• Nenhum resultado encontrado

6.1 Apresentação das empresas sociais

6.1.6 Arrebita Porto

O Arrebita Porto ainda não é uma empresa social propriamente dita, e se encontra em fase embrionária, incubada no Centro de Inovação Social, funcionando como um projeto piloto, sendo representado juridicamente pela Fundação Porto Social, porém foi incluído na amostra pois atende aos critérios estabelecidos na definição de empresa social adotados no estudo, uma vez que tem a perspectiva de se tornar autossustentável financeiramente no médio prazo, e possui um objetivo socioambiental como principal missão do negócio. Além disso, a organização foi escolhida, pois ser a única, dentre as entrevistadas, impactada diretamente por políticas públicas de fomento a inovação e empreendedorismo social.

A empresa social surgiu, a partir da resposta de três jovens a um concurso21, direcionado aos portugueses, a fim de captar ideias de melhoria para Portugal. “Apresentei esse projeto, o projeto Arrebita com o objetivo de contribuir para resolução de um problema que me chocava sempre que regressava, que é esse problema do abandono nos centros da cidade que contrastava muito com a realidade que eu conhecia em Londres, Amsterdã, em Viena na Áustria, que foram as cidades onde eu vivi” (PAIXÃO, 2013, informação verbal)22.

O projeto foi o vencedor do concurso no ano de 2012 e iniciou, em 2013, um plano piloto na tentativa de reabilitar um prédio abandonado há mais de 20 anos, a custo bem menor que o praticado pelo mercado, e, por isso, é chamado de reabilitação a custo zero. Assim, ele foi estruturado para ser realizado por meio de parcerias com fornecedores de matéria-prima e mão de obra voluntária. O Arrebita Porto é gerido por três pessoas, das quais apenas o idealizador do projeto participa desde o início, e se dedica em tempo integral ao negócio. A cada três meses, o projeto recebe uma equipe formada por cinco jovens arquitetos ou engenheiros, de várias partes do mundo, que trabalham de maneira voluntária por 90 dias, recebendo alimentação, estadia, bicicleta e seguro de voluntariado fornecidos pelo proprietário do imóvel, além de formação, conhecimento e experiência. Vale ressaltar que, além da experiência prática, a diversidade cultural, a possibilidade de se inserir em uma rede mundial de jovens arquitetos e engenheiros é um fator motivador, que atrai as pessoas a participar do projeto.

Para a geração da inovação social, que deu origem ao Arrebita Porto, os idealizadores fizeram um benchmarking de um programa chamado World Wide Opportunities on Organic Farms, voltado para agricultura, e a partir de sua base, adaptaram-no à realidade da construção civil. “Conseguir congregar sinergias, encaixar recursos com necessidades em diferentes partes, de forma que ambas as partes ganhem sem necessitar de dinheiro para ganhar valor” (PAIXÃO, 2013, informação verbal)23.

Outro diferencial do programa é a sua abrangência internacional, onde o recrutamento para as equipes rotativas de jovens engenheiros e arquitetos ocorre em nível mundial. Isto, segundo o gestor do projeto, é benéfico para o Arrebita Porto, pois a diversidade cultural gera um ambiente propício à criação e ao desenvolvimento de novas soluções que a construção demanda ao longo da sua execução. Essa visibilidade internacional também faz com que as empresas, parceiras do projeto no fornecimento do material de construção, procurem contribuir

21 FAZ - Ideias de Origem Portuguesa

22 Informação verbal fornecida por Paixão, em Porto, em 2013.

com suas melhores soluções, uma vez que o Arrebita Porto tornou-se uma “vitrine” com alcance mundial.

A inovação social ocorre com maior frequência a partir de uma mudança organizacional, porém esta pode ser desenvolvida mediante o desenvolvimento de um novo produto ou processo (DAWSON; DANIEL, 2010). Nesse sentido, o Arrebita Porto buscou uma solução, chamada Abox, que é “um pré-fabricado que concentra os serviços essenciais para habitação, cozinha, banheiro e a lavanderia, tudo em um módulo, e que confere, a qualquer espaço, a exceção desse módulo, habitabilidade, portanto aqui ao invés de criarmos uma unidade de habitação convencional, basta-nos inserir esse elemento no espaço para o tornar habitável” (PAIXÃO, 2013, informação verbal)24.

O desenvolvimento da solução teve como objetivo tornar o processo de reabilitação dos prédios mais rápido e menos oneroso, pois consiste em produto que pode ser facilmente montado na construção, reduzindo a demanda por mão de obra, ao mesmo tempo em que concentra toda a infraestrutura necessária para a habitação no centro do edifício. Essa, na maioria das vezes, encontra-se espalhada pela construção e, por isso, sua recuperação torna o projeto de reabilitação mais oneroso. “(...) e a ideia é produzir em massa, em larga escala este protótipo e mais facilmente conseguir reabilitar outros edifícios” (PAIXÃO, 2013, informação verbal)25 gerando valor social às pessoas e à sociedade em seu todo.

Para implementar essa solução e para toda execução do projeto, o Arrebita Porto está estruturado em rede. Apesar de não ser uma prática nova, dos três casos estudados, este é o que apresenta a rede mais robusta, com parcerias formalizadas e bem articuladas. “Estamos a falar de uma rede que já envolve mais de 40 parceiros, uma rede bastante intensa entre parceiros e consultores em cada uma das especificidades da obra, parceiros fornecedores para todas as soluções que nós vamos necessitar para a obra, parceiros de construção, parceiros de logística, parceiros de mídia, parceiros institucionais, isto para não falar das pessoas da comunidade local e nos jovens profissionais internacionais que participam das equipes, é uma rede bastante extensa e que está mobilizada nesse projeto e que pode ser reconduzida em casos futuros” (PAIXÃO, 2013, informação verbal)26. De acordo com literatura, a organização em rede e o envolvimento de toda a comunidade na geração de inovação social são práticas que aumentam

24 Informação verbal fornecida por Paixão, em Porto, em 2013.

25 Ibidem

as chances de geração, aceitação e difusão da inovação social (KINDER, 2010; KLEIN; TREMBLAY; BUSSIÉRES, 2010; WESTLEY; ANTADZE, 2009).