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Capitulo III – CASO DE ESTUDO

III. 3.1 – Arquitetura

Fez-se um levantamento geográfico do edificio bastante completo, com plantas, alçados, cortes e pormenores da estrutura de madeira a estudar, juntamente com as suas ligações detalhadas.

A figura 3.6 apresenta a localização geográfica do Palacete da Quinta da Tranqueira, com os seus pontos de coordenadas geográficas - 41º06’41.97’’N e 7º21’57.41’’O

Figura 3. 6 - Localização geográfica, vista aérea do edifício em estudo [Fonte: Google Earth]

De seguida apresenta-se a Planta de Implantação com o levantamento do perímetro envolvente ao Palacete em estudo, figura 3.7, visto que este se encontra no centro de uma vasta quinta. Apenas se realizou o levantamento ao longo da delimitação física, representada por muros de pedra de xisto, na envolvente do palacete e da quinta, tornando o palacete mais imponente visualmente, à distância.

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Pode-se observar na figura 3.7 a orientação do edifício, através da presença da rosa-dos- ventos, juntamente com as cotas. Está representado o palacete inferiormente à direita, é vista também a casa do guarda, edifício pequeno representado superiormente na figura, hoje em dia chamado de “porteiro”, onde na altura recebia, à entrada, os convidados e visitantes de coche. Estão também representadas as grandes árvores e vegetação que rodeiam o palacete, que

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proporciona um ambiente mais fresco, visto que o verão é uma época de muito calor nesta região e dá também um aspeto extravagante ao palacete. Consegue também perceber-se o muro, que serve de muro de suporte de toda a estrutura do edifício, muro esse que para além da sua função estrutural, revela também uma imagem de nobreza, grandeza, tornando o palacete visível a uma grande distância. Finalmente é percetível a direção da aldeia do Vilarouco, através de uma seta de orientação.

Nas figuras 3.8, 3.9, 3.10 e 3.11, estão apresentados os alçados do palacete elaborados no levantamento geométrico, juntamente com as respetivas fotografias tiradas no local, para uma melhor análise da arquitetura.

Nota-se uma variedade de pormenores de nobreza e um certo gosto pessoal da Duquesa Francesa, com estes seus traços de arquitetura “estrangeiros”, todavia usando materiais locais, o que valorizou muito a região na altura. Foi uma grande novidade a estravagância deste Palacete, tornando assim a Qta. da Tranqueira muito conhecida na época.

No alçado norte, verifica - se alguns desses pormenores, tais como, a muralha de pedra de granito, na parte esquerda da fachada, o trevo de três folhas representado por cima da porta (à semelhança das rosáceas de linhas pétreas e vitral, das igrejas góticas), a pequena cobertura existente também por cima das portas, a parede, no piso superior, caiada e pintada com riscas a encarnado, um pouco ousado para a época, juntamente com o revestimento caiado e pintado de amarelo. Ao longo das escadas, foram plantadas palmeiras, juntamente com outra vegetação, na altura também uma novidade para uma quinta.

Nesta fachada consegue perceber-se essa variedade de materiais, pois nota - se as paredes de alvenaria de pedra de xisto, com forro e pormenores de cantaria de granito, como os cunhais com blocos de pedra de granito almofadados, de estilo romano (aspeto frequente na Arquitetura Renascentista) e a ardósia utilizada nas diversas coberturas. É de salientar a diversidade de janelas, pois umas são retangulares e estreitas (em alguns casos, são frestas medievais, como se fossem seteiras), outras maiores de proporções renascentistas ou oitocentistas, e ainda se vêm as janelas retangulares com formas circulares na parte superior. As caixilharias são de madeira, tal como as portas. E existem caleiras ao longo da cobertura, mais uma novidade introduzida para a época.

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Figura 3. 8 - Fotografia e Levantamento Geométrico Alçado Norte

Seguidamente, no alçado sul, sendo a fachada exposta ao caminho público, pode-se verificar a imponência do muro que suporta toda a estrutura do palacete. É de salientar que este muro tem uma espécie de aberturas, à semelhança de frestas, mas através de visita de campo constata-se que são cegas, pois são apenas duas pedras colocadas em posição “V”, talvez para aumentar a imponência do palacete, fazendo recordar a cintura defensiva dos castelos góticos. Nesta fachada consegue perceber-se a diversidade de estilos das coberturas, de 2 ou 4 águas, salientando-se uma pequena com maior inclinação, a de cota mais elevada, também com inclinação superior à usada na região, e ainda outra, à esquerda da fachada com um estilo diferente de todas as outras, cobrindo uma espécie de guarita de cariz oriental. As duas portas inferiores representadas são entradas para os lagares e loja de animais; restaram até aos dias de hoje os lagares originais em granito e o formato dos estábulos para os cavalos. Estas portas

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são de madeira maciça forradas com zinco. Salienta-se também, mais uma vez, a diversidade de estilos das janelas e a muralha existente na parte direita da fachada. Destaca-se um pormenor, também em cantaria de granito, que se salienta na muralha, com influência romana. Para além da beleza estética tem a funcionalidade de banco (no coroamento da fachada do corpo principal, à direita, encontram-se ameias e um balcão “mata-cães”, de proteção a um terraço, semelhante ao adarve dos castelos medievais), com uma belíssima vista sobre a quinta.

Figura 3. 9 - Fotografia e Levantamento Geométrico do Alçado Sul

No alçado nascente, consegue-se verificar, mais uma vez, a diversidade das janelas, das coberturas, pormenores simples de um gosto requintado, que conferem ao palacete essa certa nobreza. Nota-se com bastante evidência as janelas superiores (frestas) de estilo gótico junto à cobertura e, salienta-se o perfil do pequeno miradouro de granito descrito no alçado anterior. Consegue perceber-se também a grandeza do muro de suporte e a grande quantidade de

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vegetação envolvente ao palacete, que para além, de conferir um estilo exótico, proporciona uma atmosfera mais fresca, atenuando os rigores desta região cujo verão é extremamente quente.

Figura 3. 10 - Fotografia e Levantamento Geométrico do Alçado Nascente

O alçado poente representa a fachada de frente à entrada principal da quinta. É de notar a sua imponência. É uma parede de alvenaria de pedra de xisto coberta com argamassa de pigmento amarelo e com os cunhais com forro de cantarias de granito. Salientam-se os grandiosos varandins em granito, com pormenores de grande distinção, tal como as janelas grandes, com

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bastante luminosidade, os varandins superiores com guardamento de ferro, a cobertura inclinada típica de países nórdicos, as janelas estreitas com arcos ogivais, junto à cobertura, de estilo gótico.

Figura 3. 11 - Fotografia e Levantamento Geométrico do Alçado Poente

Nota-se ainda a imponente estrutura da porta, com uma grande abóbada de granito. Esta entrada refere-se ao compartimento das caves, onde eram guardadas as pipas e tonéis de vinho fino antes da deslocação para o Porto.

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A figura 3.12 refere-se à casa do guarda, de feição gótica à entrada do recinto do palacete, também incluído no levantamento topográfico, mas não relevante para o estudo desta dissertação, visto que o objeto de interesse da análise estrutural se encontra no palacete.

Figura 3. 12 - Fotografia e Levantamento Geométrico do Alçado Sul da Casa do guarda

Pode-se verificar uma maior simplicidade na construção, mas salienta-se o trevo de três folhas por cima da porta, talvez símbolo do palacete. A construção é também em alvenaria de pedra de xisto e no piso superior em tabique forrado a zinco. A cobertura é revestida a escamas de ardósia.

69 Legenda: 1- Caves 2- Lagares 3- Cavalariças 1 2 3

70 Legenda:

4- Cozinha e despensas

5- Salões

6- Quartos e Salinhas 7- Quartos e Sala de leitura

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Figura 3. 14 - Planta do Piso Intermédio (Piso da cozinha e salões)

71 Legenda: 8- Terraços 9- Quartos 10- Salão amplo 8 8 9 10 9 9 9

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De acordo com as plantas resultantes do levantamento geométrico, pode-se verificar que, no caso da figura 3.13, se consegue notar a divisão das caves, a seguir exposta pelo corte AB, onde era armazenado o vinho fino antes de ser transportado para o Porto. Este andar possui duas janelas na fachada norte e outras duas na fachada sul, sendo um ótimo sistema de ventilação necessário nas caves, e em especial nas de vinho. É visível a grande espessura das paredes exteriores, que funcionam como paredes estruturais, pois não existiam pilares em betão na época. Eram as próprias paredes em alvenaria de pedra de xisto que tinham essa função estrutural.

Distinguem-se também o compartimento dos lagares e o compartimento das cavalariças. No compartimento dos lagares também se notam duas janelas, que são muito uteis para ventilação, pois com a destilação do vinho, são libertados alguns gases tóxicos, que necessitam de renovação desse mesmo ar.

Na planta do piso do rés-do-chão, figura 3.14, é visível a compartimentação do piso, tratando- se essencialmente da cozinha, salões de jantar e festividades, salas de leitura, salas de arrumos e quartos. Continua-se a notar a grande dimensão das paredes exteriores, sendo as interiores feitas em tabique, com exceção das paredes envolventes à cozinha. É de notar também, que na planta há referência a duas tramas diferentes, referentes ao pavimento, pois o pavimento é na sua maioria em madeira, com exceção da cozinha, que é em ardosia. A cozinha possui também uma lareira e uma pequena janela de acesso ao salão de jantar, perto da porta. Percebe-se ainda a grande quantidade de janelas, para uma grande iluminação natural, visto que na época não havia os meios dos dias de hoje.

De acordo com a planta do piso superior, figura 3.15, existe uma menor divisão de compartimentos interiores, talvez se tratando de quartos, salas e um compartimento amplo. Continua a existir uma grande quantidade de janelas e envidraçados. Estão também presentes as muralhas, juntamente com os dois terraços, em extremos opostos, fazendo lembrar os paços visigóticos Verifica-se ainda a existência das escadas em madeira de acesso ao piso superior. Continuamente se apercebe da diferença de espessura entre as paredes exteriores e as interiores e todo o pavimento é de madeira.

Através da planta da cobertura, figura 3.16, se pode verificar que toda a cobertura é revestida a ardósia.

A seguir apresentam-se os cortes referenciados nas plantas anteriores, onde se podem verificar pormenores das paredes divisórias, estruturas de madeira, janelas e envidraçados, pavimentos, paredes exteriores e ainda a diferença de pés-direitos, entre o andar intermédio e os andares

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inferior, dos lagares e o superior, dos quartos, este último beneficiado pelo desvão da cobertura de duas águas.

Figura 3. 17 –Levantamento geométrico: Corte AB

De acordo com o corte AB, figura 3.17, nota-se com bastante saliência a nobreza dos envidraçados e a divisão dos salões do piso intermédio. Tal como a composição dos pavimentos, nota-se ainda a estrutura da cobertura, tal como os varandins e terraços do piso superior.

A seguir está representado o corte CD, figura 3.18, onde consegue perceber-se a divisão dos lagares, a cozinha e uma sala, a estrutura de madeira da cobertura da cozinha, o pavimento de separação dos lagares com o piso superior. Continua a salientar-se também a grossura das paredes exteriores tal como do muro de suporte.

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Figura 3. 18 – Levantamento geométrico: Corte CD

No corte EF, figura 3.19, consegue distinguir-se a diferença de pé-direito entre os diferentes pisos. Consegue perceber-se a imponência do muro de suporte e da estrutura total do palacete, sendo este uma estrutura com uma elevada complexidade e beleza. Através deste corte percebe-se também as diferenças de três estruturas de madeira das coberturas, sendo a do piso superior a do caso de estudo. Nota-se também a caixa de escada, que está colocada naquela pequena torre, sendo o vão da escada todo em madeira. Também se verifica ainda em perfil o varandim em granito visto no alçado poente.

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Figura 3. 20 - Levantamento geométrico: Corte GH

O corte GH, figura 3.20, permite perceber-se o magnífico porte do edifício, estão evidenciadas as divisões, as dimensões das diferentes paredes, a profundidade das caves e dos lagares, os pavimentos. A estrutura de madeira da cobertura em estudo, os diversos envidraçados e portas do palacete foram, também, registados.

O corte IJ, figura 3.21, refere-se à casa do guarda, trata-se de uma estrutura de construção simples, típica da região, com o piso inferior de alvenaria de pedra de xisto e o piso superior de tabique revestido a zinco, pavimento em soalho de madeira, cobertura revestida em ardosia.

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Continuando com o levantamento geométrico realizado, apresenta-se seguidamente a planta e os cortes da armação de madeira da cobertura em estudo, este foi um levantamento bastante detalhado, tendo sido feito também a realização do levantamento de pormenorização das ligações existentes na estrutura.

Através da planta e do corte AB, figuras 3.22 e 3.23, consegue-se analisar o espaçamento entre as asnas, as madres, e entre outros elementos estruturais, o madeiramento de pregagem da ardosia (varas e ripas), concluindo, toda a estrutura constituinte da cobertura.

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Figura 3. 23 – Levantamento geométrico da estrutura da cobertura: Corte AB

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Figura 3. 25 - Levantamento geométrico da estrutura da cobertura: Corte EF

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Figura 3. 28 – Levantamento geométrico da estrutura da cobertura: Pormenorização das ligações da asna