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CAPÍTULO II Organização Parlamentar na Assembleia Legislativa do

3 Assembléia Legislativa do Espírito Santo: atribuições, relação com o

3.1 As Atribuições Legislativas Individuais no Regimento Interno da Ales

As decisões coletivas tomadas em uma arena parlamentar dependem da atuação dos atores políticos pertencentes a essa arena. Esses atores podem atuar tanto em conjunto (por meio de órgãos coletivizados, como partidos ou comissões, por exemplo), como podem ser identificados individualmente, considerando a utilização de recursos individuais concedidos aos parlamentares. Aqui, leia-se recurso de atuação individual do parlamentar em contraposição à utilização de recursos parlamentares por meio de órgãos coletivizados.

Logo, o parlamentar pode ser analisado como ator individual no contexto da arena legislativa. Dependendo das normas regimentais acerca das atribuições e dos direitos dos legisladores individuais, na coordenação da ação coletiva em plenário, o parlamentar pode, individualmente, ter maior ou menor “peso” no processo decisório. Araújo (2009) identifica que, entre outras situações, o parlamentar atua individualmente e influencia o processo decisório quando propõe, quando não propõe e quando faz com que seus colegas de plenário também apresentem ou não proposições legislativas. Além do mais, o poder individual pode ser demonstrado quando o parlamentar emenda, modifica ou aperfeiçoa um projeto de lei, dando ao projeto a “cara” do Legislativo.

A influência dos parlamentares na tomada de decisões depende também da posição do parlamentar na hierarquia de poder dentro do legislativo. Seu poder é maior do que o do parlamentar mediano, quando, por exemplo, ocupa a presidência, a vice- presidência da Casa, é líder ou vice-líder de partido ou de governo, ou ocupa a presidência de uma comissão relevante. Cabe ressaltar que a influência pode depender da conjuntura política do momento, pois os interesses maiores em jogo podem ser mais importantes que os interesses individuais do parlamentar, limitando suas estratégias e influências, por mais “peso” que ele tenha no processo decisório.

Paralelamente aos instrumentos de ação individual, a complexidade organizacional de uma arena legislativa requer a necessidade de utilização de instrumentos de ação coletiva (comissões, partidos), no intuito de reduzir os custos da transação, visto que a organização e a divisão de atribuições entre os atores são necessárias à coordenação dos trabalhos. Mesmo assim, com a devida constatação de que a criação de órgãos intralegislativos com capacidade decisória é necessária à consecução dos trabalhos legislativos, “[...] muito do poder da legislatura permanece com os legisladores individuais e pode se manifestar nas suas escolhas particulares e nas decisões do plenário” (ARAÚJO, 2009, p. 65).

O Quadro II traz um rol de direitos legislativos individuais que podem ser mobilizados pelos parlamentares da ALES, independentemente do apoio das bancadas ou das comissões de que os parlamentares participem. Ressalta-se que poderes individuais são os que podem ser movimentados individualmente, que não necessitam do aparato de um órgão coletivizado, como, por exemplo, partidos e comissões e “[...] também os direitos que, exigindo subscrição coletiva, dispensam o envolvimento formal de colegiados reconhecidos pelo regimento, tais como partidos e comissões” (ARAÚJO, 2009, p. 68).

Quadro II -Direitos legislativos individuais, que podem ser mobilizados pelos

parlamentares independentemente do apoio das bancadas ou comissões de que participem

Atribuições dos deputados estaduais do Espírito Santo Previsto no

Regimento

Apresentar projetos de lei Sim Emendar projetos de lei, inclusive os do Executivo Sim Relatar matérias (nas comissões ou em plenário, quando indicado) Sim Requerer tramitação em regime de prioridade Sim Requerer tramitação urgente; retirar requerimento (se autor) Sim Fazer apartes; fazer uso da palavra durante a discussão de qualquer

proposição ou antes depois da ordem do dia. Sim Recorrer de decisão dos presidentes das comissões e do presidente da Casa Sim Pedir vistas de matérias em discussão Sim Requerer audiência pública, requerer informações e/ou comparecimento de

autoridades. Sim

Participar como titular de comissões permanentes Sim Recorrer de decisão terminativa/conclusiva de comissão, para levar a decisão

ao plenário. Sim

Fazer indicação* Sim Iniciar projeto de resolução para mudança do Regimento Sim

Fonte: Elaboração própria, a partir do RIALES, 2009. * Indicação corresponde a sugestão de parlamentar, ou

comissão da Casa, para que certo assunto seja objeto de providência ou estudo pelo órgão competente da Casa, com a finalidade do seu esclarecimento ou formulação de proposição legislativa” .

No rol dos direitos individuais atribuídos aos parlamentares da ALES, podemos destacar a iniciativa de lei, a iniciativa de propostas de emendas, o pedido de vistas, o requerimento de informações, que é um recurso utilizado para ampliar o debate nas questões em que o parlamentar tem interesse individual. Há, além do mais, outras atribuições, conforme o Quadro II demonstra.

É importante evidenciar que a ALES é uma arena parlamentar relativamente pequena, composta por trinta membros. Assim, “[...] é plausível supor que redes informais de solidariedade têm grandes chances de serem bem sucedidas em suas políticas” (ARAÚJO, 2009, p. 72). A atuação individual com os acordos informais e as conversas face-a-face entre os parlamentares numa Casa pequena como a ALES podem exercer bastante influência no processo decisório, diminuindo a necessidade de soluções institucionais para a ação coletiva. Em outras palavras, o pequeno número de parlamentares em uma arena parlamentar, somado ao individualismo do legislador, pode viabilizar a formação de acordos extrapartidários, inclusive com o executivo. É possível que isso seja um dos fatores que facilitam tanto a aprovação de leis do executivo, até mesmo quando o governador não detém uma base partidária grande e consolidada no legislativo.

A despeito das possibilidades de atuação individual do parlamentar, é viável para o ator participante da arena legislativa institucionalizar “redes de apoio” com o objetivo de reduzir os custos de atuação para alcançar os fins pretendidos. É racional se aliar por meio dos blocos partidários e das lideranças, dividir os trabalhos de forma estruturada (inclusive por matérias e áreas de atuação via comissões permanentes), objetivando a coordenação da ação coletiva.