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Articulação entre a Biologia e as Ciências da Natureza

A associação entre a Biologia e os demais componentes curriculares das Ciências da Natureza, abordada especialmente a partir das questões E6, E7, E8, S9

do guia de entrevistas, foi vista com bons olhos por todos os professores, mas com algumas ressalvas, como a falta de domínio conceitual de determinados tópicos da Química e da Física e pela dificuldade em estabelecer articulações entre determinados temas da Biologia com as outras disciplinas. “[...] alguns assuntos são mais, digamos, fáceis de se fazer essa relação, né. [...] são mais diretas, as relações são estabelecidas mais diretamente, né, por exemplo, conteúdos como fotossíntese é bem mais fácil de relacionar com Química e com Física por causa da questão de energia, de componentes químicos orgânicos, ah...especialmente no primeiro ano eu vejo que, o assunto célula. [...] e ecologia também permite um pouco isso, essa interface Química-Física-Biologia” [sic] (B5). Ecologia e fotossíntese foram dois temas citados pelos quatro colegas professores como exemplos de conteúdos que possibilitam a articulação da Biologia com as outras disciplinas.

Além de especificarem esses dois temas, todos os professores afirmaram ser mais fácil fazer a integração da conteúdos biológicos com aqueles de outros componentes curriculares a partir de exemplos concretos de situações cotidianas e de perguntas trazidas pelos próprios alunos, como evidencia a fala de B4: “Quais assuntos são mais fáceis? Todos os que tu consegue puxar pro dia a dia! [...] curiosidade, pergunta, pergunta, pergunta, impressionante... E então, tu acaba falando do dia a dia, tem muitas vezes eu não venço o conteúdo, não venço mas eu me dou por satisfeito” [sic].

Ao relatarem como temas de zoologia, ecologia e fotossíntese foram recentemente trabalhados, os professores entrevistados costumam utilizar recursos digitais, especialmente vídeos do Youtube para ilustrar as aulas, tendo em vista a dificuldade de desenvolverem aulas práticas e em laboratório. “[...] é mostrando filmezinho pra tentar ver se, a parte, por exemplo, de cnidários, essa parte de esponjas marinhas, eu vou muito mais no filme, que não adianta falar pra eles o coral, tem que mostrar o coral, mas que que é isso? Coral tá aqui, tu pode usar pra isso, é um bioindicador, é isso, é aquilo, então pode ser, então tu mostra isso” [sic].

Outros temas como biomoléculas também foram citados entre os que favorecem o ensino na perspectiva mais ampla das Ciências da Natureza, como ilustra a fala de B3: “[...] eu acho fácil de trabalhar porque ele é bem estruturado né, tu chega... moléculas inorgânicas: água e sais minerais... agora vamos para as orgânicas. Depois que tu explicou [...] ele é fácil de organizar na cabeça deles assim, ah dos orgânicos: carboidratos, proteínas, lipídeos, ácidos nucleicos... Aí, ah

normalmente tirando lipídios vai ser uma molécula grande que é formada por pequenas coisinhas, daí eu dou exemplo: ah é tipo um trem, a macromolécula... o polímero é o trem e daí o vagão do trem é o monômero, daí o monômero de cada um vai ser diferente no caso dos açúcares vai ser um monossacarídeo, no caso das proteínas vai ser um aminoácido, no caso dos ácidos nucleicos vai ser o nucleotídeo, dai eles conseguem assim com essa analogia, metáfora, entender fácil assim, só que, claro não sei daqui quatro aulas se eu chegar e perguntar pra eles vão lembrar né...” [sic].

A integração entre as disciplinas foi defendida pelos professores não somente através de exemplos de temas específicos, mas também através de uma metodologia que pudesse proporcionar aulas nas quais colegas das Ciências da Natureza tivessem a oportunidade de trabalhar na mesma turma ao mesmo tempo. “[...] quando tu fala em fotossíntese, por exemplo [...] nós deveríamos trabalhar mais, eu acho que nós deveríamos trabalhar assim, quando eu chegasse lá na hora de eu falar em fotossíntese, o cara de Química deveria tá do meu lado [...] é que o Estado queria com essa história de área: Física, Química e Biologia” [sic] (B4).

Apesar de favoráveis ao trabalho em parceria com outros colegas e à integração entre os conteúdos das Ciências da Natureza, todos apresentaram restrições quando questionados acerca da possibilidade de englobamento da Física, da Química e da Biologia em uma única disciplina, Ciências da Natureza. A argumentação de B3 nos chama a atenção por apresentar uma reflexão mais profunda sobre a ideia: “[...] eu gosto da ideia de relacionar coisas assim e se tu for ver é uma tendência atual. Mesmo nas universidades assim, tu ainda tem, tem departamentos de determinadas áreas, mas os lugares que estão resolvendo coisas legais são os lugares que estão juntando pessoas de diferentes áreas. [...] E não tão preocupados com o assunto, mas com resolver um problema. Então o departamento de neurociência que tem matemáticos, tem estatísticos, que tem o pessoal da medicina, tem o pessoal da física, então, que tá resolvendo os grandes problemas são núcleos interdisciplinares, eu acho que é uma tendência assim. [...] poderia ter as disciplinas específicas, mas também ter uma, talvez, uma disciplina extra que é Ciências da Natureza, e daí teria temas amplos assim, por exemplo, a energia... ah é uma coisa que tu consegue trabalhar com Química, Física e Biologia, meio ambiente Química, Física e Biologia então em vez de tu trabalhar problemas ambientais em um conteúdo específico de Ecologia, trabalhar nessa disciplina de Ciências” [sic].

Por outro lado, B4 defende uma maior pulverização dos conteúdos e o desdobramento das disciplinas atuais em outras ainda mais específicas: “[...] eu acho assim, que o currículo antigo, da minha época, por exemplo, aquele currículo antigo, só Biologia e algumas Químicas, Química orgânica, a melhor coisa que tinha... [...] eu acho que é muito mais completo” [sic]. O professor B5 acresce o aspecto da superficialidade do ensino frente ao possível englobamento das disciplinas: “Eu, a princípio, não sou a favor não! [...] eu acho que, eu creio que isso vai trazer um, ao estudante, um grau de aprofundamento menor [...] de conhecimento. Eu acho que os estudantes vão ter um conhecimento mais superficial de ciências. [...] Eu acho que no Ensino Fundamental é ideal que seja assim, já é né, mas no Ensino Médio eu vejo com certa restrição... eu não sou assim completamente contra, mas eu vejo com uma certa restrição isso, porque normalmente se essa Ciências da Natureza fosse dada como um componente único mas ela tivesse profissionais formados nos três campos, se ela fosse ministrada por três professores, ai eu até... Mas como eu acredito que isso não vai acontecer, que a disciplina de Ciências da Natureza vai ser ministrada por um docente só [...] de uma das áreas, nós vamos ter, dependendo da escola, alunos muito bons em Química, ou muito bons em Física ou Biologia” [sic].

Por fim, unanimemente, os professores concordaram que seriam necessários cursos de formação para que a integração dos conteúdos da Biologia com a Química e a Física fosse realizada de maneira mais concreta e possibilitasse uma visão mais ampla das Ciências da Natureza.

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