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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2 Arborização urbana

A arboricultura pode ser definida como a arte e a ciência do plantio e cultivo de uma árvore ou pequeno grupo de árvores, arbustos ou trepadeiras lenhosas (HARRIS, CLARK, MATHENY, 1999).Para Lima et al (1994, p.49),

“são os elementos vegetais de porte arbóreos existentes dentro da cidade. A arborização urbana é comparada a um conjunto de mobiliários urbanos (árvores) dispostos com a finalidade de proporcionar conforto, bem-estar e melhoria paisagística”.

Gonçalves e Paiva (2004) conceituam a arborização urbana como um conjunto de árvores presentes no ambiente urbano, dispostas em linhas, enfileiradas e com espaçamentos. Já as florestas urbanas podem ocorrer em locais possíveis de plantio e a disposição de árvores é variável. Para Gonçalves e Rocha (2003) a arborização urbana pode ser definida como “o conjunto da vegetação arbórea natural ou cultivada que uma cidade apresenta”.

Outro conceito para a arborização é “toda a cobertura vegetal de porte arbóreo existente nas cidades, compreendendo as áreas livres de uso público e potencialmente coletivas, áreas livres particulares e acompanhamento do sistema viário” (RODRIGUES et al., 2012). Para Benedict e McMahon (2006, p.26), um novo conceito no âmbito urbano surge, o de “Estrutura Verde Urbana”, que consiste em “Rede de espaços abertos, bosques, habitats, parques e outras áreas naturais, que podem fornecer ar e água de qualidade, recursos naturais e melhorar a vida das populações”.

A partir da década de 60 surge no Canadá um novo conceito, de “florestas urbanas”. Surgiu ligado à expansão das cidades e a demanda crescente de técnicas para monitoramento da vegetação no âmbito urbano. Incluem árvores de ruas, avenidas, praças, parques, unidades de conservação, área de preservação, áreas públicas ou privadas, remanescentes de ecossistemas naturais ou plantadas (MAGALHÃES, 2006).

Esse novo conceito para a vegetação urbana surge pela mudança de visão do conceito árvore em cidades, onde passa do individual para o coletivo, integrando todos os componentes verdes na totalidade urbana (GONÇALVES, 1999).

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A árvore pode ser vista como um elemento essencial de paisagens urbanas, pois oferece ambientes agradáveis e uma vida harmoniosa com a natureza (LIEUTAGHI, 2012). Um dos principais papéis das árvores no espaço público é dar harmonia, regularidade e unidade à paisagem, afastando aquela impressão de caos sugerida pela massa construída descontínua e irregular dos prédios (ABBUD, 2010).

A arborização urbana em vias públicas é fundamental para manutenção da qualidade de vida (ALMEIDA e RONDON NETO, 2010; WESTPHALL, 2003). “As florestas urbanas, que antes eram esquecidas, atualmente são vislumbradas como necessidade para o ambiente urbano, pois seus inúmeros benefícios são indispensáveis para a saúde e qualidade de vida da população” (DYWER, 1992, p.33).

Para Mascaró e Mascaró (2010, p.20)

“As formas que compõem a paisagem, a natureza, deveriam ser aproveitadas, para criar uma conectividade entre o espaço natural e construído, permitindo que a cidade se inscreva com facilidade no meio natural, produzindo assim uma transição gradual, do puramente construído, do artificial para o natural, através de matizes da paisagem”.

São inúmeras as vantagens da presença da arborização no ambiente urbano. Melhora a estética da paisagem urbana (LUZ; ARAUJO; RODRIGUES, 2012), provoca efeitos positivos quanto à saúde humana como longevidade, doenças cardiovasculares, obesidade, saúde mental, qualidade do sono, recuperação de doenças e desfechos de natalidade (LOURENÇO et al., 2016), contribui para o microclima, amenizando a radiação solar direta, aumenta a umidade relativa do ar e reduzir a carga térmica dos ambientes edificados (PIPPI E TRINDADE, 2013), atua como barreira acústica e através da fotossíntese reduz a poluição do ar, além de proteção a biodiversidade, como conservação da fauna e flora (MASCARÓ e MASCARÓ, 2010).

Além dessas vantagens citadas anteriormente, começam a surgir vantagens adicionais da presença da arborização nas cidades, principalmente em bairros mais periféricos e populares. Surge a função alimentar e medicinal (MASCARÓ e MASCARÓ, 2010), com o objetivo de fornecer uma função social, servindo como instrumento para melhoria na qualidade de vida (GENKO e HENKES, 2013). Para Manica (p.87, 1997), “O uso de frutíferas é uma atividade que tem sido praticada em muitos municípios, estados e países, mas quase sempre de uma maneira simples e espontânea, em projetos isolados, com pouca orientação técnica e com a falta de um planejamento adequado”.

Mascaró e Mascaró (2010) relatam a necessidade de uma campanha de educação e divulgação de cuidados que devem ser tomados na manutenção das árvores, pois ajudaria a melhorar o potencial dessa função da vegetação nas cidades, o uso de espécies alimentícias como potencial para o elo de ligação do homem com a natureza. A seguir é mostrado um resumo esquemático dos benefícios da arborização para a população (Figura 2).

Figura 2. Benefícios da arborização ao meio ambiente, a paisagem e ao homem. Fonte: SEMADUR, 2018.

Entende-se, pois, a real importância que tem a vegetação no âmbito urbano. Na categoria de arborização urbana, à presença de árvores em ruas e avenidas, nas praças e parques, soma-se o efeito positivo que a vegetação proporciona para a população. Por conseguinte, é importante relatar que a presença expressiva da arborização nas cidades é o pensamento ideal no planejamento urbano e ambiental das cidades, visto que os impactos proporcionados por medidas planejáveis vislumbram melhoria de qualidade de vida da população.

É comum ver muitas intervenções urbanas que não utilizam a vegetação nem se preocupam com o que deveria ser o objetivo primordial, a qualidade de vida das pessoas (ABBUD, 2010; MENEGHETTI, 2003). A própria ecologia urbana e seus ecossistemas

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urbanos mostram-se pouco conhecidos (ROSSETE et al., 2010), comprometendo assim a dinâmica natural do lugar.

O surgimento da arborização urbana no Brasil, quando comparada aos países europeus, é relativamente nova (PRADO e PAIVA, 2001). As culturas colonizadoras foram responsáveis pela inserção e/ou manutenção das florestas urbanas no Brasil, junto com a formação das cidades. “Durante o período da ocupação holandesa no Recife houve uma tentativa de reproduzir características das cidades da Europa, sendo considerada a primeira cidade no Brasil a apresentar um planejamento de arborização urbana” (TERRA, 2000, p.18).

A arborização urbana no Brasil, segundo Milano (1994), Gonçalves et al., (2004) e Iwama (2014), é realizada, salvo algumas exceções, sem planejamento. A falta de diretrizes para o planejamento na arborização urbana faz com que iniciativas próprias, que não apresentam conhecimento técnico tomem espaço na prática de escolha de espécies sem relação com o planejamento anterior (ALMEIDA e RONDON NETO, 2010).

Para Duarte et al. (2018, p.331) a arborização urbana no Brasil ainda é um desafio a ser superado pois há falta de políticas de valorização, bem como háescassez de ações públicas e privadas voltadas ao seu incremento com o objetivo de melhorar a qualidade ambiental urbana. A arborização urbana é formada por aspectos qualitativos e quantitativos. No caráter qualitativo está a escolha correta da espécie nas suas diversas funções. Quanto ao aspecto quantitativo, como reporta Rezende e Santos (2010), está o número total de árvores em uma determinada área. O conhecimento da distribuição das árvores e as condições em que se encontram, contribui com programas de monitoramento (GONÇALVES e ROCHA, 2003), onde a realização de um inventário de ruas é o meio mais seguro de conhecer o patrimônio arbóreo de uma cidade (LIMA NETO e BIONDI, 2012).

Para se conhecer a arborização urbana, é necessária a sua avaliação, o que depende da realização de inventário. Melo e colaboradores (2007, p.67) realizaram um inventário na cidade de Patos/PB, no bairro Bivar Olinto, e relataram a importância do diagnóstico, reportando que

“O inventário da arborização tem como objetivo geral conhecer o patrimônio arbustivo e arbóreo de uma localidade. Tal levantamento é fundamental para o planejamento e manejo da arborização, fornecendo informações sobre a necessidade de poda, tratamentos fitossanitários ou remoção e plantios, bem como para definir prioridades de intervenções” (MELO et al., 2007, p.67).

Através do inventário tem-se um panorama geral da arborização em estudo. As informações, tanto quantitativas como qualitativas, possibilitam a realização de intervenções

futuras com maiores chances de sucesso (PELEGRIM; LIMA; LIMA; 2012). A implantação e o manejo da arborização das cidades constituem-se em mais um serviço público ofertado, como estratégia de amenização de impactos ambientais e como serviço (GERAIS-CEMIG,2011).

Segundo Mascaró e Mascaró (2010), um ponto fundamental consiste na escolha da vegetação. Alguns pontos são importantes a serem considerados: (i) o clima: conhecer a origem climática da vegetação é um requisito básico para quem lida com plantas urbanas; (ii) água: muitas plantas necessitam mais de água que outras; (iii) solo: conhecer o tipo de solo é essencial; (iv) periculosidade: algumas espécies são tóxicas ou apresentam espinhos; (v) crescimento: conhecer se é de crescimento lento ou rápido; (vi) biodiversidade: o resgate no uso de plantas nativas para o paisagismo urbano. Outro ponto a ser considerado para elaboração de projetos de arborização é que, por princípio, deve-se respeitar os valores culturais, ambientais e de memória da cidade.

Basso e Correa (2014) complementam que a escolha adequada das espécies arbóreas a serem utilizadas passa por análises complexas, tendo necessidade de levantamentos que subsidiem as tomadas de decisão de planejamento, e manutenção da rede de vegetação de porte arbóreo em ambientes urbanos.

Para isso, existem documentos oficiais que definem as regras básicas de implantação da arborização urbana. Como exemplo, o Plano Diretor de Arborização Urbana da cidade do Rio de Janeiro (2015) traz como premissa em seu Plano de arborização, “um instrumento de planejamento municipal, que fixa as diretrizes necessárias para uma política de implantação, monitoramento, avaliação, conservação e expansão da arborização urbana, incluindo a participação social no processo de gestão”.

Araújo e Araújo (2016, p.10) complementam afirmando que

O Plano Diretor da Arborização Urbana – PDAU deve ser um documento elaborado, discutido e aprovado pelos municípios com a participação da população. Deve ser um instrumento complementar ao Plano Diretor do Município ou Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Municipal, além de estar em consonância com a Lei Orgânica do Município. O Plano Diretor é uma exigência do Estatuto da Cidade, aprovado pela Lei 10.257, de 10 de julho de 2010.

Alguns exemplos de cidades do Brasil que apresentam Plano Diretor de arborização urbana são: a cidade do Rio de Janeiro (RIO DE JANEIRO, 2015), a cidade de Goiânia (AGENCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE – GOIÂNIA, 2007), a cidade de Toledo (TOLEDO, 2007); a cidade de Aracaju (ARACAJU, 2007); entre outros.

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Outro documento bem utilizado pelas instâncias e órgãos responsáveis pela implantação e manutenção da arborização urbana são os Manuais de Arborização. São instrumentos de comunicação e educação, com orientações e procedimentos básicos. O Manual de Arborização da cidade de Recife/PE, é um “documento com referências técnicas para a produção de mudas, o plantio, a poda de árvores, proteção e prevenção de riscos em decorrência de empreendimentos do setor privado sobre o patrimônio arbóreo” (PERNAMBUCO, 2013, p.15).

Outros Manuais existentes, de livre acesso, são: Manual de Arborização da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG, 2001), Manual de Arborização Urbana de Natal (RIO GRANDE DO NORTE, 2009), Arborização Urbana Viária (SÃO PAULO, 2008), Cartilha de Arborização Urbana (PARAIBA, 2011).

O inventário torna-se assim o passo inicial para construir um replanejamento e traçar diretrizes (PIVETTA e SILVA FILHO, 2002), definindo prioridades de intervenções (BRITO et al., 2012).

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