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3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NA EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA

3.5 ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E CONTRÁRIOS À RESPONSABILIZAÇÃO DO

3.5.2 Argumentos desfavoráveis à responsabilização estatal

Mesmo assim, ainda, há insistência de determinados juízos em cercear do direito à dignidade humana através da “reserva do possível”.

Além do mais, alguns Magistrados dão procedência aos recursos interpostos pelos Estados, decidindo pela independência constitucional dos poderes.

<http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=&only_ementa=&frase=&id=AABAg7AADAAIoWXAAI&c ategoria=acordao_5> acesso em 31.mar.2018.

126 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 592.582. Relator: Ministro Ricardo

Lewandowski. Brasília, DISTRITO FEDERAL, 13 de agosto de 2015. Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=2637302&numeroProc esso=592581&classeProcesso=RE&numeroTema=220> acesso em 27.nov.2017.

127 FUDOLI, Rodrigo de Abreu, Da remição da pena privativa de liberdade. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 07.

128 ROMANO, Rogério Tadeu. O dano moral e o problema das populações carcerárias. Disponível em

<http://jus.com.br/artigos/38913/o-dano-moral-e-o-problema-das-populacoes-carcerarias> Acesso em 07 nov. 2017.

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3.5.2.1 O acórdão proferido, no Mandado de Segurança n. 52.236, do Ceará, pelo Superior Tribunal de Justiça

Em caso que chegou ao Superior Tribunal de Justiça, o Estado do Ceará impetrou Mandado de Segurança, n. 52.236, contra ato de juiz que proibiu o ingresso de novos presos na Cadeia Pública de Canindé.

No Superior Tribunal de Justiça, o recorrente reitera a alegação de que a decisão do Juiz de Direito titular da 1ª Vara da Comarca de Canindé/CE que determinou a interdição da cadeia de Canindé "interfere indevidamente, na atividade de gestão do Poder Executivo, violando o princípio da separação dos poderes. Ademais, na tentativa de solucionar a problemática da superlotação, o Juiz da Comarca de Canindé gera uma desordem de proporção mais grave, eis que determina a redução do excedente de presos, mas sem apontar onde e como se daria este remanejamento" (e- STJ fls. 74/75).

O Ministro Relator Antonio Saldanha Palheiro segue a decisão dizendo que o Estado do Ceará ainda utiliza a teoria da reserva do possível como argumento para impugnar a decisão do Magistrado singular:

Aduz que, "segundo a diretriz da 'reserva do possível', não se pode exigir do Estado, diante de sua carência financeira, esforços extremos e infinitos, não cabendo ao Poder Judiciário obrigar o gestor a estender esse serviço além do previsto, ou obrigá-lo a realizar aquilo que legalmente não fora previsto, pois a solvabilidade do Estado, como artifício que é, não garante a existência de riqueza inesgotável, a atender imaginariamente todas e quaisquer atuações" (e-STJ fl. 85).

Por decisão monocrática, o Ministro negou provimento ao recurso:

Esta Corte já teve a oportunidade de se manifestar em casos análogos, tendo firmado o entendimento de que a supremacia dos postulados da dignidade da pessoa humana e do mínimo existencial legítima a imposição, ao Poder Executivo, de medidas em estabelecimentos prisionais destinadas a assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, não sendo oponível à decisão o argumento da reserva do possível, sendo certo que o ato judicial de interdição de presídio está amparado pela legislação (art. 66, da LEP), não havendo que se falar em invasão de competência administrativa129.

129 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Decisão Monocrática no Recurso em Mandado de Segurança nº 52236.

Relator: Ministro Antonio Saldanha Palheiro. Brasília, DISTRITO FEDERAL, 01 de agosto de 2017. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/processo/monocraticas/decisoes/?num_registro=201602676119&dt_publicacao=01/08/20 17> acesso em 27/11/2017.

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3.5.2.2 O acórdão proferido, no Mandado de Segurança n. 2011.042984-0, pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina

No caso seguinte, o Estado de Santa Catarina impetrou Mandado Segurança contra ato de juiz que interditou parcialmente o Presídio Regional de Mafra por superlotação e ausência de condições razoáveis de saúde, proibindo a entrada de novos presos. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina decidiu:

MANDADO DE SEGURANÇA. PRESÍDIO. SUPERLOTAÇÃO. PORTARIA. NÚMERO DE PRESOS. LIMITAÇÃO. SEPARAÇÃO DOS PODERES. PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO. SEGURANÇA PÚBLICA. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PONDERAÇÃO DE VALORES. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. 1. Age no estrito exercício da função de corregedor do presídio - e, portanto, sem ofender a separação dos poderes (CF, art. 2.º) - o juiz de direito que, mediante limitação de vagas, interdita parcialmente ergástulo público superlotado. Na medida em que não determina qualquer ação concreta e imediata ao poder público (v.g., prazo para transferência de presos, criação de vagas e construção de presídios), a limitação de ingresso de novos detentos não invade as competências do poder executivo. 2. O conflito (aparente) de normas constitucionais deve ser resolvido à luz do princípio da unidade da Constituição, mediante a ponderação dos valores envolvidos e observando-se os parâmetros estabelecidos pelo princípio da proporcionalidade. Com vistas a garantir a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1.º, III), é razoável aceitar ponderado sacrifício da segurança pública (CF, art. 6.º, caput), diante de insustentáveis condições físicas e de salubridade de celas superlotadas. Sopesados os valores em confronto, a proibição de ingresso de novos detentos mostra-se: a) adequada, porque atinge o fim pretendido (dignidade da pessoa humana), diante da impossibilidade real de imediata criação de novas vagas no sistema prisional estadual; b) necessária porque impede a interdição total do ergástulo, garantindo a dignidade dos presos com o mínimo de sacrifício à segurança pública; c) proporcional em sentido estrito, porque evita rebeliões e fugas em massa (que acabariam por agredir ainda mais a segurança pública), bem como doenças e mortes decorrentes das más condições de encarceramento (que resultariam na responsabilidade civil do Estado). 3. A exceção à limitação de presos, imposta aos que praticarem crimes abstratamente graves, conquanto não tenha relação direta com as más condições de encarceramento, mostra-se adequada, notadamente na busca do mínimo sacrifício da segurança pública. Contudo, não se justifica manter a exceção tão somente aos delitos perpetrados na comarca sede do presídio, devendo-se estendê- la a toda a região abrangida. SEGURANÇA PARCIALMENTE CONCEDIDA. (TJSC, Mandado de Segurança n. 2011.042984-0, da Capital, rel. Des. Roberto Lucas Pacheco, Quarta Câmara Criminal, j. 29-03-2012)130.

3.5.3 Análise dos argumentos apresentados acerca da responsabilização estatal pelos danos morais e materiais causados aos presos

130 BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Mandado de Segurança: MS 2011.042984-0. Relator:

Desembargador Roberto Lucas Pacheco. Florianópolis, SANTA CATARINA, 29 de março de 2012. Disponível em:

<http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=&only_ementa=&frase=&id=AAAbmQAABAAKi0MAAF& categoria=acordao> acesso em 31.mar.2018.

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Por todo o exposto, a conclusão consequentemente lógica que se tira é que, à medida que o Estado mantém os encarcerados sob sua custódia, torna-se irrazoável contradizer que sua responsabilidade perante os danos ocorridos em face aos direitos destes é objetiva.

Não se pode perder de vista que esses direitos são direitos da personalidade, que “são limites impostos contra o poder público e contra os particulares na proteção da pessoa humana, garantindo o seu desenvolvimento e sua própria existência”131.

Em consonância com a doutrina majoritária, conforme visto até aqui, é assentado por meio de princípio constitucional que é a responsabilidade do Estado objetiva perante as pessoas, físicas ou jurídicas, e assim “o Estado tem a obrigação de indenizar em razão de procedimentos contrários ao Direito, quer de natureza culposa ou dolosa, ou por deixar que ocorra, quando deveria evitá-los”132.

Assim, o Estado tem o dever de indenizar o detento ou sua família, devendo-se fazer cumprir os papéis da responsabilidade civil por essas violações, limitando as invocações ao princípio da reserva do possível. Deve-se condenar o Estado, a fim de que o dano seja ressarcido, a conduta omissiva seja punida e, por fim, que se busque evitar a ocorrência de novos danos.

131 SPINELI, Ana Claudia Marassi. Dos direitos da personalidade e o princípio da dignidade humana.

Disponível em <http://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/revjuridica/article/view/887/670> acesso em 28.fev.2018.

132 GUSSO, Moacir Luiz. Dano moral indenizável: manual teórico e prático. São Paulo: Editora Juarez de

48 4 A REMIÇÃO DA PENA COMO COMPENSAÇÃO PARCIAL DOS DANOS

MORAIS NO CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Finalmente, neste terceiro capítulo serão analisados o instituto da remição da pena, propriamente dito, bem como suas aplicações atuais, por meio do trabalho, do estudo e da leitura, além dos problemas e dificuldades encontrados na prática da execução penal.

Ainda, analisar-se-á a possibilidade do cabimento da remição da pena para os casos de violação da dignidade humana nos presídios brasileiros, conforme sugerido pelo Ministro Luís Roberto Barroso, quando proferiu seu voto vista no Recurso Extraordinário 580.252.