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3. O PROCESSO DE ARBORIZAÇÃO DURANTE A GESTÃO LEMISTA

3.3. Arborização urbana e os significados emergentes

Verifica-se a iniciativa e reconhecimento quanto ao melhoramento para o “recreio, o bem estar e a saúde dos munícipes” no primeiro volume do relatório apresentado ao Conselho Municipal de Belém. No documento, Lemos nomeia uma “comissão de profissionais habilitados para apresentar um plano geral de

embelezamento” de Belém. No mesmo relatório, descreve as primeiras intervenções de ajardinamento e embelezamento com as ações na Praça Frei Caetano Brandão, os melhoramentos para a Praça Saldanha Marinho, as ações para a Praça Independência e intervenções de arborização também na Praça da Trindade com a execução de um “projeto elegante”, o reajardinamento para a Praça Batista Campos onde seria um dos “pontos públicos de maior beleza” e a substituição da “antiga arborização da Praça do Carmo por mangueiras” (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1902, p. 178-189).

No corpo do relatório, observa-se um item especifico para a descrição das atividades denominada como Jardins, Parques e Praças com o detalhamento da situação desses espaços, com uma descrição do panorama das áreas:

achavam-se ajardinadas apenas a Praça da República, Sant’Anna e Visconde do Rio Branco e parcialmente as de Batista Campos e Independência. Todas, entretanto, necessitavam de grandes serviços de conservação e ampliação, no sentido de seu melhoramento estético. [...] Outras praças e logradouros públicos, não ajardinados e nem arborizados, apresentavam aspecto que nada tinha de agradável (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1902, p. 178).

No relatório observa-se a atenção especial dada a importância o processo de arborização pelo Intendente quando ele afirma que:

nossos jardins urbanos tornaram-se desde logo objeto dos mais atentos cuidados. Em virtude do plano administrativo [...] esses jardins, serão, d’aqui a poucos anos, magníficos parques, prestando aos habitantes da cidade um grato refrigério [...] com vantagens para a conveniência pública e a economia municipal [...] porque o processo que preconizo é de consideráveis vantagens para a higiene. Muito tem a lucrar a saúde pública, por meio do estabelecimento, em larga escala, de grandes núcleos de vegetação, no próprio coração da cidade (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1902, p. 178-179).

Antônio Lemos, em seus relatórios, descreve todas as melhorias ocorridas nas praças e ruas de Belém em sua gestão. Pode-se generalizar as ações e intervenções quanto ao processo de arborização desses espaços pela necessidade estética, fazendo intensivo uso de mangueiras, eucaliptos e outras

árvores, “as quais com o passar do tempo maior sombra produzirão” (Imagem 8). O Intendente enfatiza o reajardinamento desses espaços com “triunfal vegetação, que é a nota predominante dos belos logradouros paraenses” além da troca “da antiga arborização sendo substituída por mangueiras” (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1902, p. 180-188).

Imagem 8 - Procissão do Círio de Nazaré, percurso pela Avenida 15 de Agosto, atual Avenida Presidente Vargas. Nota-se a população posicionada sob as árvores.

Fonte: Belém da Saudade (1998).

Nos sete volumes dos relatórios de Antônio Lemos apresentados ao Conselho Municipal de Belém, inclui-se a Praça Independência (atual Praça D. Pedro II), Praça República, Praça Batista Campos, Praça Frei Caetano Brandão, Praça Visconde do Rio Branco, Praça da Trindade, Praça do Carmo, Praça Nazareth, Praça Saldanha Marinho (atual Praça da Bandeira), Praça Floriano Peixoto, Praça Sant’Anna (Atual Praça Maranhão), Praça São José (atual Praça Amazonas), Praça do Rosário, Praça São João, Praça Santo Antônio (atual Praça D. Macedo Costa), Parque Affonso Penna (entrada da Rua João Alfredo), Jardim Prudente de Moraes (atual Praça Felipe Patroni) (de acordo com o mapa 2) (MUNICÍPIO DE BELÉM; 1902, 1903, 1904, 1905, 1906, 1907, 1908) (SOARES, 2009).

Lemos continua descrevendo que as ações nessas áreas apesar de ocorrerem por um curto tempo, notava-se “com orgulho a rapidez com que a população se habituou a respeitar esses formosos logradouros”. Sua observação atentava para a não existência de letreiros e placas informativas existentes nos jardins públicos de outras cidades e países, além das grades e redes metálicas (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1902, p. 191).

O Intendente faz uma descrição quanto ao uso desses espaços da cidade que sofreram sua intervenção urbanística, ao afirmar que esses locais “oferecem à população refrigério, frescura, tranquilidade nas horas mais calmosas do dia”. As suas afirmações não se restringem somente às horas de calor da capital, “à noite são um inestimável encanto, com sua profusa iluminação, parecem verdadeiros cenários de mágicas estonteadoras” (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1903, p. 171). Lemos visualiza que a ampliação da arborização urbana proporciona o “bem estar, o recreio, a higiene e saúde dos habitantes de Belém” e ressalta a sua satisfação de uso desses espaços pelos munícipes (Imagem 9) (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1904, p. 216).

Imagem 9 - Um trecho da Praça da República com usuários sentados nos bancos. Fonte: O Município de Belém (1904).

Antônio Lemos sempre reafirma, em todos os volumes do seu relatório, o habitual esmero e a máxima atenção para os planos de arborização e ajardinamento dos espaços públicos. Nos relatos há o detalhamento das ruas que foram beneficiados com as mangueiras onde também há a especificação da quantidade de árvores que cada perímetro recebeu. Lemos afirma que anterior à sua gestão a arborização urbana “se limitava as Avenidas São José (atual 16 de Novembro), São Jerônimo (atual Governador José Malcher) e Nazareth” e que antes da sua gestão a arborização se estendia até o Marco da Légua (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1903, p. 243). O relatório de 1903 descreve a substituição das magnólias do Japão existentes na Avenida Generalíssimo Deodoro por mangueiras, além das realizadas na Avenida São João (atual Senador Lemos), a partir da Doca de Souza Franco, até o ponto terminal próximo do bairro do Una, as execuções na Travessa do Curro, a substituição das poncianas por mangueiras no Largo do Carmo, os transplantes da Rua Tamoios, na Avenida Liberdade (atual Osvaldo Cruz), Praça da República, a substituição das mangubeiras da Almirante Tamandaré por mangueiras, na Avenida 22 de Junho (atual Alcindo Cacela) (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1903).

Atualmente verifica-se a alteração dos nomes atribuídos a algumas praças e ruas, além das mudanças de caráter estrutural com a alteração das edificações existentes durante a gestão do Intendente. Essas ruas, travessas e avenidas atualmente se concentram nos bairros de Nazaré, Reduto, Batista Campos, Cremação, Cidade Velha, Umarizal, São Braz e Jurunas. No ano de 1905, Belém estava dividida em 47 ruas, 52 travessas, 15 estradas, 1 boulevard, 6 praças, 10 largos e 3 avenidas (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1905), dois anos mais tarde (MUNICÍPIO DE BELÉM, 1907) a quantidade de ruas aumentou para 105 e de praças para 22 (CRUZ, 1970).

Desse modo, o roteiro de execução da proposta de arborização de Antônio Lemos (conforme o mapa) situa-se a partir da Avenida Generalissímo Deodoro, a Avenida São João (atual Senador Lemos) até as proximidades do bairro do Una, a Travessa do Curro, Coronel Luiz Bentes e Magno de Araujo, a Rua dos Tamoios, a Avenida da Liberdade (atual Osvaldo Cruz), a Avenida Tamandaré, a Avenida 22 de Junho (atual Alcindo Cacela), a Travessa 9 de Janeiro, as Ruas São Miguel e Conceição, o Boulevard da Republica (atual Castilho França), a Avenida 16 de Novembro, a Rua João Diogo, Demétrio Ribeiro (atual Joaquim Távora), Travessa São Matheus (atual Padre Eutíquio), Rua Mundurucus, Rua Padre

Prudencio (atual Presidente Pernambuco), Avenida Serzedelo Correa, Avenida Conselheiro Furtado, Rua Arcipreste Manoel Teodoro, 15 de Novembro e João Alfredo, Travessa Gama Abreu, Avenida Índio do Brasil (atual Assis de Vasconcelos), Rua Riachuelo, Avenida Nazaré, Travessa Dr. Moraes, Benjamim Constant, Quintino Bocaiúva, Avenidas Gentil Bittencourt, São Jerônimo (atual Gov. José Malcher), São Bras (atual Braz de Aguiar), São José (16 de novembro), Travessa Eduardo Wandenkolk (atual Almirante Wandenkolk), 14 de março, Generalíssimo Deodoro, Antônio Barreto, Oliveira Belo, 9 de Janeiro, 3 de Maio, Tomázia Perdigão, Avenida Independência (atual Magalhães Barata), Avenida Tito Franco (atual Almirante Barroso), Travessa Jerônimo Pimentel, Travessa Dom Pedro, Rua Curuça (conforme o mapa 3). (CRUZ, 1970).

Mapa 2 - Praças arborizadas durante a gestão de Antônio Lemos. Fonte: CODEM (2012).

Mapa 3 - Ruas arborizadas durante a gestão de Antônio Lemos. Fonte: CODEM (2012).

4 - BELÉM E A ARBORIZAÇÃO URBANA: AS AÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO