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Conforme Wong-Un (2014, p. 183), as artes são infinitas e nos acompanham desde o começo da humanidade, de modo que, sempre brotaram, floresceram e proliferaram em todos os tempos, povoando o mundo com suas sabedorias e sua diversidade de formas e de expressão. Para o autor, qualquer que seja a arte, esta tem origem e efeitos sociais e culturais, por isso, todas as formas de criação artísticas são possíveis e válidas.

[...] elas sempre surgiram: intensas, coloridas, sonoras; ou silenciosas e contemplativas. Luxuosas, dionisíacas; ou simples, cotidianas, humildes. Todas as formas de arte [...] fomos criando e criando. Arte como saber do mundo, arte como interpretação do muito que vivemos, como tradução das emoções e paixões. Arte como representação do divino, ou como presente e prece para esse divino. Arte como celebração do proibido. Arte como forma de amar. (WONG-UN, 2014, p. 183)

A multiplicidade de significados atribuídos ao que seja arte tem sempre provocado muitas discussões e inúmeras tentativas de elaborações conceituais. O fato é que quando tratamos do tema arte estamos diante de um fenômeno em construção que propõe mobilidade de perspectivas e de multíplice variedade de interpretações. O fenômeno arte avançou conforme o desenvolvimento humano, adquirindo por influência e interação com o meio, novas combinações, novos diálogos com o tempo, novas possibilidades estéticas, novas críticas, novas capacidades de percepção, de expressão, de diálogo e de sínteses.

Um ponto de união converge para um entendimento de arte como uma qualidade humana própria, na qual se apresenta como necessidade vital de criação, de comunicação e de expressão, assumindo uma dimensão epistemológica caracterizando-se como uma das formas de conhecimento da vida. Através de obras de arte nos é possível compreender, por meio de diversos registros artísticos, passagens da trajetória humana ao longo dos tempos revelando modos de percepção do mundo e de si mesmos.

Essa unidade, no entanto, se coloca sempre desafiada a decifrar as intercessões e os sentidos mais profundos e subjetivos que permeiam as visões sobre arte. Isso se dá, à medida que, pensamos a arte como uma construção cultural passível de modificações, variável em diferentes culturas, nos diversos tempos históricos e nos distintos contextos sociais.

Originalmente, o termo arte vem do latim ars, que genericamente convencionou- se entendido como sendo um produto ou processo em que o conhecimento é empregado

para a realização de uma atividade humana nas quais se empregam habilidades e técnicas específicas. A generalização do termo faz com que seu uso seja cotidianamente aplicado a uma gama de atividades distintas.

Numa análise léxica percebe-se que seu emprego é tão variado que tanto pode ser usado para identificar a realização de uma ação com desenvoltura, como também estar associado à ideia de beleza e de bom gosto. Em outras aplicações, sua terminologia pode ser entendida sob um efeito malicioso de astúcia, de artimanha, de esperteza, ou ainda ser empregada a conotações de traquinagem, molecagem, travessura, estripulia. Outra faceta usual se dar no sentido de invenção, de criação fora do comum, inusitada, original e também na perspectiva de aproximação do termo à perfeição ao se dizer que algo é bem feito, bem elaborado, bem-acabado, cunhando esse resultado como obra de arte.

Do ponto de vista da descrição de atividades artísticas, atribui-se ao termo “arte” a alusão de criações humanas específicas nas quais se valem de recursos linguísticos, sonoros e plásticos por meio de modalidades particulares como a música, a dança, a pintura, a escultura, a arquitetura, o teatro, a literatura, o cinema, a fotografia, as artes digitais, entre outras, que a partir de novas combinações e hibridismos foram sendo incorporadas no transcurso histórico como atividade artística específica. É o caso da história em quadrinhos, do grafite, dos jogos de computadores e vídeo, entre diversas outras que na contemporaneidade ganharam expressividade própria.

Esses são apenas alguns exemplos, dentro de uma variedade de inferências nas quais se utiliza o termo arte, para nomear diversas atividades humanas, o que corrobora cada vez mais para um entendimento de que uma definição unívoca dessa terminologia está distante de ser válida. Contudo, aqui lançamos a questão: seria a cenopoesia mais uma dessas modalidades artísticas que nasce da combinação de linguagens, criando algo artisticamente novo, ou no mínimo original?

Diante da sua variedade de significados e sem a pretensão de nos aprofundarmos nas vertentes conceituais sobre arte, consideraremos nesse estudo, uma visão de arte mais próxima de uma dimensão política crítica, compreendendo que esta tem a capacidade de desenvolver o potencial criativo humano no sentido de modificar a realidade. Nessa perspectiva, percebemos a arte como uma prática social do pensar e do fazer na qual os seres humanos empregam sua capacidade criativa para produzir conhecimento, transformar o mundo criando e recriando suas próprias condições de existência. Assim, em consonância com Wong-Un (2014, p.183), corroboramos com o entendimento de que a pessoa humana, na sua imanência, é criadora por natureza.

Mesmo presa em redes de exploração e alienação, incitada a ser um autônomo consumista, cria. E criar é transformar, questionar, rever, pensar de outra forma, quebrar a forma comum de ver as coisas. Criar também é uma forma de ser mais, de ir além de nós mesmos, de mergulhar em realidades delicadas e pouco conhecidas. (...) A criação é a invenção de mundos. (WONG-UN, 2014, p.183)

A arte assim, aqui será vista não como dom, ou habilidade restrita a alguns seres iluminados, mas como condição de diálogo expressivo em que os seres humanos manifestam sua sensibilidade, suas emoções, suas leituras de mundo, levando em conta suas experiências de vida e seu poder criativo para refletir e reinventar o mundo.

Nesse sentido, lançaremos nosso olhar para a história da arte para que possamos ampliar as fronteiras de compreensão das formas artísticas, a multiplicidade de representações existentes e como os contextos histórico-sociais influenciam a criatividade e a expressão humana.

2.3 Raízes históricas da arte: dos vestígios pré-históricos a virtualidade