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As Cidades como atores Sociais: cooperação e participação popular

PARTE I As Cidades e as Instituições

3.3 A S C IDADES E O E SPAÇO I NSTITUCIONALIZADO DE C ASTELLS

3.3.1 As Cidades como atores Sociais: cooperação e participação popular

A autonomia local tem sido entendida como a proteção legal à capacidade de auto-organização, às competências exclusivas e específicas, ao direito de agir em todos os campos de interesse geral da cidadania e à disponibilidade de recursos próprios não condicionados (CASTELLS; BORJA, 1996).

Nenhum governo local pode alegar não ser competente quando existe uma problemática grave em temas como emprego ou segurança pública. A legislação deve permitir e facilitar a atuação dos governos locais em todos aqueles casos em que a demanda social e a vontade política coincidam no confronto com objetivos que, teoricamente ou sob inércia legal, afetem as competências do Estado ou sejam próprias da atividade privada.

Três princípios legitimam as cidades como atores políticos: o princípio da proximidade, o da capacidade e o da associação. O princípio da proximidade é um elemento essencial da legitimação democrática, uma vez que as cidades e as entidades territoriais devem poder exercer todas aquelas competências e funções que, por sua própria natureza, não devam ser exercidas em âmbitos mais amplos (CASTELLS; BORJA, 1996).

A Constituição brasileira ratifica esse princípio quando define, no art. 23, as competências administrativas comuns à União, aos Estados e aos Municípios. São objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no exercício da competência comum: proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente; garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do

55 meio ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais; harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente e garantir a uniformidade da política ambiental para todo o país, respeitadas as peculiaridades regionais e locais.

Com relação ao princípio de capacidade, certos tipos de cidade podem assumir ou atribuir-se competências para gerar recursos políticos, econômicos, sociais ou técnicos, que lhes permitem assumi-los com garantias de eficácia (CASTELLS,1996).

No Brasil, esta capacidade é denominada de autoadministração, que é a autonomia administrativa, desenvolvida pelo ao Poder Executivo Municipal, prestando serviços de interesse local bem como a autonomia financeira, que pressupõe a capacidade de decretação de seus tributos e aplicação de suas rendas. Essa autonomia é fundamentada no art. 18 e art. 34, VII, alínea “c”, da Constituição Federal de 1988:

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:

VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: c) autonomia municipal;

E, por fim, Castells (1996) elenca o princípio de associação, que nos leva a dar primazia às relações contratuais sobre as hierárquicas, no que se refere à articulação entre as administrações públicas (estado e governos territoriais) e os agentes privados. Trata-se de desenvolver fórmulas como consórcios, contratos programa, empresas mistas, etc.

No Brasil o princípio da associação tem a seguinte repercussão: o acúmulo de tarefas assumidas pela Administração e a falta de recursos necessários para à realização das mesmas, exigindo uma profunda modificação no papel do Estado e suas relações com o particular dando origem a várias reformas administrativas com o objetivo de conferir mais eficiência à atividade estatal (MIRAGEM, 2011). A Lei n.º 11.107, de 06 de abril de 2005, a chamada Lei de Consórcios Públicos, regulamentou o artigo 241 da Constituição Federal e introduziu instrumentos e mecanismos de cooperação entre os entes federativos para a realização de objetivos de interesse comum. Nesse sentido, as

56 políticas urbanas de saneamento, habitação, resíduos sólidos, trânsito, entre outras, estão por força de legislação federal exigindo dos municípios recursos financeiros e estrutura técnica e organizacional que muitos não possuem. Para responder a essas demandas é a formação de consórcios municipais para que haja rateio das despesas e dos recursos humanos e técnicos.

A solução para esse problema vem pela formação de consórcios municipais entre municípios vizinhos, conforme previsão constitucional do art. 241:

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

Como é possível perceber, o município tem autonomia constitucional para se autoadministrar, se autogovernar. Entretanto, cada vez mais é demandado diante de muitos problemas que necessitam de que sejam desenvolvidos mecanismos mais eficazes para as cidades.

Consagra-se a tendência contemporânea de atender aos interesses difusos da população urbana, a que se reconhece, sob a perspectiva individual, o direito ao bem- estar urbano, compreendendo, no seu amplo espectro, a defesa do meio ambiente e a proteção do consumidor, tudo convergindo, em suma, à maior eficácia da sadia qualidade de vida, na expressão do art. 225, da Constituição da República.

Também é relevante levantar que a participação popular na Administração Pública é norma inerente aos princípios da democracia e do Estado de Direito, visando à eficiência e a transparência na implantação das tarefas inerentes da função administrativa do Estado. Os institutos da participação popular têm intrinsecamente o objetivo de possibilitar a realização da cidadania social, isto é possibilitar a plena realização dos direitos políticos de interferência das pessoas na própria atividade do Estado, na formação da sua vontade (PEREZ, 2004).

Esse aspecto mostra, por exemplo, a importância dos Conselhos Municipais, das audiências públicas, da transparência das informações da Administração Públicas e dos fóruns como Conferências das Cidades, Conferências de Meio Ambiente, Conferências da Defesa Civil. Esse novo modelo de Estado é cooperativo, na medida em que a iniciativa privada e outros entes públicos se unem para a prestação de serviços públicos através de consórcios públicos, administrativos, contratos de concessão, consórcios

57 municipais e parcerias público privadas (PPP). E também participativo, onde a população necessariamente participa das decisões que afetam o interesse coletivo.

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