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CAPÍTULO III – SOBRE AS TRILHAS E AS FERRAMENTAS UTILIZADAS

3.2 As contribuições dos estudos etnográficos

A etnografia foi desenvolvida por antropólogos no final século XIX e início do século XX para estudos de sociedades tradicionais, pequenas, isoladas. É conduzida frequentemente por estudiosos que são, ao mesmo tempo, participantes subjetivos na comunidade em estudo e objeto daquela fonte. Por constituir método de pesquisa que busca definir padrões de comportamento de grupo, ela é baseada em trabalho de campo, personalizado, multifatorial e dialógico.

De acordo com Hammersley (2007), o termo etnografia surgiu no século XIX para retratar a cultura e as estruturas sociais de determinados povos, sobretudo, não ocidentais. A partir daí, os estudos etnográficos perderam a carga negativa “purista”, centrada somente na interpretação do pesquisador sobre a cultura alheia e começaram a produzir estudos baseados na descrição e na interpretação dos dados gerados a partir da visão dos valores sociais e culturais dos povos pesquisados.

A observação participante é estilo adotado por pesquisadores em campo de pesquisa que, depois de aceitos pela comunidade estudada, são capazes de usar uma variedade de técnicas de coletas de dados para saber sobre as pessoas e sobre seu modo de vida.

Angrosino (2009, p.30) assim define a etnografia como “arte de descrever determinado grupo humano – suas instituições, seus comportamentos interpessoais, suas produções materiais e suas crenças”.

A etnografia é a observação de um grupo por determinado período de tempo e das formas costumeiras de viver em um grupo particular de pessoas. Na etnografia o pesquisador tem o objetivo de documentar, monitorar e encontrar conjuntamente o significado para as ações dos colaboradores.

Dessa forma, os dados são interpretados de acordo com as ações humanas e com as práticas sociais e institucionais situadas localmente em determinados grupos. Nessa interpretação, explora-se o modo como as pessoas percebem as situações enfrentadas nas interações e como consideram o modo dos outros de agir nessas mesmas situações.

Essa perspectiva teórica originou-se com os trabalhos de Hymes na década de 60. “O autor denominou a área como “etnografia da fala” e só depois se apoiou no termo etnografia da comunicação. Assim, na etnografia da comunicação, a compreensão das ações dos

participantes está nos significados interconectados às crenças partilhadas no contexto sociocultural.

Consoante aos moldes da pesquisa etnográfica, pode-se dizer que para uma boa condução de pesquisa qualitativa de orientação etnográfica é possível observar o uso de duas ou mais técnicas para obtenção da triangulação dos dados. Para cobrir todas as arestas observadas, o pesquisador deverá lançar mão de múltiplos olhares.

3.2.1 Notas de campo

As notas de campo são escritas durante a observação de campo, nelas o pesquisador deixa registradas suas percepções, ideias, teorias aplicáveis a determinados casos, assim como breves análises. As notas de campo funcionam como recursos direcionadores de análises posteriores à observação em campo. Alguns pesquisadores, como Angrosino (2009), exemplificam as formas de representações das notas de campo, são elas: as gravações, as notas mentais e as palavras-chave.

De acordo com a perspectiva dos estudos etnográficos, o processo de construção e reprodução da pesquisa qualitativa passa por duas etapas, a primeira de produção e a segunda de reprodução textual. Portanto, durante a observação participante, o pesquisador deve tentar reproduzir as ações e os acontecimentos de forma prática. Atkinson (1992) e Angrosino (2009) defendem que a ação de tomar notas deve ser feita de maneira discreta e mais ágil possível para que o colaborador de pesquisa não se sinta intimidado ou coagido a fazer ou deixar de fazer determinada ação dentro de seu próprio contexto.

As notas de campo devem traduzir as observações, mas não devem ser transportadas originalmente para as análises, já que a maioria dessas notas só faz sentido para o próprio pesquisador. Vale lembrar que durante a estudo o pesquisador faz uso dessas notas para conduzir, a priori, reflexões e elucubrações acerca dos seus objetivos de pesquisa. Assim na continuidade do trabalho, o pesquisador poderá verificar se seus pensamentos e reflexões se mantiveram ou se modificaram ao longo do processo.

Pode-se dizer, com isso, que o uso das notas de campo pelo pesquisador constitui termômetro para verificar até que ponto suas reflexões iniciais estavam corretas ou eram relevantes.

3.2.2 Observação participante

A observação participante é considerada como uma técnica de pesquisa que facilita a geração de dados do pesquisador. De acordo com Angrosino (2009), a observação é o ato de perceber como as relações sociais, culturais e linguísticas se estabelecem e como se interrelacionam em determinados grupos. Assim, para Angrosino (2009, p. 56), o ato de observar é “perceber as atividades e os inter-relacionamentos das pessoas no cenário de campo através dos cinco sentidos do pesquisador”.

Consoante aos princípios da observação participante, é preciso que o pesquisador tenha em mente que a observação deverá ser pautada por princípios gerais da pesquisa qualitativa, e não por princípios estabelecidos pelo próprio pesquisador. Agindo dessa maneira, o pesquisador conferirá mais credibilidade à sua análise, e o processo de geração de dados, uma vez que se despojará de seu etnocentrismo.

Desse modo, seleciona-se a técnica de pesquisa “observação participante” para a geração de dados desta pesquisa, pois esta constitui um dos meios para que se respondam às perguntas de pesquisa deste trabalho desse modo mais fiel às ações investigadas.

3.2.3 Grupo focal

O grupo focal constitui técnica de pesquisa na qual são oferecidos aos colaboradores tópicos de discussão para facilitar a reflexão sobre suas práticas ou ações. Portanto, o pesquisador, nessa técnica, atua meramente como um facilitador da discussão.

O grupo focal pode ser utilizado para reconhecer o que os participantes pensam acerca dos diferentes fatos que compõem a vida social. Nesses grupos, é possível observar padrões de argumentação e percepções dos participantes, que podem evidenciar como funciona a compreensão de diversas práticas em sociedade.

Pode-se dizer que grupo focal é o ponto alto na geração de dados, pois propicia situações para dar voz aos colaboradores de pesquisa. Após a condução das discussões em torno de um tópico específico, o material gerado deve ser transcrito e analisado pelo pesquisador.

Vale lembrar que, nessa técnica, o pesquisador deve valorizar as interações que emergem das participações dos colaboradores, evitando assim o formato de entrevista em grupo, o que deixaria a geração de dados prejudicada, já que assim os colaboradores teriam de seguir roteiro preestabelecido e fixo.

3.3 Sobre os colaboradores da turma de Leitura e Produção de Texto para

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