estrutura agrária, que fornece a base de sustentação das manifestações de poder privado ainda tão visíveis no interior do Brasil.

O poder público não conseguindo chegar ao eleitorado rural, alimentou o “coronelismo” para garantir seu poder político. Desta troca de favores resultam “as características secundárias do sistema „coronelista‟, que são, entre outras, o mandonismo, o filhotismo, o falseamento do voto, a desorganização dos serviços públicos locais” (LEAL, 1997, p. 41).

Estas explicações vão justificar as características principais na atuação do “Coronel Bertaso” na região do Oeste, que constituiu sua riqueza com base no mandonismo local e no poder político. Isto também explica a forma como este coronel é lembrado e apresentado na literatura sobre esta região.

Bertaso é lembrado pelos moradores mais antigos de Chapecó como um coronel “bonzinho” – “gente boa, um santo homem”. Paternalista, doador de coisas e patrocinador de causas, organizava festas de integração comunitária, além de facilitar o pagamento de terras. [...]. Além disso, a empresa colonizadora preocupava-se com a infra-estrutura das localidades, como ruas traçadas, lotes urbanos demarcados e serviços indispensáveis – casa comercial, igreja, escola e hotel – como forma de garantir o progresso dos núcleos de povoação (HASS, 2000, p. 68). Esses fatos vão significar e justificar o espaço/tempo desta pesquisa, pois essas estratégias realizadas em nome do progresso vão delinear uma cidade pensada para a elite oligárquica que aqui se instala. Será que não havia pessoas incomodadas com o mandonismo do coronel Bertaso? Será que todos foram contemplados pela “preocupação” com infra-estrutura desta localidade, com o progresso? Para onde foram os índios, os caboclos que aqui estavam? Para onde foram os agregados que viam suas próprias terras serem arrematadas de suas mãos em nome da “colonização”? Isso traz à lembrança as “Perguntas de um operário letrado”, de Bertold Brecht (apud BRANDÃO, 1985, p. 112-113):

Quem construiu Tebas, a das sete portas?/ Nos livros vem o nome dos reis.../ Mas foram os reis que transportaram as pedras? [...] A grande Roma está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu?

[...] Frederico II ganhou a Guerra dos Sete Anos. Quem mais a ganhou?/ Em cada página uma vitória. [...] Em cada década um grande homem./ Tantas histórias/ Quantas perguntas.

Nesse quadro da história de Chapecó, as alterações do poder das oligarquias catarinenses (os coronéis Bertaso, Maia, Marinho) vão repercutindo no processo de organização da estrutura política, econômica e social da cidade, surgindo a partir da década de 1930 as primeiras instituições como escola, hospital, delegacia, cinema, partidos políticos e a imprensa escrita, base material desta pesquisa.

3.2 A imprensa chapecoense no rastro da história da imprensa no