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3. Caso de Estudo: Valongo 81

3.1 As Competências Municipais em Turismo 82

Nos termos da Constituição da República Portuguesa47, a organização democrática do Estado compreende a existência de autarquias locais, as quais são “pessoas colectivas territoriais dotadas de órgãos representativos e que visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas”.

O domínio do Ambiente e Qualidade de Vida integra o Titulo de Direitos e Deveres Económicos, Sociais e Culturais, especificamente no artigo n.º 66 no Capitulo de Direitos Sociais em que para além de ser consagrado o direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado está patente também o dever de defender esse ambiente. Assim é definido no N.º 2 do referido artigo, a incumbência do Estado de assegurar, numa lógica de desenvolvimento sustentável, o ordenamento do território de modo a permitir o desenvolvimento socioeconómico e a valorização da paisagem, a criação de reservas e parques naturais e de recreio, a promoção protecção de sítios e paisagens com valores ao nível da natureza e de valores culturais. O aproveitamento dos recursos naturais, é defendido numa lógica de manter a capacidade de renovação dos recursos sempre numa base do princípio da solidariedade entre gerações.

A necessidade de articulação e integração destes objectivos com as várias políticas sectoriais está vinculada na alínea f) do referido artigo, cabendo um papel de relevo às autarquias locais ao nível da obtenção de qualidade ambiental da vida urbana promovendo a melhoria do ambiente e da qualidade de vida.

A integração do conceito "cidade sustentável" engloba o objectivo do bem-estar da população a longo prazo, que passa, designadamente pela satisfação das necessidades económicas e materiais bem como as de índole cultural, social e ambiental. Assim a

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Mestrado Riscos Cidades e Ordenamento do Território – Políticas Urbanas Setembro de 2011 Marco Alexandre Lopes 83 cidade sustentável surge como um “processo criativo, local e equilibrado, alargado a todas as áreas da administração local, em que a cidade é encarada como um conjunto orgânico, onde se tornam visíveis os efeitos das suas acções significativas possibilitando aos cidadãos escolhas reflectidas que garantam a qualidade do viver urbano" (Lopes, 2010;83).

Segundo Azevedo et al (2010:31) as cidades assumem um papel importante no funcionamento das economias e na vida das pessoas, ”Vivemos nelas, e nelas procuramos a resposta para as nossas necessidades e desejos”. Assim ao nível local, a Competitividade48 de uma cidade “não depende apenas do padrão de vantagens comparativas, mas também e fundamentalmente da dinâmica do tecido produtivo local” Costa (2001) citado por Azevedo et al (2010:35), sendo que as cidades “serão tanto mais competitivas quanto mais forem capazes de atrair/gerar e fixar actividades competitivas” (Martins et al, 2007).

Associado à competitividade, imagem e promoção do território, encontra-se uma “gestão empresarial por parte dos territórios, regiões e cidades, com a adopção de uma gestão estratégica do território” (Durazo, 1997, citado por Azevedo et al, 2010:49). A promoção do território necessita de técnicas de Marketing Territorial49, o objectivo “final do marketing de cidades ou de marketing urbano é desenvolver uma imagem pública de aceitação, em referência à cidade e sua região de influência e aos factores de atractividade que ela contém”( Azevedo et al, 2010:72). Apesar das limitações que a

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“Competitividade territorial é a capacidade de uma dada comunidade territorial para assegurar as condições económicas do seu desenvolvimento sustentado.” Azevedo et al (2010: 34).

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“Marketing é a actividade, conjunto de instituições e processos de criação, comunicação, entrega e troca de ofertas que têm valor para os clientes, parceiros e sociedade em geral” (AMA. 2007 citado por Azevedo et al, 2010:63).

“O papel essencial da imagem de uma cidade na atracção de fluxos turísticos e na satisfação e valorização dos seus cidadãos na gestão pública levou a um interesse crescente por todas as áreas de marketing de cidades, vulgarmente conhecida pela denominação de cariz anglicista de citymarketing “(Azevedo et al, 2010: 72).

Mestrado Riscos Cidades e Ordenamento do Território – Políticas Urbanas Setembro de 2011 Marco Alexandre Lopes 84 Administração Pública apresenta ao nível da adopção de alguns princípios é possível desenvolver um processo de gestão territorial assente na descentralização do poder e busca do desenvolvimento local. No limite “ a maneira de se conseguir uma boa reputação reside no esforço em se ser aquilo que se deseja parecer” (Azevedo et al, 2010: 92).

A Lei n.º159/99 de 14 de Setembro estabelece o quadro de transferências de atribuições e competências para as Autarquias Locais, de acordo com o artigo 2º do diploma esta transferência de competências visa assegurar a coesão nacional, através da eficiência e eficácia, aplicando o princípio da subsidiariedade50.Assim segundo o artigo 13º da referida lei os municípios dispõem de competências nos domínios que se seguem.

Tabela 36 Competências Municipais

Domínios de Competência Municipal

Equipamento rural e urbano Energia

Transportes e comunicações Educação

Património, cultura e ciência Tempos livres e desporto

Saúde; Acção social

Habitação Protecção civil

Ambiente e saneamento básico

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De acordo com o N.º 2 do artigo 2º da Lei n.º 159/99 de 14 de Setembro é o princípio, segundo o qual as atribuições e competências devem ser exercidas pelos níveis de administração melhor colocado para as prosseguir, com racionalidade, eficácia e proximidade aos cidadãos.

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Defesa do consumidor Promoção do desenvolvimento Ordenamento do território e urbanismo

Polícia municipal Cooperação externa.

No artigo 16.º discrimina-se as competências dos órgãos municipais no âmbito do planeamento e gestão de equipamento rural e urbano, destacando-se, com incidência na temática deste estudo a gestão dos espaços verdes. Ao nível do Património, cultura e ciência, referida no artigo 20.º, verifica-se que é de competência municipal a gestão e o investimento em património cultural, paisagístico e urbanístico, bem como proceder á classificação manutenção e recuperação dos imóveis e sítios classificados de modo a manter actualizado o inventário do património existente.

O artigo 21.º estabelece as competências municipais no domínio de tempos livres e deporto, destacando-se, o seu papel em termos de instalações de equipamentos para prática de desporto e apoio de entidades com esse fim.

No domínio do ambiente, destaca-se o estabelecido na alínea e) do artigo 26.º que passa pela proposta de criação de áreas protegidas de interesse nacional, regional ou local bem como a gestão das áreas protegidas de interesse local bem como a criação de áreas de protecção temporária de interesse zoológico, botânico ou outro e a competência de ma manter e reabilitar a rede hidrografia dentro dos perímetros urbanos.

Muitas destas competências elencadas vão no sentido de cruzar com a competência de promoção do desenvolvimento estabelecida no artigo 28.º que inclui a participação em entidades de desenvolvimento regional, a gestão dos programas operacionais regionais bem como participar nas regiões de turismo e na participação na definição das políticas de turismo que digam respeito ao município bem como ligadas ao desenvolvimento rural.

Mestrado Riscos Cidades e Ordenamento do Território – Políticas Urbanas Setembro de 2011 Marco Alexandre Lopes 86 Ao nível da actividade turística também é de competência municipal o licenciamento e fiscalização de empreendimentos turísticos bem como a elaboração do seu cadastro. Estando o turismo relacionado com o ordenamento do território, destaca-se que o município tem competências neste domínio, designadamente ao nível dos instrumentos de gestão e ordenamento do território como os PDM’s e PROT’s, de referir que a proposta para integração ou exclusão de áreas ma Reserva Ecológica Nacional e Reserva Agrícola Nacional também se incluem nas competências municipais.

Verifica-se que a competência no domínio turístico é mais ampla do que a competência directa definida por lei, dado o resultado de outros domínios como o ordenamento do território, o ambiente, a promoção do desenvolvimento, o tempo livre na sua actividade. O quadro de competências e regime jurídico de funcionamento dos órgãos dos municípios consta da Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, republicada pela Lei n.º 5- A/2002, de 11 de Janeiro, no qual é definido no n.º 2 do artigo 64.º as competências da câmara municipal no âmbito do planeamento e desenvolvimento, destacando-se a elaboração e submissão a aprovação as opções de plano, a colaboração em programas e projectos de interesse municipal, criação ou participação em associações de desenvolvimento regional e de desenvolvimento do meio, rural e a o levantamento, classificação, administração, manutenção, recuperação e divulgação do património natural, cultural, paisagístico e urbanístico do município.

Face ao cenário de competitividade territorial presente, a gestão pública urbana impõe uma actuação “mais numa lógica de actor do que numa velha lógica de administração que requer a elaboração e a adesão a um projecto de cidade, a uma razão de ser cidade, supõe uma aproximação incremental e heurística” Lopes, 2010:193.

Assim a participação afigura-se como elemento do desenvolvimento da gestão urbana que "supõe uma extensão da lógica de actores..., suportando-se menos nos sues velhos poderes institucionais e mais, cada vez mais, nas suas posições e interesse próprios no seio de um sistema de actores, públicos e privados; devem jogar-se em registos mais diversos do que as tradicionais jurisdições sobre a tutela do cumprimento das suas regras” Lopes, 2010:193.

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