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METODOLÓGICAS DE ANÁLISE

The pedagogical narratives under the civilizing processes perspective: theoretical- methodological suggestions of analysis

Ana Flávia Braun Vieira Miguel Archanjo de Freitas Junior

RESUMO

Embora não se apresentem como manuais, os jornais difundem modelos de civilidade, que ao serem analisados permitem conhecer melhor aspectos sócio e psicogenéticos das formações sociais nas quais circulam. Nesse sentido, sob o ponto de vista da teoria dos processos civilizadores, este ensaio apresenta um caminho possível para a análise empírica de jornais, com destaque para as narrativas de caráter pedagógico. O desenvolvimento de uma abordagem teórico-metodológica própria para a análise dos processos educativo-civilizadores por intermédio dos periódicos está relacionado à especificidade comunicacional deste tipo de fonte. Assim, visando compreender suas particularidades no processo de modulação de condutas, foram trabalhados: o papel dos jornais na sociedade, pelo viés da pedagogia cultural; a concepção do conteúdo do jornal como narrativas, adotando pressupostos teóricos da análise crítica da narrativa; e o processo de recepção, por meio dos indícios presentes nas próprias narrativas. Depois, foram sugeridos encaminhamentos metodológicos para a contextualização do periódico e da figuração de sua circulação, a fim de produzir férteis inferências entre os dados procedentes da análise de conteúdo temática das narrativas de caráter pedagógico e as relações sociais e emocionais que lhe imputavam sentidos.

Palavras-chave: Processo Civilizador. Pesquisas Empíricas. Narrativas de caráter pedagógico.

Pedagogias culturais.

ABSTRACT

Although it is not presented as manuals, newspapers disseminate civility models, which, when analyzed, allow a better understanding of socio-psychogenetic aspects of the social formations where they circulate. In this sense, from civilizing processes theory point of view, this essay presents a possible way for newspapers empirical analysis, with emphasis on pedagogical narratives. The development of a proper theoretical-methodological approach for the educational-civilizing processes analysis through journals is related to the communicational specificity of this type of source. Thus, in order to understand its particularities in the behavior modeling process, the following were studied: the newspaper role in society, through the bias of cultural pedagogy; the newspaper content as a narrative, adopting theoretical presuppositions of the critical analysis of the narrative; and the reception process, through the clues present in the narratives themselves. Then, methodological referrals were suggested to the contextualization of the newspaper and the figuration of its circulation, in order to produce

fertile inferences between the data coming from the thematic content analysis of the pedagogical narratives and the social and emotional relations that imputed senses to it.

Keywords: Civilizing Processes. Empirical Search. Pedagogical narratives. Cultural Pedagogy.

INTRODUÇÃO

A noção de processo civilizador foi desenvolvida por Norbert Elias, sociólogo que estudou “as mudanças de longo prazo nas emoções e estruturas de controle das pessoas em sociedades particulares”, por meio dos manuais de etiqueta publicados entre a Idade Média e o Renascimento. Em suas formulações iniciais, publicadas em 1939, o autor demonstrou a existência de uma relação de dependência mútua entre as mudanças nas estruturas de personalidade (psicogênese) e as mudanças na estrutura social (sociogênese). As transformações contínuas nestas esferas configuram o processo civilizador, que nos últimos séculos tem-se direcionado para o “aumento do reforço e diferenciação dos controles” (ELIAS, 2011, p. 208). De acordo com Elias (1993, 1994a, 2001a, 2001b, 2011), somente as pesquisas empíricas de longa duração permitiriam a análise dos processos civilizadores. Todavia, em relação à extensão do recorte temporal, são necessárias algumas ressalvas:

O período analisado pelo sociólogo quando do estudo d’O Processo Civilizador possuía as características de seu tempo: o repertório de saber era ainda bastante limitado, apesar dos constantes avanços; e as funções sociais exercidas não eram tão variadas, resultando em uma rede de interdependência menos complexa, que, por sua vez, requisitava menor capacidade de prospecção, de antecipação às demandas.

Às estruturas sociais e psicológicas da época correspondiam a velocidade das mudanças históricas. Assim, naquele momento, os processos de síntese e aprendizagem, mediados pelo conhecimento e tecnologias disponíveis, eram mais lentos em comparação aos dias atuais. Sendo assim, a opção de Elias pela longa duração (aproximadamente 700 anos) foi pertinente ao objeto e aos objetivos de sua pesquisa.

Mas à medida que os seres humanos foram transformando a natureza e, por extensão, as relações sociais, tais mudanças demandaram a especialização e controle das atividades humanas – inicialmente por meio de pressões externas e, no decorrer do processo de civilização, internas.

Ao longo de múltiplas sínteses, a aprendizagem de um repertório de saberes e comportamentos necessários à vida em sociedade passou a ocorrer de forma cada vez mais veloz35.

De acordo com Vieira (2018, p. 501), o desenvolvimento social, científico e tecnológico ao longo do século XX – e agora, no século XXI – tem possibilitado a redução da escala de análise quando da investigação de certos processos civilizadores. Para a autora, isso se deve à “continuidade do processo civilizador ocidental e sua potencial celeridade, que passa a requisitar um tempo menor para a observação de mudanças estruturais – que em séculos passados eram quase imperceptíveis se não fossem observadas em longa duração”.

Acredita-se que este processo de aceleração tenha-se intensificado a partir da Revolução Industrial36 – que se desenrolou do final do século XVIII às décadas iniciais do século XIX –, uma vez que as transformações nas estruturas sociais e psicológicas decorrentes desta contribuíram para o crescimento do repertório de saber; o incremento na divisão de funções, aumentando cada vez mais a interdependência entre os indivíduos e, por conseguinte, a interiorização de um tempo de extrema sincronização; a ampliação da capacidade de prospecção; e o avanço tecnológico, com destaque para o desenvolvimento de formas eficazes para o ensino e a aprendizagem de sínteses.

Entre as implicações da Revolução Industrial – que, em potencial, contribuíram para a aceleração do processo civilizador, no sentido da internalização cada vez mais veloz de uma

segunda natureza – destaca-se, para a problematização aqui proposta, o desenvolvimento dos

meios de comunicação de massa (HOBSBAWN, 2017). Como as estruturas sociais e psicológicas estavam passando por um momento de grandes transformações, foram sendo demandadas e criadas instâncias de coerção externa. Nesse sentido, a crescente circulação de impressos evidencia sua importância na disseminação de habitus socialmente requisitados à época37. Os periódicos, até as primeiras décadas do século XX, eram o principal meio de

35 O desenvolvimento humano tem sido possível mediante a aprendizagem com experiências anteriores (ELIAS,

1994b). Esse repertório de saber, que percorreu um longo caminho entre as gerações até alcançar seu estágio atual, foi construído a partir de tentativas de acertos e erros. Não obstante, as gerações seguintes não, necessariamente, precisam aprender todos os processos de todos os saberes já formulados pela humanidade, apenas suas sínteses, a partir das quais produzirão novos conhecimentos a serem ensinados de forma concisa aos seus descendentes. Elias, em Sobre o tempo, exemplificou essa questão: “Li, certa vez, a história de um grupo de pessoas que subia cada vez mais alto pelo interior de uma torre desconhecida e muito elevada. Os da primeira geração chegaram até o quinto andar, os da segunda, até o sétimo, os da terceira até o décimo. No correr do tempo, seus descendentes atingiram até o centésimo andar” (ELIAS, 1998, p. 108).

36 O potencial de aceleração não pressupõe efetivamente a celeridade. A velocidade de internalização de

determinado comportamento dependerá da esfera da vida a ser regulada e das características da figuração em questão.

37 Hobsbawn (2017, p. 88) exemplificou essa questão: “Um jornal britânico atingiu pela primeira vez a tiragem de

informação e contribuíram significativamente para a propagação dos conhecimentos e comportamentos socialmente aceitáveis em seu espaço de abrangência.

Embora não se apresentem como manuais, os jornais difundem modelos de civilidade, que permitem conhecer melhor aspectos sócio e psicogenéticos das formações sociais nas quais circulam. Nesse sentido, sob o ponto de vista de pesquisas que se pautam na teoria dos processos civilizadores, esse ensaio apresenta um caminho possível para a análise empírica de jornais, com destaque para as narrativas de caráter pedagógico.

O desenvolvimento de uma abordagem teórico-metodológica própria para a análise dos processos educativo-civilizadores por intermédio dos jornais está relacionado à especificidade comunicacional deste tipo de fonte, que envolve um processo de produção e apropriação que é diferente de outras formas de leitura38: por ter circulação periódica, este tipo de narrativa estabelece um contrato com o leitor39, que ativa sentidos de publicações anteriores para dar sentido às novas leituras. Assim, para atender às suas especificidades no processo de modulação de condutas, foram trabalhados: o papel dos jornais na sociedade, pelo viés da pedagogia cultural; a concepção do conteúdo do jornal como narrativa, adotando pressupostos teóricos da análise crítica da narrativa; e o processo de recepção, por meio dos indícios presentes nas próprias publicações. Depois, foram sugeridos encaminhamentos metodológicos para a contextualização do periódico e da figuração de sua circulação, a fim de produzir férteis inferências entre os dados procedentes da análise de conteúdo temática das narrativas de caráter pedagógico e as relações sociais e emocionais que lhe imputavam sentidos.

UM PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO POSSÍVEL

A leitura, como elemento civilizador de comportamentos e formador de habitus, foi abordada por Elias desde seus primeiros trabalhos. A análise de manuais de etiqueta permitiu- lhe compreender que a leitura promove “uma mudança na estrutura dos impulsos e emoções” (ELIAS, 2011, p. 127), que serve como matriz societária. Tais manuais tinham finalidades didáticas, estimulando o autocontrole e promovendo a diferenciação dos possuidores de boas maneiras. Por certo, eles não foram os únicos instrumentos de civilização, afinal, conforme

38 Segundo Chartier (1998, p. 128), os sentidos construídos dependem de “elementos que não estão presentes no

próprio artigo, mas que dependem do conjunto de textos reunidos em um mesmo número e do projeto intelectual e editorial da revista ou jornal”.

39 Contratos de leitura são “regras, estratégias e ‘políticas’ de sentidos que organizam os modos de vinculação

entre as ofertas e a recepção dos discursos midiáticos e que se formalizam nas práticas textuais, como instâncias que constituem o ponto de vínculo entre produtores e usuários” (FAUSTO NETO, 2007, p. 10).

postulou Elias (2006), esse processo não é resultado de ações isoladas. Todavia, o estudo desses documentos o permitiu conhecer aspectos do repertório civilizatório da corte e entender o papel educativo da leitura naquela figuração.

De acordo com Leão (2007), as considerações de Elias em relação à análise empírica extrapolaram o plano dos manuais de etiqueta. Segundo a autora, o trabalho do sociólogo em muito contribuiu “para uma reflexão sobre a utilização metodológica de fontes impressas que funcionam como vetores da modulação de comportamentos” (LEÃO, 2007, p. 14). Dessa forma, ainda que os jornais não tenham sido analisados por Elias, sua teoria permite pensar os processos de modulação de comportamentos e sentimentos demandados pela sociedade do tempo e do espaço de abrangência das fontes estudadas40.

Manuais, livros e jornais guardam uma característica comum, fundamental em análises de processos de desenvolvimento: são responsáveis pela difusão de modelos de civilidade. O potencial formador destas publicações foi abordado por Leão (2007, p. 61), ao trabalhar a civilização por meio da literatura:

Os livros são objetos preciosos no largo movimento de formação e interiorização do mundo, e a leitura é atividade bastante eficaz para a assimilação. Desse modo, os profissionais que participam da produção dos livros – a exemplo dos autores e dos editores – são peças-chave no processo de civilização. Quem difunde livros difunde ideias e valores, decide o que é permitido e o que é proibido existir, intervém na íntima estrutura das emoções formando sensibilidades.

De maneira análoga aos livros, os jornais não são isentos de posicionamentos. Seu conteúdo está repleto da subjetividade daqueles que nele escrevem, enviesados pela própria linha editorial do periódico. Ao promoverem a circulação de determinadas formas de ver e pensar a sociedade, contribuem para a própria estruturação das relações sociais e emocionais de sua área de abrangência.

Para levar a cabo a publicação e manutenção de um jornal, independentemente de sua periodicidade, é necessário um conjunto de capitais (BOURDIEU, 2012). Na lógica do sistema econômico vigente, apenas as classes dominantes possuem recursos para tal – pensando aqui em um periódico de grande circulação, e não em iniciativas mais artesanais de publicação. Nesse sentido, entende-se que os conteúdos veiculados nestes jornais são representantes datados das demandas emocionais e comportamentais dos grupos dominantes nas relações de poder. Assim, é possível afirmar que o conteúdo publicado no jornal representa as intenções

40 Elias, em A sociedade de corte, afirmou que seu esforço de pesquisa foi no sentido de elaborar modelos

sociológicos. Sobre o conjunto de procedimentos teóricos e metodológicos por ele desenvolvido, ponderou: “Eles não têm a pretensão de ser os modelos definitivos, a última palavra, absoluta, sobre os processos e figurações pesquisados. [...] se trata antes de um começo de que um fim. São modelos que podem continuar sendo elaborados” (ELIAS, 2001a, p. 65).

civilizatórias de um grupo específico, intenções estas que – assim como na sociedade de corte analisada por Elias – seguem em processo de diferenciação, visando a distinção.

Do ponto de vista da análise empírica, os jornais possibilitam a observação de variados aspectos da sociedade, uma vez que não são apenas transmissores de conteúdo, mas formadores da própria realidade: “o jornalismo é a narrativa hegemônica sobre todas as outras na construção da verdade imediata e do senso comum” (MOTTA, 2013, p. 103). Assim, as fontes jornalísticas permitem conhecer aspectos sócio e psicogenéticos das figurações de sua abrangência, bem como as intenções subjacentes à modulação das condutas, por meio da análise da página de esportes, do correio sentimental, das crônicas sobre a cidade, entre outras temáticas narradas visando a modulação dos afetos.

Nesse sentido, levando em consideração as características do campo e dos habitus correlatos de jornalistas e leitores, a análise deste tipo de fonte requer escolhas teóricas importantes, que irão balizar os índices para a análise de seu conteúdo. Sendo assim, é fundamental definir a interpretação teórica em relação ao papel dos jornais, os conteúdos por eles veiculados e o processo de recepção, uma vez que tais escolhas contribuem para a operacionalização da análise. Nesse sentido, a seguir, serão apresentadas algumas sugestões teórico-metodológicas para a análise empírica de jornais, que poderão servir como inspiração para os procedimentos adotados em estudos futuros sobre diferentes aspectos de processos civilizadores a partir de fontes jornalísticas.

Na interseção entre fontes periódicas e processo civilizador, faz-se necessário conceber o jornal como um espaço pedagógico, que ensina e estimula comportamentos. Esta concepção justifica-se teoricamente a partir dos referenciais das pedagogias culturais. Assim como outras esferas do saber, que acompanham o desenvolvimento humano e modificam-se conforme suas necessidades, a Pedagogia, a partir dos anos de 1950 e 1960, ampliou o seu escopo para além de práticas escolares institucionalizadas. Dessa necessidade de atualização às novas demandas contemporâneas surgiu o conceito de pedagogias culturais, como “uma ferramenta teórica acionada para discutir a relação entre artefatos da cultura e processos educativos” (ANDRADE; COSTA, 2015, p. 49). Nesta perspectiva, entende-se que as relações de ensino e aprendizagem não estão restritas apenas aos espaços formais de educação; são presentes nas mais diversas esferas da vida.

Entre os artefatos culturais que contribuem para a disseminação de saberes socialmente legitimados, Andrade e Costa (2015, p. 52) destacaram a articulação entre Pedagogia e mídia, dada a forte influência dos meios na formação dos sujeitos. Ao adotar um tom pedagógico, o conteúdo midiático ensina, direciona comportamentos e sentimentos, mediando o “processo de

constituição e de composição de subjetividades e identidades” (PRATES, 2008, p. 111), contribuindo para transformações nas estruturas psíquicas e sociais41.

Mas não basta apenas sinalizar o papel normativo que os periódicos exercem nas figurações em que circulam, é preciso que o analista defina a forma como concebe o conteúdo publicado no jornal, tendo sempre em vista seu potencial pedagógico. Nesse sentido, recomenda-se perspectivar os conteúdos jornalísticos, de diferentes formatos (nota, reportagem, matéria, notícia etc.), sob o ponto de vista das narrativas, visto que estas não são apenas representações; “são estruturas que preenchem de sentido a experiência e instituem significação à vida humana” (MOTTA, 2013, p. 18) – reforçando o caráter de “manual” dos jornais. Segundo Motta (2013, p. 18),

Quando narramos algo, estamos nos produzindo e nos constituindo, construindo nossa moral, nossas leis, nossos costumes, nossos valores morais e políticos, nossas crenças e religiões, nossos mitos pessoais e coletivos, nossas instituições. Estamos dando sentido à vida. Aquilo que incluímos ou excluímos de nossas narrações depende da imagem moral que queremos construir e repassar.

É a compreensão de que o conteúdo das narrativas baliza existências – e, portanto, possuem a capacidade de direcionar comportamentos – que possibilita a articulação entre o caráter pedagógico dos jornais e a análise de processos civilizadores. Adotando essa perspectiva, o analista afirma estar levando em consideração as intencionalidades inerentes ao ato de narrar e a interferência das relações sociais no processo de criação e recepção. Isso porque as narrativas têm a capacidade de forjar realidades, não de “maneira natural e uníssona, mas através de contradições, confrontos, enfrentamentos sociais e simbólicos” (MOTTA, 2013, p. 34), tensões comuns em todo processo civilizador. As publicações jornalísticas, enquanto narrativas, vão tornando “natural” o mundo, acostumando os leitores a uma interpretação das relações de maneira específica: na direção de seu enunciador42.

Admite-se o questionamento sobre uma suposta ingenuidade do emissor ao narrar. Todavia, “A organização da narrativa do discurso, ainda que espontânea e intuitiva, não é aleatória: realiza-se em contextos pragmáticos e políticos e produz certos efeitos (consciente ou inconscientemente desejados)” (MOTTA, 2013, 82). Se “toda escrita inscreve nos textos convenções sociais e literárias que permitem uma espécie de pré-compreensão” (BARBOSA,

41 Segundo Campos (2014), a influência da imprensa no ordenamento de espaços e corpos ocorre desde as

primeiras décadas do século XX – e mesmo antes. Esse discurso jornalístico que educa não era/é composto apenas pela narrativa em si, mas por todos os elementos que compunham/compõem a experiência da leitura.

42 As narrativas jornalísticas fomentam o desejo individual de civilização – que também pode ser estimulado por

pressões externas, como a estigmatização daqueles que não se encaixam nos padrões socialmente demandados (ELIAS; SCOSTON, 2000). A vontade de civilizar-se está atrelada, principalmente, à aspiração por posições dominantes nas relações de poder. Essa ambição, construída com o auxílio das próprias narrativas, possivelmente contribuiu para a interpretação dos conteúdos, na maioria das vezes, na direção de seu enunciador.

2007, p. 56), o conteúdo das narrativas sempre se pauta em assuntos que, de maneira mais ou menos direta, são presentes na vida das pessoas. De acordo como determinado tema é abordado pelo jornal – estando o emissor consciente ou não dos efeitos de sentido presentes em sua narrativa –, pode contribuir para a alteração de comportamentos, que de outra forma poderiam levar anos para serem modificados.

Os sentidos indicados pelos narradores são reificados pelas relações de poder da área de abrangência do jornal. Estas, por sua vez, sob o ponto de vista da interpretação ancorada nas relações sociais e emocionais da formação social em questão, interferem no momento da leitura. Existe um conjunto de condicionamentos que influencia a apreciação do texto e direciona – auxiliados pelos próprios princípios que engendram o fazer jornalístico – o processo de interpretação do conteúdo (CHARTIER, 1998). De acordo com Chartier (1998), as realidades históricas por trás das palavras interferem na apropriação, invenção e produção de significados por parte dos leitores. Em última instância, a interpretação final das narrativas cabe totalmente