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1. Introdução

1.6 AS ARBOVIROSES :

Os arbovírus são vírus dependentes de artrópodes para a formação de seu ciclo completo, sendo estes mantidos na natureza a partir de um ciclo zoonótico complexo. Contudo, os seres humanos são geralmente hospedeiros finais ou acidentais, que geralmente não contribuem devido a baixa viremia que ocorre nestes hospedeiros, dificultando assim infectar novos artrópodes (Gubler, 2002). Dentre muitas famílias presentes no grupo doas arbovírus, podemos destacar três de importância médica e que se adaptaram aos humanos: Flaviviridae, Togaviridae e Bunyaviridae (Gluber, 2002). Na família Flaviviridae temos os vírus da dengue, zika, febre amarela, encefalite de saint louis, ilhéus e vírus rocio; e na família togaviridae, os vírus mayaro e chikungunya.

A transmissão dessas arboviroses ocorrem de forma passiva através da liberação da saliva da fêmea de mosquito infectada, no momento de seu repasto sanguíneo. Ou seja, o ciclo hospedeiro-artrópode dessas arboviroses ocorre quando a fêmea de mosquito, ao realizar seu repasto sanguíneo em um hospedeiro mamífero em fase de viremia alta da doença, se infecta com o vírus, resultando na contaminação das células das glândulas salivares, podendo, no momento de uma nova picada, e com a liberação da saliva do mosquito, contaminar outro hospedeiro. Além disso, a fêmea de mosquito infectada pode, eventualmente, infectar sua prole através da transmissão transovariana (Consoli & Lourenço-de-Oliveira, 1994).

A maioria dos arbovirus e demais patógenos transmitidos atualmente ao homem, tiveram origem em ambiente silvestre onde formavam um ciclo zoonótico entre vetores e outros animais silvestres, de forma que o homem inseriu-se neste ciclo após alterações, ainda assim antrópicas, no ambiente para fins econômicos ou mesmo para moradias. Além das alterações climáticas respondendo e favorecendo às espécies de vetores a tornarem-se sinantrópicas (Lima-Câmara, 2016).

No Brasil destacam-se duas doenças cujos agentes patogênicos causadores chamam atenção da saúde pública, devido aos surtos epidêmicos anuais desde a sua introdução no país: a dengue e a zika. A primeira foi reintroduzida no Brasil em 1981 (Silva et al., 2008) e a segunda introduzida em 2015 (Zanluca et al, 2015). Além destas temos a chikungunya sendo introduzido no Brasil em 2014 (Honório et al, 2015). Sendo assim, desde a introdução dessas arboviroses, as mesmas estão se mantendo no país principalmente devido ao clima tropical úmido favorecer o desenvolvimento do vetor durante todo ano, tornando-se mais elevado no verão, onde o clima é mais quente e com maiores índices pluviométricos (Lopes et al, 2014).

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Com quatro sorotipos circulantes no Brasil até o momento, a dengue é uma arbovirose que impacta negativamente a saúde, status social e econômico de muitos países tropicais do mundo (Luz, 2008). Isso porque surtos epidêmicos nos meses de clima mais quente e úmido ocorrem anualmente nestes países, embora ainda ocorram casos durante o ano todo, principalmente em locais onde as alterações climáticas não ocorrem de forma brusca, mantendo-se semelhantes durante o ano todo, como no Rio de Janeiro. Ainda segundo Luz (2008), no Rio de Janeiro as epidemias de dengue têm aumentado a sua magnitude e gravidade a cada três ou quatro anos para além dos níveis endêmicos, que reforça a importância de manter uma constante atenção da vigilância para esta doença.

O vírus Zika, mesmo que consideravelmente recente no Brasil, com a confirmação de transmissão autóctone no país a partir de abril de 2015 (SVS, 2016), tem chamado atenção não só da vigilância como também da população e da mídia. Em 2017 foram registrados 2508 casos prováveis de febre pelo vírus Zika somente no estado do Rio de Janeiro, onde 1801 casos foram confirmados(SVS, 2018).

A partir de 2014, o vírus Chikungunya (CHIKV) se caracterizou como uma arbovirose de notificação compulsória no país, contabilizando no ano de 2017, 4305 casos prováveis da doença no estado do Rio de Janeiro (SVS, 2018). Essa arbovirose tem impacto considerável na economia, uma vez que a característica comum de seu quadro clínico é o quadro articular crônico interferindo na qualidade de vida do indivíduo (Honório et al, 2015). Além disso, o CHIKV causa doença neurológica em idosos e neonatos, podendo ser fatal (Honório et al, 2015).

Além dessas três arboviroses, a Febre amarela silvestre começa a ganhar importância novamente no Brasil após casos confirmados em algumas localidades consideradas de risco para esta doença. Pertencente à família Flavivirídae, a Febre amarela urbana apresentou históricas epidemias entre os séculos XVIII e XX, sendo seu ciclo urbano considerado erradicado após campanhas de vacinação e de erradicação dos mosquitos Aedes (Stegomyia) aegypti (Linnaeus, 1762) na década de 1930 (Paules & Fauci, 2017). Atualmente, as localidades próximas às regiões de matas encontram-se sob alerta no Brasil, uma vez que os casos relatados tem sido associados aos ciclos silvestres, onde Haemagogus spp. e Sabethes spp. são as espécies mais importantes na transmissão do vírus da febre amarela, sendo esses os vetores primários nas áreas florestais (Alencar et al, 2016).

O ano de 2017 destacou-se pelo número de casos cada vez mais frequentes em diversas regiões do Brasil. Onde, no estado do Rio de Janeiro foram contabilizados 77 casos

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dos quais 20 foram confirmados como caso de febre amarela. Além disso, no município de Cachoeiras de Macacu, apresentou um caso confirmado em maio do mesmo referido ano. (SVS, 2017)

Compreender a dinâmica dessas doenças para realizar planejamentos de prevenção é de suma importância, contudo, Mordecai et al. (2017) nos afirmam que para entender a dinâmica de transmissão dessas arboviroses é importante que se entenda primeiramente a ecologia das espécies vetoras, uma vez que o vetor é o fator principal para que haja a transmissão do arbovírus de um hospedeiro a outro. Ainda neste sentido, o referido autor discute a importância do clima e da temperatura na dinâmica dessa ecologia, além de afirmar, ainda, que esses fatores podem influenciar na taxa de transmissão dessas doença (Mordecai et al., 2017). Esses fatores climáticos que influenciam na dinâmica dos vetores e das doenças serão discutidos no capítulo seguinte deste trabalho.

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1.7 Um breve levantamento sobre os estudos ecoepidemiológicos em regiões de