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4 AQUISIÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR PELOS

4.2 ANÁLISE DOS TIPOS DE GENEROS ALIMENTÍCIOS ADQUIRIDOS PARA

4.2.3 Aquisição de produtos orgânicos e agroecológicos

Quanto à aquisição de alimentos orgânicos não foram encontrados dados que comprovem o pagamento de qualquer alimento como orgânico pelo PNAE na vigência de 2014 na amostra analisada. No espaço de prestação de contas dos municípios há um campo para ser marcado caso o alimento tenha sido pago como alimento orgânico, no entanto, dos 132 municípios avaliados não foram encontrados registros que demonstrem esse tipo de aquisição.

Porém, alguns materiais apontam para a existência da produção e comercialização desses gêneros ao PNAE, como é o caso do material desenvolvido por Candiotto et al. (2013) que sinalizou para a produção de gêneros alimentícios

76 agroecológicos na região Sudoeste, no município de Ampére, Francisco Beltrão, e Marmeleiro, com certificação (para os que a possuem) pela Ecocert e Rede Ecovida.

Dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2006) apontam um número de 7.527 estabelecimentos com alguma atividade orgânica no Paraná, e uma produção de 107 milhões de toneladas e mais de 5 mil produtores de acordo com Melão (2012). Martins (2015) refere o constante aumento da produção orgânica no Paraná.

Martins (2015) afirma que a produção orgânica em sua maioria é de hortifrutigranjeiros, citando ainda que a abertura dos mercados institucionais propiciaram o aumento da e a diversificação de produção orgânica. Destaca ainda que “esse sistema, além de preservar o meio ambiente, promove o empoderamento individual e coletivo do agricultor, sendo considerado um modelo promotor da saúde, e não de doença” (p.36).

São vários os estudos que justificam a não aquisição de produtos

orgânicos/agroecológicos nos programas institucionais, sendo que a maioria deles considera como principal causa a produção insuficiente e a falta de certificação desses produtos. No estudo realizado por Gregolin, Gregolin e Zonin (2013) a não aquisição de alimentos ecológicos, tem como principal causa, a produção insuficiente, ou ainda produção inexistente. Além disso, a baixa produtividade implica no alto custo dos orgânicos, afetando diretamente a administração e o funcionamento da produção de refeições, interferindo no planejamento de cardápios, na política de abastecimento, no gerenciamento de custos e na produção de refeições especificamente.

Nessa mesma perspectiva, Triches, Schabarum e Giombelli (2016) identificaram como fatores determinantes para a não aquisição de alimentos ecológicos “a falta de incentivos e políticas públicas, o desconhecimento dos diversos atores (agricultores, técnicos, gestores) sobre este tipo de produção de alimentos, a insuficiência de produção e a falta de certificação” (p.102).

Não raros são os casos em que os agricultores desistem da transição para a agroecologia pela falta de capital e assistência, passada essa fase, ainda se deparam com os entraves da certificação e posteriormente, da comercialização, pois muitas vezes essa produção de menor escala e mais onerosa precisa competir com preços de alimentos convencionais para que possa ser vendido, já que o valor ainda determina a escolha de muitos consumidores (TRICHES, SCHABARUM, GIOMBELLI, 2016). Ademais,

77 considerando todos os benefícios desses alimentos (para saúde, desenvolvimento, meio ambiente) poderiam ser agregados bem mais que 30% sobre os valores pagos.

Gregolin, Gregolin e Zonin (2013) também destacam dificuldades de certificação dos produtos, explicada pela falta de orientação aos produtores quanto a esse processo e o fato dos custos para a conversão e certificação da produção orgânica ser uma barreira para os pequenos agricultores. Esta constatação é confirmada por Silva e Sousa (2015) que consideram que a certificação dos alimentos orgânicos também apresentou baixa adesão, e apontam essa dificuldade para a aquisição dos alimentos orgânicos nos programas institucionais.

Por parte da oferta, citam-se baixos preços pagos e falta de demanda. Nesse sentido, Gregolin (2015) afirma que pelo fato dos alimentos orgânicos serem diferenciados, a maioria dos produtores já possuem "comercialização consolidada para mercados locais" não dependendo dos mercados institucionais para a venda de seus produtos.

A partir dos dados encontrados nesta pesquisa, surgem vários questionamentos: Primeiro, se há fornecimento de alimentos orgânicos para a alimentação escolar por que isso não aparece nas prestações de contas? Segundo, se há produção de alimentos orgânicos, por que ela não está chegando aos programas institucionais a exemplo do PNAE? Se estão chegando, estariam sendo pagos por um preço de mercado, ou seguem os preços dos produtos convencionais? Ressalta-se assim a necessidade de mais estudos que abordem esse tema e verifiquem a real comercialização desses itens para a alimentação escolar.

De maneira geral, apesar do Paraná apresentar-se em destaque com a produção de alimentos orgânicos, estes não foram identificados no mercado institucional do PNAE no ano de 2014. Não objetivo desse estudo investigar os motivos que levam os municípios a não optarem por esses produtos, sugerindo desde já, mais pesquisas que averiguem quais os empecilhos dessa prática nos municípios paranaenses.

O próximo capítulo busca identificar se o Programa se coloca para o agricultor como um mercado atraente no que diz respeito aos preços que paga aos seus produtos e quais os gêneros adquiridos que mais se sobressaem do ponto de vista financeiro e em quantidade em cada uma das regiões do estado.

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5 EM QUE PRODUTOS A ALIMENTAÇÃO ESCOLAR MAIS INVESTE E

QUE PREÇOS PAGA AOS HORTIFRUTIS FORNECIDOS PELOS

AGRICULTORES FAMILIARES?

Este capítulo pretende analisar os preços pagos aos produtos de AF a partir de comparação com os praticados no atacado no estado e identificar como o recurso remetido à AF é distribuído entre os gêneros alimentícios adquiridos. Como visto no capítulo 4, existem diferenças na quantidade de produtos adquiridos pelos municípios nas diferentes regiões, além de não necessariamente esses produtos possuírem o maior valor agregado. Portanto a análise aqui pretendida é identificar se os preços pagos aos agricultores pelos hortifrutigranjeiros são justos em comparação aos de atacado, sem onerar ou desvalorizar a comercialização ao PNAE.

Além disso, na segunda seção é realizada uma análise por macrorregião do estado dos produtos adquiridos em relação à quantidade, mas principalmente em relação aos valores pagos, identificando os produtos que possuem maior valor agregado.

Este capítulo traz consigo a necessidade de identificar se as compras públicas realizadas para a alimentação escolar de AF, respeitam a premissa do “best value”, conforme defendem Morgan e Sonnino (2008). Para os autores, as aquisições públicas devem ser pautadas na qualidade dos alimentos no médio/longo prazo (best value) levando em consideração seus impactos nos aspectos de saúde, ambiente e sociedade, para além da simples analise de menor preço (value for money), baseado na concorrência, a exemplo do modelo ortodoxo de compras públicas utilizado no Brasil.

Mais especificamente, se pretende saber se os AFs estão recebendo um preço justo por seus produtos e como estas compras vem ocorrendo nas macrorregiões paranaenses, considerando que o estado é heterogêneo nas questões produtivas, culturais e socioeconômicas.

5.1 OS AGRICULTORES FAMILIARES ESTÃO RECEBENDO UM PREÇO JUSTO