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As escolas, os conteúdos e as tecnologias de comunicação

CAPÍTULO 4 – Tecnologias, Educação e os contextos sociais

4.4 O analfabetismo tecnológico

4.4.1 As escolas, os conteúdos e as tecnologias de comunicação

Apesar das contradições observadas atualmente, pode-se afirmar que as tecnologias sempre estiveram presentes nas instituições educativas. Quando o homem, utilizando-se de recursos da natureza, fez registros na areia ou argila com o intuito de transmitir conhecimento ou informação, era tecnologia integrando-se ao ensino, infiltrando-se “naturalmente” ao cotidiano educativo.

As tecnologias se apresentam nas mais variadas formas e se destinam a diferentes usos. Entre elas estão as chamadas “tecnologias midiáticas”, meios de comunicação ou simplesmente “mídias”, entendidos como “meios usados em interação/mediação entre pessoas” (Porto, 2003: 80). Para Barbier e Lavenir (1996), pode-se dizer que

“por mídias entendem-se todo sistema de comunicação que permite à sociedade cumprir totalmente, ou em parte, três funções essenciais de conservação da comunicação a distância de mensagens e de saberes e de reutilização de práticas sociais e políticas.”

As mídias podem transcender seu uso, indo além do aspecto auxiliar. Segundo Porto (ibdem: 34), elas são portadoras de “verdades” ainda por ser descobertas e trabalhadas, conforme a concepção de quem as vê. Para tanto, é necessário um ambiente educativo que não iniba a sensibilidade, a intuição e o imaginário de seus usuários. Desta forma cabe perguntar:

Como saber se o contato com as mídias traz contribuições para o repertório vivêncial das crianças ou não? Como detectar e selecionar, neste contexto, o que é adequado para as crianças? De que forma, educadores e sociedade recebem os conteúdos oriundos do contato com esses meios?

Sabemos que, neste novo século, informação e comunicação dependem das tecnologias e que por meio delas conhecemos novos modos de aprender, comunicar e ensinar, numa dinâmica que integra o saber construído ao longo da história com a natureza social humana, individual e coletiva; resultando num aprendizado renovado pelas contribuições emergentes das experiências vivenciadas com sons e imagens, projetados pelas interações na rede, nos espaços multimídias, possibilitando uma gama de situações educacionais na medida em que aprendemos a lidar com estes dados e o conhecimento nas suas variadas formas.

As tecnologias como meio de comunicação potencializam a vinculação de imagens e mensagens, influenciando nas formas de agir e pensar, na medida em que contribuem para o surgimento de novas linguagens e representações. Causam, assim, modificações na cultura e na economia das sociedades. Percebe-se, portanto, que

“os novos meios de comunicação não são apenas engenhos mecânicos para criar mundos de ilusões, senão novas linguagens com novos e únicos poderes de expressões”. (...) O rádio, o cinema e a televisão empurram a língua na direção da liberdade e as espontâneas variações de linguagem falada (McLuhan, apud Borduave, 1983: 63).

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Para compreender suas possibilidades de articulação na educação infantil, é necessário também um entendimento sobre o que é ser criança, uma vez que elas próprias têm poucas oportunidades de, sem sofrer o controle dos adultos, manifestar-se sobre si e o seu cotidiano. São submetidas a uma série de pressões e informações, representada pela família, mídia e instituição educacional, que impõem desde cedo, principalmente às de classe média/alta, atribuições frente à necessidade de investir em atividades que “garantem o futuro”, para que tenham um bom desempenho escolar e pessoal, sobrecarregando-as com atividades extra- curriculares.

Neste contexto, os discursos e imagens emitidos pela mídia refletem o pensamento atual sobre a infância, de um modo colaborativo que, em alguns momentos, ressalta comportamentos que possibilitam o acesso precoce ao mundo dos adultos, e em outros revela desrespeito ao tempo da infância, quando, por exemplo, denuncia o trabalho infantil ou faz produções voltadas para a faixa etária, num contexto social/cultural próprio delas, embora na América Latina, segundo Barbero (2001: 18), estejamos passando por um

“‘desordenamento cultural’, conseqüência do ‘entrelaçamento cada dia mais denso entre os modos de simbolização e ritualização do laço social com os modos de operar dos fluxos audiovisuais e das redes comunicacionais’ (...). O que modifica tanto o estatuto epistemológico como institucional das condições de saber e das figuras de razão em que a conexão com as novas formas do sentir e as novas figuras da sociabilidade”

. Desta forma, o imaginário e o saber se reconstituem nas práticas culturais, levando a mídia eletrônica a fazer parte constitutiva da cultura, numa relação onde a tecnologia e o imaginário produzem novos espaços para novos tempos. Um tempo sensível, aquartelado nos novos modos de ver e saber, liberando os sentidos e as ações para a exploração criativa de novos conhecimentos.

Nesta perspectiva, a mídia, ao lançar mão de seus recursos audiovisuais, não estaria contribuindo para a continuidade de antigas concepções de infância, onde a criança é vista como um “adulto em miniatura” ao lançar no ar cenas próprias da vida adulta, numa mescla da vida dos adultos com o mundo da criança? Ou mescla de imaginação de adultos com imaginação de crianças?

Conforme observou Preto (1996), em sua pesquisa sobre a presença das tecnologias nas escolas, recursos simples como videocassete tinham um uso muito pequeno, apesar de já disponíveis em quantidades nas escolas, e eram utilizados sem diferenciação de outros, o que diminuía o potencial desses novos meios.

Esta questão tornou-se relevante para o autor diante da constatação de que as escolas adquiriam ou recebiam equipamentos, como vídeos, televisões e fitas, por intermédio de inúmeros convênios, doações, ações cooperativas, tudo com objetivo de adquirir equipamentos, mas que ao mesmo tempo não sabiam o que fazer com estes materiais e como utilizá-los (ibdem: 118). O mesmo acontece com novos equipamentos, que são aperfeiçoados e desenvolvidos para estimular o uso mais integrado e global de todos os recursos. Estes usos acabam por, muitas vezes, criar dependências entre os usuários.