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CAPÍTULO 2 – A FORMAÇÃO DO ENGENHEIRO E O ENSINO DA FMC NA

2.2 AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O CURSO DE

ENGENHARIA

Como já mencionamos, o principal documento que norteia o ensino de Engenharia no Brasil são as DCNCE. Esse documento define os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de engenheiros, inclusive sobre os conteúdos que devem incorporar o currículo, as atividades complementares, a avaliação, o estágio, além de outros aspectos curriculares. No que se refere ao perfil do egresso dos cursos de Engenharia, no Art. 3º do documento consta que: “o curso de Graduação em Engenharia tem como perfil do formando egresso/profissional o engenheiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade” (BRASIL, 2002, p. 1).

Além disso, as DCNCE relatam sobre a necessidade de embasar a formação do profissional engenheiro com conhecimentos que propiciem o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades gerais: aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à engenharia; projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados; conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos; planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de engenharia; identificar, formular e resolver problemas de engenharia; desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas; supervisionar a operação e a manutenção de sistemas; avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas; comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica; atuar em equipes multidisciplinares; compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissionais; avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental; avaliar a

viabilidade econômica de projetos de engenharia; assumir a postura de permanente busca de atualização profissional (BRASIL, 2002).

Complementando as DCNCE, encontramos a Resolução nº 2, de 18 de junho de 2007, a qual dispõe sobre a carga horária mínima dos cursos de graduação, que no caso das Engenharias é de 3.600 horas.

Analisando as DCNCE, é possível identificar itens obrigatórios para o currículo básico em nível nacional, bem como as especificidades que devem ser consideradas dependendo de cada modalidade específica. Segundo as DCNCE, independente da modalidade, a estrutura curricular dos cursos de Engenharia deverá conter um núcleo de conteúdos básicos, um núcleo de conteúdos profissionalizantes e um núcleo de conteúdos específicos que caracterizem a modalidade.

Em se tratando do núcleo de conteúdos básicos, identificamos no Art. 6º e parágrafo 1º das DCNCE uma lista que contém quinze conteúdos gerais, sendo que todos juntos somam 30% da carga horária total mínima do curso de Engenharia. Segundo o documento, deverão ser abordados tópicos dos seguintes conteúdos: Metodologia Científica e Tecnológica; Comunicação e Expressão; Informática; Expressão Gráfica; Matemática; Física; Fenômenos de Transporte; Mecânica dos Sólidos; Eletricidade Aplicada; Química; Ciência e Tecnologia dos Materiais; Administração; Economia; Ciências do Ambiente; Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania (BRASIL, 2002).

É importante destacar que não são descritos quais tópicos de cada conteúdo devem ser abordados nos cursos, ficando a critério de cada Instituição de Ensino Superior (IES) estabelecê-los em seus Projetos Político-Pedagógicos de Curso. As diretrizes apontam apenas para a obrigação de aulas laboratoriais nos conteúdos de Física, Química e Informática, e previsão de atividades semelhantes para os demais conteúdos, conforme a necessidade e enfoque das modalidades pleiteadas.

Para Bazzo e Pereira (2006), as disciplinas de formação básica geralmente estão alocadas no início do curso, pois são elas que fornecem a fundamentação para os estudos técnicos que são vistos mais à frente. Como o trabalho do engenheiro é fundamentalmente pautado pela resolução de problemas envolvendo o campo prático, científico e tecnológico, se ele souber interpretar de maneira apropriada os fenômenos básicos que os compõem, enquadrando-os em teorias explicativas consistentes, é provável que esse profissional saiba solucioná-los de forma adequada. Ademais, “além das matérias fundamentais para qualquer ramo da engenharia, cada curso tem suas próprias disciplinas básicas que também exigem muita atenção por parte do estudante” (BAZZO; PEREIRA, 2006, p. 213).

Por exemplo, para o núcleo de conteúdos profissionalizantes, que somarão 15% da carga horária mínima prevista, as DCNCE listam cinquenta e três tópicos gerais, ficando a critério de cada IES definir um subconjunto coerente de tópicos de acordo com a necessidade de cada modalidade.

O restante da carga horária total (55%) é destinado ao núcleo de conteúdos específicos, que será constituído de extensões e aprofundamentos dos conteúdos profissionalizantes, além de outros conteúdos pertinentes para cada modalidade definidos pela IES. Segundo as DCNCE, em seu Art. 6º e parágrafo 4º, esses conteúdos “constituem-se em conhecimentos científicos, tecnológicos e instrumentais necessários para a definição das modalidades de engenharia e devem garantir o desenvolvimento das competências e habilidades estabelecidas nestas diretrizes” (BRASIL, 2002).

Além das atividades em sala de aula, as DCNCE orientam o estágio curricular, que deverá atingir carga horária mínima de cento e sessenta horas, além da obrigatoriedade do trabalho final de curso como atividade de síntese e integração de conhecimento.

Percebe-se que as IES têm uma significativa autonomia para composição da estrutura curricular de um determino curso de Engenharia, autonomia esta não apenas restrita a um único núcleo, mas que contempla os três núcleos de conteúdos descritos anteriormente, ainda que haja diferenças no grau de liberdade das IES para cada núcleo. No núcleo de conteúdos básicos, por exemplo, como não são especificados os conteúdos das áreas obrigatórias, a Física engloba uma diversidade de áreas que as IES, a princípio, têm autonomia para compor e ofertar por meio de diversos tipos de disciplinas relacionadas. As disciplinas do núcleo de conteúdos específicos e profissionalizantes, que corresponde a 70 % da carga horária total, são propostas exclusivamente pela IES segundo os Projetos Político-Pedagógicos de Curso.

Pretendemos retomar essa questão da autonomia das IES buscando investigar os condicionantes e parâmetros para a composição da estrutura curricular de um curso de Engenharia. Tal investigação recai numa questão curricular que será explanada no capítulo seguinte.

No próximo item, desenvolveremos alguns exemplos pertinentes à presença da FMC nos documentos oficiais direcionadas à escola básica. Queremos adiantar e chamar atenção para uma significativa diferença entre as DCNCE, que regem os parâmetros do ensino de Engenharia, e os documentos que regem o ensino da Educação Básica, como por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCN), ou então a proposta curricular de Minas Gerais para a disciplina de Física, denominada de Conteúdo Básico Comum (CBC). Ainda que comparações tenham certo grau de limitação por tratarem de

níveis distintos do ensino, queremos chamar atenção para o Ensino da Física, especificamente da FMC. Em uma primeira impressão, os documentos que regem o ensino de Física no Ensino Médio parecem ser mais diretivos e prescritivos, no sentido de especificar os conteúdos da Física a serem ensinados, explicitando, inclusive, os conteúdos pertinentes à FMC.

Certamente os objetivos da formação do ensino básico e superior são distintos, mas uma indagação que julgamos relevante é: por que o ensino da FMC está presente nos documentos oficiais que regem o Ensino Médio e timidamente inserida nos documentos que regem os cursos de Engenharia?

Entendemos que a composição de um documento oficial pode estar relacionada com o universo da pesquisa acadêmica de uma determinada área à qual um ou mais autores pertencem, composição esta que ainda fica sujeita a condicionantes sociais, políticos e econômicos. Neste momento, queremos traçar paralelos pertinentes ao processo de consolidação da pesquisa no Ensino de Física, especificamente voltada para ensino da FMC na educação básica, com a pesquisa voltada para o Ensino de Física na Engenharia, especificamente da FMC.