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As críticas de Goldman a uma justificação normativa

No documento CONFIABILISMO EM ALVIN GOLDMAN (páginas 66-69)

CAPITULO IV – CONHECIMENTO EM GOLDMAN

4.1 As críticas de Goldman a uma justificação normativa

Goldman critica o modelo de justificação normativa, pois considera estas teorias super-racionalizadoras ou super-intelectualizadoras, uma vez que elas postulam que, se alguém tem uma crença justificada é porque essa pessoa sabe que a crença é justificada e sabe qual é a justificação. Isso significa dizer que a justificação é um argumento ou um conjunto de razões que podem ser dadas a favor de uma crença, mas isso simplesmente nos diz que a natureza da crença justificada diz respeito ao que uma pessoa poderia dizer se fosse solicitada a defender ou justificar sua crença.

Ao contrário, Goldman pensa que uma crença é justificada através de algum processo ou propriedade que a torna justificada. Portanto, ter processos ou propriedades que conferem justificação, não implica que deve haver um argumento, uma razão ou qualquer outra coisa “possuída” por aquele que crê no momento da crença. Deste modo, para Goldman as teorias internalistas, segundo a qual uma crença do sujeito poderá estar justificada se e somente se, se tiver acesso consciente a essas razões, não fornecem uma base adequada para garantir a justificação.

Dentre elas, a tese do evidencialismo, segundo o qual crer-se em algo somente com base em evidência (proposicional) suficiente, isto é, de que se associe crença sob evidência suficiente à justificação racional (idéias claramente advogadas por Descartes e Locke). Feldman (2000, p. 683), comenta que, “se você está em circunstâncias infelizes, nas quais as informações que você tem guiam você para falsidades, seguir suas evidências não é o melhor meio para a verdade”. Conseqüentemente, crer de acordo com as evidências que se possuem na ocasião não é o método mais eficiente para crer em verdades e evitar crer em falsidades.

Isso significa que o evidencialismo não é o melhor meio para satisfazer a condição da crença verdadeira.

Esta visão tradicional, Goldman rotula de proporcionalismo de evidência, pois nela há a defesa que a justificação é possível a partir da idéia que “a justificação consiste em proporcionar o grau de crença em uma hipótese pelo peso da evidência” (Goldman, 1986, p. 89). Isto significa que a justificação das crenças se dará em função do elevado nível de evidências disponíveis nas hipóteses selecionadas e o grau da crença é uma função do peso da evidência. Ou seja, uma relação direta com a quantidade de evidências disponíveis (natureza estatística) e com a qualidade ou relação de cada evidência oferecida pelos fatos (natureza semântica).

Entretanto, para Goldman (1986) qualquer que seja o grau de confirmação da evidência ou de estatística (ou suporte probabilístico) que a hipótese recebe das evidências, essas relações não podem caracterizar a justificação atribuindo um grau selecionado de crença. Assim, segundo Goldman

se ele falha no próprio entendimento, então ele não está geralmente justificado em avaliar o indicado grau de crença. O entendimento só poderá originar-se do uso adequado dos processos cognitivos. Desse modo, a especificação da justificação deve fazer referência a tais processos (Goldman, 1986, p. 90).

Goldman (2001, p. 128-9) também duvida que uma metodologia exclusivamente apriorista em epistemologia permita identificar quais são os princípios epistêmicos particulares ou, então, explicar como princípios particulares deveriam ser elaborados. Com base nessa visão, Goldman assume que a epistemologia deveria incorporar procedimentos empíricos para atingir aquelas tarefas que estão relacionadas com tais tópicos.

Deste modo, Goldman

dispensa o sujeito conhecedor de qualquer tipo de crença sobre o processo de justificação, mesmo que condicionalmente.50 Mais do que isso, ele nega a idéia de que o que confere justificação a uma crença tem que ser imediatamente acessível51 ao sujeito conhecedor. O rompimento com estas

50

O internalista, em geral, não exige crença atual naquilo que justifica uma crença em questão. Ele exigirá, apenas, que o sujeito conhecedor, por exemplo, seja capaz de acessar aquilo que justifica a crença. Nota 4, Luz, 2005, p. 192.

51

Richard Feldman e Earl Conee sustentam que a acessibilidade é apenas uma das alternativas para apresentação da tese internalista. A outra consiste no que é denominado por eles de “mentalismo”, que consiste na sugestão de

duas pressuposições é suficiente para caracterizar um rompimento com o internalismo (Luz, 2005, p.192).

Goldman assevera que o termo “justificada” é um termo valorativo, um termo de aprovação, e qualquer definição correta ou sinônimo de “justificada” seria também um termo valorativo.

Neste sentido, Goldman (1979, p. 01) busca uma teoria da justificação, que procura especificar as condições substantivas52 para a crença epistêmica. Contudo, afirma que tais condições deverão ser condições não epistêmicas, isto é, condições necessárias e suficientes que não envolvem quaisquer noções epistêmicas, tais como “justificado”, “garantido”, “ter boa base”, “ter razões”, “saber que”, “ver que”, “apreender que”, “mostrar que”, “estabelecer que” e “asseverar que”. Pelo contrário, uma teoria normativa deverá envolver somente expressões não-epistêmicas do tipo “crê que”, “é verdade”, “causa”, “é necessário que”, “implica”, “é dedutível de” e “é provável” (no sentido de freqüência ou de propensão). Também afirma que expressões doxásticas, metafísicas, modais, semânticas ou sintáticas não são epistêmicas.

Outra exigência para Goldman (1979, p. 01), além da exigência de que ela seja expressa em linguagem não-epistêmica, é a de que uma teoria explanatória não deve somente ser uma teoria que esclareça a fonte subjacente do estatuto justificacional, mas deve ser uma teoria reveladora, isto é, deve ser mais geral.

Assim, uma condição como “Se S experiencia vermelho em t e S crê em t que ele está experenciando vermelho, então a crença de S em t de que ele está experenciando vermelho é justificada”, não pode ser aceita. Pois estar num estado como o de ter uma determinada experiência e crer que se está nele, não torna essa crença justificada. Assim, o que distingue o estado de experenciar vermelho e os estados “fenomenais” é o tipo de teoria da crença justificada que Goldman busca em “What is Justified Belief?”, que deve responder a essa questão, como veremos a seguir.

que o que caracteriza uma teoria como internalista é a asserção de que “justificação é determinada inteiramente por fatores mentais ocorrentes” Cf. Feldman & Conee, 2001, p. 2. Nota 5, Luz, 2005, p. 192.

52

Condições substantivas no sentido de naturalizada, pois elas não partem mais de proposições, mas sim de sentenças.

No documento CONFIABILISMO EM ALVIN GOLDMAN (páginas 66-69)