• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II. Metodologia da Investigação

2. Resultados provenientes dos questionários sobre as turmas multiníveis no 1º CEB

2.2. A articulação entre anos de escolaridade

No inquérito, solicitamos aos docentes a opinião sobre quais os anos de escolaridade (pares) que melhor se articulam no processo ensino-aprendizagem, por combinação de anos de escolaridade.

Gráfico 2. Perceções dos docentes sobre os anos que melhor se articulam

Pelos dados do Gráfico 2, podemos observar que a combinação de anos de escolaridade mais selecionada pelos docentes foi o par 3.º e 4.º ano de escolaridade. Esta combinação foi escolhida por 10 em 12 docentes a lecionar um ano de escolaridade e oito em 14 docentes com dois anos de escolaridade. De seguida, a combinação mais enunciada pelos dois grupos de docentes foi o 2.º e o 3.º ano, situação escolhida por cinco docentes que lecionam apenas um ano e sete que lecionam dois anos de escolaridade.

Procurando fazer uma reflexão sobre as combinações mais elegidas, podemos inferir que os docentes podem querer manifestar a ideia de que, sendo grupos de anos sequenciais, estes têm uma maior facilidade de articulação e gestão no processo de ensino-aprendizagem. As opções menos escolhidas foram as seguintes combinações: o 1.º e 3.º ano e o 1.º e 2.º ano, tendo sido escolhidas apenas por docentes a lecionar um ano de escolaridade. Daqui podemos, porventura, inferir que, dando como válida a exigência acrescida do trabalho com alunos do 1.º ano, a sua combinação com outros anos pode dificultar o trabalho e o sucesso do mesmo em grupos de alunos onde se possa ter o 1.º ano de escolaridade. Nesse sentido, é sintomático que a própria combinação 1.º e 4.º ano também é das menos escolhidas, embora aqui essa escolha seja

0 2 4 6 8 10 12 3.º/4.º 2.º/4.º 2.º/3.º 1.º/4.º 1.º/3.º 1.º/2.º 2 anos 1 ano

Capítulo III. Apresentação e Análise dos Resultados: As conceções dos professores do 1º CEB sobre as turmas com dois anos de escolaridade

65

partilhada tanto por professores a lecionar um ano de escolaridade, como por professores a lecionar dois anos de escolaridade.

A questão seguinte relaciona-se diretamente com a questão anterior. Os docentes foram chamados a pronunciar-se acerca do grau de concordância com as afirmações apresentadas, tendo em conta as combinações selecionadas anteriormente. De alguma forma, pretende-se perceber o que pode justificar, na opinião dos professores, a conjugação de determinados anos de escolaridade. Do mesmo modo, com esta questão pode ainda perceber-se razões plausíveis para não aconselhar determinadas combinações de anos de escolaridade. As afirmações utilizadas para concretizar esta intenção foram as seguintes: a) “São anos em que as caraterísticas de desenvolvimento psicológico dos alunos são mais similares”; b) “São anos com conteúdos programáticos similares, o que permite uma gestão curricular mais articulada”; c) “São anos em que os alunos já dominam as técnicas de leitura e escrita”; d) “São anos com conteúdos programáticos muito distintos, o que permite fazer um trabalho diferenciado para cada ano”; e) “São anos em que não há avaliação externa”; f) “O importante não são os anos, mas as metodologias de trabalho utilizadas para gerir o currículo de forma articulada e diferenciada”.

Para responder a esta questão, os professores podiam situar-se em torno de três possibilidades de escolha: a de concordância, pela soma das respostas “concordo” e “concordo totalmente”; discordância, associando as respostas “discordo” e “discordo totalmente”; e a resposta de manifestação “sem opinião”.

A gestão curricular em turmas com diferentes anos de escolaridade – conceções e práticas pedagógicas dos professores do 1.º CEB

66

Gráfico 3. Grau de concordância com as afirmações, para justificar os anos que melhor se articulam no processo ensino/aprendizagem, (docentes a lecionar 1A, n=12)

Assim, o Gráfico 3 apresenta o grau de concordância dos docentes a lecionar um ano de escolaridade. Pela análise do referido gráfico, constatamos que a afirmação mais selecionada por este grupo de docentes é a opção b), onde se refere que a combinação escolhida representa “anos com conteúdos programáticos similares, o que permite uma gestão curricular mais articulada”. Esta opção é selecionada por nove docentes que referem “concordar” com a afirmação e um outro que afirma “concordar totalmente”. Um total de 10 docentes parece ser da opinião que anos com conteúdos programáticos similares, isto é, anos consecutivos são mais propícios a uma gestão curricular mais articulada, e infere-se que estes anos resultem numa maior facilidade de articulação e gestão no processo de ensino-aprendizagem, trazendo proveitos para o professor e para os alunos a nível de trabalho efetivo na sala de aula, podendo este facto traduzir-se, na prática, em atividades e exercícios comuns aos dois anos de escolaridade, o que, no nosso entender, propicia o envolvimento de todos os alunos, estando estes a ser estimulados e a receber atenção em simultâneo.

0 2 4 6 8 10 f) O importante não é os anos mas as

metodologias de trabalho utilizadas para gerir o currículo de forma articulada e diferenciada. e) São anos em que não há avaliação externa.

d) São anos com conteúdos programáticos muito distintos, o que permite fazer um

trabalho diferenciado para cada ano. c) São anos em que os alunos já dominam as

técnicas da leitura e escrita. b) São anos com conteúdos programáticos similares, o que permite uma gestão curricular

mais articulada.

a)São anos em que as características de desenvolvimento psicológico dos alunos são

mais similares. Sem opinião Discordo totalmente Discordo Concordo Concordo totalmente

Capítulo III. Apresentação e Análise dos Resultados: As conceções dos professores do 1º CEB sobre as turmas com dois anos de escolaridade

67

A afirmação a) “são anos em que as caraterísticas do desenvolvimento psicológico dos alunos são mais similares” obteve a concordância de nove docentes. Consideramos que esta afirmação vai ao encontro do que foi já referido anteriormente, pois os alunos com desenvolvimento psicológico similar são, normalmente, próximos em termos de faixa etária, logo, encontram-se matriculados em anos de escolaridade consecutivos.

A asserção c) “são anos em que os alunos já dominam a leitura e a escrita” obteve também a concordância de nove docentes no total, atendendo à soma das opções “concordo” e “concordo totalmente”. Relativamente a esta afirmação, podemos inferir que a leitura e a escrita conferem bastante autonomia aos alunos, pelo que, como já referimos anteriormente, o 1.º ano traz uma exigência acrescida de trabalho e a sua combinação com outros anos pode dificultar o trabalho e o sucesso da turma. No entanto, consideramos que os alunos deste ano de escolaridade deveriam formar, quando possível, turma com os alunos do 2.º ano, dado que, uma vez que todos os alunos transitam do 1.º para o 2.º ano, deste modo, mesmo não tendo adquirido as competências essenciais, poderiam, no ano letivo seguinte, fazer a revisão e a consolidação de conteúdos.

Em sentido inverso, a opção que gerou uma maior discordância foi a opção e), que anui ao facto de podermos estar perante “anos em que não há avaliação externa”, obtendo a discordância de nove docentes. Perante esta discordância, podemos inferir que o facto de existir ou não, avaliação externa, parece não ser uma das condições muito valorizadas pelos inquiridos para a constituição de turmas. Também no sentido da discordância, agora com a manifestação de sete docentes, temos a afirmação d), que se refere aos “anos com conteúdos programáticos muito distintos, o que permite fazer um trabalho diferenciado para cada ano”. Desta discordância pode deduzir-se que os docentes não optariam por anos cujos conteúdos programáticos fossem muito distintos, pois, como refere a afirmação, é necessário um trabalho muito diferenciado para cada ano de escolaridade.

Passamos agora à análise do grau de concordância dos docentes a lecionar dois anos de escolaridade em relação às afirmações anteriormente mencionadas. O Gráfico 4 apresenta os resultados obtidos.

A gestão curricular em turmas com diferentes anos de escolaridade – conceções e práticas pedagógicas dos professores do 1.º CEB

68

Gráfico 4. Grau de concordância com as afirmações, para justificar os anos que melhor se articulam no processo ensino-aprendizagem, (docentes a lecionar 1A, n=12)

Pela leitura do gráfico apresentado, podemos observar que a afirmação c) – “são anos em que os alunos já dominam as técnicas de leitura e escrita” – acolhe a concordância de 11 docentes (com seis a “concordar” e cinco a “concordar totalmente”). Pela ordem de preferência dos docentes, temos a seguir a afirmação a) “são anos em que as caraterísticas de desenvolvimento psicológico dos alunos são mais similares”, selecionada por 10 docentes (com nove a “concordar” e um a “concordar totalmente”). Podemos ainda referir a afirmação b) – “são anos com conteúdos programáticos similares, o que permite uma gestão curricular mais articulada” – que apresenta uma concordância de oito docentes (com seis docentes a “concordar” e dois a “concordar totalmente”).

Na perspetiva da discordância, temos a salientar as seguintes opções escolhidas pelos docentes: a opção d) “são anos com conteúdos programáticos muito distintos, o que permite fazer um trabalho diferenciado para cada ano”, com a discordância de sete docentes; a opção e) “são anos em que não há avaliação externa”, que obteve também discordância de sete docentes (com três a “discordar” e quatro a “discordar totalmente”).

0 2 4 6 8 10 f) O importante não é os anos mas as

metodologias de trabalho utilizadas para gerir o currículo de forma articulada e diferenciada. e) São anos em que não há avaliação externa. d) São anos com conteúdos programáticos muito distintos, o que permite fazer um

trabalho diferenciado para cada ano. c) São anos em que os alunos já dominam as

técnicas da leitura e escrita. b) São anos com conteúdos programáticos similares, o que permite uma gestão curricular

mais articulada.

a)São anos em que as características de desenvolvimento psicológico dos alunos são

mais similares. Sem opinião Discordo totalmente Discordo Concordo Concordo totalmente

Capítulo III. Apresentação e Análise dos Resultados: As conceções dos professores do 1º CEB sobre as turmas com dois anos de escolaridade

69

De uma forma geral, comparando as respostas dadas pelos docentes a lecionar um e dois anos de escolaridade, podemos considerar que as suas opiniões são muito semelhantes, sendo selecionadas as mesmas afirmações tanto para a “concordância” como para a “discordância” no que diz respeito às diferentes formas de proceder às combinações de anos de escolaridade, pelo que as justificações e interpretações tidas aquando da análise dos dados dos docentes a lecionar um ano de escolaridade aplicam-se, do mesmo modo, para os docentes a lecionar dois anos de escolaridade.