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Arbitragem espacial, "Lei do Preço Único" e integração espa-

3. METODOLOGIA

3.1. Modelo teórico

3.1.1. Arbitragem espacial, "Lei do Preço Único" e integração espa-

3.1.1.1. Arbitragem espacial

Na arbitragem espacial, os arbitradores são agentes que asseguram que os preços de bens homogêneos de quaisquer duas localidades diferem, no máximo, pelo custo de movimentação do bem da região de menor preço para a região de maior preço (FACKLER e GOODWIN, 2000), ou seja,

pj - pi ≤ rij, (1)

em que pi representa o preço do bem na região "i"; pj, o preço do bem na região "j"; e rij, o custo de movimentação do bem da região "i" para a região "j".

Entende-se custo de transferência (custo de transação) como o custo relevante de transações entre locais espacialmente separados.

A condição (1) mantém-se com regularidade se há comércio direto entre as regiões "i" e "j". Essa condição é denominada condição de arbitragem espacial e é um conceito de equilíbrio (FACKLER e GOODWIN, 2000).

Preços atuais podem divergir nessas relações comerciais, mas as ações dos arbitradores, num mercado que funciona perfeitamente, tendem a mover os preços de tal forma que a diferença entre eles se iguale aos custos de transferência. Quaisquer desvios deste são de natureza transitória (FACKLER e GOODWIN, 2000).

3.1.1.2. "Lei do Preço Único"

Segundo a "Lei do Preço Único", ao se abstraírem os custos de transferência, mercados regionais que são ligados por comércio e arbitragem têm um preço comum, único (FACKLER e GOODWIN, 2000). Marshall, citado por FACKLER e GOODWIN (2000:8), escreveu que num mercado o mais proximamente de um mercado perfeito é forte a tendência para o mesmo preço ser pago pela mesmo bem, em um mesmo tempo, em todas as partes do mercado. Marshall enfatizou que se o mercado é grande, uma compensação tem que ser feita pelo custo de entrega de bens para diferentes compradores; cada um dos quais tem que estar supondo pagar um adicional ao preço de mercado relativo à cobrança especial de entrega.

Segundo FACKLER e GOODWIN (2000), a "Lei do Preço Único" tem as seguintes versões: (a) a "Lei do Preço Único Fraca", em que só ocorre a condição de arbitragem espacial ; (b) a "Lei do Preço Único Forte", em que a condição de arbitragem vigora com regularidade e presume-se que o comércio seja contínuo; e (c) a "Lei do Preço Único Agregada", que é declarada em termos de índice de preços e aplicada somente a uma cesta de bens comercializáveis,

sendo conhecida como Paridade do Poder de Compra (PPC) (FACKLER e GOODWIN, 2000).

A forma "forte" da "Lei do Preço Único" é a mais freqüentemente testada, e tais testes devem ser interpretados não-somente como testes de condições de equilíbrio, mas como testes que são condicionados às hipóteses que consideram ligações de comércio. Violações da forma "forte" da "Lei do Preço Único" pode indicar falta de relações de negócios estáveis ou situação de desequilíbrio, ou ambas (FACKLER e GOODWIN, 2000).

Segundo RICHARDSON (1978), os preços de um produto homogêneo, entre dois países, podem ser expressos pelo seguinte modelo:

4 3 2 1 â it â it â t â t 2 t 1 ì.P E T R P = , (2)

em que P1t é o preço em moeda corrente do país 1, no tempo t; P2t é o preço do país 2 (em moeda corrente), no mesmo período; Et é a taxa de câmbio (unidades de moeda do país 1 necessárias para obter uma unidade de moeda do país 2), no período t; Tit são os custos de transferência, no período t; Rit são os resíduos para a existência de diferenças de preços entre os países; e µ, β1, β2, β3, β4 são parâmetros.

Segundo o modelo em (2), caso β1 = β2 = β3 = 0, haveria ausência total de arbitragem. Por outro lado, caso µ = β1 = β2 = β3 = 1 e β4 = 0, haveria perfeita arbitragem de preços. Nesse caso, a substitutibilidade entre "commodities", nos dois países, seria grande e a expressão do modelo em (2) tornaria P1t = P2t ⋅ Et ⋅ Tit, que é a "Lei do Preço Único" na sua forma absoluta.

3.1.1.3. Integração espacial de mercados

Arbitragem espacial, "Lei do Preço Único" e integração espacial de mercados são termos que se confundem e se inter-relacionam. No entanto, o que diferencia integração espacial de mercados dos demais termos é que este se refere à medida

do grau de integração de mercados, ou seja, por um lado, existem mercados completamente isolados e, por outro, existem mercados perfeitamente integrados (em que a "Lei do Preço Único", na sua forma "forte", é observada) (FACKLER e GOODWIN, 2000).

Integração espacial de mercado diz respeito ao grau de co-movimentação dos preços em diferentes locais, sendo medida pela correlação entre os preços. No entanto, é um conceito distinto da falta de arbitragem. Os preços de uma "commodity" podem subir, em locais distintos, por razões que, de modo algum, dizem respeito à rede de negócios da "commodity" que une regiões. Integração espacial de mercado é melhor entendida como uma medida do grau para o qual choques de demanda e oferta que surgem em uma região são transmitidos a outra (FACKLER e GOODWIN, 2000).

FACKLER e GOODWIN (2000) fizeram a suposição de um choque hipotético, εA, que muda o excesso de demanda para um bem na região "A", mas não em uma região "B". Assim, a razão de transmissão do preço associado ao choque é: A A A B AB å P å P R ∂ ∂ ∂ ∂ = , (3) em que A A å P ∂ ∂

é a variação infinitesimal do choque econômico (excesso de demanda de um bem na região "A"), que provoca variação no preço do bem na região "A"; A B å P ∂ ∂

é a variação infinitesimal do choque econômico (excesso de demanda de um bem na região "A"), que provoca variação no preço do bem na região "B"; e RAB é a razão de transmissão associada ao choque hipotético (a partir da mudança na demanda de um bem na região "A").

É possível, também, que uma região seja mais integrada a outra do que esta com a primeira, ou seja, a razão de transmissão do preço é assimétrica, podendo ocorrer que RAB ≠ RBA.

A integração espacial de mercados é importante na medida em que pode ocorrer transmissão de preços indiretamente. Não é necessário que duas regiões sejam parceiras diretas de comércio para existir alto grau de integração nestas. Suponha a existência de duas localidade "A" e "B", ambas fornecedoras de determinado bem para uma localidade "C". As localidades "A" e "B" podem estar fortemente integradas, apesar de não comerciarem diretamente. É justamente a ligação comercial com "C" que pode fazer com que "A" e "B" estejam integradas. Assim, choques de preços podem ser transmitidos, indiretamente, por meio da rede de comércio via ligações de comércio existentes entre regiões conectadas a esta (FACKLER e GOODWIN, 2000).

Por fim, vale salientar que integração perfeita de mercado e a forma "forte" da "Lei do Preço Único" são conceitos distintos. É possível que esta lei se mantenha, ainda que regiões possam ter razão de transmissão de preços menor que 1. No entanto, a razão de transmissão de preço unitária implica a forma "forte" da "Lei do Preço Único". A integração perfeita de mercado abrange a forma "forte" da "Lei do Preço Único", que, por sua vez, abrange sua forma "fraca" (FACKLER e GOODWIN, 2000).

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