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Programas de Desenvolvimento e as Ameaças à Conservação da Sociobiodiversidade

4.2. Programas de desenvolvimento para região e potenciais impactos

4.2.1.4. As ações do PRODETUR na região e seus impactos

Uma das exigências do BID para financiar parte dos recursos do PRODETUR foi a elaboração de um Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável – PDITS, realizado com a participação de atores locais (representantes do governo e da sociedade civil). O objetivo do PDITS foi elaborar um planejamento estratégico da atividade turística na região.

Vila de Morro de São Paulo

Povoado de Gamboa Pista de Pouso Atracadouro Forte Falésia Corais

Estuário de Rio Una

Costão Rochoso

Um dos produtos PDITS foi a relação dos atrativos efetivos e potenciais da região. Os atrativos foram organizados conforme o tipo: natural, histórico-cultural, manifestações culturais e folclóricas, técnico-científico e acontecimentos programados.

Os principais atrativos naturais listados estão relacionados com as praias da ilha de Tinharé, Boipeba e Península de Maraú, além da praia do Pratigi e as ilhas da Baía de Camamu (como a ilha do Sapinho e Pedra Furada). A vila velha de Boipeba e o povoado do Jatimane (quilombo) estão na lista das atrações histórico-culturais.

As manifestações culturais são o folclore, a culinária e o artesanato da região (muitas das quais com grande influência da cultura negra como o Zambiapunga). Entretanto foi inserido nessa relações a Brodway, um bairro com bares, restaurantes e boates que funcionam à noite em Morro de São Paulo. Na verdade, Brodway é uma cultura “importada”, que chegou com o crescimento do turismo na localidade, que não tem relação com o tradicional local, mas que já vem sendo identificada como uma manifestação cultural local.

Com relação aos acontecimentos programados que servem de atrativo, foram incluídos desde o Reveillon e a ressaca do carnaval, ambos em Morro de São Paulo, até as festividades religiosas relacionadas com a atividade pesqueira ou ao santo padroeiro da cidade.

A análise dos atrativos efetivos relacionados mostra que 71% corresponde a recursos da sociobiodiversidade (naturais e culturais), conforme mostra o gráfico da Figura 29.

Figura 29: Atrativos Efetivos da Costa do Dendê - PDITS

47% 24% 14% 14% 1% Natural

Manifestações Culturais e Foclóricas Acontecimentos Programados Histórico-cultural Técnico-científico

Os atrativos ainda não explorados são listados como potenciais. Da mesma forma que os efetivos, os atrativos potenciais da região correspondem à sociobiodiversidade local (75%), conforme é apresentado no gráfico da Figura 30.

Figura 30: Atrativos Potenciais da Costa do Dendê - PDITS

52% 23% 6% 13% 6% Natural

Manifestações Culturais e Foclóricas

Acontecimentos Programados

Histórico-cultural

Técnico-científico

Fonte: Adaptado de SETUR, 2003

Numa outra etapa de elaboração do PDITS foram realizadas oficinas participativas para identificação dos pontos fortes e fracos da região com relação à atividade turística. Deste estudo, destaca-se:

ƒ a percepção do turismo como uma ferramenta de crescente dinamismo econômico para a região (já é uma atividade econômica em Cairu, Camamu e Maraú);

ƒ a importância dada às raízes culturais ainda preservadas da região;

ƒ a identificação da desigualdade social e da miséria perto dos atrativo turísticos como algo negativo para o turismo;

ƒ as avaliação das condições precárias dos terminais hidroviários como um dos maiores entraves para o turismo;

ƒ a percepção da perda da identidade cultural, própria de cada localidade, como uma possível conseqüência do desenvolvimento do turismo;

ƒ a percepção do comprometimento ambiental dos manguezais, elo vital da cadeia alimentar marítima, por diversos agressores relacionados ao turismo.

Fica evidente, então, o grande impasse à implantação de um modelo de turismo ostensivo para a região. A cultura e as belezas naturais, que são os principais atrativos, estão ameaçadas pelo próprio turismo.

Conforme pode ser observado no PDITS, dentre as estratégias para o turismo na região, definiu-se que é necessário aumentar a competitividade da Zona Turística da Costa do Dendê e para tanto devem ser valorizados os seus principais diferenciais: o meio ambiente conservado e de características cênicas diferenciais (diferentes ecossistemas); a formação geográfica da região (baía de Camamu); a dificuldade de acesso (transporte por hidrovias, o que propicia o turismo náutico); as comunidades tradicionais; a presença de Unidades de Conservação – diversas APAs; os produtos regionais autênticos (dendê, cravo, piaçava); os estaleiros e a gastronomia.

Segundo o PDITS, esses diferenciais possibilitam a ênfase em quatro tipos de turismo: ecoturismo, o turismo de aventura, o turismo náutico e o histórico-cultural.

Mais uma vez, a prerrogativa é de que as comunidades são atrativos turísticos: “verifica-se pequenas e antigas concentrações antrópicas em diversos lugares. Existência de povoados quilombolas, como Boitaraca e Jatimane”(SETUR, 2003). Esse interesse em transformar o modo de vida das populações põe em risco a estrutura social que as identifica como tradicionais, descaracterizando-as. Sem dúvida, as peculiaridades da paisagem da Costa do Dendê fazem dela um atrativo sui generis. Mas devem-se avaliar os riscos de um modelo de turismo que comprovadamente transforma a paisagem e destrói culturas.

A perda das características culturais de algumas dessas comunidades já pode ser percebida, como afirma Oliveira (2005) sobre a Ilha dos Sapinhos: “o aumento do fluxo turístico vem favorecendo também um maior contato dos turistas com os habitantes da Ilha; e alguns impactos culturais negativos já são efetivos, como as mudanças no relacionamento entre as pessoas, assim como o jeito de vestir dos adolescentes e a insegurança local”.

A implantação do PRODETUR I sofreu muitas críticas por resumir a promoção do turismo à melhoria de infra-estrutura local (estradas, atracadouros e aeroportos). O PDITS foi elaborado para auxiliar as ações do PRODETUR II e corrigir distorções. O objetivo geral do PRODETUR II é promoção da melhoria da qualidade de vida da população residente nos pólos turísticos situados nos estados participantes do programa. As ações são divididas em três componentes, conforme pode ser visto no Quadro 7.

Quadro 7: Ações previstas para o PRODETUR II, por município e componente

Município Infra-estrutura Outra

Prioridade A - Componente 1

Apoio à Instalação de um posto de informação e treinamento do receptivo

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