3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.3. As espécies e o aporte de material senescente
3.3. As espécies e o aporte de material senescente 3.3.1. Abacate (Persea americana)
O maior aporte de material senescente (50,4 %) pelo abacate ocorreu na primavera, sendo que deste total, 72,9 % constituíram‐se de estruturas reprodutivas e 23,4 % de folhas (Quadro 4). O abacateiro floresce, normalmente, no final do inverno e sua frutificação e maturação pode ser precoce ou tardia, dependendo da cultivar (CASTRO, 2003). Para as cultivares tardias a colheita do fruto é retardada como foi o caso desse estudo, onde a partir de julho até outubro, se verificou o aporte de frutos maduros no material senescente.
No SAF estudado os frutos do abacate são parcialmente colhidos, sendo que as maiorias desses frutos permanecem como serapilheira no solo, contribuindo, portanto para a ciclagem de nutrientes no sistema. Como grande parte do fósforo no tecido vegetal encontra‐se nas estruturas reprodutivas (MALAVOLTA, 1980) principalmente nos frutos, e sendo esse elemento um dos principais limitantes para a produção dos ecossistemas tropicais, espécies como abacate e fedegoso, que aportam grande parte de material na forma de flores e frutos, constituem espécies estratégicas nos desenhos de SAFs.
A quantidade de folhas presentes no material senescente foi menor no outono. Nas demais estações a quantidade de folhas foi maior e semelhante, o que torna as folhas, componentes significativo do material senescente da espécie.
3.3.2. Açoita‐cavalo (Luehea grandiflora)
Em torno 46,5 % do material senescente aportado pelo açoita‐cavalo ocorreu na primavera sendo que nesta estação, as folhas predominaram (43 %) no total de material acumulado (Quadro 4). Os galhos grossos tiveram todo o seu aporte concentrado na primavera elevando, consequentemente, o aporte de galhos finos uma vez que galhos grossos trazem consigo galhos finos. Nas demais estações o aporte de material senescente foi mais uniforme. No outono houve maior contribuição de flores e frutos (61,4 %) do total de material acumulado na estação, pois muitos frutos caem antes de completarem a maturação. Em Minas Gerais o período de floração e frutificação da espécie acontece nos meses de dezembro a julho. O amadurecimento e pico de senescência dos frutos é verificado entre os meses de junho e outubro, sendo que o processo reprodutivo da espécie inicia precocemente por volta dos dois anos de idade (CARVALHO, 1994).
3.3.3. Ipê‐preto (Zeyheria tuberculosa)
O ipê‐preto apresentou maior aporte de material senescente no inverno (58,3
%), seguido do outono (33,3 %). O aporte de folhas predominou sobre as demais frações da serapilheira em todas as estações e os aportes de galhos e de flores e frutos foram observados principalmente no outono. Em sistemas silvopastoris de cerrado, REIS et al. (2006) encontrou que 85% da produção de serapilheira da espécie concentraram‐se no período de junho a novembro, assemelhando‐se aos resultados encontrados neste estudo. O autor ressalta o potencial da espécie de contribuir com a manutenção da fertilidade dos solos de cerrado, principalmente em relação aos níveis de N, K e Ca.
Em Minas Gerais, o ipê‐preto floresce de novembro a janeiro e frutifica em abril e os frutos permanecem na árvore por algum tempo (LORENZI, 1992). Neste estudo apenas uma árvore avaliada havia atingido o seu período reprodutivo.
Segundo CARVALHO (1994) existe uma ampla variabilidade fenológica para esta espécie, principalmente com relação à perda de folhas.
3.3.4. Papagaio (Aegiphila sellowiana)
O Papagaio aportou maior quantidade de material senescente no verão chegando este a 49 % do total aportado. O menor aporte ocorreu no outono (11,6 %) e em todas as estações as folhas predominaram no material senescente da espécie.
Já os frutos contribuíram com 8 % do total de material acumulado no verão.
O papagaio é uma espécie decídua e floresce abundantemente durante os meses de novembro e dezembro, quando intensifica a perda de suas folhas. Suas flores são melíferas. O florescimento da espécie ocorre nos meses de dezembro e janeiro e a maturação dos frutos ocorre de fevereiro a abril, permanecendo na árvore por mais algum tempo (LORENZI, 1992). Durante o período estudado apenas uma das árvores floresceu, devido às árvores da espécie terem sofrido uma poda drástica feita alguns meses antes do início desse estudo.
Segundo LORENZI (1992), esta é uma espécie heliófita e pouco exigente em fertilidade, se adaptando a solos degradados. Por essa razão e também pelo rápido crescimento, é uma espécie muito recomendada para reflorestamentos heterogêneos destinados à recomposição de áreas degradadas.
3.3.5 Mulungu (Erythrina verna)
O aporte de material senescente do mulungu concentrou‐se no outono e no inverno totalizando nestas duas estações 87 %. Durante os meses de novembro e dezembro, o aporte de material senescente chegou a ser nulo, o que se explica devido o caráter decíduo da espécie, com perda total das folhas no final do inverno.
Não houve contribuição de flores e frutos, pois os indivíduos estudados não haviam atingido o estágio reprodutivo, embora fossem árvores com altura média de 10,3 metros (Quadro 2). Esta espécie floresce a partir de meados de agosto com a árvore totalmente destituída de folhagem, os frutos amadurecem em outubro e novembro com a planta ainda sem folha (LORENZI, 1992), quando então pode ser esperada uma contribuição de flores e frutos na composição da serapilheira. Logo após a queda dos frutos inicia‐se a formação de uma nova folhagem.
3.3.6. Ingá (Inga subnuda)
O ingá apresentou aporte mais constante ao longo das estações do ano, sendo estes valores maiores no inverno (32,3 %) e menores no outono (13,8 %). Em todas as estações, as folhas contribuíram em maior parte no material senescente da espécie. A estação de maior aporte de galhos finos foi o outono (43 % do total do ano) e o maior aporte de flores e frutos ocorreu na primavera (53 % do total do ano). A espécie floresceu em novembro e dezembro e frutificou no período de janeiro a março, sendo encontrados registro de floração da espécie no período de agosto a novembro e de fevereiro a maio. A frutificação normalmente acontece de setembro a abril e junho (GARCIA, 1998).
3.3.7. Fedegoso (Senna macranthera).
O fedegoso apresentou um aporte de material senescente variando de 700 (no outono) a 2.686 kg ha‐1(no verão). As folhas e estruturas reprodutivas (flores e frutos) foram os órgãos da planta que mais contribuíram no material senescente produzido pelo fedegoso, exceto no verão, quando o aporte de galhos finos foi maior (27 %) do que o aporte de folhas (18 %). A espécie floresce de maneira exuberante durante vários meses, especialmente, de dezembro a abril, sendo que a maturação dos frutos verifica‐se nos meses de julho a agosto (LORENZI, 1992) e estes permanecem um pouco mais nas árvores. Isto justifica então o aporte superior a 30 % de flores e frutos durante todas as estações, demonstrando a importância desse componente no material senescente da espécie.