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1. INTRODUÇÃO

2.5. AS DIMENSÕES MOTIVACIONAIS NO PMQ E SUAS VERSÕES

Grande parte das variações entre as versões do Participation Motivation Questionnaire no mundo se deve ao agrupamento dos itens em categorias, geralmente após a realização de análise fatorial. Neste item, pretende-se analisar brevemente as dimensões motivacionais presentes no PMQ e suas versões regionais.

A primeira categoria proposta por Gill et al. (1983), status/realização, engloba os aspectos extrínsecos da aprovação social por comparação direta e os intrínsecos do ego, superação pessoal. Esta dimensão pode ser localizada no topo da pirâmide (ou hierarquia) de motivos de Maslow, chamados pelo autor de motivos de auto-realização. Das três categorias apresentadas por Winterstein (2002) e Pisani et al.(1990), os motivos desta dimensão se classificariam como sociais, relacionados à busca por prestígio – fator este, aliás, considerado por Skinner (1968) o reforço máximo: desfrutar de privilégios e conviver com outras pessoas de destaque. A motivação por status costuma aumentar conforme a idade e o acúmulo de responsabilidades, e geralmente está mais presente em homens do que mulheres (BOURNE; EKSTRAND, 1982; DAVIDOFF, 1983; ROBERTS et al., 1986; PISANI et al., 1990; RUBIO, 2002; WINTERSTEIN, 2002; SIQUEIRA et al., 2003; HERNANDEZ et al., 2004).

O segundo fator do PMQ, atividade em grupo, também pode ser considerado uma motivação social, relacionada à afiliação, que, por sua vez, enquadra-se entre os motivos por aprovação social (ROBERTS et al., 1986; PISANI et al., 1990). Essa dimensão se encaixa no terceiro nível da pirâmide de Maslow, sendo mais presente nas faixas estárias inferiores e decrescendo em importância conforme o passar dos anos (BOURNE; EKSTRAND, 1982; GAYA; CARDOSO, 1998).

O terceiro fator encontrado por Gill et al.(1983) foi condicionamento físico, motivação intrínseca voltada ao ego, relacionando-se tanto com a base da pirâmide de Maslow (motivos

de ordem fisiológica) quanto com seu quarto nível (auto-estima). O condicionamento físico está estreitamente ligado ao desempenho atlético, o que explica a grande importância que encontra tanto entre crianças quanto jovens e adultos envolvidos com atividade física, sendo, por exemplo, o motivo de prática mais importante encontrado por Cid (2002) entre 110 escolares de 15 a 20 anos de idade (BOURNE; EKSTRAND, 1982; ROBERTS et al., 1986; DANTAS, 2003).

A quarta dimensão do PMQ é a liberação de energia, motivo intrínseco relacionado ao ego. Para Dorsch et al. (2001), essa energia liberada é o potencial de desempenho e realização do indivíduo, o propelente dos processos de movimento, ou seja, aquilo que nos leva a fazer algo como, por exemplo, praticar esportes. Ainda segundo os autores, em sentido psicológico, essa energia é o impulso da vontade, ou seja, a motivação. Considerando que a motivação é uma das manifestações da ativação, uma energia psicofísica, a prática esportiva se apresenta como contexto adequado para que, uma vez em excesso, a energia de ativação seja liberada de forma socialmente aceitável (ROBERTS et al., 1986; WEINBERG; GOULD, 2001; SAMULSKI, 2002)

O fator motivacional contexto no PMQ está associado ao que Bronfenbrenner (1996) caracteriza como microssistema: dimensão que possibilita a interação face-a-face entre a pessoa em desenvolvimento focalizada, os outros (também em desenvolvimento), símbolos e objetos. Refere-se ao espaço de interação de diferentes personalidades, que convivem com diversos valores e crenças. – no caso dos itens do PMQ, a casa do atleta e o ambiente de treino podem ser esse espaço, conforme se infere de itens relacionados à influência de pais e amigos, influência de técnicos e local de prática esportiva. Vieira (1999) parece corroborar essa noção, e observa que a motivação é afetada pelo suporte familiar, além de considerar fundamental a qualidade do professor ou técnico na motivação dos talentos esportivos. Na

pirâmide de Maslow, o contexto estaria relacionado tanto aos motivos de segurança quanto sociais – amor e afiliação (BOURNE; EKSTRAND, 1982).

O aperfeiçoamento técnico pode ser definido como motivo instrínseco voltado ao ego, encaixando-se também no topo da pirâmide de motivos de Maslow, nível denominado auto- realização (BOURNE; EKSTRAND, 1982). Na classificação de Winterstein (2002) e Pisani et al.(1990), os itens deste sexto fator do PMQ seriam considerados motivos relacionados à competência. É a categoria de maior destaque nos estudos de Barcelona e Sanfelice (2004), Güburz et al.(2007) e Morouço (2007).

O sétimo fator encontrado por Gill et al.(1983), afiliação ou necessidade de pertencer a um grupo, é considerado um motivo social tanto na pirâmide de Maslow (BOURNE; EKSTRAND, 1982) quanto nas classificações relacionadas por Winterstein (2002) e Pisani et al. (1990). Para Roberts et al.(1986), trata-se de um motivo extrínseco de aprovação social, de extrema importância para crianças e adolescentes (GAYA; CARDOSO, 1998; PAIM, 2001; 2003) e de menor valor para adultos (DWYER, 1992).

O oitavo e último fator originalmente destacado no PMQ é a diversão, motivo intrínseco relacionado à tarefa (ROBERTS et al., 1986). Independente da faixa etária, sexo ou cultura, a diversão é uma categoria motivacional de grande destaque desde os estudos originais de Gill et al. (1983) aos de Cid (2002), Doulias et al.(2005), Rosolen et al.(2006) e Barroso et al. (2007).

Uma dimensão motivacional não relacionada por Gill et al.(1983) na categorização do PMQ é a saúde, presente no Inventário de Motivação para a Prática Desportiva (GAYA; CARDOSO, 1998), bem como nos estudos de Magno et al.(2003) e Giles et al. (2005). Em estudo recente para a construção de um questionário de motivação para atividades esportivas na Espanha, Cecchini et al. (2002) entrevistaram 4.606 escolares entre 8 e 18 anos, e afirmaram se surpreender com o fato de que a saúde, representada por itens como “razões de

higiene pessoal”, “evitar doenças” e “manter a saúde”, foi o fator motivacional a que seus participantes atribuíram maior importância. Os itens pertencentes ao fator saúde podem ser considerados de ordem intrínseca, voltados para o ego, e classificados como motivos de sobrevivência por Pisani et al. (1990) e Winterstein (2002). A saúde está entre os motivos de ordem fisiológica na base da pirâmide de Maslow: segundo essa hierarquia, somente quando este é satisfeito o indivíduo passa a se preocupar com os demais (BOURNE; EKSTRAND, 1982; ROBERTS et al., 1986).