• Nenhum resultado encontrado

4 O MODO DE FAZER HERMENÊUTICO TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

4.5 APROXIMAÇÃO FENOMENOLÓGICA DAS INFORMAÇÕES

A busca dos depoimentos ocorreu por meio da entrevista fenomenológica, a qual proporcionou a compreensão e interpretação do fenômeno. Para Schleiermacher (2009), compreender é uma arte e caracteriza-se como sendo um esforço consciente e metódico, sobre o qual a hermenêutica deve refletir para que o fenômeno seja interpretado. Essa prática metódica tem como pressuposto o controle das compreensões imediatas, denominadas de pré-compreensões, como possibilidade para a interpretação a partir do que se mostra.

Para Heidegger (2008, p. 204-205), “compreender é o ser existencial do próprio poder-ser da presença de tal maneira que, em si mesmo, esse ser abre e mostra a quantas anda seu próprio ser”. Nesse sentido, a interpretação, para o mesmo autor, funda-se sempre em uma visão prévia do fenômeno, que é parte do que foi assumido como uma posição prévia, e segundo uma possibilidade determinada de interpretação.

Considera-se a entrevista fenomenológica como um momento capaz de olhar atentamente o fenômeno a partir da fala originária e possibilitar a sua compreensão e interpretação, a partir da pré- compreensão. Tendo em vista que a entrevista fenomenológica caracteriza-se por um momento de aproximação, empatia, acolhimento e reconhecimento mútuo entre o entrevistador e o entrevistado, esta foi desenvolvida de forma tranquila, em um ambiente em que ambos se sentiram seguros e confortáveis para falar e ouvir atentamente.

Este momento ímpar permitiu a aproximação com a essência do fenômeno, para que seja compreendido, descrito e interpretado, como preconizou Carvalho (1991), ao afirmar que uma entrevista fundamentada na fenomenologia tem a intenção de buscar, por meio da linguagem, uma manifestação que seja fala originária, e que possibilite a mediação com o outro e a comunicação com o mundo.

Assim,

o momento da entrevista não pode ser visualizado como um procedimento mecânico, mas como um encontro social, uma relação pesquisador- pesquisado caracterizada pela empatia, intuição e imaginação (CORREA, 1997, p. 85).

aproximação dos envolvidos, por isso, não há regras quanto a possíveis passos ou critérios de abordagem técnica sequenciais, o encontro aconteceu empaticamente e a linguagem de comunicação foi construída no transcorrer das falas e dos gestos manifestados naquele instante singular.

A entrevista fenomenológica é considerada como uma estratégia adequada para apreender o significado do que se pesquisa. Segundo Sebold (2011), ela deve ser constituída com uma única questão norteadora, deixando, assim, o entrevistador e entrevistado aberto para discorrer sobre o fenômeno, pois o que está em jogo é sua essência. Este momento constitui-se pela intersubjetividade e empatia. Para a mesma autora, este encontro se consolida no contato dos seres com o intuito de revelar-se mutuamente.

A entrevista fenomenológica de cada sujeito foi audiogravada, transcrita posteriormente e guardada em arquivo do World em pendrive e HD externo, além de ser preservada em uma versão impressa. A leitura repetida das falas do ser-acadêmico deu sustentação à compreensão e à interpretação hermenêutica proposta neste estudo; os dados referentes à transcrição foram codificados dando origem às unidades de significados; e estas, por sua vez, subsidiaram a interpretação. A compreensão fenomenológica sugerida por Heidegger (2008, p. 575; 2008/2, p. 31-40) ocorre por meio do movimento hermenêutico, no qual não há evento ou momento isolado, todos os elementos estão em jogo simultaneamente em uma interconexão.

A entrevista foi realizada em um único momento, após agendamento prévio com o acadêmico conforme sua disponibilidade de horário e tempo. Para garantir maior privacidade, o encontro foi marcado em uma sala de aula no Campus Universitário da UFSC, mais precisamente no Centro de Ciências da Saúde.

Ao chegarmos na sala onde a entrevista iria ocorrer, as cadeiras eram posicionadas uma diante da outra, para se ter pleno contato visual. Inicialmente era explicitado sobre como a o diálogo ocorreria, salientando que o acadêmico estaria livre para se expressar.

Como possibilidade para o fenômeno ser desvelado, lançou-se a seguinte pergunta: Que experiências de cuidado você tem lembrança em sua vida?

Para favorecer a manifestação do ser-acadêmico-de-enfermagem foi utilizada uma estratégia denominada de “Movimento da Temporalidade”, que vincula-se à perspectiva da historicidade heideggeriana, registra os acontecimentos e as experiências.

desenvolvido por Cerveny (2000), que, por conta da temática, a denominou de “Linha de Tempo Familiar”. A referida autora apropria-se deste elemento trazido de estudos históricos por acreditar que uma linha de tempo auxilia no registro das informações.

Neste momento, ele refletia sobre as experiências de que tinha lembrança e como concebia o cuidado, anotando em uma folha de papel, ao mesmo tempo em que o descrevia oralmente. Este momento foi particularmente rico, pois proporcionou reflexões sobre a vida do acadêmico, na medida em que, ao refletir sobre sua vida pregressa, era tomado por lembranças as quais, nas ocasiões em que ocorreram no passado, não eram consideradas como cuidado, mas, agora, ele as considerava um momento de cuidado.

Durante os relatos, diferentes sentimentos emergiam – tristeza, alegria, saudosismo –, trazidos pelas lembranças sobre os fatos e pessoas do passado. Essas lembranças denotam a vertente da historicidade, ou seja, ao descrever fatos objetivos de sua vida, o ser- acadêmico buscava temporalmente os significados.

A estratégia de um movimento da temporalidade que pudesse representar vivências pontuais de cuidado para o ser-acadêmico e, simultaneamente, fosse um elemento de aproximação com a pré- compreensão do fenômeno ultrapassou sua intenção primeira, em virtude de ter permitido, pelo uso da linguagem, o acesso aos aspectos subjetivos neste momento.

Heidegger (2008) descreve esta possibilidade de analítica existencial como historiografia e historicidade, a qual permite observar e acessar, pela lembrança, fatos vivenciados pelo ser. Esta pesquisa trabalha nesta perspectiva heideggeriana e se utiliza modos para desvelar os eventos descritos pelo ser-acadêmico e sua perspectiva temporal.