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2. SEXUALIDADE – COMO NÃO FALAR DELA?

3.3. A arte da análise das informações

A ida aos espaços do PIBID e o contato com os/as licenciandos/as produziram uma coletânea de enunciados, uma babel cujas vozes nos diziam de sexualidade a partir dos mais diversos lugares. Estes enunciados afastavam-se às vezes ou, em outras, aproximavam-se, constituindo discursos que, por sua vez, também se afastavam ou se aproximavam. Compreender estes movimentos de idas e vindas exigiu-nos a retomada da questão central e dos objetivos desta pesquisa.

Partimos para o desvelamento destes discursos e de suas origens, e nesse sentido adotamos como base teórica os estudos que fazem uso na educação da perspectiva de discurso de Michel Foucault, por nos permitirem compreender como os discursos estão vinculados à estruturação da sociedade. Foucault (1999) elabora sua noção de discurso pensando-o como um conjunto de enunciados que apresentam em comum a mesma base constitutiva, por isso dizemos e ouvimos dizer do discurso pedagógico, do discurso médico, do discurso econômico e somos capazes de compreender a que se referem. Ou seja, os discursos produzem efeitos em seus receptores e, dessa forma, interferem na estrutura social.

Nesse sentido, ao submetermos a análise dos vários discursos dos/as licenciandos/as à perspectiva dos estudos foucaultianos no campo da educação, estaremos conectando suas práticas discursivas à social, nesta pesquisa. A partir da noção de discurso de Michel Foucault (20012a), buscamos localizar os sujeitos dos enunciados, fazer um levantamento destes enunciados, os lugares de emissão dos enunciados e a relação entre estes discursos.

Para a sistematização das informações, nós18, com nossa orientadora, voltamo-nos para as perguntas e para os objetivos de pesquisa. Orientadas pelo referencial teórico- metodológico, perguntamos o que fazer com as informações obtidas nos questionários, entrevistas e grupos focais. Como organizá-las de modo que elas não se desconectassem ou aparecessem de forma estanque? Assim, de posse das informações e ao lado do referencial criamos um quadro com a finalidade de organizar e sistematizar as informações (Anexo H). Este quadro, que denominamos matriz de análise, trazia em seu cabeçalho a questão central e o objetivo geral. O corpo do quadro apresentava cinco colunas, a serem preenchidas conforme procedíamos à leitura e análise das informações obtidas. A primeira coluna estava reservada para os “Objetivos específicos” da pesquisa. A segunda coluna destinava-se aos “Discursos/elementos dos discursos (sexualidade, relações de saber-poder-verdade)”; esta segunda coluna estava subdividida em três colunas, destinadas às informações sobre “Quem fala?”, “De quais lugares institucionais tais discursos são emitidos?” e “Quais posições os sujeitos ocupam?”. A terceira coluna destinava-se às informações acerca da “Formação discursiva”. A quarta coluna foi reservada ao “Corpus da análise: questionário/entrevista e grupo focal”. Por fim, a última coluna foi o espaço reservado para nossa “Leitura/análise da informação”. A partir dessa sistematização das informações, passamos à análise

No capítulo da análise, para a apresentação dos excertos obtidos a partir dos questionários e das transcrições das entrevistas e dos grupos focais, utilizamos o recurso de introduzir no texto caixas contendo os referidos excertos. Em outros momentos, estes excertos são apresentados no próprio corpo do texto, entre aspas. Dessa forma, a leitura torna-se mais dinâmica, com maiores possibilidades de localização de quem está falando.

18 O nós, neste momento, refere-se a mim e à colega de turma e orientação Patrícia Lemos Campos que

também desenvolveu neste mesmo período a pesquisa de mestrado, também sob a orientação da Profa. Dra. Elenita Pinheiro de Queiroz Silva.

Como se trata de uma investigação que pretende não apenas estabelecer os enunciados, mas também localizar os sujeitos e seus lugares de fala, consideramos oportuno atribuir nomes aos/às licenciandos/as. Com vistas ao compromisso ético que assumimos nos Termos de Consentimento Livres e Esclarecidos, resguardamos a identidade destes sujeitos e atribuímos a eles nomes fictícios, aleatoriamente definidos por nós.

Dessa forma, lançar nossas lentes a perscrutar o universo da atuação docente na escola de educação básica com vistas ao tema sexualidade levou-nos à constatação de como este tema se imbrica no complexo mundo de atuação de professores e professoras e, para além disso, quando ainda na licenciatura, como estas pessoas, futuramente profissionais da educação, vão constituindo o repertório que as conduzirá ao longo da carreira e do exercício docente.

4. QUEM SÃO, O QUE QUEREM, O QUE DIZEM SOBRE SEXUALIDADE OS/AS JOVENS LICENCIANDOS/AS DO PIBID/UFU/BIOLOGIA

As informações obtidas por meio do questionário, das entrevistas e dos grupos focais foram analisadas a partir da noção de discurso de Michel Foucault, cujos estudos permitem compreender a vinculação entre as práticas discursivas e a manutenção da estrutura social, uma vez que para este autor quando falamos estamos fazendo alguma coisa e não apenas representando uma realidade. Foucault (2012a. p. 131) nos apresenta a noção de discurso como “conjunto de enunciados que se apoia em um mesmo sistema de formação; é assim que poderei falar do discurso clínico, do discurso econômico, do discurso da história natural, do discurso psiquiátrico”. Por enunciado, Foucault (idem) designa uma proposição que deve ser tomada a partir de sua condição de existência, revelando as relações com outros enunciados e as intenções de quem fala. O enunciado mostra o lugar institucional do sujeito que o emite: o/a médico/a se vale de enunciados próprios da medicina, para fazer diagnósticos e prescrever tratamentos; o/a cientista emite seus enunciados a partir da ciência da qual se ocupa; professores/as se valem de enunciados da Pedagogia e da sua área de referência.

Nessa perspectiva, “os discursos devem ser tratados como práticas descontínuas, que se cruzam por vezes, mas também se ignoram ou se excluem.” (FOUCAULT, 1999, p. 52-53). A ideia de continuidade dos discursos não se sustenta; não há nada além de ilusão na ideia da evolução que transita de um enunciado a outro, ou que um enunciado gere, numa linha evolutiva contínua, outro enunciado. Com isso entendemos o caráter aleatório dos discursos e ressaltamos que é a partir desta percepção que nos lançaremos sobre os dizeres dos/as licenciandos/as, sujeitos desta pesquisa, acerca da sexualidade.

Nesse sentido, nos debruçamos sobre os discursos dos/as licenciandos/as a partir dos estudos foucaultianos buscando estabelecer conexões entre suas práticas discursivas e o estabelecimento e manutenção da estrutura social. Como já mencionado no capítulo da metodologia, no exercício da análise as informações foram lidas com a preocupação de localização dos sujeitos dos enunciados, de localização dos enunciados, dos lugares de fala e da possível relação entre os discursos.

Desse modo, nesse capítulo apresentamos as informações e análises que constituímos a partir do contato com o grupo de estudantes vinculados ao

PIBID/UFU/Biologia, Campus Umuarama e Campus do Pontal, por meio do questionário, entrevistas e grupos focais. Estas informações referem-se aos discursos que estes/as estudantes apresentam sobre sexualidade, às aproximações e distanciamentos entre estes discursos e, ainda, como se articulam com sua futura atuação como professores/as na escola de educação básica.

Para tanto, nos dispusemos a caracterizar o perfil dos/as licenciandos/as dos cursos de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Uberlândia – Campi Umuarama e do Pontal, bolsistas do PIBID; levantar onde e como os/as licenciandos/as participantes do PIBID-Biologia obtêm informações sobre o tema sexualidade; levantar os discursos sobre sexualidade apresentados pelos/a licenciandos/as do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, atuantes no PIBID/UFU/Uberlândia-MG; analisar e estabelecer as aproximações e distanciamentos entre os discursos sobre sexualidade dos/as licenciandos/as envolvidos/as na pesquisa; apresentar as possíveis articulações entre os discursos sobre sexualidade de licenciandos/as do curso de Ciências Biológicas com a sua futura atuação como professores/as na educação básica.

É então sobre tais questões que este capítulo versará.