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4. Proposta Metodológica para a Implantação de um PIE

4.1. Etapa de Planejamento

4.1.2. Articulação dos Atores Envolvidos

O planejamento de um PIE envolve a articulação de diversos atores: o setor público (governo, agências e instituições públicas, bancos de desenvolvimento), o setor privado (indústrias, bancos privados, associação de industrias, instituições privadas, etc), as universidades, as instituições de pesquisa e a comunidade como um todo. Independente de qual das partes tenha uma participação maior ou menor nas etapas de implantação do empreendimento, é importante que haja cooperação e parceria entre os atores, tendo por objetivo maior, obter ganhos para estes atores e para o meio ambiente.

Na Ásia, por exemplo, a participação do setor privado tem se sobressaído ao setor público no planejamento dos PIEs, principalmente no Japão, Singapura e Filipinas e até mesmo na China onde a participação do setor público era anteriormente maior (Lowe, 2005). Nos Estados Unidos o setor público tem atuado em parceria com o setor privado e com as universidades. Como exemplo, o US-EPA, agência ambiental americana, mesmo com o abandono do programa de PIEs por parte do governo federal, continua a atuar em parceria com os governos locais, as universidades e a iniciativa privada no desenvolvimento dos PIEs.

Algumas das vantagens e desvantagens relativas especificamente à participação dos setores público e privado no desenvolvimento de PIEs foram apresentadas por Chiu (2001) e Lowe (2005). A tabela 12 apresenta as vantagens e desvantagens mais relevantes de cada um dos setores sob a ótica destes autores.

Tabela 12: Participação dos Setores Público e Privado: vantagens e desvantagens

Participação dos Setores Público e Privado

Setor Público Setor Privado

Vantagens

Visão voltada ao interesse público e desenvolvimento comunitário - sócio-economico- ambiental.

Maior conhecimento no setor financeiro e de negócios

Presença do Estado dando suporte às indústrias Maior investimento em novas tecnologias Incentivo fiscal e financeiro. Motivação: visão voltada para o lucro Acesso a políticas, incentivos, benefícios, P&D,

novas tecnologias relativos a órgãos e agências públicos.

Interesse financeiro resulta em uma maior integração e cooperação entre indústrias e gestores. Planejamento de longo prazo Compartilha os riscos do empreendimento

Suporte no cumprimento da legislação. Maior capital de investimento.

Suporte no licenciamento ambiental. Maior integração com a rotina dos negócios Subsídios às empresas de pequeno e médio porte

Motivação: ganhos nas 3 esferas: ambiental (redução impactos), econômico (desenvolvimento econômico local) e social (geração de emprego)

Desvantagens

Excesso de burocracia, processo normalmente lento e fragmentado.

Visão mais econômico-financeiro (lucro), menos sócio ambiental.

Mudanças na liderança política e administrativa podem interromper projetos em andamento.

Menor motivação sócio ambiental: visão mais voltada para o lucro (retorno financeiro) pode eliminar alguns elementos do PIE.

Desconhecimento dos valores e demandas do setor privado (indústrias e negócios).

Dificuldade de acesso a incentivos, benefícios, serviços ofertados pelo setor público.

Foco em fazer cumprir leis e regulamentos, esquecendo-se do retorno financeiro.

Maior dificuldade de acesso à financiamento público.

Menor motivação econômica: visão mais sócio- ambiental, menos econômico financeira.

Desconhecimento e muitas vezes falta de compreensão da legislação

Chiu (2001) e Lowe (2005). A parceria e a cooperação entre os atores envolvidos no desenvolvimento de um empreendimento é um conceito em formação no Brasil. A parceria pode ser uma solução para projetos de pequeno, médio ou grande porte, podendo ser um instrumento importante para o Estado, ao otimizar os recursos financeiros necessários ao empreendimento. O grau de participação de cada um dos atores pode variar de acordo com a vontade e interesse de cada parte. Segundo Lowe (2001) no início do empreendimento poucos atores tem conhecimento do que é um PIE. Assim, a promoção de cursos, eventos comunitários e seminários, é importante, apresentando-se o conceito e os possíveis benefícios, com um foco específico no interesse de cada um dos atores envolvidos. No caso do PIE demarcado no município de Paracambi, assim como nos demais PIEs do Estado do Rio de Janeiro, sugere-se que sejam firmadas parcerias com instituições como a FIRJAN ou o SEBRAE com o objetivo de promover

e disseminar o conceito de PIE através da promoção destes cursos, eventos comunitários e seminários. Um web site pode ser criado, divulgando o PIE em questão. Em relação à comunidade, todo projeto necessita do apoio da comunidade durante as etapas de planejamento, projeto, construção e operação do empreendimento. Por comunidade entende-se não só aquela que reside na área de influência do empreendimento, mas todos os que serão impactados com ele, como as indústrias locais, as agências locais, os grupos e associações comunitários e de indústrias, os trabalhadores e a população como um todo. A participação da comunidade no planejamento de um PIE deve ser considerada desde a etapa inicial. Como o PIE vai se inserir na comunidade? Quais as vantagens e desvantagens deste novo empreendimento para a comunidade? Para responder estas perguntas, é necessário caracterizar a comunidade (cultura, demandas, carências, grau de escolaridade, etc). Schlarb (2002) apresentou alguns aspectos que devem ser identificados em relação à comunidade: ª Identificar os aspectos positivos e negativos da comunidade, do município e da

região do entorno (aspectos geográficos, sócio-econômicos, culturais, emprego, renda, educação, capacitação profissional, transporte, legislação, qualidade de vida, saúde).

ª Caracterizar o mercado local – indústrias, comércio, as entradas (insumos, matéria prima) e saídas (produtos, resíduos), legislação pertinente.

ª Identificar elementos que possam melhorar a qualidade de vida da comunidade: saúde, educação, lazer, serviços públicos.

Nos EUA, ainda na etapa inicial de planejamento do empreendimento, é realizado um primeiro contato com a comunidade local. A partir daí são realizados seminários e workshops, durante os quais são apresentados o conceito de PIEs, EI, exemplos de iniciativas de PIEs desenvolvidos e em desenvolvimentos nos EUA e em outros países, além da visão e objetivos do empreendimento. A comunidade, por sua vez, tem a oportunidade de apresentar sua opinião e sugestões que possam contribuir para o desenvolvimento comunitário local. Os participantes podem discutir, entender e questionar o projeto e expor suas dúvidas e questionamentos. Lowe (2001) sugere que ao introduzir o conceito à comunidade, que sejam também apresentados principalmente

os benefícios que o empreendimento pode trazer para melhoria da qualidade de vida e renda local.

Quanto às universidades, estas seriam responsáveis pela parte intelectual do empreendimento. Nos EUA, universidades como Yale, Johns Hopkins, Princeton e Stanford, estabeleceram centros de pesquisa voltados ao desenvolvimento de projetos de PIEs, projetos estes voltados à implantação de PIEs em brownfields ou em

greenfields, PIEs co-localizados ou virtuais. Assim como nos EUA, na Europa e na

China, a maioria dos projetos esta sendo conduzida com a participação da universidade (Lowe, 2001). No Estado do Rio de Janeiro, os PIEs vem desenvolvendo sem a participação da universidade, salvo em Paracambi, onde sugestões serão apresentadas neste estudo.