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Apesar das atividades não identificadas não terem sido estabelecidas como categoria, algumas considerações a respeito delas faz-se necessário para que seja possível entender o processo de mapeamento e a organização em categorias dos dados da pesquisa.

As atividades de cópia e leitura que não puderam ser identificadas em sua origem correspondem a 209 atividades. No entanto, muitas delas estão relacionadas a texto referentes a alguma data comemorativa: dia das mães e dos pais, Independência do Brasil, Revolução Farroupilha, dias Santos, etc. e apresentam características de terem sido elaborados pela própria professora, totalizando cinquenta textos. Apresento alguns exemplos a seguir:

Dia do gaúcho. Dia 20 de setembro é o Dia do gaúcho.

Neste dia os gaúchos comemoram a grande data com muita festa, durante todo o dia 20 de setembro.

Os pais devem contribuir na escola.

Quando a professora pede alguma contribuição aos pais, eles devem ajudar. Pois a união faz a força.

Figura 36 – Exemplo de texto não identificado na sua origem: Caderno de planejamento 1984. Fonte: Cadernos de Planejamento - acervo “Diários de Classe/Cadernos Planejamento”

HISALES (2014).

A maior recorrência foi no ano de 1984, com vinte e dois textos. Os demais anos, mantém uma média de dois textos por ano, com exceção de 1983, 1992, 1996 e 1998, que não apresentam nenhum texto desse tipo. Este fato poderia estar relacionado ao período de registro de cada um dos cadernos de planejamento, no entanto, apenas o ano de 1983 tem seus registros finalizados no início do mês de julho (08/07); os demais cadernos possuem registros finalizados entre setembro e dezembro, perpassando diferentes datas comemorativas, mas que não foram trabalhadas ou registradas nos cadernos de planejamento, demonstrando assim, a escolha da professora por trabalhar outros tipos de textos.

Desconsiderando esse cinquenta textos, avalio que os outros 159 textos não localizados em livros pesquisados podem ter sido retirados de algum outro livro didático, mas que por limitações da pesquisa não puderam ser identificados. Essa limitação pode estar relacionada: i) a algum título utilizado pela professora e não identificado; ii) a título identificado, cujos textos possam estar presentes em alguma outra edição reformulada não disponível no acervo do grupo de pesquisa HISALES; iii) podem ser textos retirados de livros de outras série, segunda série, por exemplo; iv) ou foram simplesmente inventados pela professora, considerando sua experiência e prática de uso de textos curtos e com repetição de palavras.

No entanto, é preciso considerar as reflexões de Batista (1999); Choppin (2002, 2004); Galvão e Batista (2003), quando indicam que a pesquisa com livros didáticos envolve grandes dificuldades, e a principal delas é ter acesso direto as obras. Todavia, Choppin (2002, p. 9), assinala que “por não poder localizar fisicamente exemplares, podemos encontrar traços indiretos das produções escolares”. Assim, sem desconsiderar os limites da análise dos livros didáticos, fiz um esforço em localizar referências às obras utilizadas pela professora em questão em outros cadernos de planejamento, pois, ao averiguar os outros trinta e seis

cadernos de planejamento, elaborados pela professora A., mas que correspondem a outras séries (2ª a 5ª série), na busca de informações referente ao processo de fiscalização dos cadernos de planejamento, percebi que alguns (pseudo) textos, da segunda série eram os mesmos utilizados na primeira série e que ainda não haviam sido identificados.

Assim, realizei o levantamento de todos os títulos citados pela professora nos cadernos da segunda série também, chegando aos seguintes títulos: Tempo

Presente, de autoria de Iara Thofehrn Coelho & Nelly Cunha; Nossa Terra Nossa Gente, de autoria de Cecy Cordeiro Thofehrn & Nelly Cunha; Tapete Verde, de

autoria de Nelly Cunha & Teresa Iara Palmini Fabretti; Alegria de Saber de autoria de Luciana Maria M. Passos e Ciranda do Saber de autoria de Deborah Neves.

Destes títulos, não há disponível no acervo do HISALES exemplares dos livros Ciranda do Saber e Alegria de Saber para segunda série. Com a indicação desses dois títulos realizei busca em lojas virtuais na tentativa de adquirir os produtos, mas consegui localizar apenas o título Ciranda do Saber para primeira série, porém, não continha nenhum texto idêntico aos que estavam reproduzidos nos planejamentos da professora.

Os anos de 1988 e 1989 correspondem ao período em que as atividades de cópia e leitura não localizadas nos livros pesquisados se sobressaem, visto que das quarenta e oito atividades levantadas no ano de 1988 trinta e nove (39) não foram identificadas, e das setenta do ano de 1989 sessenta e três (63) não foram identificadas.

Esse dado ilustra uma ruptura de uso das cartilhas que vinham sendo utilizadas pela professora até o momento, evidenciando que algum outro suporte passou a ser utilizado como apoio na elaboração dos planos, mas que por motivos alheio a pesquisa permaneceu apenas por esses dois anos, haja visto que nos demais anos as atividades que não puderam ser identificadas é relativamente pequena em comparação a esses dois anos. Também é possível afirmar que há uma parte comum entre os cadernos de planejamento e os textos trabalhados nesses dois anos, pois o que se observa é que partes dessas atividades estão presentes nos cadernos dos dois anos, ou seja, das quarenta e oito atividades levantadas no ano de 1988, dezesseis se repetem no ano de 1989.

Todavia essa não é uma prática específica desses dois anos, como será demonstrado adiante.

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Figura 37 – Exemplo de texto não localizado: Caderno Planejamento 1988.

Figura 38 – Exemplo de texto não localizado: Caderno Planejamento 1992.

Figura 39 – Exemplo de texto não localizado: Caderno Planejamento 1989 Fonte: Cadernos de Planejamento - acervo “Diários de Classe/Cadernos Planejamento”

HISALES (2014).

As figuras acima exemplificam modelos de textos que não foram localizados nos livros pesquisados, talvez criados pela professora ou ainda retirados de algum livro não identificado e destinado ao ensino inicial da leitura e da escrita, que possuía como foco o trabalho com as sílabas. Como se pode observar, os textos apresentam uma estrutura que pode ser caracterizada como textos “acartilhados ou pseudotextos”, no qual buscam enfatizar uma determinada sílaba; no caso do primeiro exemplo as sílabas da letra “p”, no segundo exemplo as sílabas da letra “r”, e no terceiro exemplo as sílabas da letra “s”.

Assim, por um lado, podemos constatar que seja nas atividades não identificadas, seja nas atividades adaptadas pela professora, à estrutura dos textos mantém o modelo acartilhado, com ênfase na memorização das sílabas. Por outro, há uma tentativa da professora em romper com esse modelo, - mesmo que de maneira inconsciente - porém, esse rompimento se limita a um contexto bem específico, o trabalho com datas comemorativas.

3.2 Entre rupturas e permanências: seguindo os rastros dos livros para o

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