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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 ARTIGO 3 CORRELAÇÃO ENTRE QUALIDADE DE VIDA E O SUPORTE

CORRELAÇÃO ENTRE QUALIDADE DE VIDA E O SUPORTE FAMILIAR EM IDOSOS COM ÚLCERA VENOSA

RESUMO

Objetivo: analisar a correlação do suporte familiar na qualidade de vida em idosos com úlcera venosa.

Método: estudo transversal, correlacional cuja coleta dos ocorreu de agosto a dezembro de 2016, por meio de três instrumentos: um formulário sociodemográfico, de saúde, clínico e assistencial, o

Charing Cross Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ) e do Inventário da Percepção de Suporte

Familiar (IPSF). Na análise utilizou-se estatística descritiva, teste Mann-Whitney e correlação de Spearman, nível de significância adotado foi de 0,05.

Resultados: na amostra de 40 idosos, verificaram-se correlações negativas e significativas entre os domínios: Afetivo-Consistente e o escore total do CCVUQ (r=-0,323; p=0,042), Atividades Domésticas (r=-0,350; p=0,027) e Estado Emocional (r=-0,424; p=0,006), Adaptação Familiar e Estado Emocional (r=-0,443; p=0,004). Assim como, entre Autonomia e o escore total do CCVUQ (r=-0,514; p=0,001), o domínio Interação Social (r=-0,362; p=0,022), Atividades Domésticas (r=- 0,513; p=0,001), Estética (r=-0,478; p=0,003) e Estado Emocional (r=-0,478; p=0,002).

Conclusão: evidenciou-se correlação entre Suporte familiar e qualidade de vida de idosos com úlcera.

DESCRITORES: Qualidade de Vida; Família; Atenção Primária à Saúde; Enfermagem.

INTRODUÇÃO

O crescimento da população idosa implica na necessidade de se repensar o modelo de atenção à saúde, sendo necessário, para a prática assistencial, que os profissionais da saúde reconheçam o contexto no qual os idosos estão inseridos.1 O envelhecimento populacional é considerado um fator relevante e positivo para sociedade quando associado à saúde e qualidade de vida (QV). Entretanto, mais anos de vida não necessariamente implica em os usufruir com bem- estar e ativamente, o que precisa impulsionar o planejamento de ações de promoção da saúde.2-3

O aumento da expectativa de vida se relaciona ao aumento da prevalência de doenças, como a insuficiência venosa crônica (IVC), responsável pelo surgimento de úlcera venosa (UV). Esse tipo de úlcera caracterizada pela cronicidade e complicações que impactam negativamente na QV.4

75 A Organização Mundial da Saúde define QV como: “a percepção que o indivíduo tem de sua posição na vida, dentro do contexto de sua cultura e do sistema de valores de onde vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.5 Estão implícitos aspectos como a

subjetividade e a multidimensionalidade, além dos fatores biológicos que devem ser considerados ao planejar a assistência à saúde em todos os seus níveis de densidade tecnológica.5

No caso de pacientes com úlcera venosa, identificou-se que família exerce influência nas decisões e adesão terapêutica, sendo a principal responsável pelo apoio emocional.6 No entanto, são identificadas mudanças na dinâmica familiar e da sociedade, que ocasionam falta de suporte familiar ao idoso. Portanto, justifica-se avaliar o suporte familiar, ou seja, a forma como as pessoas percebem suas relações familiares, no que concerne à afetividade, autonomia e adaptação entre os membros da família, tanto da nuclear como da família constituída.7 Nesse sentido, objetivou-se analisar a correlação do suporte familiar na qualidade de vida em idosos com úlcera venosa.

MÉTODO

Estudo transversal correlacional, realizado nos serviços da Atenção Primária à Saúde em Santa Maria, RS, Brasil, com a amostra não probabilística, por conveniência. Utilizaram-se como critérios de inclusão: ter idade igual ou superior a 60 anos, estar com no mínimo uma úlcera venosa e estar em acompanhamento no serviço de saúde. Excluíram-se, quem não tivesse condições de comunicação verbal, com limitações cognitivas de fala ou escuta.

A coleta dos dados, ocorreu de agosto a dezembro de 2016, foi realizada pela pesquisadora, em ambiente reservado para as entrevistas individuais com os idosos. Utilizaram-se os instrumentos: de caracterização sociodemográfica, saúde, clínica e assistenciais; o Charing Cross

Venous Ulcer Questionnaire (CCVUQ) e o Inventário da Percepção de Suporte Familiar (IPSF).

Na coleta dos dados sociodemográficos, de saúde, clínicos e assistenciais, utilizou-se um formulário validado.As variáveis contemplaram: sexo, idade - faixa etária, com quem mora, estado civil, escolaridade, renda per capita (família); e aposentado - ocupação/profissão (dados sociodemográficos). Doenças crônicas associadas - Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial Sistêmica, cardiopatias; sono (dados de saúde). Recidiva; tempo de úlcera venosa atual; dor e sinais de infecção (dados clínicos). Quem realiza o curativo fora do serviço de saúde; tempo de tratamento da úlcera venosa; faz uso de terapia compressiva - meia/faixa elástica, bota de unna - nos últimos 30 dias; número de consultas com o angiologista no último ano (dados assistenciais).

A qualidade de vida foi avaliada por meio do CCVUQ, versão traduzida, adaptada e validada para língua portuguesa e que contém 21 itens organizados em quatro domínios, Interação Social, Atividades Domésticas, Estética e Estado Emocional. A pontuação do questionário varia de 0 a 100, quanto menor a pontuação, melhor a qualidade de vida.8 Para a identificação do Suporte Familiar,

76 utilizou-se o Inventário da Percepção de Suporte Familiar (IPSF), composto por 42 itens e três domínios: Afetivo-Consistente; Adaptação Familiar e Autonomia. As pontuações gerais variam de 0 a 84, sendo que quanto maior a pontuação maior será o suporte familiar percebido.9-10

Os dados foram digitados utilizando o Programa Excel, com dupla digitação independente. Após a verificação de erros e inconsistências na digitação, a análise ocorreu no software Statistical

Package for the Social Science (SPSS) versão 18.0, para tratamento e análise dos resultados.

Utilizou-se da estatística descritiva e inferencial. Para as variáveis categóricas foram calculadas as frequências absoluta (n) e relativa (%) e, para as quantitativas, calcularam-se média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo. Para verificar a distribuição da normalidade dos dados foi realizado o Teste de Shapiro-Wilk. Convencionou-se para todas as análises realizadas o nível de significância estatística se p≤ 0,05. A confiabilidade do CCVUQ e do IPSF foram calculadas utilizando o coeficiente Alfa de Cronbach, por meio da sua análise consistência interna, sendo considerado satisfatório Alfa >0,70.11

Para a avaliação da correlação entre os domínios do IPSF e do CCVUQ, utilizou-se o teste de correlação de Spearmann, uma vez que todas as variáveis não tiveram o pressuposto de normalidade atendido. Na análise das forças de correlaçãoforam adotados os seguintes critérios: r = < 0,40 (fraco); r = 0,40 a 0,49 (moderado); r = ≥ 0,50 a 1 (forte).12

O desenvolvimento do estudo atendeu as normas de ética em pesquisa e obteve o número de aprovação 1.670.636 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 58255016.0.0000.5346, em 10 de agosto de 2016. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias.

RESULTADOS

Neste estudo, foram entrevistados 40 idosos com úlcera venosa, dos quais 23 (57,5%) eram do sexo feminino e 17 (42,5%) masculino, com média de idade de 71,9 (±8,4) anos; mínimo de 60 e máximo de 87 anos), 21 (52,5%) estavam na faixa de ≥ 70 anos e 19 (47,5) de 60 a 69 anos, 25 (62,5%) sem companheiro (solteiro, viúvo ou divorciado), 31 (77,5%) moravam acompanhados, tinham ensino fundamental 25(62,5%), estavam aposentados 34 (85,0%) e com média de R$ 1.450,00 (±1320,63) renda per capita familiar. Apresentavam doenças crônicas associadas 28(70,0%), como Hipertensão Arterial Sistêmica 27(67,5%), Diabetes 10 (25,0%) e com mais de seis horas de sono/dia 30(75,0%).

Com relação a confiabilidade das escalas utilizadas, o valor do alfa de Cronbach do CCVUQ total foi de 0,84, e nos domínios foi de 0,83 (Interação Social), 0,81 (Atividades Domésticas), 0,77 (Estética) e 0,84 (Estado Emocional). Para o IPSF foram obtidos os seguintes valor do alfa de

77 Cronbach total de 0,78, e por domínio: 0,96 (Afetivo-Consistente), 0,94 (Adaptação Familiar) e de 0,76 (Autonomia).

Sobre a análise da qualidade de vida, encontrou-se que ao se considerar a mediana total do CCVUQ (43,9, mínimo de 20,1 e máximo de 79,2), a qualidade de vida dos idosos com úlcera venosa apresentou tendência de piora, sendo o domínio Estado Emocional o mais comprometido (mediana 57,4; mínimo de 20,7 e máximo de 96,4), seguido de Estética (mediana 44,7; mínimo de 20,6 e máximo de 87,6), Atividades Domésticas (mediana 29,9; mínimo de 16,8 e máximo de 84,1) e Interação Social (mediana 27,9; mínimo de 17,9 e máximo de 82,1). A apresentação da análise descritiva das pontuações do IPSF está no Quadro 1.

Afetivo-Consistente Classificação n(%)

Mínimo 1,0 Baixo (0-21) 06(15,0)

Máximo 42,0 Médio baixo (22-28) 03(7,5)

Média 33,4 Médio alto (29-33) 05(12,5)

Mediana 39,0 Alto (34-42) 26(65,0)

Adaptação familiar

Mínimo 2,0 Baixo (0-18) 06(15,0)

Máximo 26,0 Médio baixo (19-21) 06(15,0)

Média 20,9 Médio alto (22-23) 10(25,0)

Mediana 23,0 Alto (24-26) 18(45,0)

Autonomia

Mínimo 7,0 Baixo (0-9) 02(5,0)

Máximo 16,0 Médio baixo (10-12) 04(10,0)

Média 14,6 Médio alto (13-14) 06(15,0)

Mediana 16,0 Alto (15-16) 28(70,0)

Total

Mínimo 15,0 Baixo (0-53) 06(15,0)

Máximo 84,0 Médio baixo (54-63) 01(2,5)

Média 69,0 Médio alto (64-70) 07(17,5)

Mediana 78,0 Alto (71-84) 26(65,0)

Quadro 1 – Descrição do IPSF e seus domínios. Santa Maria – RS, 2017

As variáveis sociodemográficas e de saúde não apresentam associação significativa com os domínios do CCVUQ e IPSF. Para as variáveis clínicas e assistenciais ocorreram associações estatisticamente significativas com os domínios do CCVUQ e IPSF. A partir da classificação do

78 IPSF em quatro tipos (Baixo, Médio baixo, Médio alto e Alto) os resultados do suporte foram categorizados em baixo a médio e alto.

Conforme consta no Quadro 2, apresentaram associações com os domínios as características clínicas, tais como recidiva, tempo atual de úlcera venosa, dor e sinais de infecção. Assim como, as características assistenciais quem realiza o curativo, tempo de tratamento, uso de terapia compressiva e número de consultas.

Variáveis clínicas Total

n(%)

Domínios do Charing Cross Venous

Ulcer Questionnaire (CCVUQ)

Domínios do Inventário da Percepção de Suporte Familiar (IPSF)

IntS AtD EstE EscT IPSF-AFET IPSF-AUT IPSF-T

Baixo/ Médio Alto Baixo/ Médio Alto Baixo/ Médio Alto Recidiva Sim 27(67,5) 0,031* Não 13(32,5) Tempo UV atual ≥ 1 ano 21(52,5) 0,003* 0,022* Até 1 ano 19(47,5) Dor Sim 23(57,5) 0,048 0,034 0,022 0,041* Não 17(42,5) Sinais de infecção Sim 9(22,5) 0,044* Não 31(77,5) Variáveis assistenciais Quem realiza o curativo Profissional 28(70,0) 0,045 Paciente 12(30,0) Tempo de tratamento > 1 ano 18(45,5) 0,021* ≤1 ano 22(55,0) Uso de Terapia compressiva Não 24(60,0) 0,031 0,002* 0,002* Sim 16(40,0) Número de consultas ≤ 3/ano 34(85,0) 0,033 0,033 0,025 0,030 >3/ano 6(15,0)

Nota: * Teste Exato de Fischer

- Interação Social (IntS), Atividades Domésticas (AtD), Estética (Est), Estado Emocional (EstE) e Escore Total (EscT) - Afetivo-Consistente (IPSF-AFET), Adaptação Familiar (IPSF-ADAP), Autonomia (IPSF-AUT) e Total (IPSF-T)

Quadro 2 - Resumo das associações estatisticamente significativas das variáveis clínicas e assistenciais com os domínios do CCVUQ e IPSF.

A tabela 1 representa os coeficientes de correlação de Spearmann entre os domínios IPSF e o escore total do CCVUQ e seus domínios. Verificaram-se correlações negativas, entre fracas, moderadas e fortes, significativas em quase todos os casos.

79 Tabela 1 - Correlação entre os domínios do IPSF e escore total e domínios do CCVUQ. Santa Maria/RS, 2017. Domínios do IPSF Domínios do CCVUQ Interação social Atividades domésticas Estética Estado emocional Escore total Afetivo-Consistente r=-0,302 (p=0,058) r=-0,350 (p=0,027) r=-0,206 (p=0,203) r=-0,424 (p=0,006) r=-0,323 (p=0,042) Adaptação Familiar r=-0,172 (p=0,288) r=-0,251 (p=0,118) r=-0,231 (p=0,151) r=-0,443 (p=0,004) r=-0,304 (p=0,057) Autonomia r=-0,362 (p=0,022) r=-0,513 (p=0,001) r=-0,459 (p=0,003) r=-0,478 (p=0,002) r=-0,514 (p=0,001) DISCUSSÃO

A feminização na velhice e evidenciada neste estudo e parece ser um reflexo da composição demográfica dos idosos com maior expectativa de vida entre mulheres, que ainda possuem maior atenção com a saúde e com o autocuidado que os idosos do sexo masculino.13

Observou-se que existiu correlação significativa negativa do domínio Afetivo-Consistente com as Atividades Domésticas (Fraca), estado emocional (Moderada) e Escore Total (Fraca) do CCVUQ. A medida que aumenta a percepção afetiva diminui as dimensões atividades domésticas, estado emocional e o escore geral de qualidade de vida. As questões do Afetivo-Consistente versam sobre a expressão de afetividade entre os membros familiares seja verbal e não verbal, interesse, proximidade, acolhimento, comunicação, interação, respeito, empatia, clareza nas regras intrafamiliares, consistência de comportamentos e verbalizações e habilidades na resolução de problemas.10

Para o domínio Adaptação Familiar, houve correlação significativa negativa e moderada (r=- 0,443; p=0,004) com a domínio Estado Emocional, isto é, a medida que aumenta o estado emocional, diminui a adaptação familiar, indicando que quanto melhor o estado emocional, melhor a adaptação familiar. A Adaptação Familiar se refere a sentimentos e comportamentos negativos em relação à família, tais como raiva, isolamento, incompreensão, exclusão, não pertencimento, vergonha, irritação, relações agressivas (brigas e gritos), além de percepção de que os familiares competem entre si, são interesseiros e se culpam nos conflitos, que apontam a ausência de adaptação no grupo, ao invés de tentarem inter-relações proativas.10

Observaram-se correlações entre o domínio autonomia do IPSF, com todos os domínios do CCVUQ. Todas as correlações foram significantes e negativas, visto que o IPSF crescem positivamente e o CCVUQ decresce.

As correlações foram significantes e Forte entre os domínios Autonomia e Atividades Domésticas (r=-0,513; p=0,001); Autonomia e Escore Total (r=-0,514; p=0,001), significantes e Moderadas para Autonomia e Estética (r=-0,459; p=0,003) e Autonomia e Estado Emocional (r=-

80 0,478; p=0,002); e significativa e Fraca entre Autonomia e Interação social (r=-0,362; p=0,022). A Autonomia demonstra relações de confiança, liberdade e privacidade entre os membros.10

Como possibilidade de atuação da enfermagem sugere-se a realização de grupos que abordam o envelhecimento e a QV apresenta-se como uma estratégia que promove o desenvolvimento biopsicossocial, reforça sua identidade, promove e facilita a expressão de seu potencial positivo e os estimula para melhor perspectiva de vida.14 Como membro da equipe

multiprofissional, o enfermeiro pode atuar, entre outras maneiras, por meio de ações educativas no direcionamento do autocuidado e manejo de cuidados, visando à melhora da QV. Além de auxiliar na educação em saúde, os grupos representam uma estratégia de mobilização social, que auxiliam na adaptação frente às modificações do envelhecimento, favorecendo o bem-estar.

Para que as mudanças ocorram é importante que o paciente amplie seus conhecimentos sobre a doença, seu tratamento e sinta-se capacitado para cuidar da sua saúde e evitar recidivas. Nesse sentido, o déficit de conhecimento sobre a causa da doença, pode relacionar-se a limitada compreensão sobre o tratamento e a importância de modificações no estilo de vida para a cicatrização da úlcera venosa.4

Assim, tem-se a educação em saúde como uma ferramenta importante na promoção da saúde, os indivíduos podem tornam-se sujeitos questionadores, participativos e ativos no cuidado. Por outro lado, para que a educação seja viável é imprescindível que exista o diálogo, é por meio desse que o profissional de saúde e o usuário poderão compartilhar seus saberes e práticas, levando em consideração o saber um do outro, valorizando a cultura, crença, contexto social, político e econômico.15 Além disso, a proximidade entre o idoso com úlcera venosa e o profissional possibilitará a conhecimento da estrutura familiar e suas relações, quais podem der favoráveis para a continuidade do cuidado.

Ao considerar as especificidades dessa população, ressalta-se a valorização de constante aprimoramento profissional e investimento na qualificação da assistência de maneira a planejar e realizar assistência multiprofissional resolutiva. As mudanças vivenciadas pelos pacientes são constantes e comumente relacionadas à dor, mobilidade reduzida, alteração de imagem e dificuldade laboral que, entre outras complicações, também podem ocasionar problemas financeiros. Portanto, o plano de cuidados necessita abranger a pessoa de maneira integral. Para superar esta dinâmica organizativa do serviço de saúde e das práticas profissionais, é necessária uma intervenção centrada no paciente, que deve levar em consideração a sua participação e envolvimento, a relação paciente-profissional e o contexto no qual o cuidado é realizado.16

As equipes de saúde têm a possibilidade de criar vínculo com os usuários, são responsáveis por ações coletivas e individuais fundamentadas na ideia de promoção da saúde e prevenção de agravos, na cogestão de projetos terapêuticos singulares.17 O enfermeiro compõe a equipe

81 multiprofissional e possui papel importante para possibilitar a continuidade do cuidado e promoção da atenção centrada no idoso e família, visando sua autonomia. O enfermeiro acolhe o idoso com úlcera venosa, orienta e o acompanha durante todo o seguimento, proporcionando educação em saúde. Destaca-se que orientações bem conduzidas melhoram a efetividade do autocuidado e contribuem para a adesão ao tratamento e prevenção de recidivas.18

Dessa forma, a relação entre profissional-usuário deve ser terapêutica e precisa estar envolta em um sentimento de confiança, respeito e apoio. A abordagem profissional com o enfoque na doença, no componente individual e culpabilização, dificulta o estabelecimento de vínculo entre profissional e usuário, podendo afastar o paciente do acompanhamento no serviço de saúde.19 As

relações entre profissionais da saúde e usuários dos serviços precisam avançar, entrelaçando as dimensões sociais e subjetivas existentes nas práticas assistenciais.

De maneira semelhante, prioriza-se o enfoque na participação do paciente com úlcera venosa de forma ativa e integrada ao seu tratamento para favorecer a melhora da qualidade de vida e reduzir o impacto desta condição crônica.20 Além disso, defende-se relevância do suporte familiar para a melhoria da qualidade de vida. Assim, como possibilitar a parceria com a equipe de enfermagem na organização de fluxos e utilização dos serviços de saúde com acompanhamento contínuo na rede de atenção à saúde, em seus diferentes níveis de densidade tecnológica a fim de minimizar o distanciamento na assistência nos serviços de saúde.

Frente a estrutura dos serviços na APS, dentro da equipe multiprofissional, aponta-se a potencialidade da atuação do enfermeiro para a articulação de outros profissionais da saúde, bem como ao desenvolver estratégias de avaliação e acompanhamento do idoso com úlcera venosa e sua família, a fim de fortalecer as condições que interferem positivamente no bem-estar e na qualidade de vida. Além disso, torna-se fundamental voltar-se para o contexto familiar, sendo necessário considerar os aspectos social, psicológico, econômico, político, além do biológico. Também, valoriza-se o atendimento humanizado, integral, horizontal, interdisciplinar e com equidade, conforme prioriza o Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, o desenvolvimento do conceito ampliado de saúde é um desafio constante e fundamental na promoção à saúde do idoso na comunidade e em busca da melhora da qualidade de vida dessa população e, consequentemente da família.

CONCLUSÕES

Por meio deste estudo, verificaram-se correlações negativas e significativas entre Afetivo- Consistente e o escore total do CCVUQ, o domínio Atividades Domésticas e Estado Emocional. Entre Adaptação Familiar e Estado Emocional. Da mesma maneira, entre Autonomia e o escore

82

total do CCVUQ, o domínio Interação Social, Atividades Domésticas, Estética e Estado Emocional. Conclui-se que são necessárias ações de promoção e reabilitação da saúde do idoso, com enfoque na dinâmica familiar, a fim de promover a autonomia e o convívio social para melhora da qualidade de vida.

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