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4 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

4.4 As Atividades Produtivas e a Forma de Atuação dos Pequenos

Caracterizar as atividades e a forma de atuação desses agricultores se torna essencial para descrever os processos produtivos e a articulação entre eles. Atualmente o quantitativo de membros ultrapassa 320 cooperados, todos inseridos na lógica do Comércio Justo, dos quais apenas 20% são produtores orgânicos. Entre os dezessete entrevistados, oito deles informaram que possuíam outras culturas além do café.

Entre os produtores orgânicos (quatro entrevistados), embora o café seja a fonte principal de renda, eles produzem, também, frutas e grãos para comercializar no mercado interno. Considerando que o certificado de produtos orgânicos pode ser estendido para aquele talhão de terra auditado, independente de ser cultura de café ou não, como também pode ser uma cultura mista, os produtos comercializados no mercado interno, também, recebem o reconhecimento como produtos orgânicos.

Embora o produtor consiga o certificado de produtor orgânico, independente da certificação Fair Trade, em todas as entrevistas, principalmente, aquelas realizadas com o quadro administrativo da COOPFAM, foi revelado que o mercado não endossa e absorve a produção daqueles que não estiverem, também, inseridos na lógica do comércio justo. Nas palavras do entrevistado X7 perdeu-se a autonomia produtiva, principalmente, por envolver

dinheiro e o processo para ser produtor orgânico ser demorado e despender, em média, dois anos como foi verificado com os técnicos posteriormente “[...] isso envolve tempo... envolve... dinheiro... eh... eu tenho que ficar adequando as coisas (de fora de casa) do jeito que a certificadora quer e eu perdi autonomia.”

Todos os produtores orgânicos citaram que não concentravam sua produção apenas no café e produziam outros produtos. Em sua maioria citaram a produção de frutas, informa X9 que produz “[...] banana, tem feijão, tem é... tem

mamão também”, assim como o entrevistado X2 que revela produzir mamão,

limão e tem o interesse em expandir com outras frutas cítricas, em especial maracujá.

Esses produtos e frutas destinados à comercialização são vendidos em feiras locais na própria cidade ou em cidades vizinhas com preço diferenciado, além disso, esses agricultores comercializam quitandas produzidas com insumos orgânicos, pois o dinheiro fruto da produção de café não é imediato e constante como revela o entrevistado X6,

Aqui a gente mexe, tem uma feira orgânica em Pouso Alegre, que o meu sogro mexe com horta e a minha esposa vai com ele na feira. Ai eu faço colheita de banana, mamão e café e levo pra lá e ela faz quitanda o que ajuda no orçamento. Porque o café é demorado, até que colhe ele, num ano colhe mais no ano menos, até que produz e colhe e recebe o dinheiro da cooperativa é longo... enquanto a feira toda semana tem um dinheirinho pra ir ajudando. Lá em Pouso Alegre tem a feira na praça João Pinheiro todo sábado, e quarta na praça do CEASA (ENTREVISTADO X6)

Entre os produtores convencionais, ou seja, aqueles que estão inseridos na lógica do Fair Trade, mas utilizam produtos químicos autorizados pela

International Fair Trade Labelling Organization – FLO para combater pragas

nas lavouras, percebeu-se que o café não é a única fonte de renda. Vale considerar que, no momento que as entrevistas foram realizadas o mercado Fair

Trade não estava absorvendo a produção em função da crise no mercado

internacional de café. O entrevistado X13 revelou que o café não era a principal

fonte de renda, principalmente, considerando as oscilações no mercado que, inevitavelmente, atingem os agricultores Fair Trade ainda que com menos impacto.

Foi perguntado para esses agricultores convencionais sobre o interesse em adequar a lavoura para a lógica de produção orgânica, alguns foram categóricos e esclareceram que o processo produtivo orgânico não retornava lucros muito mais altos que o processo produtivo convencional e as exigências eram superiores aos valores pagos pelos produtos orgânicos. As considerações sobre a pergunta seguiram no seguinte sentido,

No momento não, pelo que eu vejo que os que são orgânicos ainda ta faltando alguma coisa pra eles, no meu ponto de vista. Eles tem um mercado, segundo eles estão orientando ai, tem mais oportunidade de mercado que ta precisando do café orgânico mas na hora, o preço, pela dificuldade que é, pelo que eu vejo, ainda não compensa (ENTREVISTADO X14)

O entrevistado X10 assevera sobre interesse de produzir orgânico,

[...] por enquanto, não tenho não de produzir orgânico... é porque eles exigem muita qualidade, né? e, mais não paga, por... por essa qualidade, né? não pagam por essa qualidade que eles exige... porque eles quer café livre de tudo, mas eles paga cem real, cento e cinquenta a mais do que o outro.. o outro é fácil, né? Então num compensa.

Nas palavras dos entrevistados, percebe-se que as vantagens do sistema orgânico de produção ainda não conseguem remunerar adequadamente o processo produtivo dos agricultores. Quando questionados sobre a remuneração dos produtos o entrevistado X14 esclarece que

[...] pode até pagar, os custos só que eu produzir um café orgânico e um convencional, no meu ponto de vista, tem que valer quase três vezes mais pela dificuldade que é. Então eu não tenho interesse por esse motivo. Se um dia vir a mudar, pagar o que compensa, é claro que seria interessante mudar. (ENTREVISTADO X14)

Percebe-se que nem todos os produtores, embora sejam incentivados a aderir à produção de orgânicos, acreditam que seja financeiramente compensável e viável. Alguns voltaram para o processo produtivo convencional como o entrevistado X8,

Produzi café orgânico uns oito ou nove anos, ai deixei de produzir, aumentou um pouquinho, (tem que seguir os critérios) o critério que o agrotóxico não é permitido, ai aumentou um pouquinho e fui até que estava mergulhando no mercado ai eu fiz o curso, tava ficando na minha avaliação um pouco cara o preço da manutenção, o preço não tava sustentando. Ai a outra no meu caso o moço comprou um pedaço de terra e aumentou um pouquinho e o manejo era mais fácil e passei pra convencional. Eu produzi café orgânico de oito pra nove anos.

Outro produtor, o entrevistado X6, informou em visita feita em sua

propriedade que, em função de testar formas de manejo de solo e utilização de defensores naturais, perdeu a lavoura inteira de café e prejudicou-as também e comprometeu todas as fontes de renda do agricultor.

O entrevistado X7 considerou que a produção orgânica é mais complexa

e teórica:

No discurso teórico.. porque no papel cê não vai errar... agora, difícil é errar na terra, . se ocê errar no papel, cê pode corrigir... agora ocê errar na terra cê perde um ano, dois ano, numa lavoura... e o produtor perder um ano na lavoura... ele perde o equilíbrio do controle... (éh)... da família... e quando cê envolve, por exemplo... um cara que tem um salário... uma profissão... um salário com agricultura... ele tem uma regra pra sobreviver, esse valor ele produziu, mai não vai ter da onde tirar... agora, o produtor, tem produtor familiar que não, as lavouras não produziram, não deu certo, ele tá arrebentado.

Os produtores que têm apenas uma fonte de renda ficam reféns das novas técnicas de manejo orgânico e se não tiverem alternativas produtivas ficam sem outra possibilidade de garantir a sobrevivência familiar somente com o trabalho na agricultura. Isso pode ser apontado como outro motivo que leva esses produtores a diversificar a lavoura.

Nesse sentido, é possível considerar que as atividades produtivas entre esses atores estão relacionadas à dimensão do processo produtivo e objetivo perseguido por cada um deles. Como também as características do processo produtivo, em outras palavras, se são agricultores convencionais ou orgânicos e a viabilidade econômica e as facilidades de mercado para permanecer em um sistema ou outro.

Sobre os aspectos da Inovação Social, esses aspectos serão tratados ao discutir os principais impactos do Fair Trade na vida dos membros da COOPFAM, ou seja, uma análise comparativa sobre a ótica desses atores.

4.5 Relacionamentos Interorganizacionais: cooperação, competição,