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As diferentes professoras, as diferentes escolhas, a mesma profissão

3. ORIENTAÇÃO TEÓRICA: O ESPECULAR IDÉIAS

3.5 As diferentes professoras, as diferentes escolhas, a mesma profissão

“Temos o direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza e a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”.

-Boaventura de Sousa Santos-

Escolher professoras de diferentes departamentos do Centro de Educação da UFSM foi muito importante para a pesquisa com os saberes pessoais das professoras, pois permitiu a visualização das diversas possibilidades de atuação de uma mesma profissão.

A professora Maria fez pedagogia como formação inicial. Após alguns anos de atuação, escolheu se dedicar à educação especial. Essa escolha ela nos conta, quando diz:

(...) morava na minha um tio, irmão do meu pai. Quero dar destaque a esse convívio porque acredito que foi com essa vivência que se constituiu em mim à vontade de ser professora com uma formação para trabalhar com pessoas que têm necessidades educacionais especiais. Esse meu tio era paraplégico. (Professora Maria, memorial descrito, maio de 2005)

Pude perceber que cada uma das professoras universitárias, colaboradoras desta pesquisa, está realmente implicada no seu fazer, seja enquanto professora no departamento de fundamentos, metodologia, administração ou educação especial ou nos cargos administrativos que exercem.

Cada professora trabalha com seriedade, gosta daquilo que faz e procura fazer da melhor maneira possível àquilo que se propôs. Letícia mostra sua dedicação quando diz que:

Dentro daquilo que eu faço, consigo me sentir muito realizada. Sinto-me muito bem. Sinto-me bem em vir para a universidade, de estar aqui, de estar junto com minhas alunas. (Professora Letícia/ 02 de maio de 2005)

A professora Maria, mostra sua realização quando comenta:

(...) hoje posso compreender-me como uma pessoa feliz, que quer continuar batalhando pela felicidade, que acredita no amor, como fonte de prazer e energia. Que vê a solidariedade como parte da responsabilidade necessária para a relação interpessoal, pois todos me completam, a gente não vive só. Tendo o trabalho como meio de realização pessoal e social. (Professor Maria, memorial descritivo, maio de 2005)

Percebi, porém, que algumas alunas e colegas professores, às vezes, não enxergam essa implicação que as professoras têm na sua profissão. Pois seria interessante que nos déssemos conta que cada professora tem também seu modo de ser. A professora Alice mostra claramente esse aspecto:

(...) elas precisam se colocar nesse processo como eu me coloco. E nem todas as acadêmicas tem esse entendimento. Então, às vezes, acontece alguns choques de opinião, de posição e tal. Mas é parte do trabalho, então isso para mim é tranqüilo até. Não me rouba energia nenhuma. (Professora Alice/ 02 de maio de 2005)

Nesse mesmo sentido, a professora Sônia fala, em relação às questões administrativas e os problemas que enfrenta, pois muitas vezes é criticada, porém poucos apontam soluções:

(...) essa experiência administrativa, que também é outra atividade da universidade, que todos deveriam passar. Até para ver algumas coisas que ás vezes a gente cobra e vê que é difícil, é complicado (...) Estou fazendo da melhor forma possível. (Professora Sônia/ 13/05/2005)

Aquela é mais participante vai ser em sala de aula exatamente quem é, e vai exigir outra postura das alunas. É questão de saber compreender o outro. (Professores e alunos mutuamente – por isso o trabalho conjunto não apenas formação dos alunos, mas também dos professores formadores...).

A professora Alice diz que:

(...) as pessoas que são minhas alunas, as pessoas que me conhecem sabem que eu não posso ser outra pessoa senão eu, a Alice. E ser professora assim, como eu sou, significa que eu sou uma pessoa que acolhe, que recebe as alunas, me disponibilizo, mas eu cobro reciprocidade. Então nem só eu tenho que me empenhar na sua formação, mas sobretudo as acadêmicas têm que fazer um empenho bastante forte para o seu desenvolvimento profissional. Porque esse processo de empenhamento no seu desenvolvimento profissional faz com que elas se desenvolvam pessoalmente, faz elas pensarem e agirem de uma forma a se colocarem como sujeitos ativos, não só enquanto estão comigo na sala de aula, mas quando, principalmente, elas vão para a escola e não podem se esconder atrás da cortina da sala, dizendo que são estagiárias da universidade ou são alunas da universidade e não têm nada a dizer. Então isso para mim é uma marca e quem é minha aluna sabe disso. (Professora Alice/ 02 de maio de 2005)

Todos temos uma história para contar. Um quebra-cabeça que às vezes temos dificuldade em encaixar as peças, mas na medida em que as peças vão se encaixando e a imagem vai aparecendo, vamos percebendo que aquela figura que nos parecia tão estranha, tão sem nexo, tão disforme, é a nossa própria imagem.

A aceitação do outro passa pela aceitação de si. O cuidado do outro passa pelo cuidado de si. Maturana (2002, p.32) nos provoca com a seguinte questão: “Como posso aceitar-me e respeitar-me se não aprendi a respeitar meus erros e a tratá-los como oportunidades legítimas de mudança, porque fui castigado por equivocar-me?”

Num curso de formação de professores não adianta falar de teorias sem antes rever a si mesmo. No sentido de autoconhecimento, para respeitar e então amar, aceitar, educar. Não se educa sem amor, sem respeito, sem estes princípios básicos... E o professor que está formando novos professores também deve estar em formação. Às vezes pensa que está formado e esquece que a formação é uma construção que perpassa e dura toda a vida, ou seja, ninguém pode dizer que está pronto. Pode ter uma titulação máxima, mas titulação não é formação máxima.

Em outras palavras Alice nos ensina que seu processo formativo não estava concluído ao término do curso de Pedagogia:

(...) alguns enfoques que eu tive na minha formação que foram bastante produtivos para mim, no sentido de fazer eu enxergar a minha formação como alguma coisa que não estava se encerrando porque eu estava fazendo Pedagogia, mas que eu tinha muita coisa ela frente para fazer. (Professora Alice/ 02 de maio de 2005)

Maria, em relação ao seu processo de aprender, que é contínuo, fala:

(...) não quero nunca perder minha capacidade de querer melhorar cada vez mais e estar disponível para aprender com o outro, mudar sempre, desistir nunca es estar sempre disponível para não ter medo de ser feliz. (Professora Maria, memorial descritivo, maio de 2005)

Assim aprendemos com as diferentes professoras seu modo de ser e estar na profissão docente. Temos a oportunidade de transformamos algumas dessas experiências em aprendizado.