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O método dialético crítico tem como características centrais a historicidade a totalidade e a contradição dentro de uma realidade que se encontra em constante transformação. Nessa dinâmica social, as relações sociais foram se construindo e moldaram o tipo de sociedade excludente que hoje está posta.

Com vistas a desvelar a realidade concreta dos alunos cotistas, há de se analisar o processo histórico em que estão inseridos. Sendo assim, o processo histórico vai estar intrinsecamente ligado a todo o estudo.

Em consonância com Fontes (1998),

Não é possível pensar o processo histórico e suas considerações sem levar em consideração as formas de estruturação dos conflitos sociais; mais ainda, nenhuma reflexão histórica ao longo desses 150 anos conseguiu descartar a dinâmica conflitiva dos processos históricos ou separar tal dinâmica e a produção da vida social (FONTES, 1998, p. 162-163).

É importante salientar que, por se tratarem de sujeitos (alunos egressos de escola pública e suas reais necessidades) o foco maior da pesquisa, e de estarem

os referidos sujeitos relacionados aos movimentos presentes que envolvem educação, política de assistência e formas sociais determinadas pela conjuntura atual, torna-se imperativa a escolha do método que consiga recortar aspectos relevantes da realidade concreta dos sujeitos supracitados, sem desconectá-los do movimento e do contexto presentes.

Segundo Marx (2002),

a investigação tem de se apoderar da matéria em seus pormenores, que analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e perquirir a conexão íntima que há entre elas. Só depois de concluído esse trabalho é que se pode descrever, adequadamente, o movimento real (MARX, 2002, p. 28).

Marx já referiu que, se as aparências e as verdades coincidissem, não precisaríamos da ciência. Dessa forma, a escolha da utilização do método dialético- crítico marxista vai proporcionar a aproximação e a não separação dos indivíduos sociais, suas reais necessidades com as ações feitas pela equipe do DSSSAE. Expõe-se sobre a dialética materialista histórica, segundo Fazenda e Frigotto (1994):

Ao referir-me somente à dialética materialista histórica, quero demarcar aquilo que entendo como ruptura entre a ciência da história ou do humano- social e as análises metafísicas de diferentes matizes e níveis de compreensão do real - que vão do empiricismo ao positivismo, idealismo, materialismo vulgar e estruturalismo (FAZENDA; FRIGOTTO, 1994, p. 72).

A capacidade de análise e desocultamento das contradições presentes na realidade surgem das categorias de análise já mencionadas, que são a totalidade, a historicidade e a contradição. Por meio delas, pode-se ter uma percepção da realidade na sua amplitude, assim como o movimento do seu devir.

Ao se utilizar instrumentais para a análise da realidade a ser estudada, o pesquisador deve perceber as categorias do método dialético-crítico. Por isso, a totalidade, a historicidade e a contradição deverão nortear todo o processo de construção do presente estudo, além de estarem presentes as referidas categorias do método dialético nos próprios instrumentos da pesquisa. Dessa forma, conseguirá movimentar os fatores econômicos, sociais e intelectuais que estão intrinsecamente ligados ao processo histórico que ocorreu e vem ocorrendo dentro da assistência estudantil da UFRGS. Segundo Fazenda e Frigotto (1994):

Para ser materialista histórica tem de dar conta da totalidade, do específico, do singular e do particular. Isto implica dizer que as categorias totalidade, contradição, mediação, alienação não são apriorísticas, mas construídas historicamente (FAZENDA; FRIGOTTO, 1994, p. 73).

A etapa desse trabalho que aborda o berço da educação e sua inserção no Brasil, aparentemente estanque num passado, na verdade vem sendo dialeticamente se construindo e reconstruindo até o hoje. Essa retrospectiva do pensamento pedagógico permite que se visualizem os aspectos gerais que balizam o saber, cujos modelos de instituição de ensino junto às filosofias presentes nessa categoria são importados para o Brasil. Parte-se da ideia de que os centros do saber e as filosofias que balizam a categoria são construções historicamente determinadas e, por isso, não permanentes.

Segundo Marx (2008, p. 47), “o modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência”. Nesse amplo processo aludido por Karl Marx, pode-se inferir que a educação, ao ingressar no Brasil, já trouxe um contexto histórico oriundo de outros países, cujas discussões e construções acerca do tema já estavam sendo debatidas há séculos.

Para um melhor entendimento sobre a Política de Assistência Estudantil, há que se considerar as particularidades históricas das políticas sociais brasileiras junto ao contexto atual, para se compreender o quão contraditória é a abordagem da temática. Quando se pretende dar visibilidade ao conhecimento dentro da totalidade, deve-se ir ao encontro do conhecimento empírico ainda presente em nossa sociedade, procurando explicitar, inclusive, aspectos pouco aparentes que estão atrás da onda de inclusão massiva na instituição de ensino superior, cujo discurso aborda uma grande propaganda de democratização.

Segundo Kosik (2002):

A posição da totalidade, que compreende a realidade nas suas íntimas leis e revela, sob a superfície e a casualidade dos fenômenos, as conexões internas, necessárias, coloca-se em antítese à posição do empirismo, que considera as manifestações fenomênicas e casuais, não chegando a atingir a compreensão dos processos evolutivos da realidade. Do ponto de vista da totalidade, compreende-se a dialética da lei e da causalidade dos fenômenos, da essência interna e dos aspectos fenomênicos da realidade, das partes e do todo, do produto e da produção e assim por diante (KOSIK, 2002, p. 41).

Para trabalhar a experiência social dos sujeitos envolvidos, considerando seu estrato social, bem como a sua cotidianidade e realidade - essa como sendo também resultado do confronto das diferenças -, entende-se que a categoria contradição, enquanto negação que inclui, é pertinente.

A categoria contradição, em consonância com Gadotti (1983) refere-se à “essência ou a lei fundamental da dialética” (p. 26). É essa essência que move a história. Junto às categorias contradição e totalidade, podemos perceber, na historicidade, os avanços e retrocessos das análises a serem feitas, podendo também analisar as contradições presentes que estão em constante movimento, a fim de se ter uma totalidade da realidade que deverá ser trabalhada. Dessa forma, nessa categoria, percebe-se que há um desenvolvimento e também uma transformação. O tempo é, pois, modificado, surgindo novos processos históricos, formando novamente outras contradições e, assim, o movimento se perpetua.

Para o processo de construção desse estudo e da fundamentação teórica, além das categorias supracitadas, elegeram-se, ainda, as seguintes categorias explicativas da realidade: Educação, Política de Assistência Estudantil e Inclusão, que foram analisadas e aprofundadas no transcorrer da dissertação, bem como foram contempladas outras categorias que poderão surgir a partir do estudo permanente dessa pesquisa e que poderão surgir também a partir das falas dos sujeitos de pesquisa.