• Nenhum resultado encontrado

Mapa 46 – Ortofoto da área contemplada pelo projeto de recuperação do manguezal

2 O HOMEM E O MEIO AMBIENTE

2.3 AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E SUA IMPORTÂNCIA

O Código Florestal Brasileiro (Lei nº 4.771 de 15 de setembro de 1965) define as áreas de preservação permanente e estabelece parâmetros relativos à sua proteção. O documento original sofreu muitas alterações ao longo de quase 50 anos de vigência, porém o que se entende por área de preservação permanente permanece inalterado, conforme definido no seu § 2o:

Área protegida [...] coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (BRASIL, 1965, p. 1).

De acordo com o art. 2º do Código Florestal Brasileiro, consideram-se de preservação permanente as formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:

1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;

2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados ‘olhos d'água’,

qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura;

d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive;

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do

relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação (BRASIL, 1965, p. 2).

O Código Florestal, na condição de Lei Federal, presume respeito aos limites das APPs, em seu parágrafo único:

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas e compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo (BRASIL, 1965, p. 3).

Portanto, o órgão legislador municipal não tem o poder de alterar os limites estabelecidos no art. 2º do referido Código, salvo por ampliar o limite de proteção, a fim de garantir a qualidade ambiental, por meio de ordenamento do crescimento urbano, que pressupõe planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo.

Nos últimos anos, uma mudança no conteúdo disposto pelo Código Florestal Brasileiro vem sendo organizada pela Câmara dos Deputados. Em 2009, o deputado federal Aldo Rabello se responsabilizou por relatar o projeto de lei. A alteração em questão levanta a discussão em diversas frentes de pensamento: sociedade, Organizações Não Governamentais (ONGs), latifundiários, pequenos proprietários rurais, urbanistas e o próprio governo. É importante salientar que essas alterações

se encontram em processo de constante revisão, e os índices ou mesmo o próprio conteúdo das propostas são passíveis de alterações.

Dentre as enumeras alterações previstas para o documento, uma aqui se destaca por ter influência direta sobre as APPs e as ocupações urbanas. O Código Florestal, Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, determina algumas distâncias de proteção nas margens dos corpos d’água, que variam de acordo com as suas larguras, para a manutenção das matas ciliares. A alteração do novo código permite a redução dessa faixa marginal de 30m para 15m nos rios com até 10m de largura. A base de levantamento das faixas marginais em geral também será alterada. Atualmente a faixa protegida para matas ciliares é medida a partir do maior nível do curso d’água, ou seja, épocas de cheias. Porém, a alteração prevê que a faixa protegida seja medida a partir do menor nível do leito, em períodos de seca. Assim, as áreas ocupadas em longos períodos de seca ficam sujeitas a inundações, vulneráveis à movimentação natural do curso dos rios (SOS FLORESTAS, acesso em 10 out 2011).

Essa e outras alterações vêm gerando inúmeros embates entre ambientalistas e ruralistas, pois, segundo ambientalistas, as alterações previstas beneficiam somente os agricultores e latifundiários, de forma que a preservação do meio ambiente só tem a perder com a aplicação do que vem sendo proposto.

Como o projeto de lei que altera o Código Florestal ainda se encontra em processo de modificação para uma possível aprovação, este estudo irá adotar as medidas, delimitações e índices do Código Florestal vigente no momento, instituído em 15 de setembro de 1965, a Lei Federal nº 4.771.

É importante ressaltar que esta pesquisa está focada na gestão ambiental do solo urbano e, portanto, deverá se ater às áreas de preservação presentes no interior das cidades, e não no meio rural. Deve-se ter clara a definição e diferenciação entre as APPs e as UCs, estas, definidas pela Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Unidade de conservação é o espaço territorial com características ambientais específicas e limites definidos que são estabelecidos por lei como áreas que devem ser

protegidas. Essas unidades são divididas em duas categorias: o grupo das unidades de proteção integral e o grupo das unidades de uso sustentável (BRASIL, 2000).

Esta pesquisa tem como enfoque principal as APPs localizadas em áreas urbanas, já que as UCs são espaços territoriais protegidos, delimitados por lei, e que contam com um plano de manejo para auxiliar sua gestão. Cada tipo de UC possui características muito distintas e o plano de manejo deve se encarregar de ditar as normas vigentes no seu interior.

Segundo Sevilha (2006), no meio urbano, as APPs têm diversas funções: amenizam temperaturas (controle climático); reduzem os ruídos e os níveis de gás carbônico (melhoria da qualidade do ar); diminuem distúrbios e promovem equilíbrio do meio ambiente (proteção contra enchentes e secas); protegem as bacias hidrográficas para o abastecimento de águas limpas (controle e suprimento de águas); proporcionam abrigo e refúgio para a fauna (controle biológico); promovem a melhoria da saúde mental e física da população que as frequenta (função recreacional e cultural); e contribuem para o melhoramento estético da paisagem. Portanto, não se faz necessária a repetição aqui sobre a fundamental importância dessas APPs em função do seu valor social, econômico, cultural, paisagístico e ambiental. Conforme já foi devidamente ressaltado, a sua manutenção no interior das cidades encontra-se seriamente ameaçada pelo crescimento urbano e pelas dinâmicas resultantes do aumento da população atrelada ao mercado imobiliário e, sobretudo, pela primazia do desenvolvimento econômico sobre o ambiental e o social, conforme veremos a seguir.

3 O MERCADO IMOBILIÁRIO E A OCUPAÇÃO EM ÁREAS DE