• Nenhum resultado encontrado

2.2 O Habitar Brasil em Natal (1993-1994) – organização da base operacional

2.2.4 A aprovação do convênio

A celebração do convênio35

entre o Governo Federal, através do Ministério do Bem- Estar Social e o Município de Natal, com a interveniência da SUMOV36

ocorreu em julho de 1993, com o objetivo de executar o programa Habitar Brasil. A documentação oficial foi composta pela descrição do convênio com detalhadas dezoito cláusulas, destaca-se a cláusula primeira DO OBJETO:

Constitui-se objeto deste convênio, a urbanização da favela da África no bairro da Redinha, com construção de 350 unidades habitacionais; execução de melhorias habitacionais em 640 unidades, compreendendo: reparo de piso, alvenaria, cobertura, reboco, esquadrias, pintura, equipamentos hidro-sanitários, sendo que em 60 destas também serão construídos módulos sanitários. Execução de infra- estrutura urbana compreendendo: esgotamento sanitário (interligação domiciliar em 990 unidades, 5940m de ramal condominial, 1720m de rede básica, 1 unidade de tratamento), ampliação da rede de água (ligação domiciliar em 990 unidades, 2170m de implantação adutora, 4228m de rede de distribuição), drenagem pluvial (2176m de tubo de concreto, 147 poços de visita), 17320m² pavimentação paralelepípedo, 5.649m² de terraplanagem, 12.400m de meio-fio, substituição de transformadores com extensão secundária e luminárias em 100% da rede de energia elétrica. Construção de salão de múltiplas atividades com 150m² e ações de apoio, conforme o Plano de Trabalho aprovado, que passa a fazer parte integrante do presente instrumento, independentemente de transcrição. (convênio n°103/SH/93 – arquivo interno da SUMOV) 37

35

Ver anexo G – Convênio n° 03/SH/93

36

Superintendência Municipal de Obras e Viação

37

MARÇO DE 1993

LANÇAMENTO DO HABITAR BRASIL (GOVERNO FEDERAL)

ÁFRICA PRIORIDADE PARA INTERVENÇÃO MAIO DE 1993 DECRETO 4985 JUNHO DE1993 CRIA-SE O CONHABIN E O FUNHABIN JULHO DE 1993

CONVÊNIO HABITAR BRASIL ÁFRICA

O processo entre o lançamento do programa Habitar Brasil na esfera Federal, as ações municipais para atender às exigências do manual e a celebração do convênio para implantação do Programa em Natal, pode ser resumido em cinco momentos: 1) março de 1993 – lançamento do Programa Habitar Brasil em nível

federal; 2) abril de 1993 – o município de Natal encaminhou para análise38 o projeto Habitar Brasil para a favela África; 3) maio de 1993 – desapropriação da área da favela África; 4) junho de 1993 – criação do CONHABIN E FUNHABIN; e 5) julho de 1993 – convênio entre o Governo Federal e Municipal para executar o programa Habitar Brasil na África.

O organograma apresenta esquematicamente as etapas do lançamento do Programa, pelo Governo Federal, até a celebração do convênio para dar início à fase de execução das obras do Habitar Brasil (1993/94). Para o processo de implementação do Programa, o município contou com uma ação integrada39

envolvendo: o Gabinete Civil, a Secretaria Municipal de Administração Geral e Planejamento (SEMAP), a Superintendência Municipal de Obras e Viação (SUMOV), o Instituto de Planejamento de Natal (IPLANAT), a Secretaria Municipal de Promoção Social (SEMPS/ ATIVA), a Secretaria Municipal de Saúde, a Procuradoria, a Guarda Municipal, além de órgãos de desenvolvimento de atividades culturais e esportivas do município.

38

Ver anexo H – Ofício n° 270/93 - GP (encaminhamento da proposta para África)

39

Analisando a questão temporal com o grau de complexidade de organização institucional, retoma-se aqui, a noção da precariedade da “máquina” municipal para gerir tamanha proposta. Com efeito, o pioneirismo se reafirma como um fator significativo na dificuldade de operacionalização, seguido da então habitual metodologia de trabalho direcionada à Política Habitacional nos moldes do BNH. É inegável ainda, que a estrutura organizacional foi criada para “receber” o Habitar Brasil, contudo Marcelo Tinôco observa: “ao assumir o IPLANAT pude perceber que mesmo com Plano Diretor [de 1994], o Conselho e o Fundo de habitação recebendo os recursos do Governo Federal, existia uma dificuldade estrutural dentro da Prefeitura”. Portanto, não era suficiente apenas criar um modelo operacional seguindo a cartilha exigida pelo Habitar Brasil, era preciso formular mecanismos de interface entre tantos parceiros dentro e fora da Prefeitura. O pouco tempo demandado para a adequação municipal é para Marcelo Tinôco “uma questão política, talvez fosse o tempo que o município dispunha para viabilizar o Habitar Brasil”.

Nessa perspectiva Garcia (2001) é incisivo ao descrever a lógica dos fatos políticos

que é pertinente à questão quando se trata da agilidade das decisões onde a necessidade de assegurar recursos para um novo programa se faz urgente. O autor se refere criticamente aos pesquisadores e avaliadores que ignoram essa “lógica” e define que: “a lógica do trabalho acadêmico é bastante diferenciada daquela que orienta as ações de outros sistemas que conduzem à atividade de planejamento – o de decisão e de implementação” (GARCIA, 2001, p.10). Como visto anteriormente, a capacidade do município articular ações que aconteciam no nível local com o lançamento do Programa Habitar Brasil, se constituiu como uma iniciativa válida, que, contudo, exigiu uma rapidez para lançar as bases operacionais de acordo com a proposta do Governo Federal.

Cumpre notar que para implementação de um Programa com características inovadoras, como a parceria popular em todas as etapas e com abordagens diversas a serem escolhidas de acordo com a necessidade e realidade local, o tempo entre a elaboração da proposta e a celebração do convênio para execução da obras, deve ser considerado como um fator que contribuiu para as dificuldades que se impuseram, ao longo do processo de implementação da proposta na África. O fator temporal pode ser relevante quando se observam, por exemplo, fragilidades na elaboração dos projetos, na parceria da comunidade

da concepção à execução das obras, e principalmente, na articulação entre as diversas dimensões municipais envolvidas no processo.

Ademais, seguindo os critérios exigidos pelo Programa Habitar Brasil e firmado o convênio, o município de Natal encaminhou ao Ministério do Bem-Estar Social o Projeto de Intervenção na Favela África. O projeto, elaborado em abril de 1993, contou com uma apresentação detalhada da proposta de intervenção antecedida das considerações acerca do município de Natal e do diagnóstico da favela África. Ressalta-se ainda, que o convênio firmado com o Governo Federal teve a vigência de 275 (duzentos e setenta e cinco) dias, aproximadamente nove meses contados a partir do recebimento, pelo Município, da primeira parcela dos recursos.

Capítulo III

O Programa Habitar Brasil na favela África - Natal (1993):

diagnóstico e proposta de intervenção

A documentação técnica do projeto de intervenção em favelas - Programa Habitar Brasil (1993), apresentou os aspectos gerais e específicos concernentes à intervenção na favela África. Dentre os quais, o relatório percorreu nas considerações sobre o município, os elementos geo-históricos, a economia, o saneamento e a limpeza urbana, chegando por fim, aos aspectos que tratavam da habitação no município de Natal.

Situando a favela África como: “um assentamento com características locacionais que propiciam a implementação do Programa”, o relatório apresentou o diagnóstico da África, o detalhamento da proposta, a metodologia para implementação do projeto e as ações de apoio ao projeto. Considerando a dimensão de análise deste estudo, foram extraídos do texto do diagnóstico e do detalhamento da proposta, os aspectos relacionados com infra-estrutura, habitação, equipamentos comunitários e legalização fundiária. Nessa perspectiva, para efeito de construção de uma base para análise, o diagnóstico da área é apresentado neste capítulo, seguido imediatamente da proposta de intervenção, ambos elaborados em 1993 e presentes na documentação técnica do Programa Habitar Brasil - favela África (PMN, 1993b). Nessa medida, este capítulo procura, sobretudo, compreender o que era a favela África antes da intervenção municipal e conhecer as propostas para as quatro linhas de atuação do Programa. Com isto, as bases são lançadas sobre o que foi proposto em 1993, para uma posterior análise sobre o que foi executado e como está a África nos dias atuais.