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Diagrama 2 – Classificação dos presos na PIRS

4.1 AS CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO PENAL NA PIRS

A LEP orienta que o labor penal deve garantir aos reclusos a conquista de um importante benefício legal: a remissão de pena. Assim, para cada três de trabalho o detento tem direito à redução de um dia no tempo total de pena que ele precisa cumprir.

A possibilidade de reduzir o tempo de pena e ganhar a liberdade antecipadamente aumenta a expectativa dos presos em ocupar as vagas disponíveis para trabalhar na Penitenciária Industrial Regional de Sobral.

O Art. 28 § 1º da Lei de Execução Penal diz que o trabalho do preso, embora não estando sujeito ao Regime de Consolidação das Leis Trabalhista (CLT), deverá ser remunerado com valor não inferior a ¾ do salário mínimo com o objetivo de assistir à sua família, custear suas despesas pessoais e ressarcir o Estado das despesas com a manutenção do condenado (Art. 29 § 1º).

Na PIRS, a quantia que o detento recebe como pagamento pelo seu trabalho é dividida em três partes. A primeira deve ser destinada a uma ajuda financeira para a família do condenado. O preso determina a quantia que deverá ser entrega a um parente que ele indicar nos dias de visita.

Uma outra parte do pagamento ao detento por seu trabalho, cerca de 8%, retorna aos cofres públicos através do depósito no fundo penitenciário. A parcela que resta desse salário deve constitui um pecúlio, ou seja, uma reserva de dinheiro, que deverá ser entregue ao preso quando este for posto em liberdade.

O preso pode, entretanto, dispor do pecúlio para fazer compras quando ainda está detido. Funciona da seguinte forma: o agente de disciplina de plantão nas vivências anota os pedidos dos detentos: biscoitos, refrigerantes, cd’s, cigarros e matérias primas para artesanato, por exemplo, e repassa então para o setor financeiro.

Um único funcionário é responsável por fazer as compras, uma vez por semana, e administrar todo o dinheiro dos “internos” da PIRS. A lista com os nomes e os prontuários que encontramos no setor financeiro são apenas dos “internos” “implantados”, ou seja, aqueles que exercem alguma das atividades laborativas, que ocupam uma vaga nos canteiros de trabalho.

O setor financeiro da PIRS tem acesso a todas as informações somente sobre os presos que trabalham, mas desconhece os prontuários dos demais presos. Para o único funcionário desse setor, “muitos presos não existem” (Funcionário da PIRS).

A Conap fornece um quite contendo itens para as necessidades básicas de higiene. Os presos, porém, podem solicitar, junto ao setor financeiro, outros de sua preferência, respeitando as normas da PIRS que impede a entrada de algumas mercadorias como frascos de vidro e produtos que contém álcool em sua fórmula.

No contrato de parceria que terceirizou o sistema prisional cearense encontram-se descritas algumas características, de caráter mais especifico, da adoção da laborterapia como principio da pena de reclusão e os termos para a sua prática nas unidades industriais do Ceará.

Segundo um ex-diretor da PIRS47, Estado e Conap previam a inserção do preso no mercado de trabalho através do funcionamento de industrias dentro da unidade, absorvendo até 50% da mão-de-obra carcerária:

VIII – A área da cozinha, panificação e lavanderia podem e devem ser utilizadas como treinamento e formação profissional para os internos. Especificamente, os setores da padaria, confeitaria e assados podem consistir em importante e motivador centro de iniciação e realização profissional (Histórico sobre a privatização do sistema penal no Estado do Ceará, artigo VIII do contrato de terceirização).

Além das industrias, os chamados “serviços de hotelaria” necessários à própria manutenção do funcionamento da PIRS, por exemplo, cozinha, limpeza e lavanderia, devem utilizar, prioritariamente, a mão – obra dos presos.

A oportunidade de ocupar uma dessas vagas de trabalho, na perspectiva de Goffman (1996), é encarada pelo interno com um meio através do qual ele pode demonstrar a sua capacidade readquirida de voltar a conviver com outros indivíduos e adequar-se às normas impostas pela “sociedade mais ampla”, para onde deve retornar ao cumprir sua pena:

Embora a natureza de tais atividades decorra das necessidades de trabalho do estabelecimento, a afirmação apresentada ao paciente (leia-se, aqui, detento) é que estas tarefas o ajudarão a reaprender a viver em sociedade e que a voluntariedade e capacidade para enfrentá-las serão consideradas como prova diagnóstica de melhora”(GOFFMAN, 1996:82 –grifos meus).

A quarta casula parágrafo IX parágrafo do contrato de terceirização do sistema prisional cearense acrescenta que o trabalho penal deve profissionalizar os detentos em áreas como indústria eletrônica, de móveis, calçados, jóias, velas, confecções e papel.

Uma das funções desempenhadas pelo Serviço Social da PIRS é buscar trazer para a unidade cursos através de parcerias com o SEBRAE e SENAC, por exemplo. Para cada dez presos entrevistados em 2005, sete (aproximadamente 77%) consideravam que as atividades que realizavam eram profissionalizantes.

Segundo o Art. 31, LEP (1994), a realização dessas atividades laborais devem ser desenvolvidas pelos presos na medida de suas aptidões pessoais e capacidade. Para atender essa orientação legal uma pergunta sobre a vida profissional do detento antes de sua prisão é feita durante as entrevistas de triagem48.

O conhecimento da profissão do detento antes da prisão auxilia no momento de selecionar os presos pelo critério de aptidão pessoal para ocupar as vagas disponíveis nos canteiros de trabalho.

A maior parte dos detentos, cerca de 34%, declarou trabalhar na Construção Civil antes de serem presos, por exemplo, carpinteiro, pintor e encanador.

O número de presos que declararam trabalhar, antes da prisão, no setor de serviços: alfaiate, barbeiro, artesão, cabeleireiro, garçom, jardineiro, manicura e sapateiro, por exemplo, representa 33% do total de detentos que ingressaram na PIRS entre os meses de janeiro a setembro do ano de 2007 (Gráfico 6).

48 A triagem é o nome dado ao período correspondido entre a chegada do preso a PIRS e a sua adaptação à cadeia.

Profissão dos detentos antes da prisão

15% 10,10% 34,00% 4,30% 33% 3,60% Da agricultura Do comércio Da construção civil Da mecânica Serviços Da industria

Gráfico 6: Profissão declarada pelos presos nas entrevistas de triagem entre janeiro e setembro/ 07. Ainda, as profissões características da industria são: auxiliar de produção, impressor, operador de máquinas, operário, soldador e torneiro; na área de mecânica: borracheiro, pintor e latoeiro; Do comércio: vendedor, auxiliar de escritório e telefonista, por exemplo; e os agricultores (Gráfico 6).

4.2 A SELEÇÃO E OCUPAÇÃO DAS VAGAS NOS “CANTEIROS DE TRABALHO”

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